31 de dezembro de 2009

Feliz 2010!


Agradeço a todos que por aqui deixaram suas marcas, expressas ou impressas, sorvendo dessa doce energia que nos une. Que 2010 traga mais cores, mais sabores, mais valores e toda sorte de amores, preenchendo nossos espaços em busca de harmonia, individual e coletiva. Façamos pois, de nosso caminho, atalho para o caminho de todos. Façamos pois, um brinde, estenda sua taça e feliz 2010!

29 de dezembro de 2009

Frases que gostaríamos de ouvir em 2010


1. Nem pense nisso, pode deixar que eu mesmo faço!

2.Foi um prazer atendê-lo!

3.Eu te amo!

4.Não farei da forma que você sugere, o compromisso da minha empresa é com o ambiente!

5.Grana? Você ficou louco? Eu sou um político de respeito!

6.Que idéia essa sua de dividir com os outros, hein? Viu só a cara de contentamento deles?

7.Como poso lhe agradecer por tamanha bondade?
8.Filho, ainda tens muito para conquistar ao longo da sua vida. Se souberes respeitar o próximo, estarás sempre um passo a frente!

9.Era a minha vez, mas não vejo porque não deixar a senhora passar na frente!

10.Eu já estava mesmo cansado de ficar sentado, o lugar é seu!

11.Ei! Ei! Essa carteira caiu lá atrás, acho que lhe pertence!

12.O senhor que ajuda para atravessar?

13.Sinto muito, senhor, o senhor deve entrar na fila e aguardar. O terno e a gravata não lhe dão nenhum privilégio!

14.Se eu sei quem o senhor é? Honestamente não. Alguém na fila sabe quem é esse homem de
terno e gravata? Parece que ele está tendo uma crise de identidade...

15.Estive pensando... Se eu desviar recursos da merenda escolar, provavelmente alguma criança passará fome. Não farei isso em nome do futuro deste país!

16.Que a paz reine entre todos vocês!

Alguma sugestão?

27 de dezembro de 2009

Beija Flor!


















































"É o seu eu que pede passagem em busca das coisas que verdadeiramente falam ao coração"

Dito. E feito.
Feliz 2010!





19 de dezembro de 2009

O eu, invisível indivisível



O início do último decêndio de dezembro marca também o início da contagem regressiva para o ano novo, eterno encubador dos sonhos de renovação. Vale mudança de visual, fazer regime ou ir atrás de um novo emprego. Descobrir o amor, inscrição na academia, virar a própria mesa ("morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho; quem não se permite, uma vez na vida, fugir do conselho dos sensatos" - Pablo Neruda). Jogamos nossas melhores intenções no novo ciclo que se abre e sabemos que, antes mesmo do carnaval, já teremos esquecido metade do que havíamos prometido para nós mesmos.

A desaceleração de dezembro, tendo em vista a expectativa do ano novo, nos permite recuperar um pouco do folêgo e prestar atenção ao que está a nossa volta. É como se dirigíssemos um veículo em alta velocidade ao longo de quilometros e quilometros e, ao diminuir, nos damos conta da paisagem exuberante que nos acompanha. Ela sempre esteve lá e nós, no ritmo alucinante que toma conta de nossas vidas, é que a apagamos de nossos registros. Mais adiante, quando sentirmos necessidade de aumentar a velocidade, ela novamente desaparecerá e dará lugar à névoa que permeia nossos pensamentos e atitudes, fazendo-nos voltar a ser o que sempre fomos. Essa é nossa natureza.


Aproveite seus momentos de lucidez, que haverão de desaguar no ano novo, para enxergar sua paisagem, ou os aspectos da sua vida que você costuma dar valor e que foram engolidos no meio do caminho. É o seu eu que pede passagem em busca das coisas que verdadeiramente lhe falam ao coração: um passeio pelo campo, um momento de meditação, um abraço amigo. Não importa o que seja, o que vale é estar alinhado com a sua verdade interior. Esforce-se para mantê-la acessa ao longo do ano e, ainda que haja percalços, faça com que a semente da boa intenção gere seus frutos. Você dissemina um pouco de você mesmo pelo planeta, no micro ou no macro ambiente, e faz o registro de sua passagem por aqui. São suas as pegadas que ficam.

E o seu eu, este invisível indivisível, seu amigo inseparável (mesmo quando você não está presente e não presta atenção na paisagem), agradece. Feliz 2010!

10 de dezembro de 2009

Sucessão de erros




É da natureza humana a dificuldade em lidar com a morte. Quando ela atinge crianças, então, o assunto ganha contornos que escapam à compreensão e questionam os desígnios divinos em busca de explicações, ainda que sem sentido, que justifiquem a ceifa. Migramos da letargia ao ceticismo, cobertos de dúvidas quanto à própria existência. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que tão cedo? Mergulhamos em questões embriagados pelo drama da vida, rompendo de vez a barreira que nos transporta ao irracional. É o sentimento de revolta que assume o comando porque sabe que, não fosse pelo casuísmo que toma conta deste país, tragédias como a desta semana poderiam ser evitadas.


Na última terça-feira, depois das fortes chuvas que abalaram a cidade de São Paulo, seis mortes foram registradas. Quatro irmãos, entre eles três crianças (duas de 7 e uma de 9 anos), morreram sob a terra que engoliu o barraco em que dormiam. Para quem ainda carrega um pouco de sensibilidade, a reação é de tristeza e de consternação, pensando nos pais que terão a árdua tarefa de enterrar quatro filhos. Dois ou três dias depois esqueceremos o fardo que este casal carregará para o resto da vida, se ainda tiver disposição para olhar de frente para ela. O que vejo, em meio a tragédia, é uma sucessão de erros que deixa qualquer cidadão indignado.

Essa família não morava em uma zona de risco de deslizamento por espontânea vontade. Morava, com conhecimento de causa ou não, porque não há qualquer movimento do estado no sentido de impedir que estas áreas sejam habitadas. E por que? Porque o estado vai tirá-los de lá e levá-los para onde? Se interferir na questão terá também a responsabilidade de solucioná-la, o que não se encontra em condições de fazer (vale lembrar que boa parte das mazelas sociais e econômicas são foco da iniciativa privada, que através de ONGs e obras assistenciais desempenham o papel que caberia ao estado). O poder econômico é cruel e não cabe a mim questioná-lo, diferenças sempre haverão de criar desequilíbrios dentro de uma sociedade, uns com mais, outros com menos. É natural que seja assim e que cada um batalhe por seu espaço, lutando com dignidade para alcançar outro patamar. O estado, neste contexto, tem a responsabilidade de regular diferenças e criar condições para que as classes menos favorecidas progridam através de políticas de desenvolvimento, a maioria delas (se não todas) bancadas pelos otários como nós que pagam seus impostos em dia. Os erros começam na arrecadação e terminam em tragédia.

Conheço empresas que propositadamente não recolhem ICMs e, quando vão à juízo, já tem todo o esquema comprado para deixar menos dinheiro nas mãos de juízes, fiscais e advogados do que se tivessem que recolhê-lo aos cofres públicos. Dos males o menor, dizem, ainda que sob risco de serem flagrados, o que em mais de dez anos de esquema nunca aconteceu. Para onde vai o dinheiro? Para o bolso dos corruptos. E camelô, recolhe imposto? Claro que não, mas paga uma grana para manter polícia e fiscalização o mais longe possível de seus domínios. Para onde vai o dinheiro? Para o bolso dos corruptos. Brasília e o escândalo do mensalinho: só veio à tona porque um dos gatunos foi precavido e não quis pagar o pato sozinho. Ou vamos ser ingênuos a ponto de não acreditar que a mesma coisa rola em SP, BH, RJ, RS e pelo país afora? Mas é óbvio! Ninguém tá nem aí com o que vai acontecer com o Zé Povinho que mora em áreas de deslizamento, se é a mãe, o pai, o filho ou o espírito santo que vai dessa pra melhor. Mas sequestre o filho de um deputado pra ver o que acontece, é capaz de até a Interpol estar no seu encalço.

É preciso coragem para mudar. Enquanto as raposas tiverem a chave do galinheiro, a dignidade passará longe da farra e a cidade, infelizmente, seguirá enterrando suas crianças. Que futuro pode se esperar de uma sociedade que não sabe preservar seus próprios filhos?


