17 de julho de 2011

Nosso futuro (próximo, bem próximo)

Texto do amigo Sérgio Lopes

Primeiro, um rápido resumo do que foi publicado na imprensa, sobre o último encontro do IPCC.



“Neste ano, pela primeira vez, os cientistas reunidos no IPCC demonstraram total confiança de que a mudança climática se deve à ação humana.”

“O IPCC estima que até o fim deste século a temperatura da Terra deva subir entre 1,8ºC e 4ºC, o que aumentaria a intensidade de tufões e secas.Nesse cenário, um terço das espécies do planeta estaria ameaçada.”

“Populações estariam mais vulneráveis a doenças e desnutrição.”

“Mais de 1 bilhão de pessoas pode ficar sem água potável por conta do derretimento do gelo no topo de cordilheiras importantes, como o Himalaia e os Andes.”

Fonte: Imprensa em geral

“A continuidade na emissão do gás estufa na taxa atual ou maior causaria um aquecimento extra e

induziria muitas mudanças no sistema climático global durante o século 21 e muito provavelmente estas mudanças seriam muito mais impactantes do que aquelas observadas no século 20. {10.3}



Fonte: IPCC (2007)





Como chegamos nesse ponto?



Três importantes, mas não únicas razões:


1) A Praga

Os humanos vêm se alastrando rápida e perigosamente mundo afora, dizimando tudo que é forma de vida e sugando os recursos naturais do planeta.

Hoje, somos um rebanho de mais de 6 bilhões de cabeças, caminhando rapidamente para 9 bilhões, daqui há alguns anos.

Se já é difícil com 6 bilhões, imagine com 9.

Precisamos parar de crescer!


2) O Capitalismo não sabe frear

O grande segredo do capitalismo é trocar emprego por consumo. (O que é positivo!)

O capitalismo pegou carona no sucesso da democracia e cresceu assustadoramente nos últimos 30 anos, turbinado pelo extraordinário avanço tecnológico em informática, comunicações e outras áreas de tecnologia.

O mundo se globalizou e, a partir daí, surgiu um novo animal que prevalece cada vez mais na economia mundial.

As grandes corporações; nacionais, ou multinacionais.

Elas dominam cada vez mais o jogo econômico/empresarial / político/ social, tomando conta dos mercados que mais lhes interessam em todo o mundo.

Mas, em algum momento, em alguma escala quantitativa, essas “empresas” se desequilibram em sua função social, perdem de vista sua proposta inicial e tornam-se um tremendo agressor dos mercados e da natureza.

Um verdadeiro câncer, que se espalha com incrível rapidez, disfarçado de bom sujeito em suas marcas queridas e adoradas pelos consumidores do mundo todo.

Essas mega corporações, gerenciadas sistemicamente, passam por cima de qualquer princípio ético, social ou moral e vão, com tremendo apetite, detonando a natureza, consumindo ou destruindo seus já limitados recursos para saciar sua fome absurda.

O mundo desenvolvido já atingiu seu limite de consumo per capita possível e suportável.

Então, o sistema se expande de forma orgânica, (Darwiniana) em busca de grandes populações mais pobres para então, saciar sua fome e sua ganância desmedida.

E começa tudo de novo.

Mais emprego, mais crédito, mais consumo, mais dinheiro! mais dinheiro! mais dinheiro!

Que não se distribui!

Fica “A La Patinhas” nas mãos de poucos que nadam em dinheiro, enquanto todo o resto da população fica no mais tênue equilíbrio entre miséria e sobrevivência burguesa.

Imagine o que ainda está por vir?

Países como China, Índia, Brasil, Rússia, são a “bola da vez” para essas corporações, pois têm enormes populações e baixas taxas de penetração de bens de consumo.

Um prato cheio para o sistema explorar.

Isso já está acontecendo, basta ver o dia a dia na imprensa; os países do bloco mais desenvolvido, como Europa, Estados Unidos e Canadá já chegam ao ponto de exaustão desse modelo que, sem o crescimento necessário, já não consegue atender às necessidades básicas da população quanto à educação, emprego, segurança, saúde, previdência e vêm acumulando dívidas e mais dívidas, culminando na recente quebra da maior potencia global e representante maior desse sistema, que hoje deve impagáveis trilhões e tanto de dólares.

Enquanto o mundo desenvolvido padece com essa imensa e irreversível crise sócio/econômica, os BRICS nadam de braçada em questão de crescimento, tentando chegar cada vez mais próximos do per capita de consumo dos países “ricos”. Que glória!



Já imaginou o que vem por ai?





Serão mais:



• Milhões de automóveis

• Bilhões de celulares, computadores, e porcarias diversas...

• Trilhões de embalagens plásticas



E isso, não tem como parar, porque chegou a vez dessa população ter seu carrinho, sua casa, seus eletrodomésticos e por ai vamos...


