Por um mundo mais justo, por uma vida menos ordinária
24 de junho de 2021
22 de maio de 2021
16 de maio de 2021
O POÇO
Iván Massagué em cena de 'O Poço' |
Cuidado: spoilers!
Deve ter sido por volta de 1973-1974
que que tive meu primeiro contato com a Fórmula 1. Lembro-me bem porque, à
época, o Brasil era representado nas pistas pelos ídolos Emerson Fittipaldi e
José Carlos Pace. Mas lembro-me bem, também, porque me questionei, do alto dos
meus 10 anos, porque homens se dispunham a ficar entalados dentro de um carro,
dando voltas e mais voltas em um circuito até que um deles chegasse em
primeiro, enquanto no meu país pessoas pediam esmolas pelas ruas. A imagem que
me vinha à cabeça - e melbro disso como se fosse hoje - era daqueles carros sendo abastecidos, o combustível a
alimentar seus tanques, enquanto bocas espalhadas por aqui não tinham a mesma
sorte. Provavelmente pela primeira vez –
e tem sido assim nos mais de 17.000 dias desde então – passei a me perguntar
não somente o porquê destes abismos, mas como o homem estabelece suas
prioridades.
É por esta razão que filmes como
‘O Poço’ (Espanha, 2019) tem um significado mágico para mim. Vejo, através de
olhos alheios, questionamentos parecidos e crítica mordaz ao nosso modelo, que antes
de social é sobretudo individual, quando muito ampliado a pequenos grupos como
família, amigos, cooperativas, sindicatos ou partidos. O resto é apenas o
resto, seres inferiores cujo trágico destino foi traçado por uma entidade
etérea - comumente chamada de Deus - e que permanecem fora do nosso campo de
visão para que a vida (a nossa, não a deles) seja perfeita.
A trama do filme gira em torno de uma
prisão de 333 níveis (vide foto), cada um deles funcioando como uma cela. Nela habitam dois
prisioneiros e não há qualquer área de respiro, apenas um enorme vão central
por onde transita uma plataforma com alimentos. Os prisioneiros trocam de
nível, a cada de mês, de forma aleatória: podem estar no nível 3 em um mês e no
157 no mês seguinte, podendo voltar ao 43 no outro. Não há mérito ou pena,
apenas acaso.
A plataforma sai do topo da estrutura com os mais variados e requintados alimentos, preparados cuidadosamente por profissionais de cozinha. Vai do primeiro nível (1) ao último (333), permanecendo dois minutos em cada um. Este é o tempo que os prisioneiros dispõem para comer, não podendo armazenar nenhum tipo de alimento sob pena de toda estrutura sofrer sanções como frio ou calor intenso que os levará à morte. Desta forma, prisioneiros do nível 1 tem acesso a todos os pratos, vinhos e doces. Fartam-se até o encerramento dos dois minutos, quando a plataforma segue para o segundo nível com o que sobrou e assim por diante. Os personagens centrais encontram-se, no início, no nível 58 (ou algo assim), e quando a plataforma chega até eles já houve um estrago considerável. São praticamente restos de alimentos, pratos e copos quebrados naquele clima de fim de festa medieval que só vai piorar dali para baixo. É de se supor que os próximos níveis não terão comida até que a plataforma passe novamente no dia seguinte, provavelmente sob a mesma condição.
Paralelo com o mundo moderno: países da união europeia estariam nos níveis 1, 2 ou 3, enquanto os da África subsaariana estariam nos mais baixos. Uns comem, outros não. Ou, de forma menos abrangente, olhemos para dentro de uma sociedade – por que não a nossa? – em que a elite se lambuza com alimentos que à periferia não chegam. Mas afinal, não somos um coletivo? Por que uns tem acesso aos alimentos e outros não? Por que países ricos alimentam suas populações enquanto uma pessoa morre de fome a cada 4 segundos no mundo, de acordo com dados da UNICEF?