6 de dezembro de 2009

Heróis Anônimos: Patricia Polli

A habilidade em modificar o ambiente confere ao homem, em sua sina perversa, o poder cego que ultrapassa as barreiras da sanidade. Destruir o meio em que vive em troca de recursos outros de maior valor no mercado de consumo, leva ao desgaste irreparável da Mãe Natureza e de seus elementos, na prática que encerra, a médio prazo, a realidade do esgotamento.
Há, felizmente, quem trabalhe no caminho inverso.

Nascida em Jundiaí ('japiense', como ela mesma se define), Paty é uma incansável batalhadora pela preservação da Serra do Japi e sua biosfera. O Japi é uma cadeia montahosa que se divide entre os municípios de Jundiaí, Cajamar, Pirapora do Bom Jesus e Cabreúva e representa uma das últimas porções de Mata Atlântica no estado de São Paulo. "O que aprendo, do ponto de vista científico, procuro transmitir em linguagem acessível, através de um conto ou de uma poesia", diz ela, e que o faz com maestria em seu Blog Ecos do Japi, em textos líricos que traduzem a essência de sua ligação com a natureza.
Formada em gestão ambiental, Paty desenvolve seu trabalho de monitoramento e educação na reserva do japi há dez anos, levando grupos pelas encantadoras trilhas da serra que conhece tão bem. Também faz parte do conselho de gestão do território da serra do Japi, que tem por objetivo avaliar pedidos de novos empreendimentos ou atividades na região. E indo além, presta consultoria ambiental para empresas que desejam se instalar na região - regularização e licenciamento, gerenciamento de resíduos e sistemas de tratamento - criando assim o equilíbrio natureza x desenvolvimento que este planeta tanto precisa.

Paty, as borboletas, cachoeiras, esquilos e tantos outros filhotes da fauna e flora do Japi agradecem. E nós, que vemos destruição onde a mão do homem alcança, também. Esse mundo precisa de mais heroínas como você!

22 de novembro de 2009

No país do pau brasil


A ambição da coroa portuguesa em estabelecer rotas de comércio com o Oriente e garantir o suprimento de especiarias à corte acabou por trazer, por simples obra do acaso, Cabral e sua desajeitada frota a terras tupiniquins. A saga dos aventureiros lusos todos conhecemos, exaltada em tonalidades heróicas nos livros de história ou nas imagens fantasiosas que se solidificaram em nosso subconsciente - quem é que não fica com aquele quadro da primeira missa rezada no Brasil na cabeça? Até índio devoto de Santo Antonio tinha!

A prática exploratória, traço característico da política colonialista, logo deu as caras em terras Brazilis com a extração do pau brasil e quase levou a espécie à extinção (ainda hoje o pb encontra-se na lista de espécies ameaçadas do Ibama. Interessante notar que não apenas a madeira em si era objeto de cobiça, mas a resina obtida no processo de extração caia com perfeição à indústria têxtil da época no tingimento de tecidos). E acho que foi a partir daí que se iniciou o jogo de interesses espúrios que se perpetua até os dias de hoje.
O pau brasil e a população indígena nativa, envolvida por 'livre e espontânea vontade' no processo extrativo (provavelmente em troca de que um super hiper mega ultra desejo de ser catequisada fosse atendido), foram substituídos pelo sistema monetário moderno e por nós, seres 'evoluídos e questionadores'. Piada. Na verdade, somos os mesmos otários que, se na época do descobrimento se satisfaziam com espelhos e miçangas, hoje conformam-se com a atuação vampiresca de uma minoria (tão nobre e altruísta quanto nossos antepassados navegadores) que não se cansa de inventar artifícios para fazer valer seus supostos privilégios. Pode o povo morrer de fome, mas foda-se, há outras prioridades para o dinheiro público. Ou não é para isso que serve a verba indenizatória?
A famigerada 'verba indenizatória' foi criada pelo então presidente da câmara Aécio Neves (quando se trata de poder, meus amigos, não tem PT, PC, PN, PJ ou PZ, à noite todos os gatos são pardos) em 2001,em um ato pernicioso que aumentou indiretamente o salário de deputados e senadores através de, digamos, uma forcinha extra que nem dava muito na cara. Bastava aos nobres deputados e senadores apresentar notas fiscais de suas despesas extras e tava tudo resolvido (só em 2004, quase R$ 1,5 milhão foi gasto em combustíveis e as notas dos 'supostos de gasolina' mantidas em sigilo). Não daria na cara, protestariam os mais cautos, se os filhos da puta que habitam essa vergonha que é o congresso não utilizassem a verba em suas próprias empresas (foi assim que começou a saga do Edmar safado Pereira, dono do castelo em Minas Gerais, usando a verba para pagar funcionários de sua própria empresa de segurança que nunca viram a cor do dinheiro. E o que aconteceu a esse nobre deputado? Nada, tá lá, rindo da nossa cara) ou pior, em empresas que nem existem, como noticiou a Folha esta semana (há que se louvar, e muito, o trabalho do jornalista Fernando Rodrigues). Ou seja, nego inventa uma despesa de uma empresa fantasma, que simplesmente NÃO EXISTE, e enfia a grana no bolso. E os indíos aqui, o que fazem? Observam a passagem dos navios portugueses carregados com o seu precioso pau brasil. E se bobear sorriem, embasbacados com os espelhinhos que ainda ostentam nas mãos. Não dá mais pra engolir.
Celso Pitta, um dos maiores ladrões de dinheiro público que esse país já teve, morreu outro dia (como disse meu pai, tamanha ironia: Pitta, o ex-prefeito negro, morreu no dia da consciência negra, o que obriga Maluf a morrer em um 1 de abril e Lula e em 1 de maio), e quisera eu que a prática exploratória, iniciada há mais de 500 anos, tivesse morrido com ele. O ex da Nicéia foi-se no ostracismo porque, depois de levantadas e comprovadas todas as denúncias contra sua pessoa, tentou, em vão e por duas vezes, se candidatar a deputado. Se fudeu, votação pífia. Quebrou a cara, foi preso de pijamas na operação Satiagraha e pagou com a própria vida. Ao menos serviu de exemplo.
Façamos pois do voto nossa arma, conscientizemos os da nossa tribo que ainda olham deslumbrados para os espelhos em suas mãos e quebremos, de uma vez por todas, o encanto, nem que seja necessário partí-los ao meio (os espelhos, lógico) e correr o risco de 7 anos de azar. Até porque, do jeito que está, corremos outro risco, o de seguir 7, 14, 21 e tantos outros anos olhandos as naus portuguesas se perderem felizes no horizonte...













11 de novembro de 2009

Intolerância

A humanidade dá mostras que soube aproveitar, através dos séculos, o precioso tempo que a providência divina reservou-lhe neste planeta. De lúgubres cavernas, migramos para moradias estruturadas com conforto e higiene; fazemos em minutos viagens que nossos antepassados, no lombo de mulas, levavam semanas; e se a batalha de Maratona entre gregos e persas fosse hoje, Fidípedes, o famoso guerreiro que percorreu os 42km que separavam o campo de batalha da cidade de Atenas, teria enviado uma mensagem no twitter dizendo: "Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos!" - e isso apenas para constar, já que os gregos teriam acompanhado o embate em um telão instalado no Partenon sob o patrocínio de alguma marca de cerveja, cigarro ou do Mac Donald´s ('Um big macrópolis com fritas e diet coke sem gelo, please')

Certas práticas, como podemos constatar, mudaram. Outras não. Da mesma forma que fomos capazes de voar, fazendo jus ao sonho de Ícaro, também fomos capazes de manter os mais absurdos preconceitos, enraizados nas "profundas" concepções que nós, humanos, criamos para nossa própria diferenciação. Se a cor da pele, naturalmente, fala por si mesma, fomos além e instituímos as práticas religiosas, as preferências sexuais, tendências políticas, futebolísticas, nacionalistas e tantas outras que, sob a ótica humana (em sua grande maioria), são unilaterais. Não ser capaz de aceitar a opinião alheia ou seus valores é como dizer que aquele que não é por mim contra mim está.