3) O Tempo, uma bomba relógio, uma ilusão

Para nós, simples humanos, um século é o máximo!

Para o planeta e para o universo, são apenas 100 anos.

Isso não é nada.

E olha só o que já fizemos em apenas 50 anos!

Comprometemos a nossa saúde e nossas vidas de forma assustadoramente rápida nesses últimos 50 anos!

Basta ver as estatísticas; da água, do ar, do clima...

Existem vários gatilhos armados.

Não adianta alguns cientistas afirmarem que a coisa não é tão grave.

É grave sim!

O que acontece, é que qualquer dado estatístico referente ao planeta considera no mínimo, centenas de anos de base histórica, o que acaba mascarando a realidade mais recente e mais urgente.

Vejam o que fizemos em apenas, 50 anos!!!

A coisa é exponencial!

Cresce cada vez mais rápido e ninguém acha que é tão grave assim!

É muito grave! É gravíssimo! É urgente!

Vamos abrir então a mente, pois por algum tipo de feitiço, nossos olhos não querem enxergar o que ai está.

Considerando esses três principais fatores problema, segue como estímulo e provocação, um exercício para se evitar o pior e para ser praticado individualmente.

Principais Mandamentos para a mudança:

1. Enquanto estivermos em estado de emergência, não ter mais que um filho, ou nenhum filho, para não sobrecarregar a vida futura dos próprios, dos netos, do Planeta e, por que não, também a nossa.

2. Rever radicalmente nossos hábitos de consumo, aprendendo a comprar apenas o que é absolutamente necessário.

Não é tão difícil assim e é por uma boa causa. “Doe seu quinto jeans”

3. Procure comprar, sempre que possível, as coisas com o menor grau de industrialização.

“Faça você mesmo” é um bom conceito nesse caso.

Faça sucos, faça hortas, faça sua geléia, etc...

Compre mais produtos frescos e, se puder, orgânicos.

4. Preste muita atenção e dê mais valor ao lixo; ele é o principal parâmetro do nosso sucesso, ou fracasso.

5. Desligue-se do sistema por alguns dias e tente se aproximar mais da natureza, nem que seja na sua própria cidade e você verá como é possível mudar.

6. Lembre-se sempre que você é mortal e na sua futura viagem para o além, não é permitido bagagem. De nenhum tipo.

7. Sempre que possível, não use automóvel sozinho, utilize transporte público, ande a pé ou de bike.

8. Se você também acredita na causa, fale dela com o máximo possível de pessoas que puder.

9. Pare ou diminua o consumo de carne bovina.

10. Se você tiver filhos, explique a eles a situação e peça seu apoio.


24 de abril de 2011

UMA SOCIEDADE DOENTE CRIA INDIVÍDUOS DOENTES


A tragédia de Realengo completou mais um capítulo esta semana quando Wellington Menezes, autor dos disparos, foi enterrado. Ao contrário do que exigia em sua carta de despedida, pedia para não ser tocado por mãos impuras (não virgens, desde seu ponto de vista) ou adúlteras e repousar ao lado da mãe,Wellington foi enterrado como indigente e em outro cemitério. O destino traiçoeiro, o mesmo que ele reservou a inocentes que pagaram por seus delírios, seguramente optou por colocar em seu caminho mãos impuras - o que compete com exatidão a qualquer espécime macho que já tenha ultrapassado os 14 anos de idade - e adúlteras – que, convenhamos, em uma sociedade machista e hipócrita como a nossa, é absolutamente normal. O que não percebemos dentro desta linha de raciocínio e do ensino que atribuímos às nossas crianças é que estes conceitos, incluindo a segregação e o preconceito, se misturam, criando monstruosidades adormecidas que espalham pânico e pavor no momento em que despertam.




Wellington é cria de um sistema cruel que privilegia indivíduos desvirtuados desde o início e que é incapaz de corrigir suas próprias falhas. Um sistema que depende da exploração ilimitada para sobreviver e se perpetuar, como a cobra que come o próprio rabo. É ele quem incentiva a competitividade a todo custo, ainda que isso crie um abismo colossal entre aqueles que são aceitos e os que por ele são rejeitados. E é nesta divisão, suportada pelo preconceito, que surgem os primeiros sinais dos pequenos monstros que criamos.



Wellington foi vítima de bullying na escola, tendo sido inclusive atirado diversas vezes dentro de uma lata de lixo (de maneira figurada, passava a representar o que aquela escola tinha de pior). Claro que uma situação constrangedora na infância não faz dele vítima eterna nem justifica o ato insano, mas dá mostras do quanto a sociedade está despreparada para lidar com indivíduos cujos distúrbios são conseqüência de sua própria perversidade. Houvesse outra forma de preparo, conscientização e acompanhamento e muitas das tragédias poderiam ser evitadas.