Porque quando a concorrência impera, ninguém se importa. A lei do mais forte se impõe, como se a busca por sobrevivência implicasse em eliminar concorrentes como se não houvesse alimentos para todos. Não somente há, estocados em gigantescos silos ao alcance dos privilegiados, como muitas vezes são descartados por estragam ao longo do tempo. Em um ambiente competitivo você corre o máximo que pode, procurar ultrapassar quem está a sua frente e pouco se importa com os que ficaram para trás. São invisíveis.
De volta ao poço. Goreng (Iván
Massagué), o personagem principal, pede aos prisioneiros do nível inferior ao seu que comam o
suficiente para saciar a fome, deixando alimento para os próximos níveis. Claro que é
ignorado (supondo que conseguisse subverter a lógica haveria comida para todos,
mesmo nos níveis inferiores). Na falta de colaboração, ameaça: se não fizerem o que ele pede, separando uma parte da comida para os demais, vai
cagar em tudo que estiver na plataforma antes que ela deixe seu nível.
Funciona. Se Goreng fosse o Estado, poderíamos pressupor que ameaças exercem papel preponderante no equilíbrio, e que de fato seguir as regras, com punição em caso de violação, funciona. Não se trata, portanto, de agir com espontaneiedade, como deseja um dos personagens. Na prática, somos instados a agir de forma altruísta sob coerção, já que em meio à corrida não temos olhos para o conjunto.
É por esta razão que, na sequência,
Goreng e um outro companheiro decidem, armados com barras de ferro, descer
junto com a plataforma andar por andar para que as duplas de prisioneiros comam somente o necessário. Como não contam com a boa vontade
de todos (principalmente os que se encontram nos níveis mais altos e que querem
desfrutar os privilégios, justamente por já terem estado nos mais baixos), vão
abatendo os ‘não solidários’ pelo caminho. A punição vai, portanto, além, tirando a vida
de quem não se dispõe a colaborar com o coletivo, ao mesmo tempo em que
demonstra o papel do estado totalitário que elimina os inimigos do regime.
A bondade humana, em essência,
não existe. Ela atua quando coagida, quando a inação leva à punição. Se você não concorda, é porque - amém - age de maneira diferente, é solidário e se preocupa com seu semelhante. Mas se você fosse regra, e não exceção, a maioria dos conflitos ao redor do planeta estaria resolvida. Enquanto isso, insistimos nos mecanismos de exploração e de luta ao invés de nos irmanarmos
(na ideia do filme, distribuir alimento para todos). Poucos, como Goreng, tem
essa capacidade, mas todos sabemos como a história termina...
24 de abril de 2021
DEUS & EU
No nascer do sol, no sibilar do vento, no canto infinito das águas do rio;
Conversamos em silêncio.
Suas ações se antecipam a meus questionamentos como que para
invalidá-los, assegurando a trajetória natural de tudo que existe;
Trocamos impressões.
Ele diz que não está lá como imaginamos. Está aqui, a
preencher cada espaço, cada vibração, cada nascimento. Cada gotinha de chuva;
Não há despedidas nem começo. Nem meio nem fim.
Apenas permanência.
Revisitando Concepções:
Há algo dentro de nós que se movimenta sempre na mesma direção. É puro instinto, uma engrenagem invisível que nos leva àquilo que mais valorizamos e que de alguma maneira nos pertence, assim como nos faz pertencer. Não há sentido concreto nisto, apenas a constatação de que as inúmeras divisões se espalham pelo mundo e, invariavelmente, criamos identidade com algumas delas. Um dom, uma filosofia, uma conduta. Nos tornamos aquilo que passeia por nossas mentes, remonta às nossas origens, dá sentido à existência. De uma maneira ou de outra, para fazermos aquilo que nos propomos fazer, não haveríamos de estar aqui por alguma outra razão.
Texto original criado em 2007 e postado em 2009.