Vivi a experiência esta semana, quando um pai deixou de ir ao casamento do próprio filho, um menino de ouro, porque a noiva não compartilhava da mesma concepção religiosa. Já passei por diversas rupturas na minha vida entre casamentos, separações e nascimento de filhos, abrindo e encerrando ciclos que formataram minha história em cada um destes registros, e me lembro como foi importante compartilhar, com amigos e família, o momento de casar e assumir uma nova vida. Não há - ou pelo menos não deveria haver - motivação religiosa ou de qualquer outra natureza capaz de se interpor entre laços de sangue. E é aí que me questiono até que ponto chega a insensatez humana para justificar suas convicções e abrir mão de significativos pressupostos, jogando pela janela 30 anos de convivência. Não há feridas que o tempo não cure, diz o ditado. Mas as cicatrizes são para sempre.

É preciso dar ao homem mais sustentação, não apenas para que fixe suas bases, mas para que inclua valores, princípios e ideais diferentes dos seus. Quando a semente da intolerância e da discórdia for finalmente superada, aí sim talvez tenhamos condições de construir uma sociedade mais correta, que respeite escolhas e individualidades. E enquanto isso não acontece, continuaremos criando nossos próprios abismos.

Crédito da foto: Phinaphantasy

1 de novembro de 2009

Heróis Anônimos: Ricardo Calmon



“A natureza sempre profundo me tocou, a ela a vida devo, com a água contato, em fechadas matas entrar até hoje, cachoeiras, rios, igarapés, lagos, praias, tudo da natureza seduzia e consolava, sempre refúgio meu foi, da solidão,do medo de porrada levar,do desamor,da tristeza,da depressão infantil aterradora por sofrer sem saber o que foi que fiz,sentimentos que sempre inundaram minha alma,pois parte fazem do meu corpo,de ser meu,da alma minha viva”. (R.C.)

Ricardo André Calmon nasceu em Manaus, na madrugada de 12 de novembro de 1946. Sua trajetória ao longo destes quase 63 anos é marcada por lições de amor, coragem e apego à vida, com passagens que vão do lirismo à tragédia. É por isso que tenho a honra de incluí-lo entre os heróis anônimos que fazem parte deste projeto.

Filho de mãe paulista, de Guaratinguetá, e pai capixaba (médico que a residência deslocou para Manaus a fim de atuar como cirurgião chefe e obstetra da Beneficência Portuguesa), Ricardo teve a infância traumática caracterizada por problemas físicos e a rejeição de seus pais. De pés curvos e fechados, que lhe permitia apoiar apenas o calcanhar e a ponta dos dedos no chão, tinha enorme dificuldade em caminhar, além de uma curvatura na coluna que o obrigava a usar colete de pano e espartilhos (não é preciso dizer que por conta disso era alvo de chacota e até de agressões por parte de seus colegas de escola). À época, diversos especialistas recomendaram intervenção cirúrgica para corrigir o problema, mas seu pai pareceu não se importar (até hoje, Ricardo calça 35/36). Ao contrário, o obrigava a ir a pé para a escola no período da manhã, enquanto seus irmãos estudavam à tarde e iam de carro com ele. Ricardo chegou a fraturar os calcanhares por 11 vezes.

Desde pequeno, hiperativo e elétrico, costumava cantarolar ao longo do dia, irritando pai e mãe que proibiam o uso de vitrola ou rádio em casa. Essa veia criativa e a inquietação natural fizeram com que sua mãe colocasse gotas de vinho do Porto na mamadeira para que fosse possível fazê-lo dormir, o que acabou por criar vínculo com as medicações, sem as quais Ricardo não conseguia dormir até por volta dos 40 anos. Quando comparecia às missas da capela hospitalar, sempre que o padre passava com o incensário, era comum sentir-se tonto, ficar roxo e desmaiar. Sua mãe, aos berros, o chamava de filho do demônio com o capeta e era comum apanhar em casa depois dessas situações, causando cicatrizes não apenas físicas, mas principalmente emocionais.

Foi ainda menino que Ricardo criou seu amigo imaginário, o indiozinho Peri, habitante da mata que passou a ser seu companheiro de aventura pelos rios e igarapés, além de tornar-se seu protetor e confidente (me lembra muito Calvin e seu amigo tigre, Haroldo). Foi a ele a quem Ricardo recorreu quando, triste por deixar sua terra natal e suas histórias, soube que a família se mudaria para o Rio de Janeiro, o pai eleito deputado federal.

Uma vez mais, Ricardo foi hostilizado pelos colegas de escola: seringueiro, bicho do mato amazônico e tantas outras provocações que invarialvelmente acabavam em briga. Seu mau desempenho em matemática fez com que fosse reprovado por 5 vezes na primeira série, o que lhe custou novamente surras e até colherada de pau na cabeça (!). veio então sua tentativa de suicídio: a mãe (hoje com 85 anos e com quem ele não fala há 22) achou por bem contar à namorada, por quem Ricardo havia se apaixonado, que ela estava se relacionando com um maluco. Ricardo desceu à praia, acendeu uma vela na areia e, ao voltar, a família reunida em torno da TV, fechou-se na cozinha para cortar os pulsos, ligar o gás do fogão e enfiar a cabeça no forno. Salvo, permaneceu em como durante 3 dias, sendo depois internado em uma clínica psiquiátrica para tratamento a base de eletrochoques. Ficou seis meses sem pronunciar uma única palavra.

Recuperado, teve seu primeiro emprego como contínuo na Cia. Estanífera do Brasil, servindo cafezinho. E daí em diante desenvolveu carreira na área de comunicações, passando por TVs e agências de publicidade, produzindo diversos programas (incluindo o primeiro programa sobre automobilismo para a TV brasileira, o 'Grand Prix') e tornando-se mestre em TV educativa (na Alemanha), além de professor de planejamento de propaganda e marketing na UFF fluminense. Na prática, superou toda e qualquer expectativa de quem via nele um ser desqualificado e sem qualquer pespectiva.

Ricardo costuma dizer que deu a volta por cima depois dos 50 anos. “Foi quando a vida descobri e soube que Quasímodo não era!”, diz ele. Casou-se com a professora Regina Victória, com quem teve os filhos Ana Paula, Mariana e Wilson. Hoje é avô da linda Luana e blogueiro de mão cheia, expondo suas ideais através do 'Viver é pura magia' , onde exalta a importância de valorizar os aspectos do bem e da vida, irmanando seus amigos e leitores na busca de um mundo melhor sem as fronteiras de raça, credo, países e continentes com as quais estamos acostumados. Foi por estas andanças pelo mundo virtual que o conheci, adorei sua forma de se expressar e principalmente o conteúdo que ele é capaz de gerar. Ricardo é um exemplo de superação e vitória, de quem já teve a vida presa por um fio e que por isso mesmo batalha em favor dela. Sua luta foi, é e sempre será para que o bem prevaleça.
Vida longa ao Ricardo e seu Viver é pura magia!

29 de outubro de 2009

Produtividade x Assistencialismo

Que vivemos em um país marcado por abismos sociais e incongruências políticas não é nenhuma novidade. Que o país precisa, isto posto, de gente honesta que arregace as mangas e trabalhe no sentido de corrigir estas distorções, criando um padrão de sustentabilidade econômica baseado em potencial produtivo, também. Uma nação economicamente viável e pujante só se desenvolve quando a roda econômica gira com os recursos que ela mesma produz através do capital humano, alicerçado sobre investimentos, políticas de longo prazo e visão extemporânea. Costuma-se chamar a isso de produtividade, a mola mestra que gera riqueza e evolução.


Do outro lado está a prática assistencialista. Em um país como o nosso é difícil prescindir de tal instrumento, principalmente quando boa parte da população de baixa renda mal tem acesso a recursos básicos de educação, saneamento e saúde. A bem da verdade, a política do governo Lula, através do Bolsa Família, tem lá seus méritos quando retira parte das famílias que recebem assistência da total miséria. Mas ao mesmo tempo, cria um círculo vicioso cruel que beneficia, sobretudo, o próprio governo.




Presidente Vargas é um município no estado do Maranhão de 10.000 habitantes. Segundo Zé Neumane, da Pan, a população ativa é de 4 pessoas. Isso mesmo, 4 pessoas! Partindo-se do pressuposto que se trata de informação verdadeira, dada a credibilidade do jornalista, o número é assustador. Apenas 4 pessoas trabalham por lá, enquanto o resto da população vive do Bolsa Família. Sugere, a rigor, um mal estar sem precedentes, uma vez que narcotiza toda uma população, que naturalmente prefere ganhar um pouco a mais com o benefício do que se lançar no mercado de trabalho local, que não deve ser lá grande coisa. Não importa. É o princípio da produtividade que vai por água abaixo na ociosidade de quem encontra, em políticas como essa, um motivo para encostar o burro na sombra e não produzir. É o processo de geração de riqueza, ainda que em níveis ínfimos, totalmente estagnado e sem perspectivas. E quem ganha com isso?