O caso Wellington suscita dois pontos: 1. O que leva um grupo de crianças a jogar um colega dentro de uma lata de lixo? 2. Em que consiste um sistema de ensino que não consegue evitar este tipo de procedimento?



A primeira questão é fácil de responder: moldada nos padrões do preconceito, indivíduos “menos qualificados” (sem acesso ou com acesso restrito aos bens que a sociedade proporciona, como tênis e celulares, ou fora do enquadramento estético padrão, os gordinhos, feinhos, quietinhos e afins) são ‘filtrados’, viram motivo de gozações e todo tipo de provocações. São colocados à margem porque representam o anti espelho, ou tudo que o grupo ao qual pertencem não quer ver (até para não denegrir sua própria imagem). Fosse Darwin vivo e estaria testemunhando, com extremo desprazer, sua teoria da evolução aplicada da forma mais banal no futuro de nossa raça.



A segunda é um pouco mais complexa, mas dá mostras do quanto nosso ensino encontra-se despreparado para criar indivíduos gregários e conscientes (e que representariam o fim do que o sistema se propõe a perpetuar, um contra senso por princípio). Incentivamos a competitividade, segregamos o diferente e banalizamos suas emoções, cercando de preocupações somente aqueles capazes de sobreviver e vencer. O perdedor? Quem tinha noção que suas angústias poderiam levar ao extremo?



Somos todos responsáveis por aqueles que são atirados ao lixo. Monstros como Wellington são fruto das distorções que criamos para manter nosso sistema ativo e somente mudanças estruturais, não políticas de controle ou campanhas de desarmamento, mudarão o cenário. Enquanto isso, seguiremos contribuindo para a gestação destes miseráveis...

We don't need no education

We don't need no thought control

No dark sarcasm in the classroom

Teachers leave them kids alone

Hey! Teacher! Leave us kids alone!

All in all you're just another brick in the wall

All in all you're just another brick in the wall

(Pink Floyd, Another brick in the wall)

21 de fevereiro de 2011

O Último Mensageiro - Introdução


São Paulo me recebia com o costumeiro ar de indiferença em uma nebulosa manhã de novembro. A chuva pedia passagem em meio a tímidos raios de sol, que como pálidos frisos transpunham a barreira cristalina das nuvens em esforço inútil, desmanchando-se pelo caminho antes de atingir o solo. Quadro desolador para um mês de primavera, pensei, o sol a pino e o calor tranqüilizante teriam sido mais convenientes para a aterrissagem. Eu me perguntava que tipo de transtorno estávamos causando ao planeta para que reagisse de maneira tão contraditória, indignado que parecia estar diante do descaso e da insensatez humana. Que tecnologia maligna era essa, afinal, que insistia em justificar seus erros em nome do progresso, comprometendo a mais básica das estruturas? Haveria de existir, em sã consciência, algo mais importante do que a própria saúde da Terra?







Lancei um suspiro no vazio e desviei o olhar, deixando os pensamentos de lado. Passei a admirar o campo, o vasto território organizado traçado em perfeito contraste. E não é que sabíamos fazer coisas boas também? Um pouco de engenharia e uma boa dose de bom senso para desenhar o imenso tapete verde e suas nuances, tons claros e escuros que ganharam evidência, saltaram aos olhos e então cederam, até desaparecer por entre as nuvens. E foi quando tudo estremeceu. O avião pareceu perder altitude e os luminosos de apertar cintos se acenderam. Entrávamos em zona de turbulência e os golpes de ar passaram a chicotear o 747 para cima e para baixo como folha de papel. Engoli seco e virei para os lados em busca de um olhar sereno, um sorriso amigo ou qualquer sinal que pudesse me acalmar, mas a passividade era geral. Rostos se escondiam por trás de temores procurando disfarçar a agonia, provavelmente a mesma que eu sentia, camuflando as primeiras ondas de pânico que ameaçavam irromper. Isso ainda duraria intermináveis minutos, o alívio geral só viria depois que o avião baixasse por entre o mar de nuvens e novamente a terra se fizesse à vista.






Pouco depois entrávamos em procedimento de pouso em Cumbica e confesso que só senti o coração desacelerar quando a aeronave tocou a cabeceira da pista, deslizou mansamente sob a chuva e parou com elegância ao seu final. Desembarque, Polícia Federal, banheiro e bagagem. E a surpresa de encontrar Thais a minha espera. Um leve abraço e um beijo que durou poucos segundos a mais do que o usual foram as marcas do reencontro, nada de sorrisos ou traços de saudade. O olhar soberano ainda me fuzilou com indignação, deu meia volta e se afastou apressado pelo corredor. Um pequeno instante de hesitação e também saí, acelerando o passo para alcançá-la já quase do lado de fora. Lembro-me de ter sido preenchido por uma onda de calor, não soube precisar de onde vinha, que lambeu cada célula do meu corpo como se o transformasse no próprio inferno.






