O conceito de riqueza passa pelo acúmulo desmensurado de bens e capital a qualquer custo, ao menos aos olhos dos políticos brasileiros que seguem a mesma prática perpetrada por seus antecessores portugueses desde os primórdios da colonização. Talvez seja esta a simbologia maior do poder, refletida no valor tangível que eleva seu proprietário a um status diferenciado, elitista e nobre, exatamente como se fazia há 500 anos. De lá para cá, pouca coisa mudou.
É neste contexto que, para eles, os fins justificam os meios, sobretudo quando a prática se instala entre seus pares e ficar pra trás é suicídio. Você é envolvido pela máquina, compactua com as ações escusas e, ao final, recebe seu merecido prêmio. Desde a época que me conheço por gente, quando Paulo Maluf era prefeito de São Paulo, a coisa já era assim. E vem de forma tão descarada e avassaladora que o mais comum é passar isso adiante como um ritual, uma prática de pai para filho, exatamente como ocorreu com o senhor supra citado e seu rebento mais famoso, Celso Pitta, mais tarde retirado de casa pela PF de pijamas por desvio de recursos públicos. Você se sentiria ridículo e incomodado ao se lembrar do episódio, mas me lembro de ter ido ao aeroporto e encontrá-lo no desembarque internacional, elegantemente vestido e distribuindo sorrisos como nada tivesse acontecido. Faz parte do jogo.
Ocorre que, obviamente, esse jogo tem seus efeitos colaterais. Se o sujeito se apropria de um montante que não lhe pertence, o destino original fica no vazio. E pode ser o sistema de saúde, a educação ou a segurança, já tão sucateados e sem qualquer perspectiva que os protestos que se espalham pelo Brasil afora vem em boa hora. Na cabeça destes párias, acostumados a um padrão que tem mais de 500 anos de história, que problema tem desviar uns R$ 500 mil, por exemplo? Eu me aproprio deste valor e amanhã alguém cobre, de algum lado sai. A luta para fazer parte desta elite, traduzida neste acúmulo desmensurado de valores, não tem escrúpulos e passa por cima das necessidades básicas da sociedade. Escrúpulos ou moral, a ponto do senhor Celso Pitta (apenas um entre milhares de outros exemplos), depois de tudo que roubou, dar a cara à tapa, expondo-se em sorrisos como se nada tivesse acontecido. O povo é dócil, ignorante, passivo, não é mesmo? Ao que tudo indica, esse tempo há de ficar para trás, a sociedade exige um basta. Ninguém deve pairar acima da lei.
As manifestações devem continuar e lutar contra tudo que se acumulou como lixo neste país nos últimos 50 anos. A voz que vem das ruas coloca sim, em risco, a prática erosiva, mas que não se iludam seus organizadores: manter-se apartidários permite obstruir decisões, mas não lhes dá o direito de tomá-las. Também é preciso organizar-se politicamente - criando um partido novo se a lei permitir, filiando-se a um existente, enfim - para expor suas ideias, ganhar apoio e assumir o leme desta nau sem rumo, dando um fio de esperança às gerações futuras.
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