Ganha a população, que sem grandes esforços mantém um padrão de vida (se é que isso lá é padrão) acima do que teria se optasse pelo trabalho. É mais cômodo, sem dúvida, mesmo que o processo produtivo seja estancado (e quem se importa?). Ganha o governo, que atrela votos que garantem reeleições através destas práticas, não muito distantes do 'pão e circo' romano. Perde o homem nestas circusntâncias, nas palavras do próprio Neumane, sua dignidade.




Povo bom, na ótica do governo, não é aquele que produz e questiona, fazendo valer seus direitos, mas aquele se ajoelha e agradece pelo pouco que tem.




Foto: ministério do desenvolvimento social e combate à fome

12 de outubro de 2009

Entorpecentes


Se ao ler o título deste post e fazer associação com a imagem você logo se viu mergulhando em um mundo obscuro e sem volta... Relaxe, não é sobre isso que quero falar. A falta de lucidez pode levá-lo a lugares que sua alma jamais sonhou em visitar e dos quais certamente haverá de se arrepender pelos transtornos que causa, mas a verdade é que, na maior parte do tempo, passamos por isso sem mesmo nos darmos conta.

Um dos postulados para uma vida saudável diz respeito a tratar nosso conjunto corpo/alma como um templo. Assim como quando nos encontramos em um (e o significado pode variar de indivíduo para indivíduo, atrelado à religião em si - uma igreja, uma sinagoga - ou a serenidade que o mar ou o campo representa), centramos nossas energias em forma de prece na busca de equilíbrio, paz e conforto, saímos fortalecidos e confiantes no caminho da luz que atravessa nossas crenças. Só que nem sempre é assim.

Existem dois tipos de entorpecentes que, agindo em campos opostos - corpo e mente - contaminam o processo e violam o princípio da salubridade. Se quiser experimentá-los em conjunto, basta abrir um pacote de Doritos diante da TV.

(Pausa. Discorrer sobre o assunto não significa dizer que eu mesmo não me abasteça dessas fontes nos momentos em que julgo 'necessário', justamente aqueles em que a mente pede pausa e o corpo anseia pela caloria vazia. Continuemos).

Horas e horas e mais horas diante da TV e da programação que a acompanha é um verdadeiro exercício de atrofiamento mental. As grandes corporações sabem disso, e não é à toa que expõe figuras insólitas como Faustões e Gugus para comandar o circo, desligando cérebros em nome do controle das massas. 'Panis et circensis', os romanos espremidos no Coliseu. Se os tempos mudaram, as políticas não, basta ver quem é que na prática elege presidentes e manda no país.

Mudemos o lado. Em ritmo da ansiedade, substituímos os nutrientes que nosso organismo necessita por qualquer porcaria que abafe nossas lamentações, agústias e escapes. E o corpo trabalha em dobro, processando o alimento absolutamente desnecessário. A prática do jejum, por exemplo, é recomendada uma vez ao mês e reestabelece o fluxo energético através da eliminação de toxinas, devolvendo ao organismo o conceito de templo momentaneamente esquecido. É normal nos sentirmos mais despertos e produtivos quando comemos menos, com qualidade, e longe da TV.

Um pouquinho do BBB, um pastelzinho na feira, vá lá, de vez em quando são práticas que nos devolvem ao mundo real. O que é preciso, nem que seja necessário nos exercitarmos continuamente para isso, é estabelecer o limite do que não nos torna escravos de nossos próprios vícios.

6 de outubro de 2009

'Sometimes I feel like screaming!"


Bendita sejas tu, ó luz do universo, que sobre mim derrama tuas bençãos em sonhos cálidos, reveste-me da tua aura e faz com que me sinta assim, moleque e meio, ginga pura, em sublime conexão e possuído pela incontida arte de amar, soltando a voz que se perde pelo vazio infinito: 'Sometimes I feel like screaming!'

(efeito Flamel)
'Sometimes I feel like screaming' by Deep Purple

4 de outubro de 2009

Heróis Anônimos: Rodrigo Yoshida

É com grande prazer que este blog inaugura a tag Heróis Anônimos’. Trata-se de um espaço destinado aos batalhadores do dia a dia que procuram externar, através de suas atitudes ou pensamentos, o verdadeiro valor e sentido da vida. É preciso fazer valer a pena!

Rodrigo Yoshida. 28 anos, casado há 5, analista de marketing do Banco Itaú. Há 10 anos tem como companheira uma cadeira de rodas, fruto de um acidente com moto que o deixou paraplégico. Não ia a mais do que 30km/h quando um carro o atingiu e ele, ao cair, prensou o capacete junto ao pneu de um carro estacionado, fatalidade que fez com que apenas a coluna se deslocasse e sofresse fratura. Naquele momento, relata ele, percebeu que alguma coisa mais grave se passava: “Quando me dei conta, vendo meu corpo virado para um lado e as pernas para outro, sem poder movimentá-las, entendi o que tinha acontecido . Mas fiquei aliviado, em parte, quando percebi que podia movimentar os braços”.


De lá para cá, adaptou sua rotina entre o trabalho e os estudos (é formado em administração de empresas) sempre de maneira objetiva e com muito bom humor. Quando pergunto se nesses anos todos não houve nenhum momento em que pensou desistir de tudo, ele responde com convicção: “Sim, durante os 2 segundos em que percebi que podia estar tetraplégico e preso a uma cama para sempre. Quando mexi os braços, mesmo sem a devida sensibilidade, vi que a história seria outra e a partir daquele momento teria que fazer minha opção dentro da vida que estaria destinado a levar: vivê-la em angústia, pelas limitações naturais que eu teria, ou aprender a ver o lado positivo de tudo isso. Foi o que eu fiz”. A velha história entre encarar o copo com água até a metade como meio cheio ou meio vazio. Cada um faz a sua opção!

Creio que foi isso que chamou minha atenção em relação ao Rodrigo. Nos cruzamos poucas vezes, é verdade, mas em todas ele sempre se saía com um comentário engraçado ou uma piadinha. No aniversário do Bruno, quando recusou a cerveja que o garçom insistia em colocar em seu copo, respondeu “Para, desse jeito você acaba me deixando bêbado. Já não tô nem sentindo minhas pernas...”


Isso é lição de vida. Por onde passa, Rodrigo deixa um rastro de luminosidade, mesmo sem perceber, e que faz dele um exemplo pra tanta gente que reclama de barriga cheia. Um mundo melhor se faz com melhores pessoas e melhores atitudes, um viva a estes Heróis Anônimos!

30 de setembro de 2009

Deus existe?

A frase invade minha mente e de imediato abro os olhos: 4hs49 da manhã, marca o celular ao lado da cama. Tenho a quarta-feira pela frente dentro de duas horas, penso, ao mesmo tempo em que viro para o lado em busca do sono. Segundos depois ela reverbera, como que sussurrada em meus ouvidos: 'Deus existe?'

Sento-me na cama. Que brincadeira é essa, afinal? Fecho os olhos a espera de alguma imagem que acompanhe o 'áudio' e o que vejo são manchas alaranjadas em torno de um sol límpido, nascente, que prepara terreno para mais um dia. Entendo a mensagem: é um 'Deus existe?' em forma de post. É chegada a hora de fazê-lo.

Deus não existe.

Ao menos esse Deus da doutrina judaico-cristã que fomos obrigados a aceitar como único e verdadeiro, o criador que castiga os ímpios e é, sobretudo, o instrumento de controle que permite a seus representantes na Terra manter o caminho do rebanho às cegas. 'Deus castiga', 'você não vai para o céu', 'isso é pecado' , dizem eles em meio a tantas outras objeções que tem por objetivo cercear a ação e atender aos anseios de uma minoria.