A considerar os eventos da ida até que foi um bom recomeço. Nove dias antes, Thais havia me acompanhado até o setor de embarque para ali, em meio à multidão, exaltada e fora de controle, vomitar uma montanha de insultos. De insano e débil mental a perdulário e outras expressões que prefiro não mencionar, havia jurado que aquele seria nosso último encontro. “Pode apostar sua alma nisso, Abel!”, dissera, o indicador colado ao meu nariz. Com todos os caprichos que o destino era capaz de nos reservar, lá estávamos juntos novamente, sem desculpas ou lamentos. O orgulho não lhe permitiria tomar a iniciativa, ela esperaria até o momento em que eu dissesse “Thais, se eu contar você não vai acreditar...”. Mas ele, o destino, julgou não ser necessário. Ela logo poderia constatar com seus próprios olhos.













* * *













Adoro chuva. Quando pequeno costumava compor rituais imaginários pelo quintal ladrilhado da casa em que morávamos na Vila Mariana, o rosto voltado para o céu em sinal de agradecimento e os olhos fechados em sonhos. Os pedacinhos vermelhos, espalhados pelo cimento e contrapostos a outros menores, negros, pareciam recebê-la como bênção, dilatando-se em sorrisos a cada pingo. O cheiro do chão úmido logo emergia e ainda hoje, quando a chuva beija o asfalto, me lembro daquela época como se fosse hoje. Por outro lado, detesto dirigir na chuva, recordação de uma experiência não muito feliz que tive aos seis ou sete anos quando meu pai, dirigindo seu Fiat azul em um dia como esse, perdeu o controle do carro e saiu capotando. Conotação de sonho, flashes do horror misturados ao alívio repentino de constatar, como por milagre, uma família escapando ilesa do desastre. Minha mãe rezava, agradecendo a Nossa Senhora Aparecida pela graça alcançada. Meu pai, desconsolado sobre os cotovelos no meio fio, chorava como se tivesse perdido tudo. Eu? Bem, diria que acusei o golpe. E de maneira tão intensa que me tornei incapaz de dirigir em dia de chuva, a lembrança irrompia e com ela todo o desconforto. Nestas condições preferia tomar um táxi ou nem mesmo sair de casa e, confesso, nunca me esforcei para que fosse diferente. Neste dia, porém, a costumeira sensação de descontrole não se fazia presente. Eu me sentia confiante - motivado sobretudo pelos acontecimentos que haviam me conduzido até ali – enquanto caminhava ao lado de Thais pelo estacionamento. Ela, irritada, buscava abrigo no guarda-chuva que fazia questão em não dividir comigo. Eu, alheio à raiva, atirava-me à água que trazia de volta a realidade do concreto urbano, escorrendo pelo rosto e deixando as lembranças de menino soprar em meu coração. Quando alcançamos o carro, minutos depois, Thais deu a volta pelo lado do passageiro e atirou as chaves na minha direção. E acho que foi só mais adiante, quando já estávamos na saída esperando a cancela se erguer, é que tive a sensação de que algo ruim aconteceria.






O silêncio reinava absoluto, vez ou outra interrompido pelo ecoar dos trovões. O horizonte que se erguia à nossa frente era denso e negro e inquieto como se a noite, intempestiva, abrisse caminho. Thais parecia hipnotizada pelos pingos cristalinos que se chocavam contra o pára-brisa provavelmente revivendo, em algum lugar da memória, lembranças de um passado comum não tão distante. Eu conduzia o veículo com surpreendente tranqüilidade, certo de que uma força maior me guiava na jornada. Mas nem por isso ousei desafiar o destino. Ao contrário. Louvei o mau tempo na expectativa de criar equilíbrio, e o que veio em resposta foi a completa falta dele. Nos segundos que se seguiram vi minha confiança interior ser varrida, milhões de pensamentos se chocando em desordem sob o efeito da adrenalina que me inundava. Senti a transformação do campo energético ao mesmo tempo em que os pneus perdiam aderência. Tentei diminuir, mas o celta não respondeu. A película de água que se instalou entre os pneus e o asfalto foi crescendo, crescendo, e então me dei conta que já não podia controlar mais nada. Thais virou-se para mim e pude perceber naquele par de olhinhos assustados uma expectativa tão ruim quanto a minha. O carro continuou em movimento por conta própria, ameaçou rodopiar e eu então tomei a única decisão que parecia estar ao meu alcance naquele momento: pisei no freio com força. O choque veio em seguida, a batida oca e surda que jogou o que quer que estivesse à nossa frente a uma curta distância mantendo-o ali, quase colado. Eu havia acertado alguma coisa, mas... O quê exatamente? O carro ainda percorreu alguns metros e depois parou enviesado como se tivesse perdido o fôlego. Thais estava bem, eu um pouco trêmulo e desorientado, a cabeça por entre as mãos ainda presas ao volante. E então descemos.














