Dizer que o Brasil é um país de contrastes não revela nenhuma novidade. Do clima árido da caatinga à geada catarinense, das belas praias nordestinas aos platôs do meio oeste, dos abismos que insistem em dividir ricos e pobres, por mais que o governo Lula tenha integrado à sociedade boa parte da camada miserável que por trás dela se escondia. Exemplos existem aos montes, mas nada fala mais alto do que a linha divisória que existe entre o homem público e o privado.
O congresso acaba de aprovar um aumento de 62% para deputados e senadores que eleva o salário da categoria para R$ 26 mil ao mês, sem levar em conta os extras como auxílio moradia, passagens aéreas, gasolina e motoristas, verba indenizatória e o diabo a quatro, totalizando a bagatela de quase R$ 1 milhão ao ano por safado. Sim, é isso que custa um parlamentar em um país em que ainda há fome, déficit habitacional, sisitema de saúde miserável, educação pífia e falta de saneamento básico (em Manaus, onde se pretende construir um estádio para abrigar a copa, pouco mais da metade da população tem acesso à rede de esgoto). Se estivesse vivo, Renato Russo insistiria em cantar seu famoso refrão 'Que país é esse?', que ecoa sem trégua na minha cabeça quando me deparo com abusos como esse. Dou passagem então aos Titãs e seu 'Bandido, corrupto, ladrão, filho da puta!' - porque não há outro sentimento capaz de tomar corpo ante tal acinte. E algum deles ainda se saiu com aquela que diz que se político ganhar bem não precisa roubar, outro tiro na cara do contribuinte. O que temos, na verdade, é um bando de pilantras que legisla em causa própria e se vê acima de qualquer preceito social que exige equilíbrio, bom senso e ação. Não é possível imaginar que um país do terceiro mundo, como somos, tenha políticos mais bem pagos que o Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra. Simplesmente não temos cacife para isso.
O que temos são profissionais de assalto que se preparam para tomar o poder e, uma vez dentro dele, agem de acordo com seus interesses. Nada, absolutamente nada justifica um salário de R$ 26 mil para uma corja em passo de caramujo que trabalha de terça a quinta e tem à sua disposição todas as mordomias que o dinheiro pode comprar. E dizer que estudaram e se preparam para isso? Temos aí o Tiririca para provar o contrário. O palhaço nunca riu tanto daqueles que deveriam estar lá justamente para dele rir. Seu primeiro projeto? Não entendeu a pergunta e respondeu que era comprar um apartamento...
Trago um exemplo sueco, que anda na contramão do progresso. Provavelmente porque o país deles seja atrasado, desinformado, sem estrutura e com indicadores sociais piores que os nossos. Deve ser isso que justifica a retidão, honestidade e principalmente o enquadramento do homem público no seu devido lugar, o de servir a comunidae que o elegeu. Sem excessos, mordomias ou nada que o faça pensar que sua posição o qualifica como um ser superior. Ao contrário. Seu objetivo, longe de ser o ganho particular, é servir. Afinal, ele é um servidor público dentro do conceito que foi criado, não moldado aquele que assumimos por aqui.
Bastilha neles...
Bastilha neles...