Estabelece a doutrina cristã que padres, por exemplo, não podem casar e ter filhos. Mas se a consagração do matrimônio é um dos pilares do cristianismo, a família, porque é que seus próprios representantes não podem fazê-lo? Que mal há em preservar a espécie humana - dádiva divina - dentro da estrutura religiosa? Ora, é sabido que desde os primórdios da idade média padres não se casavam simplesmente para evitar que as riquezas da igreja, a instituição mais poderosa e organizada da época, fossem divididas! Rabinos, por outro lado, conclamam à leitura da Torá, o livro sagrado do judaísmo, convidando membros da congregação para subir ao altar e a eles se juntar nas festas mais tradicionais. Ao mesmo tempo, é comum ouvir histórias sobre leilões que são realizados dentro das sinagogas para que os mais privilegiados subam ao altar para a leitura da Torá, contribuindo com uma 'módica' quantia em dinheiro. Religião, poder, dinheiro e Deus, na concepção do homem, sempre andaram lado a lado.

Que espécie de Deus é esse que se esconde por trás de interesses duvidosos e designa quem pode pelo poder da reprodução, assim como pelo poder do dinheiro? Esse é o Deus do homem, do Edir Macedo, do Michael Jackson e da Madonna. É o Deus baladeiro, que gosta de grana e de poder, e que nada tem a ver com a verdadeira essência divina. É, na prática, o reflexo do homem diante do espelho.

Deus, na minha visão, tem outro conceito. Deus é a energia maravilhosa que nos irmana, que nos faz pertencer ao mesmo plano, que nos faz alegre quando um de nós está alegre ou que nos torna solidários quando um de nós sofre. Deus é compaixão no sentido literal da palavra, é amor quando se abraça o todo, é o respeito constante que mantemos a nossa volta, seja para com nossos semelhantes, seja para com a mãe natureza e seus elementos. Deus é a essência, a chama divina que habita nossos corações e junta peça por peça em um quebra-cabeças infinito, sem que nenhuma delas seja a mais importante. Deus é pureza de espírito, liberdade e poesia, longe de ser 'faça isso' ou 'faça aquilo'. Deus é livre-arbítrio.

Essa é a verdade que não somos capazes de perceber porque ficamos presos aos dogmas que permeiam nossas tradições há séculos. Antes de esperar que "alguém" lá em cima faça rumo por nós, desabrochemos nossa semente divina e façamos valer nosso verdadeiro papel.

Nós somos Deus.

27 de setembro de 2009

Ecos do Japi




Patty, se me permite, tomo a liberdade de fazer uso do título do seu blog , o Ecos do Japi (sigam o link e boa viagem), para este post. Lá estive no último sábado em companhia dos amigos Haroldo e Priscilla para uma gostosa caminhada em meio à mata, acompanhado também da Rosana e dos pequenos notáveis incansáveis João Pedro e Luiza. Além, é claro, da nossa querida guia Patty 'Salerosa' em pessoa.

A Serra do Japi é uma cadeia montahosa que se divide entre os municípios de Jundiaí, Cajamar, Pirapora do Bom Jesus e Cabreúva. Foi declarada reserva da Biosfera pela Unesco e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. "Um santuário", como diz a Patty em seu blog, que abriga natureza diversa e exuberante.
Recorro ao meu querido Abel Antunes, personagem de 'O último mensageiro', em uma de suas passagens à beira do rio com Marina, deslumbrada com a beleza do lugar em que se encontravam:



"– Que lugar maravilhoso é este?

À luz do dia, por entre o voar dos beija-flores e a passagem dos esquilos pelas árvores próximas ao rio, Marina estava fascinava com a beleza simples da Lumiar. Encontrara Abel recolhido junto à margem, exatamente no ponto mais alto antes da embocadura que levaria aos chalés.

– Já tomou seu café? – Ele perguntou.
– Saí de lá neste instante – ela apontou para a recepção. – Onde você estava?
– Fui dar uma volta, acabei de me acomodar aqui.

Na elevação em que se encontravam, podiam observar a parte mais larga do rio, embora fosse também a mais rasa, com pedras de tamanhos e formatos variados dispostas quase que em linha reta de uma margem à outra. A água circulava suavemente por entre elas em um esteio cristalino, sem muita velocidade.

– Não canso de vir para cá – Abel disse. – Abre meu espírito, me conecta com a natureza.
– Não é pra menos. Aqui dá pra esquecer da vida.
– Ao contrário, Marina. Aqui se resgata o verdadeiro valor da vida".

Eis aí o mesmo sentimento que me mobiliza em situações como essa: a simplicidade de estar conectado à natureza e seus elementos e o prazer de desfrutar da magia das pessoas, verdadeiro bálsamo para quem vive o dia a dia do concreto, da razão e do egocentrismo espalhado por todas as esferas. A alma agradece o privilégio!

Crédito da foto 'Borboletas':Priscilla P. Gutierrez

24 de setembro de 2009

Momentos

Lapsos de tempo ou oportunidades, átimos que se abrem com a chuva e saem em disparada embalados pelo vento. Olhares difusos. Multidão, solidão, traços em constante mutação.
Momentos! Essências, fragrâncias, visões e texturas cravados no segundo, no minuto ou no tempo que você achar necessário. Tome-o, ele é seu, faça bom uso. O passado enterrado está, o futuro a Deus pertence. O presente? A dádiva que a vida lhe deu, a magia de sorver cada momento como se fosse o último. Abrace-a! Radiolab traduziu o estalo no composto abaixo, um tributo a cada 'single special moment' que, como seres humanos, somos capazes de gerar e compartilhar. Esse é o seu momento, nada mais resta a fazer senão desfrutá-lo!

Crédito: Radiolab

21 de setembro de 2009

Smiling at Simple Special Spaces


Talvez nada seja mais representativo do que o sorriso. Expressão espontânea de rara felicidade, transborda alegria, cria, irmana e abastece. Faz crer que os pequenos gestos que propiciam situações como essa fazem a vida valer a pena. E nada melhor do que poder ver refletido no rosto de cada um a sensação de prazer que se traduz, em última instância, no simples estar juntos. Momentos, sorrisos...
Agradeço o privilégio e agrego mais essa vírgula ao rastro que vou deixando pelo planeta!

17 de setembro de 2009

Heróis anônimos

O Blog do Mensageiro inaugurará, em breve, o tag 'Heróis anônimos'. Trata-se de espaço dedicado àqueles que, no silêncio e na simplicidade, contribuem para um dia a dia melhor dos que estão ao seu redor através de atos, gestos e sorrisos. Um mundo melhor se faz com pessoas melhores e melhores atitudes!

Sugestões serão muito bem vindas e podem ser encaminhadas para andrecharak@uol.com.br com foto e uma pequena biografia!



Crédito da foto: Picto Brand

12 de setembro de 2009

Le dor va dor

Ou no original em hebraico, de geração em geração. Diz meu amigo Ricardo Calmon, incansável guerreiro, que 'viver é pura magia'. E é. Mas isso, meus amigos, não se diz impunemente, é preciso criar e treinar o olhar que encara a vida e seus desígnios sob essa ótica, sem se distanciar de valores que dizem respeito à troca e doação. No caso dele especificamente, um mestre no assunto, levou seus requisitos além, muito além do simples existir (Oscar Wilde escreveu 'viver é a coisa mais rara do mundo; a maioria das pessoas apenas existe') e fez valer a frase que dá título ao seu blog. Acredito que é apenas dessa maneira que a vida se torna uma grande dádiva, um exercício em que toda sorte de preciosidades trabalha a favor do fator humano, não como indivíduo que é, mas como elo de uma corrente imaginária e infinita que, quebrada qualquer ligação, leva o todo consigo.

Exemplos de bondade não nos faltam, assim como exemplos do simples existir. Quando a vida se torna uma corrida desenfreada em busca de segurança, traduzida no acúmulo de bens que criam a condição ilusória da 'salvação' e que passam a representar o foco de toda uma trajetória, a semente divina deixou de soprar, substituída pela simples existência. Quando deixamos de valorizar os pequenos sabores do dia a dia, simplesmente porque perdemos a sensibilidade para com eles, é chegado o momento de parar e refletir. Ninguém vive apenas das emoções, naturalmente; é necessário um trabalho árduo no dia a dia para garantir condições de subsistência e progresso, elevando-se padrões. Mas daí a ter essa estrada como única referência, ignorando as oportunidades que se apresentam em nossas vidas para fazer e receber o bem, seja através de um gesto, sorriso ou palavras, é entrar em terreno escorregadio e perigoso. Como diz minha amiga Cris Toth, 'um propósito materialista sem a perspectiva espiritual não sobrevive por muito tempo'. Parece que se encaixa com perfeição.