* * *













Não sei o que se passa na cabeça dessa gente. Amo meu país e meu povo, mas quando se trata de desrespeitar padrões parece que somos mesmo campeões. É por isso que eu acho que as coisas não funcionam muito bem por aqui. Existe um caos camuflado, um processo de sabotagem inconsciente que age por conta própria quando se trata de responsabilidade e bom senso. Afinal de contas, pode existir algo mais insano do que andar de bicicleta à beira da estrada em dia de dilúvio? Um garoto e seus... Não sei, treze anos, talvez, agora estirado no acostamento. Descalço e ensopado. Inconsciente, porém respirando, o sangue escorrendo pelo nariz e algumas escoriações no pescoço. Do ponto de ônibus que havia ficado para trás todos correram para o local, dois minutos depois chegava uma viatura da Polícia Rodoviária. Pronto, o circo estava armado. Eu? Completamente perdido, situações sem prévio aprendizado costumam me deixar apreensivo. Mesmo assim, e agindo por instinto, me agachei ao lado do garoto. Não saberia dizer exatamente para quê, mas eu achava que de algum ponto deveria partir. Dei-lhe duas batidinhas no rosto, não houve reação. O moleque ia morrer ali mesmo, pensei, enquanto eu conseguiria correr alguns metros até que a multidão em fúria me alcançasse e desse início ao linchamento.






“Fique calmo”. Foi o que me lembro de ter ouvido assim que minha consciência fez a conexão com o mundo real novamente. “Chegue para lá, quero ver o estado dele”. Dois policiais haviam rompido o cerco formado pela multidão e estavam agora junto a mim. “Estávamos parados do outro lado da pista, um pouco mais para trás, e vimos o que aconteceu”, o outro emendou. “Você perdeu o controle do carro e saiu derrapando, chegou no acostamento e atingiu a bicicleta”. Não acredito! “Ele deve ter batido a cabeça na queda. E olhe essa perna aqui, houve fratura”. Meu Deus, onde tudo isso vai acabar? “Vamos removê-lo para a viatura. Pegue o seu carro e nos siga até o hospital”. Hospital? Eu não sabia se respondia, acatava em silêncio ou pensava em coisa melhor. Na verdade não me sentia em condições de pensar, mas isso começou a mudar tão logo me virei na direção da massa. Foi como se cada músculo fizesse o movimento em câmera lenta, as batidas do meu coração se misturando às vozes e se perdendo ao longe enquanto os pingos da chuva explodiam em meu rosto, transformando-se em milhares de novos pingos. Estava vindo. Isolei meu pensamento, pisquei mais forte e saí de cena.






Havia chegado o momento.






Fechei os olhos e os ensinamentos maravilhosos que eu havia recebido dias antes afloraram. Estendi as mãos para frente e voltei-as para o céu – parecia não chover sobre elas – e logo a energia se fez presente. A luz azulada e serena, a mesma que eu tivera oportunidade de acessar durante a viagem, tremulava por entre meus dedos. Ninguém pareceu notar, nem mesmo Thais, que havia ficado para trás no meio da confusão. A multidão nem parecia estar mais ali. Eu não ouvia suas vozes, não via seus rostos. Minha atenção estava centrada apenas no garoto e tudo que fiz foi envolver a perna fraturada por entre minhas mãos no instante em que os policiais se preparavam para removê-lo. “O que você pensa que está fazendo?”, um deles se antecipou e me segurou pelo braço, ao mesmo tempo em que parecia não querer impedir. Mantive as mãos naquela posição por alguns segundos, guiando meu pensamento para que a luz penetrasse na região e corrigisse o estrago. A aplicação foi rápida e em seguida o garoto despertou feito um coelho assustado. Levantou-se ligeiro, sem se dar conta que era o centro das atenções de toda aquela multidão e, sem apresentar qualquer sinal da fratura, limpou o nariz, montou soberano em sua bicicleta e saiu pedalando em disparada sob a chuva. Todos permaneceram ali parados, incrédulos. Olhos vidrados, cinqüenta ou sessenta pares, voltados para minhas mãos. De suas bocas saíam murmúrios que eu não conseguia entender, lágrimas brotavam com emoção. Duas senhoras fecharam seus guarda-chuvas, ajoelharam-se sob o sinal da cruz e se puseram a rezar. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, o policial disse, a expressão de quem não podia acreditar no que havia acabado de presenciar. Desvencilhei-me com delicadeza, abri um sorriso cínico e corri para o lado, alcançando Thais e a empurrando para dentro do carro. “Vamos”, eu disse, “ainda não estou preparado para os autógrafos”. Como que negando a cena, ela balançava a cabeça de um lado a outro. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, repetiu, as palavras carregadas de um sarcasmo desnecessário. Detive-me à porta, fixei o olhar nela por sobre o ombro. “Claro que sei. Vamos sair logo daqui”.






