20 de maio de 2009

O poder da religião


Diz a sabedoria popular que futebol, religião e política não se discutem. Tampouco vou me dar ao trabalho de fazê-lo, acredito que dentro destes 3 campos cada um tenha suas próprias crenças e, via de regra, as defenda com unhas e dentes, quase que cegado por suas convicções. O que farei aqui será simplesmente expor as minhas.

O caráter religioso - e vou me ater aqui aos povos do livro, judeus e cristãos; embora tenha grande apreço pelas filosofias orientais, não me sinto apto a incluí-las nestes comentários - pode ser dissecado de duas maneiras, lembrando que não estamos falando de um tratado filosófico nem de um estudo em profundidade, mas simplesmente das impressões de quem há anos convive com isso:


1. O caminho da fé, que desenvolve um mecanismo interno onde o sentimento de pertencer, coletivamente falando, é acionado.


2. O caminho da doutrina, que subjulga a essência da fé e do divino aos interesses humanos.



Olhemos pelo primeiro aspecto. Minha amiga Priscilla postou há questão de algumas horas em seu blog, olhos verdes, 'Deus, pastor dos homens', onde usa como referência o Salmo 22 e o poder mágico que este exerce sobre o espírito. Aquieta a alma, eleva a vibração, cria a perspectiva de luz onde ela não existe! Eis aqui um exemplo claro do serviço que a religião deve prestar ao homem (nunca ao contrário). Nas palavras da própria Priscilla: "Se não fosse pelo amor e pela fé, o que moveria todos os dias as pessoas aos seus trabalhos e desafios a vencer?" - Divino! Criamos nestes movimentos nossa conexão com a essência através da fé, da oração, do sentimento que se abre em busca de algo maior e que não precisa, necessariamente, estar contextualizado em nenhuma religião. Vale para todos: judeus, cristãos, muçulmanos, budistas, taoístas, masoquistas e quantos istas sejam necessários para se irmanar e criar esta conexão, sem se sobrepor ou sem tirar do indivíduo sua capacidade de discernimento. A partir do momento em que isso ocorre... Bem, é aí que as coisas se complicam. Por tabela, caímos no segundo aspecto.


A religião, na medida em que se afasta do tênue fio de esperança que representa o encontro do homem com Deus e que em última instância resultou em sua criação, não vai além de controle e manipulação, como se houvesse sido criada com este propósito. São homens subjulgando homens em nome de uma causa maior, que na prática perdeu sua razão de ser. A não ser que vislumbremos como correto padre que excomunga médico que faz aborto em menina de 12 anos, maquininhas de cartão de crédito que correm por entre fiéis para arrecadação de dinheiro (depois a bispa Sônia manda um postal de Miami!) ou judeus ortodoxos que tiveram que ser arrastados de suas casas construídas em território ocupado (leia-se palestino) quando o exército de Israel retirou-os à força, já que depender da boa vontade deles para dividir espaço com outros seres humanos, que não judeus, dentro de um território que por 'intervenção divina' é exclusivamente deles (ou nosso, já que circuncisado fui aos 7 dias ou algo assim, não me lembro mais), é algo impensável. E assim caminha a humanidade: eles te dizem o que fazer e o que não fazer, te dão obrigações e responsabilidades e pasmem, com tudo isso você ainda corre o risco de não ir para o céu. Os pressupostos do item 1 se foram. A essência, é óbvio, se perdeu.



Aqui, trecho do mensageiro onde Abel (eu te amo, cara, você é meu herói!) expõe a questão ao entrar em embate com um padre:



– Espere um momento – o padre Eliseu interveio. – Acho que temos questões mais preemente a resolver. Esse homem se intitula descendente de Jesus Cristo, um verdadeiro ultraje à religião!
– E por que, padre? – Abel o desafiou. – Porque a religião reconhece neste homem o espírito divino, porém nega sua condição humana? Cria a simbologia capaz de atrelar milhões à causa, sem deixar transparecer a verdade?
– Cuidado, meu rapaz, você está indo longe demais.
– Por questionar o papel da religião? Por ver nela um instrumento de controle que preserva suas “verdades”, que estabelece seus códigos e conjuga o poder? Ou o senhor vai me dizer que a Igreja não se prestou a este papel através dos séculos?
– Herege!
– Ora, padre, não sejamos hipócritas! Não posso negar que há um comprometimento espiritual neste caminho, principalmente daqueles que abraçam a fé com abnegação, mas é ingenuidade pensar no papel meramente religioso da Igreja. Ou o senhor acredita, por exemplo, que o espírito que incitou as cruzadas e a retomada da Terra Santa das mãos dos “infiéis” muçulmanos era apenas religioso? Os cavaleiros francos precisavam de ação para bancar suas fileiras e uma jornada ao santo sepulcro abria esta possibilidade, novas conquistas e principalmente novas propriedades. O senhor entende o que quero dizer, não? Suas riquezas aumentariam, e o que era mais importante, sem colocar em risco as da Igreja. Não sejamos ingênuos, padre, a religião sempre teve seus interesses.
– Se o senhor insistir em denegrir...