Esse é o meu olhar. Respeita os demais, entende sua natureza, mas pauta-se pela sua própria sensibilidade. É ele quem cria minha trajetória entre erros e acertos, glórias e derrotas, conquistas e decepções. Esse é o meu conceito de vida. Nunca deixei de sorrir para ela, assim como ela nunca deixou de sorrir para mim. Sou pai, sou filho, sou o acúmulo de meus registros e daquilo que procuro transmitir adiante. A palavra, quase sempre, é meu instrumento.

Dedico este post aos meus pais, responsáveis por parte daquilo que hoje sou, e minhas filhas, que me fazem acreditar, sempre, que o propósito maior é a base de toda educação, mesmo com o trabalhão que dá (rs). E ao velho e bom Ricardo, sem o qual viver ainda seria magia, mas não com a mesma qualidade.

Uma ótima semana para todos!


6 de setembro de 2009

Pinceladas


"Da vida. Em flores, tons e cores, texturas e amores. Na chuva, na benção, na alma. Temores. Luzes e palavras".

28 de agosto de 2009

O bolsa família e as eternas armadilhas do poder

Não sei dizer ao certo se foi meu senso crítico em relação à política que se tornou mais aguçado, de uns tempos pra cá, ou se foi a política que ganhou maior projeção ao alimentar personagens ainda mais escabrosos do que aqueles que já circulavam pelo meio no século passado. Provavelmente uma mescla de ambos, motivada pelo meu engajamento social e pela representatividade que o PT ganhou desde que Lula assumiu o poder, em 2003.

O idealismo (a palavra em si pressupõe um modelo perfeito de conduta) de nosso querido presidente, antes de assumir o poder, ajustava-se facilmente a qualquer partido oposicionista que via, no abismo social que tomava (e ainda toma) conta do país, a oportunidade para alçar-se ao poder. É o sistema de brechas: o marketeiro, por exemplo, encontra nos diferenciais do produto que cria, sejam eles imprescindíveis ou simplesmente fruto de sua estupidez, o vácuo necessário para entrar no mercado. Um pouco de publicidade e enganação e pronto, está feito. Na política não é diferente. Ao expor os contrates socias e a determinação em combatê-los, candidatos tornam-se paladinos da justiça em luta pela igualdade social (vale lembrar que, em política, a palavra de ordem não é justiça, mas sim interesse) e chegam ao mesmo vácuo, encontrando respaldo na população. O que todos, sem exceção, fazem depois de eleitos, sabemos, é uma outra história.




A trajetória de Lula é digna de louvor, como sempre pontuei. Sua determinação e o saco cheio da população em relação a políticos e partidos que prometiam mudanças e na prática pouco contribuiam, abriram o vácuo necessário para que o cargo máximo da república chegasse às sua mãos. Houve melhoras sim, principalmente no que diz respeito à inclusão social. Mas nosso 'querido líder' perdeu a chance histórica de mudar o sistema já tão viciado e dar início a uma nova era, como sempre propôs o partido. Caiu no mesmo erro que seus antecessores ao se equilibrar sobre os frágeis alicerces do interesse, em lugar da justiça, dando abrigo à falcatruas, alianças escusas e tantas outras ignomínias que só o poder é capaz de justificar. Ao mesmo tempo, garantiu munição de sobra a seus adversários: o escândalo dos atos secretos do senado e a saga Sarney serão exaustivamente explorados nas próximas eleições, assim como o encontro de Dilma e Lina, a absolvição de Palocci ou o inesquecível e inequívoco mensalão. Se tiverem efeito e encontrarem abrigo no povo, serão responsáveis por uma nova virada de poder e, uma vez mais, o início de um novo ciclo. Mas isso é o que menos importa. O que vale dizer, esteja quem estiver no comando, é que haverá sempre de ser consumido pelas eternas armadilhas do poder.




O vídeo abaixo ilustra com propriedade a prática. Nele, dois momentos de Lula: o primeiro na qualidade de presidente, defendendo com unhas e dentes o bolsa família e criticando os que a ela se opõe (chega a chamá-los de imbecis, termo pouco apropriado para um estadista); em outro, o Lula candidato, ainda sonhando com o poder, e que condenava qualquer forma de assistencialismo, comparável a Cabral e a distribuição de espelhos e bijouterias aos índios, em suas próprias palavras. Como diz o então candidato, uma manobra para manter as massas no lugar e angariar votos.
Será preciso dizer mais alguma coisa? Não é interessante perceber como uma simples opinião vira do avesso, tão rapidamente quanto o caminho do poder? Seja Lula, lagostim, camarão ou couve, brócolis ou mandioca. O processo é e será sempre o mesmo, recheado de manobras, desfaçatez, cinismo e descalabro. Aliados sem utilidade e com a capacidade de macular a imagem do partido ou a personificação do poder serão colocados à margem (Zé Dirceus, Silvinhos e Delúbios da vida), enquanto figuras insidiosas, antes adversárias, receberão o caloroso abraço como se nunca tivessem estado em lados opostos (Sarneys, Collors e Calheiros da mesma vida). No fundo, é tudo farinha do mesmo saco.




Encerro com uma frase pinçada do Blog do jornalista Adalberto Piotto: "E quando a inteligência - e honestidade intelectual - é atropelada pela esperteza, destrói-se biografias".







Crédito da imagem: Leonardo Ramalho

22 de agosto de 2009

A tal evolução humana

Se evoluir significa desenvolver, progredir, avançar, pode-se dizer que somos não pouco, mas muito evoluídos. As transformações tem se sucedido em surpreendente velocidade, conduzindo-nos à era em que tecnologia e comodidade integram-se para criar uma nova dimensão em nossas vidas.


Gravadores de rolo e fitas cassete saíram de cena e deram lugar a uma parafernália de opções para a música: ipod, mp3, 4, celulares. O sonho dos adolescentes da década de 70, o tosco Telejogo Philco, evoluiu para a glória virtual com o advento do wii: o que antes era um joguinho de controle com dial transformou-se na prática de esportes como o tênis, por exemplo, em que o jogador simula o movimento da raquete. E o telefone? Concebido para trazer e levar informações, segue cumprindo à risca sua função, embora esta seja a menos importante delas diante dos recursos incorporados: câmera, agenda, acesso à internet, gravador, jogos.

Os elevadores são programados e os mais modernos já nem possuem botões internos; os garçons não anotam pedidos, apontam em seus terminais eletrônicos; vírus não se cura mais com anti-gripal, mas com varredura no sistema; o micro-ondas é programável, as lentes de contato descartáveis, o dinheiro é mais do que nunca plástico; as informações viajam à velocidade da luz e as fronteiras já não existem: amigos, fornecedores e clientes virtuais espalham-se mundo afora na chamada globalização. Somos cidadãos de um mundo civilizado, cheio de alternativas e que evolui a olhos vistos, certo?






Errado. Ao mesmo tempo em que nossos padrões ganham ares cada vez mais sofisticados, reduzindo o nível de esforço físico e intelectual (parece que somos acomodados por natureza), ganham também o distanciamento de nossa porção divina, aquela que ainda guarda a semente da solidariedade. Nas palavras de Abel, em uma das passagens do Mensageiro: "Que futuro dispõe uma sociedade que não é capaz de preservar a integridade de seus indivíduos?" . Creio que é sobre isso que devemos refletir. Sobre como nos tornamos vanguardistas quando a questão 'satisfação de interesses pessoais' vem à tona, assim como ainda engatinhamos quando o assunto é amor, compaixão. O mundo precisa urgentemente de mudanças para viver um resgate definitivo, algo que tire a humanidade da inércia e abra seus olhos ante a destruição iminente. A tecnologia é fantástica e bem vinda, mas tenho certeza que não é a ela que cabe o papel.