O silêncio parecia ter costurado seu último suspiro. E a chuva, ao contrário do que eu imaginava, não havia cessado.




6 de fevereiro de 2011

DOIS ANINHOS DE BLOG - LIÇÕES DE VIDA

No mês em que este blog completa dois aninhos de existência, oportunidade em que aproveito para agradecer a D'us pelo dom da palavra e a todos os amigos pelas visitas, comentários e incentivos, vem a vida me brindar com uma ocasião toda especial. Sempre que posso, traço essas linhas para fazer lembrar o quanto é importante viver em estado de comunhão, respeito e solidariedade, para que a vida floresça e a felicidade esteja ao alcance de todos. E às vezes, em casa de ferreiro...

No sábado fui ao supermercado. Na minha frente, à entrada do estacionamento, havia um carro que parecia ter dificuldades para pegar o ticket para que a cancela levantasse. Esperei pacientemente enquanto nada acontecia, depois pensei em buzinar para ver se o sujeito se tocava e mudei de ideia quando vi a porta do carro se abrindo. Pensei 'nossa, o cara vai descer do carro para  pegar o ticket...' - e foi quando senti o arrepio varrer minha espinha de cima abaixo.

Depois que estacionei, ainda tive que ficar uns 5 minutos dentro do carro pra conter a emoção e o arrependimento. Quando nos centramos em nós mesmos e esquecemos do mundo à nossa volta, esquecemos de respeitar o próximo - seja ele quem for - e suas limitações - sejam elas de que ordem for. Só atingiremos o estágio final da evolução quando formos capazes de amar indistintamente, como sempre pregaram os mestres. Essa é nossa prova defiitiva.

Cruzei a pessoa em questão minutos mais tarde, em um dos corredores. Tentei falar-lhe, mas a voz não veio, registrei a foto para não esquecer. Pelo ângulo não dá pra ver, mas ele come um pastel e segura a chave do carro nas mãos, que são quase coladas aos ombros. Não há braços.

Como disse certa vez meu bom e velho amigo Michel, singelamente homenageado em 'O último mensageiro' como o agente Mitchell, o que vale nessa vida são as emoções que dela se levam. Cada experiência, cada emoção, mais um passo para a evolução. Valeu, Mike!



3 de fevereiro de 2011

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA

Tomo emprestado o título da obra de Garcia Marquez para expressar a natureza humana e suas nuances, muito embora o cólera em questão, que se refere ao aspecto da enfermidade, sirva apenas como contraponto. São lapsos que podem suscitar dúvidas sobre o verdadeiro valor de nossa essência, colocando por terra tudo aquilo que cultivamos como princípios e verdades. Mas, como diz o próprio nome, são apenas lapsos.

Procuramos fazer de nossa passagem por este planeta (seja porque somos incumbidos desta missão, seja porque assim desejamos) trajetória que se alinhe com nossa essência e os princípios pelos quais vivemos. Isso é básico e eterno, não muda. Por exemplo: um ser essencialmente humano vibrará de maneira a auxiliar no crescimento de seu semelhante, mesmo que vez ou outra se desvie de seu caminho (o chamado lapso, que como pedra dificulta seus passos, podendo até levá-lo a uma estrada desconhecida. Cabe a ele, por sua essência, reencontrar seu caminho e fortalecer-se em seu desejo original).

Pode parecer distante, mas isso ocorre conosco todos os dias. Por vezes nos vemos envoltos em lapsos que não traduzem nossa verdadeira essência, e que de uma forma ou de outra nos levam a caminhos que não desejamos percorrer. Como a estrada é longa e a jornada eterna, sempre há um meio de reestabelecer o equilíbrio, por mais difícil que possa parecer. Não importa o tamanho do buraco ou o estrago que ele causa: há um elemento que permite encontrar forças para que a essência seja sempre reestabelecida.

Esse elemento é o amor. O amor em sua instância mais ampla, na incrível experiência de ser emanado para tudo que nos circunda. O ato é avassaladoramente potente, rompe barreiras e deixa de lado distúrbios de menor ordem. Às vezes é dificil fazê-lo, principalmente diante das dificuldades do dia a dia, mas a insistência e a fé tornam a experiência única, sou a mais recente testemunha. Ame tudo a sua volta: pessoas, livros, animais, flores, cheiros, fotos, praças - expresse, olhe e diga que ama, você operará verdadeiros milagres. O amor que vai é o amor que retorna, seja na forma que for.

Orai e vigiai. E amai.  