14 de abril de 2021
PANDEMIA
Texto originalmente escrito em 21/03/2020
Muitos tem encarado a pandemia como uma oportunidade para que o homem reflita sobre seus atos e a forma como conduz a vida no planeta; outros entendem que se trata de um castigo divino – obviamente pelas mesmas razões – e, indo além, há os que acreditam em teorias conspiratórias que envolvem raças estelares ou sociedades secretas no planejamento e execução de macabra estratégia de controle, avaliando o comportamento humano em situações de confinamento e pânico generalizado.
Exceto pelo primeiro seleto grupo, os demais transferem a
responsabilidade das escolhas que até aqui nos trouxeram como sociedade
autônoma. Mas não é possível atribuir a alguma outra fonte, que não a própria
raça, a responsabilidade sobre os males causados ao planeta e a todas as
espécies que nele habitam. Incluindo nós mesmos.
Nós? Como assim? Quem é que em sã consciência pensa em
desenvolver um vírus letal que haverá de ceifar centenas de milhares de vidas?
(atualização em 14/04/2021: o número de vítimas é de 3 milhões no mundo
inteiro, o Brasil se aproxima de 360 mil)
Ninguém, obviamente. O problema não está na sua ou na minha
vontade, está na estrutura social e econômica estabelecida há séculos e que
cria contrastes – senão abismos – entre populações abastadas e empobrecidas, e
que serve como meio de cultura para que pandemias como a do Covid19 se
instalem.
Vejamos o caso da China e seus 1,4 bilhão de habitantes. 1%
dos ricos concentra nada menos do que 30% da renda, o que significa dizer que
14 milhões de pessoas tem ganhos mensais da ordem de R$100.000,00 enquanto 99% da
população – isso mesmo, 99% que equivale a 1,386 bilhão de pessoas – tem algo
em torno de R$ 2.500,00 mensais (‘Parasita’ é uma produção coreana, mas a
relação se encaixa muito bem aqui e recomendo ver o filme). Com maiores ou
menores distorções, este é o modelo que se replica ao redor do mundo e que
exige que populações desfavorecidas busquem alternativas de ganho para sobreviver,
ainda que isso implique em comercializar animais silvestres vivos em péssimas
condições de higiene (há relatos no país de populações inteiras que saíram da
miséria graças a criação de ratos, um dos maiores vetores de transmissão de
doenças ao homem). É aí que entram roedores, víboras e morcegos, estes tolerantes
a vírus de diversas origens e que se espalham pelo mundo quando o homem invade
seus habitats. Trata-se de falta de opção em um mundo predatório onde, como
sugeriu Darwin, os mais fortes sobrevivem e os mais fracos se viram como podem.
Que se danem as aberrações porque, ao final, há um 'equilíbrio' ‘lógico' que
garante o 'sucesso' do modelo. E quando o modelo se perpetua, os efeitos
colaterais são devastadores. Estamos, literalmente, ‘vivendo na pele’ a consequência
destas escolhas.
Vai chegar o dia em que tudo isso irá acabar e a vida voltar
ao 'normal', ainda que seja o ‘novo normal’. E é aí que o seleto grupo dos que
acreditam em um modelo mais justo e equilibrado, na revisão de condutas e
responsabilidades e, finalmente, na possibilidade de um novo horizonte se
descortinar depois da trágica experiência, morre na praia. Porque eu aposto
justamente no contrário: mais volúpia e determinação em busca dos mesmos
objetivos. As perdas econômicas do período serão gigantescas e farão do homem
um animal ainda mais individualista, que não se importará em acentuar os
abismos que já conhece. E a tendência, infelizmente, é só piorar.
Mas e todos que estão trabalhando para mudar os padrões de
consciência?
Estamos trabalhando na elevação do padrão vibracional há
tempos, somos parte integrante de um movimento que respeita a natureza, prega
amor ao próximo, realiza trabalhos de conscientização, elevação espiritual e
cura. Porém, ainda não somos capazes de gerar a ruptura, até porque nenhum
modelo será substituído de forma abrupta como seria no caso do pós Covid (para
fazer parte deste trabalho visite https://www.explumiar.com/)
As rupturas se estendem quase que imperceptivelmente na linha
do tempo. O declínio do Império Romano, por exemplo: começa por volta de 300
D.C., com a invasão dos bárbaros, e Constantinopla (Istambul), o último bastião
do bloco oriental, cai em 1.453. Quando imaginamos aqueles povos vivendo nas
franjas do império e lentamente tomando conta, estruturamos o pensamento para
algo que se cumpre em dez, vinte, cinquenta anos no máximo. Estamos falando de
um processo que durou mais de mil anos!