Crédito das fotos: david surfer

15 de agosto de 2009

Como nascem os super heróis

Batman, Super Homem, Thor (foto), Homem Aranha, Robin Hood, Zorro. Em comum, o senso de justiça e a luta em prol dos fracos e oprimidos. Personagens criados à razão do insconciente coletivo, que vê na miséria e no sofrimento humano o trampolim para colocar o bem em prática e minimizar desigualdades, ainda que enraizadas na ficção. Os super heróis serão, ad eternum, o passaporte para a consolidação de um mundo ideal.
Transpondo para a vida real podemos afirmar, sem medo de errar, que há quem vista a fantasia e procure dar a mesma dimensão a seus atos, sempre na melhor das intenções. Tenho a impressão que Lula e a consolidação do PT, partido criado sob sua égide, encaixam-se perfeitamente no caso.
A trajetória do ex-sindicalista é digna de louvor. Fico a imaginar o que teria motivado este quase iletrado personagem a dedicar toda sua vida à causa, depois de sair derrotado em três eleições presidenciais em pouco mais de dez anos. Somente uma força maior, a vontade de fazer algo por aqueles que, como ele, viveram a miséria do dia a dia, poderia alçá-lo a esta condição. E então, na qualidade de super herói, o representante do povo chegou ao poder.
É exatamente este o ponto que diferencia ficção de realidade. A primeira não encerra ciclos, não transplanta personagens para a fase pós-conquista. Eles simplesmente não chegam lá! A cada episódio há um reinício, uma nova aventura que coloca nossos amados heróis frente a frente com vilões inescrupulosos. Eles os derrotam, salvam a mocinha ou o necessitado, são aclamados pela população. E amanhã começam tudo de novo. Se tivessem a oportunidade de efetivamente gozar do poder que conquistam, refastelariam-se em seus novos domínios e desfilariam um panteão de barbaridades que só acontecem na vida real. Vejamos: Robin Hood cederia parte de suas terras ao xerife de Nothingham para que pés de maconha fossem plantados e os lucros do tráfico divididos; Zorro contrataria o sargento Garcia e oito de seus familiares como assessores políticos, lotados no gabinete do mascarad0 às custas do dinheiro do povo; Batman receberia, através da fundação Wayne, doações de altas somas de dinheiro desviadas por seu colaborador Coringa, um expert na contratação de empreiteiras para as obras do novo anel viário de Gottham City. Valha-me Deus!
Nossos ídolos de infância, felizmente, não estão sujeitos a estas situações. Ao contrário do paladino justiceiro, que em alguns parcos anos viu a credibilidade do seu partido ruir com dólares na cueca, denúncias de mensalão e tantos outros procedimentos que só cabem a quem chega lá. Ou dar crédito a Sarney, seu antigo desafeto, não faz parte do jogo? Perder o apoio do PMDB para a candidatura Dilma só porque o velho dinossauro embolsou alguns trocados a mais? Que é isso, companheiro!
Super herói, na ficção ou na vida real, é título dedicado a poucos. Mas lá ou cá, tem como base a manutenção de princípios éticos que independem de que lado do poder se está. É assim que são forjados os verdadeiros heróis.

11 de agosto de 2009

5 regrinhas básicas


Fortaleça o corpo
Alimente-se de produtos que não agridam seu organismo. Opte pelos legumes, verduras e frutas, carnes magras e peixe. Evite gorduras, açúcar, sal e álcool em demasia.
Fortaleça a mente
Busque conteúdo. Trave conversas que enriqueçam e estimulem, aceite a perspectiva de outros pontos de vista e isente-se de julgamentos.
Fortaleça o espírito
Respire corretamente, esvazie o cérebro. Medite sempre que possível, nem que seja por 5 minutos ao dia. Sinta-se pleno pelo pertencer coletivo.
Fortaleça os laços
Sorria, abrace, beije. Valorize a família, os amigos e todos que querem seu bem.
Fortaleça a compaixão
Externe sua bondade em potencial. Estenda a mão, auxilie, respeite. Se você já chegou lá, lembre-se que ainda há outros que precisam de ajuda.
Pronto. De dentro pra fora você constrói um caminho melhor para você mesmo, os seus e o ambiente que o cerca. Mãos a obra!

Crédito da foto: Towa-to

7 de agosto de 2009

Ode à sensibilidade

Fernando Pessoa (1888-1935) foi um destes poetas cuja obra permanece viva em detrimento do tempo. Ao lado de Camões, é considerado um dos maiores expoentes da língua portuguesa, tendo seu nome imortalizado na galeria dos grandes autores do século XX.

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido"

Dentro dos padrões cibernéticos do século XXI (velocidade - tecnologia - informação - conexão), qualquer indivíduo que saia às ruas dizendo ter ouvido 'passar o vento' será tachado, na melhor das hipóteses, de insano. E na pior delas, um excluído que se ateve aos dogmas do passado, um antiquado que não soube acompanhar os desvios do tempo e a nova realidade se adaptar.
Talvez seja esta a diferença que nos separa do século passado, aquele do qual saímos ontem e onde 'ouvir o vento passar' se revestia do lirismo com o qual não estamos mais acostumados a lidar. Sábio é quem ainda tem o privilégio de vivenciar situações como essa deixando de lado, ainda que momentaneamente, o caos tecnológico que se estabeleceu em nossas vidas. Imaginá-las sem computador, celular e internet, orkut, facebook ou twitter, é um exercício que não cabe mais na alma de qualquer mortal que já mergulhou no novo século. E como voltar atrás não é mais possível, resta-nos saber dosar o passar do vento com o passar dos kbps que alimentam a rede (estivesse o poeta vivo e provavelmente diria "às vezes ouço os kbps passando; e só de ouvir os kbps passar, vale a pena estar conectado), equilibrando-nos entre o que é necessário e o que faz valer a pena ter nascido.
Não é o seu padrão de vida e o quanto você está inserido na sociedade tecnológica e de consumo que faz essa diferença. O que faz mesmo valer a pena ter nascido é a sua capacidade em ler os sinais da vida, da natureza, do respeito do homem para com seu semelhante e todas as espécies que habitam o planeta, além do próprio planeta.
É escutar, ao longe, o coração do universo. E aqui, bem ao pé do ouvido, a passagem do vento.

2 de agosto de 2009

Que país é esse? II

Que a elite tem lá seus privilégios não é nenhuma novidade. É sua condição econômica, que passa pela posse dos meios de produção ou dos alicerces do sistema financeiro, que faz com que a roda se movimente de acordo com seus interesses. Quando estes se alinham com a política e a influência que podem exercer sobre a classe, volúvel e acostumada ao ganho fácil, sai de baixo. Fome e vontade de comer saem andando de mãos dadas como se este país, tragicômico por natureza, não tivesse outras prioridades. Uma vergonha!

Tudo isso pra dizer que o governo do Rio de Janeiro disponibilizou R$ 9,5 milhões para o torneio de hipismo Athina Onassis, que ocorre na cidade. Ou seja, o dinheiro do cidadão banca quase 70% de um evento em que cavalinhos de pelos lustrosos e brilhantes, cavaleiros e amazonas em trajes de gala e a nata da sociedade carioca, lado a lado com o mundo das celebridades, desfilam suas alegorias. Imagino que seja porque o nome Onassis ou a sociedad hípica carioca não sejam suficientemente influentes para levantar fundos junto ao setor privado a fim de bancar seus mimos. Não é?

Só rindo. Há uns anos eu mesmo estive em via de produzir uma revista voltada para a nata (era para o gerenciamento de grandes fortunas) e, é claro, fui atrás de anunciantes. Itaú, Santander, Bradesco, Mont Blanc e Jaguar, apenas para mencionar alguns, abriram suas portas sem cerimônia e se interessaram pelo projeto sem muito esforço. Concretizar foi uma outra história, mas até aí não me chamo Onassis e nem galopo com seus pares...

Justificando tamanho absurdo, a secretaria de turismo, esporte e lazer do RJ disse que o evento produz "credibilidade internacional e benefícios incalculáveis" para a cidade (são quantas as favelas que existem por lá atualmente?). A prefeitura, em algo que teve ter sido um acesso de insanidade, chegou a afirmar que o evento foi capaz de lotar o Copacabana Palace em baixa temporada, além de ocupar 92% e 75% do restaurante Fasano e o hotel Intercontinental respectivamente. Com todo o respeito, vai aqui o meu foda-se. Cavaleiros e cavalinhos são suficientemente hábeis para não depender de dinheiro público para seu circo, ainda que se trate de uma etapa do circuito mundial de hipismo. A Folha menciona que "segundo artigo da lei, não é permitido que um projeto com reconhecida capacidade de obter patrocínios, recorra à renúncia fiscal" (lei de incentivo ao esporte, através do qual o evento obteve a grana).

O que este país precisa é de vergonha na cara para enxergar suas verdadeiras necessidades e trabalhar por elas, não jogar fora recursos na mão de quem não precisa!