15 de janeiro de 2011

CATÁSTROFE NO RIO: EPICENTRO EM BRASÍLIA

Tênue é a linha que separa indignação de revolta. No primeiro caso, levantamos palavras de ordem para protestar contra a administração pública que, ciente da situação, optou pela inoperância. No segundo, rasga no peito o desejo de armar-se com paus, pedras, facas e tudo mais que estiver à mão para invadir o congresso e botar todo mundo pra correr. O Brasil precisa, URGENTEMENTE, de uma revolução, de gente que tenha brio para derrubar as instituições que se fartam do poder por séculos e nada fazem diante de situações que não lhes diz respeito. A tragédia anunciada no RJ vem, uma vez mais, corroborar a tese de que as catástrofes só acontecem porque o que se desenha incialmente como manifestação da natureza ganha proporções absurdas - o número de mortos passará de 600 - porque não há estrutura necessária para evitá-la. E por que? Vejamos:

1. O governo do estado, que encomendou um estudo geológico sobre a região em 2008, sabia das condições de risco a que estava exposta a população serrana do Rio
2. Mesmo diante da constatação, não foi capaz de remover as famílias das áreas. O processo é lento e burocrático, exige a autorização das famílias e a remoção para outro lugar. Diante da resistência imposta por estas pessoas e pelo penoso processo de PLANEJAR (onde colocaremos todo mundo?), é mais fácil optar pela inação
3. As populações carentes podem até ser responsabilizadas, ainda que indiretamente, mas é demais que o brasileiro (aquele mesmo que se espreme aos milhares em dia útil pra ver apresentação de Ronaldinho na Gávea) tenha a coerência e o discernimento para não morar em área de risco. Óbvio que ele gostaria de morar em Copacabana, Leblon ou Ipanema, mas levemos em consideração sua situação econômica para entendermos, com facilidade, porque são feitas essas opções.
4. "O Brasil conta com especialistas e tecnologia para enfrentar situações desta natureza. O que não possui é vontade política". Palavras da cientista belga Debarati Guha Sapir.

Entendo que este último ponto reflete com consistência a posição dos comandantes deste navio chamado Brasil, que por um lado luta para se inserir entre as potências do primeiro mundo e por outro mal sabe lidar com seus problemas de ordem estrutural. É de uma irracionalidade sem precedentes pensar em copa do mundo e olimpíadas enquanto há questões absolutamente mais básicas a serem resolvidas. Pagamos impostos à exaustão, não vemos reversão em nada. Enquanto isso, a corja que se instalou no planalto quer mais é regar seus fartos jantares com prosseco e fumar charutos cubanos, ganhar R$ 26.000,00 ao mês (sem contar as verbas para isso e aquilo, auxílio moradia e etc) e fazer-se valer de benefícios que nós mortais não dispomos. Essa semana mesmo uma procuradora do estado do Rio, suspeita de dirigir alcoolizada, não teve que se submeter ao teste do bafometro por sua condição (havia entrado na contra mão, batido em um ônibus e atropelado uma doméstica). De onde diabos alguém tirou - e alguns aprovaram - esse privilégio, que coloca acima da lei pessoas por sua formação, que na prática comete os mesmos crimes e não é penalizada? Tem filho de deputado atropelador na cadeia?

Ainda temos muito a aprender. Mas enquanto contarmos com que faz do poder sua fonte de recursos sem ilimites, dificilmente teremos um país saudável e que crie condições para sair do buraco. Programas assisstencialistas serão sempre moeda de troca: não tiro a água do pescoço, mas pelo menos não morro afogado.
A tragédia do Rio é fruto de uma tragédia muito maior que se desenrola em Brasília todos os dias.

Foto: Terra

10 de janeiro de 2011

ÉTICA NO PAÍS DOS RONALDINHOS

Sempre acreditei que o principal mal que aflige este país é a ética, ou melhor, a falta dela. Ao longo dos séculos, desde o descobrimento até a entrada no séc XXI, passando por capitanias hereditárias, sesmarias, monarquias, senhores de engenho, escravagismo, indepedência, república, revoluções, golpe militar, AI5, sarney no congresso, Lula na presidência observamos, incautos, os princípios morais jogados no lixo em troca de privilégios ou corporativismo. Não foi assim no escândalo do mensalão? No caso Erenice? Na mais recente cartada de Lula, ao permitir passaportes diplomáticos para filhos e netos? A partir do momento que o operário passa de presidente a ex-presidente, o que o diferencia dos outros brasileiros a ponto de lhe garantir um privilégio como esse? A ética simplesmente deixa de existir quando são benesses reais que estão em jogo.

ronaldinho gaúcho vem para nos lembrar que a falta de ética não é privilégio da classe política e traz à baila a eterna discussão a respeito da linha divisória entre o preço que se paga para manter valores morais e o que é necessário para esquecê-los. No caso dele, especificamente, alguns milhões de reais. O jogador receberá cerca de R$ 1,8 milhão por mês, o equivalente ao ganho de cerca de 300 trabalhadores registrados pelo salário mínimo por um ano. Até aí tudo bem, se o futebol tem números astronômicos e gente disposta a pagar por isso, paciência. Em um país como o nosso é um acinte, mas paciência. A questão recai na maneira como profissionais ligados ao futebol lidam com o tema.