As mudanças são paulatinas. Exigem dedicação e principalmente
paciência na gestação do processo, que será consagrado com a chegada de
lideranças políticas e econômicas alinhadas aos mencionados padrões (lideranças
mais ‘humanas’, por mais absurdo que isso possa soar; porque se agora o mundo
vai emergir de uma crise mais pobre e com as mesmas lideranças, não se pode
esperar outra coisa que não seja recuperar o tempo e o dinheiro perdido mantendo-se
o mesmo padrão). E isso só vai ocorrer a
medida em que seguirmos fazendo nossa parte sem desanimar, plantando a semente
do bem através de nossas ações, replicando conhecimento, caminhos de cura e
abrindo essa rede para envolver mais e mais pessoas até o ponto que sejam
tantas a exigir a mudança do modelo que não será mais possível mantê-lo de pé,
tendo então à frente pessoas aptas a fazê-lo. Curemos, pois, a nós mesmos, aos
outros e ao mundo porque esse é o caminho, essa é a responsabilidade que nos
cabe para deixar um mundo melhor para quem ainda vai cuidar dele.
18 de novembro de 2015
PARIS, MARIANA E O TERRORISMO
20 de setembro de 2015
CORRUPÇÃO, ESPORTE NACIONAL
13 de janeiro de 2015
PORQUE NÃO SOU CHARLIE
Vejamos: quando se cogitou a abertura da estação Higienópolis do metrô e a resistência da população local em aceitá-la, o humorista Danilo Gentilli foi um dos que saiu com a pérola de que os judeus moradores da região eram contra a ideia porque a última vez que andaram de trem tinham ido para Auschwitz. Não é preciso ser muito inteligente para constatar que a infeliz piada remete a um passado não tão distante que ainda mexe não só com aqueles que foram testemunhas de enormes atrocidades - e que parte hoje vive em Higienópolis - como das gerações que cresceram ouvindo seus relatos, e que naturalmente repudiaram a piada de mau gosto. Claro que ninguém pensou em matá-lo (se bem que alguns até devem ter tido a ideia) - não deve haver piada ou charge que justifique semelhante ato. Mas a indignação é evidente quando uma brincadeira como essa incorpora valores sagrados para um indivíduo ou grupo de indivíduos, é nesses termos que passamos a desrespeitar o próximo porque, na falta de sensibilidade, não damos importância às suas crenças ou valores. E aí se instala a discórdia.
Cristo morreu na cruz. Se eu resolvo fazer uma desenhinho com ele lá, pregado, um monte de mulatas em volta sambando, peladas etc etc seguramente estarei ofendendo a fé de milhões de pessoas em todo o planeta, simplesmente porque tive uma ideia criativa e engraçadinha. É preciso ponderar até que ponto sua própria consciência lida com este tipo de informação e não há melhor saída do que entender o que pregam as correntes espirituais do oriente: coloque-se na posição do outro. Só assim você consegue captar a essência da sua mensagem e fazer valer a sua liberdade de expressão sem ofender ninguém (em tempo: trata-se da minha visão em particular. Se voltarmos no tempo - os mais velhos haverão de se lembrar - uns 40 anos, existia no Brasil a revista satírica 'MAD' da qual eu era fã incondicional e comprava toda semana. Deixei de sê-lo no dia em que a revista publicou, na última capa, um foto de Hitler com o título 'Por que não perdoá-lo?'. Choveram cartas (sim, escrevíamos cartas para as redações) criticando a montagem, assim como chegaram outras em menor número achando genial. Questão de interpretação.
Se você não pode satisfazer a gregos e troianos, ao menos satisfaça sua própria consciência.