1 de agosto de 2009

Charak em 2 tempos





SP, 1969 ... ...RJ, 1974



"Tempo... O eterno desafio de a ele se opôr como se seu esgotamento fosse imediato. Transferimos o poder que nos torna senhores e escravos de sua natureza: quanto mais o temos, mais o ignoramos. E quando ele parece nem existir, imerso em sua condição ilusória, abre-se o atalho que recria a condição da vida".
(O último mensageiro)

Cris, suas fotos de infância foram inspiradoras, obrigado!



29 de julho de 2009

A criação a serviço da vida


Diferentemente do que foi colocado no último post, quando a criação prestou-se a mero instrumento de vendas, aqui, ao contrário, faz uma reverência à vida. E que reverência! Sem mais delongas, vamos a ela, lembrando apenas que, uma vez mais, estamos falando de um elemento essencial à vida e que fará a diferença em futuro não tão distante: a água. Aqui, o coral imita a chuva, iniciando com ligeiros pingos, aumentando de intensidade até virar uma tempestade e depois recolhendo-se silenciosamente. Boa viagem!



25 de julho de 2009

O efeito Evian

Evian. Famosa marca de água mineral de origem francesa pertencente ao grupo Danone e produzida às margens do lago Genebra, na fronteira com a Suiça. Na prática, podemos chamar de glamour engarrafado. É a marca de água mais vendida no mundo, 1,5 bilhão de garrafas comercializadas por mês em cerca de 125 países. Faturamento razoável, não?

É o que permite às marcas tornarem-se expressivas e conquistarem seu espaço no mundo da comunicação, criando uma aura mística ao redor de sua imagem e fazendo o possível, as custas de milhões em investimento publicitário, para se perpetuarem na mente do consumidor. Um "vácuo privilegiado" (não sei de onde tirei isso, mas vou diminuir o vinho) a projetar seus 'mandamentos' como verdades absolutas, criando padrões mundo afora e convencendo milhares e milhares de pessoas a fazer parte de seu mundo (os mais velhos haverão de se lembrar do 'Venha para o mundo de Marlboro'). Assim nascem as grandes bobagens e a dependência psicológica no sórdido mundo da comunicação. Eu mesmo faço parte dele.

O comercial abaixo retrata bem o que desejo expressar, foi justamente por vê-lo (recebi por email do amigo Marcos Mello) que decidi escrever este post. A minha pergunta: até que ponto a comunicação pode se apropriar dos nossos valores e adaptá-los aos seus para que, em última instância, a venda se consuma? A aura de propriedade, alheia à realidade, deve manter o ciclo produção-comunicação-consumo a qualquer custo?

A resposta é não. Não se pode violar a natureza humana ou seus princípios apenas para que o ciclo não se rompa.

O filme, a primeira vista, é uma gracinha. E é mesmo! Nenês de patins, dançando rap, fazendo estrepolias, enfim, vivendo situações que não pertencem ao seu mundo, mas que se enquadram perfeitamente na lógica do vácuo privilegiado. Então, meus amigos, tá valendo. É Evian, e Evian tem esse poder! Estivesse o filme em outro contexto - uma mostra de cinema ou um curso de animação, por exemplo - e acho que valeria a pena. Mas toda essa caracterização para... Vender água? Não nos faz passar por um bando de idiotas que acha sensacional e aumenta o consumo (estamos falando de água!) porque a imagem dos nenês remete ao resgate da jovialidade? Que mundo besta é esse que cria códigos aparentemente simples, mas que no fundo só servem para mascarar a lógica perversa do ciclo (o tal da produção-comunicação-consumo de novo). E pensar que tem gente que morre de sede mundo afora...

23 de julho de 2009

A prática da aceitação


Texto extraído do Blog Zen Habits, de Leo Babauta e com ligeiras adptações

Uma das maiores fontes da infelicidade, segundo minha experiência, é a dificuldade em aceitar as coisas como elas são, sem julgar e sem desejar o contrário quando não estamos de acordo. Decidimos que não gostamos e pronto, julgamos como ruim ao invés de entender que não se trata de ser bom ou ser ruim. Trata-se apenas de ser.
Você pode aceitar as coisas como elas realmente são, sem julgamentos que levam a extremos de felicidade ou tristeza. Procure entender e aceitar: o que é, é como deveria ser. Isso pode ser aplicado em tudo: nas relações pessoais, nas relações de trabalho, no comportamento dos políticos ou em relação às más notícias que preenchem a mídia. Quando você passa a aceitar os fatos como são, sem julgamentos ou ressentimentos, você está dando um passo para criar sua própria paz interior. Você não se pegará mais dizendo 'isso é uma merda, aquilo é um saco'.

Aceitar significa não poder mudar o estado das coisas? Não. As coisas continuarão mudando, não porque você não consegue aceitá-las como são e se esforça ao extremo para mudá-las quando não atendem sua vontade; elas mudarão porque você será capaz de desfrutar do processo de mudar, aprendendo e evoluindo ao mesmo tempo.

Aceitar e entender. Os resultados virão por si mesmos.
“Sinta-se feliz com o que você tem, alegre-se pela forma como as coisas são. É quando você percebe que nada falta, que nada está fora do lugar, que o mundo lhe pertence.”

Lao Tzu

21 de julho de 2009

Comentários

Caro amigo(a), não sei porque cargas d'água esse blog não permite o acesso à página de comentários, a mensagem 'esta operação deverá ser cancelada' aparece direto e eu não consigo resolver! Pra quem quiser efetivamente entrar, sugiro que, depois que a mensagem aparecer, o enter for dado e a página saltar para o vazio, é só apertar o botão de volta lá em cima, à esquerda, que a página abre normalmente. Desculpem pelo transtorno!

18 de julho de 2009

Um mundo de máscaras

Durante 8 anos o psicólogo social Fernando Braga da Costa, no intuito de concluir sua tese de mestrado, trabalhou como gari varrendo as ruas da USP. Segundo ele próprio, que diz ter vivido como um ser invisível no período,'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência'. Professores e colegas que o conheciam dos corredores da USP simplesmente o ignoravam, não pelo fato de ter assumido um papel menos considerável dentro da estrutura funcional da sociedade, mas porque ele havia deixado de existir. Aos olhos daqueles, é como se o trabalhador fosse mera peça motriz, alguém que exerce função tão básica que não merece a mesma consideração (como se isso pudesse variar de ser humano para ser humano de acordo com sua instrução, cultura e posição). ''Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste ou em um orelhão'.




Tamanho preconceito. Me lembro certa vez de ter ido visitar minha cunhada em seu escritório e um dos porteiros era um antigo funcionário do prédio onde eu tinha escritório (ambos condomínios eram administrados pela mesma empresa). Cumprimentei-o e na entrada e me lembro que ao sair, já na hora do almoço e em meio à multidão que deixava o prédio, estendi-lhe a mão e lhe desejei boa sorte. Para meu espanto, ouvi uma voz feminina que em tom suave fez o seguinte comentário: "Você viu que coisa mais ridícula? Um cara de terno dando a mão para o porteiro". Aquilo me pegou de tal forma (imagino que ela tenha pensado que passaria desapercebido no meio daquela gente toda) que no mesmo instante fui atrás e perguntei qual era o problema. A mulher (a princípio achei que se tratava de alguém mais velho, cheio de recalques e tal, mas devia ter seus 30 e poucos anos) simplesmente me ignorou, como se não tivesse sido ela a emitir o infeliz comentário. Senti que ela se incomodou com minha reação, mas alguém com este tipo de comportamento não precisa mais do que 30 segundos para se recompor e voltar a habitar seu mundinho...


A verdade é que experiências como estas reforçam os abismos sociais que criamos e fomentamos, sempre de olho no papel representativo que cada um desempenha. Se o cara é um deputado ou jogador de futebol, tapete vermelho nele. Mas se é gari ou porteiro... Vamos criando nossos guetos e neles nos fechando, não apenas para permanecer alheios à miséria que nos cerca, mas para não deixar que ela invada nosso dia a dia e não o polua visualmente.


Respeitar e interagir ainda é um exercício de difícil prática para a raça. Finalizo com as palavras de Abel para seu companheiro de viagem:
"Compartilhar o que temos de melhor, sem questionar o quanto isso nos afeta como indivíduos, é o caminho que abre as portas para o amor fraternal e solidário. É exatamente disto que este planeta precisa"!


Foto: Aplomb