ronaldinho era um garoto pobre que cresceu na vida graças ao futebol. Foi eleito o melhor jogador do mundo um par de vezes, eu acho, mas é o exemplo claro que dinheiro não traz dignidade. Ao contrário, o boleiro parece querer compensar os anos de pobreza com o acúmulo desmensurado, que acaba por ultrapassar a barreira  do que é real e joga por terra valores que ele, se tivesse sido bem assessorado ao longo dos anos, teria tido a sensatez de adquirir. Não foi bem assim. Negociar sua volta  ao Brasil, passados dez anos desde sua (tumultuada) saída do Grêmio, mais uma vez lança mácula sobre seu nome. Mais uma vez, o valor do dinheiro sobrepuja os princípios morais que deveriam pautar qualquer tipo de negociação e que seguramente não tem lugar em países mais desenvolvidos. A falta de ética, meus amigos, é um traço marcante da cultura brasileira que mira o lucro desmensurado e que se consolidou através dos tempos, condenando pobres à sua insginificância e poderosos ao delírio. Ou não seria falta de ética um deputado receber R$ 20.000,00 ´+ verba disso e daquilo em um país que pensa instituir o PAC da miséria? Isso é a  falta de ética em seu grau mais extremo.

Se ronaldinho fará valer cada centavo gasto na sua contratação, cada lágrima de cada pequeno torcedor que ainda carrega em sua alma infantil um tanto de dignidade eu não sei, mas tudo que começa mal termina mal. A energia do dinheiro é sempre bem vinda e necessária, mas não pode colocar por terra a única coisa que o homem leva deste mundo: sua reputação.

O Brasil precisa de heróis, não de mercenários.

4 de janeiro de 2011

2011: um ano para o fim do mundo?


O calendário maia indica o fim de um ciclo (baktun) em 2012, tomado por alguns catastrofistas como a destruição do mundo. A Columbia Pictures adorou a idéia e transformou o temor em mega produção de US$ 200 milhões em 2009, muito mais interessada em valorizar cada centavo de dólar arrecadado do que propriamente mostrar ao homem que seu iminente destino é fruto de sua atitude. Quando se fala em 2012, fica a inevitável pergunta: estamos mesmo diante do fim dos tempos?

Há 4 dias, 2012 é o ano que vem. No ritmo alucinado que as coisas andam está muito mais próximo do que imaginamos, embora a data prevista para a grande mudança seja por volta de 21 de dezembro. O mundo acaba? Não acredito. Mas se transforma - seja em 2012 ou nos anos que se seguirão - disto não resta a menor dúvida. Porque se o homem não for capaz de parar e reavaliar seu modelo de vida, a natureza certamente o fará por ele. Estaremos diante de mudanças sim, cedo ou tarde, mas não se trata da destruição do planeta e a semente humana circulando sabe-se lá por onde. Trata-se do encerramento de um ciclo que abrirá espaço para novas perspectivas do modelo sócio-econômico humano estabelecido até aqui.

E não é porque seremos suficientemente flexíveis para a adpatação. Seremos obrigados. Ainda que existam  iniciativas nos mais diversos setores - reciclagem de lixo, agricultura orgânica, produção em escala sustentável, desenvolvimento de energia renovável - o ser humano ainda carece do olhar crítico necessário para garantir a subsistência da raça no futuro e encara seu dia a dia no planeta como uma corrida desenfreada para o acúmulo de coisas que as vezes nem mesmo ele sabe para que serve, mas porque seu vizinho tem. Não importa que isso condene a estrutura e os recursos não renováveis do planeta (há séculos baseamos nossa economia no carvão e posteriormente no petróleo, rasgando a Terra como o parasita que se vale do hospedeiro para subtrair seu sustento. No curto prazo sobrevive, no longo condena ambos à morte): quando for necessário parar e avaliar eu não estarei mais aqui...

Claro, que caia sobre as gerações futuras a responsabilidade de pensar em soluções. Até lá teremos tempo de sobra para derrubar árvores, asfaltar trilhas, desviar rios, realizar queimadas e descongelar polos. Fazer de crocodilos bolsas, de doninhas casacos, de alces troféus empalhados. Essa será a herança que deixaremos para os filhos dos filhos de nossos filhos.

Queria estar aqui para ver, quem sabe existam persianas em outras dimensões (com material reciclável, claro) para dar uma espiada.Veremos o homem se dobrar diante da mão reativa da natureza - lembrando apenas que não se trata de vingança, mas da lei natural de ação e reação - que cansada de enviar seus avisos apresentará a mudança dos tempos. 2012, 15, 46, não importa. Importa que ao homem seja dada a chance de rever seus conceitos e reestabelecer sua dignidade.