– Não se trata de denegrir – Abel interrompeu com a voz firme – mas de se fazer enxergar. A manipulação não é privilégio exclusivo da sua religião, padre. Todas, em maior ou menor grau, se afiguram como meio de disseminar o medo e manter o controle. Há uma certa validade, como eu disse, pois de alguma maneira estabelecem relação com o que é divino. Mas a verdade é que se perderam no tempo, cederam aos apelos dos mais poderosos. A quem Cristo incomodava ao criticar os preceitos de sua época, senão aos sacerdotes do templo? Não foram eles que apelaram aos romanos?
– O senhor está colocando em xeque o trabalho de Nosso Senhor? Seus ensinamentos?
– Claro que não, padre. Não questiono o papel de Jesus, mas sim o uso que se fez dele. Jesus foi um mensageiro enviado a este planeta para trabalho similar ao meu, apenas sob diferentes condições. A deturpação de sua obra é o que mantém o homem sob controle e afastado da verdade. A religião, senhoras e senhores, não atende a outros interesses que não aos do próprio homem!



Fim de papo. Sou torcedor do tricolor paulista de coração, quero mandar tudo que é político pra fogueira (podem me chamar de Torquemada que será um prazer) e essa é minha visão do quanto a essência religiosa foi deturpada. Em meu íntimo rezo, prezo e apelo. Não como judeu de origem, mas como um cidadão do universo em busca de melhores dias para todos que estão à minha volta, sem olhos para raça, credo ou cor. E como diria o grande e não menos amável Ricardo Calmon, VIVER É PURA MAGIA!



Crédito da imagem: Rob Brocoli ( o cara deve ser vegetariano)

10 comentários:

  1. Como Seres Divinos, estamos acima das religiões,..., que são preceitos de conduta gerados pela mente humana, com crenças e teores manipulativos.

    Quando sairmos do ego, enquanto humanidade, veremos que nos planos superiores isso não acontece, ninguém diz a ninguém o que se deve ou não fazer, cada qual segue sua própria consciência baseando-se nas Leis Universais de Amor, Sabedoria, Poder e livre arbítrio.

    Somos Mestres de nós mesmos e não necessitamos de nenhum ser encarnado (padres, pastores, rabinos,..) para nos gerenciar!

    Apenas continuando a relfexão...

    Luz, Paz e,..., Feliz busca de si mesmo neste Universo Infinito de inúmeras possibilidades - á todos!

    Tania Resende

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  2. Ótimo complemento, Tania! Bastam alguns preceitos e chegamos lá, ninguém precisa nos dizer o que fazer. Luz em seu caminho, hoje e sempre.

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  3. André, depois de ler o seu último post e não ter nem comentários e agora este seu "desabafo" em relação a espiritualidade que andam pregando por aí em templos e igrejas sem propósitos (vide seus próprios exemplos deveras tristes...).
    Mas o que gostaria de reforçar a você é que sua escrita e forma de fé também me fascinam. Respeito demais suas origens e convicções e tenho certeza que estou apenas iniciando meu caminho. Algo que só experimentamos a medida que vivemos. Um grande abraço e fico muito feliz de saber que minha forma de oração a ajudou nesta reflexão tão profunda, em busca de nosso verdadeiro encontro.
    Luz!!! Paz!!! Amor!!!

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  4. 'Pri', obrigado pelo 'empréstimo' das palavras e da reflexão. Como eu havia comentado, estava esboçando algo que o seu exemplo veio como ótima referência. O importante do caminho é não ter que vislumbrar um ponto de chegada, mas estar presente em cada etapa. Daí vem o aprendizado, nas fases boas e não tão boas. Tenha fé, nada é maior do que o poder de superação do ser humano. Bjo!

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  5. Andrew, espiritualidade e fé está em cada um de nós, independente do rótulo religioso. E fé, ao meu ver, é tudo. Se todos se agarrassem verdadeiramente na fé, o sentido da vida seria outro, algo próximo do que disse minha querida Pri. Gostaria de referenciar tbém a Tania Resende, que foi perfeita ao concluir, "..., Feliz busca de si mesmo neste Universo Infinito de inúmeras possibilidades - á todos!" Ótimo post meu amigo!

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  6. É isso aí, meu amigo, ninguem precisa estar inserido em nada pra alcançar a iluminação (e até onde vai a sabedoria humana, diria que muito pelo contrário). Gde abraço!

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  7. Ola André!

    adorei o seu artigo, concordo com você, acho que minha visão de religião também foi deturpada pelo anos de Teologia, muitas idéias entreram em conflito na minha mente.
    Hoje em dia deixo fluir, tenho a minha fé concebida um pouco fora do convêncional, mas Deus é a maior religião.
    Enfim...como você mesmo começou o post muito bem....tbém são tricolor paulista de coração. Um abraço amigo!

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  8. André , acredito que milhares de nós temos condições de discernir o caminho a seguir, outros tantos ainda não. Cada espírito está em um patamar de evolução e de acordo com a sua capacidade ele poderá escolher esta ou aquela religião que melhor atenda ao seu anseio, acho que esta é a razão da grande variedade de religiões que encontramos hoje no Planeta, cada qual com seu cadinho. Indiferente das proezas praticadas por este ou aquele chefe religioso, percebemos que dezenas de seguidores conseguem abrilhantar sua fé no Supremo, o quê por sí só, já é o bastante. Abs

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  9. Meu Bom André:

    Saber de origens reliosas suas,"ouvir"postura ecumênica sua,e a proposição de a vida viver,além de conhecimento ter de que tricolores somos,ahh!o que mais poderia esperar de um amigo embora recente,irmão?
    Crônica sua eleva cardíacos nossos!

    Brigadu por referência mais uma vez a blog meu!
    Te Amo Pessoa Íntegra!

    Viva a Vida!

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  10. "Não questiono o papel de Jesus, mas sim o uso que se fez dele." É isso!

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