É copa do mundo. O clima festivo encerra, na ordem mundial do evento, a integração planetária em nome do popular, levado às últimas consequências nos âmbitos esportivo, tecnológico e mercadológico. Não necessariamente nesta ordem porque ao final, independentemente de quem se sagre campeão, Adidas, Puma, Nike e especialmente a FIFA saem como grandes vencedores, engordando as já polpudas somas depositadas em seus cofres. Nós, os aficcionados, alimentamos o vício, deleitamo-nos com as imagens que em menos de 30 dias farão parte do passado e abrirão novamente as portas da rotina.
Enquanto isso não acontece, o clima que toma conta do país é dos mais contagiantes. As ruas se revestem de verde e amarelo, o troar das vuvuzelas soa como música. É o desejo comum que une brasileiros pela 'causa'. Como pregava o hino da copa de 70, criado sob os auspícios da ditadura militar que via na conquista da copa a oportunidade para consolidar a imagem do regime, "Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração". Estimule as massas, faça-as parecer participativas e sempre terás controle.
Tudo é festa em dia de jogos do Brasil. Clientes abraçam garçons em bares, executivos saúdam, com entusiasmo atípico, porteiros e manobristas. "Dá Brasil hoje, doutor?" - "Na cabeça!", o doutor responde, polegar estendido e o sorriso torto. A troca é clara e o funcionário sorri para si mesmo, satisfeito por ter tido um segundo de atenção de seu empregador, de quem nem obrigado escuta no dia a dia. O 'efeito copa', entre outros, é esse. Nos torna parte de um mesmo ideal, nos leva a deixar diferenças de lado em nome da conquista, relegando a prática de ignorar o semelhante em segundo plano (principalmente quando se trata de indivíduos em condições econômicas ou sociais inferiores). Na copa do mundo somos todos irmãos.
Em duas semanas não haverá mais copa, muito menos o sentimento que cria essa identidade nacional. Virá o Natal, viveremos algo parecido e entraremos o ano novo já desprovidos da sensação. Esse é o movimento, o retorno aos interesses individuais circunscritos na própria insignificância e opostos aos desejos da comunidade. É o caminho natural dos políticos corruptos, dos mandatários inflexíveis, daqueles que se voltam para o próprio umbigo e trabalham, em última instância, em benefício próprio e dos seus. É o caso de Geddel Vieira Lima, ex-ministro da integração nacional no governo Lula durante 3 anos.
À frente do ministério, Vieira Lima destinou quase a metade da verba para prevenção de catástrofes naturais (como as enchentes que tristemente tomam os estados de Pernambuco e Alagoas nestes dias, com nada menos do que 154 mil desabrigados e cidades totalmente soterradas) para o seu próprio estado, a Bahia. Pernambuco, pasmem, levou menos de 4% e Alagoas ficou sem nada. Nada! Coincidentemente, Geddel Vieira Lima é pré-candidato pelo PMDB ao governo da Bahia. E do ponto de vista prático poderíamos até levantar a questão da razoabilidade do ato, já que o estado, sabe-se lá, poderia mesmo necessitar de mais verba. De 2003 a 2009, como noticiou hoje a Folha, a Bahia apresentou 431 casos enquadrados na condição de catástofre naturais. Pernambuco 542. A questão já havia sido levantada no início do ano, quando da tragédia que se abateu sobre Angra, e absolutamente nada foi feito. Agora, em escala emergencial, o governo federal libera verba para a região. E o bom e simpático Geddel segue em sua trajetória política.
É evidente a ação de favorecimento do homem quando há interesses outros em jogo. Um ministro de integração nacional, que teria por obrigação olhar para o país como um todo (a própria denominação diz, 'nacional'), provilegia seu estado porque sabe que beneficiará sua carreira, a despeito de tantos outros que serão prejudicados em função de seu ato. Ô raça filha da puta essa que domina nossas instituições!
O Brasil é um antro de crueldades neste sentido, mas o conceito pode ser facilmente estendido ao mundo: imensos estoques de alimentos espalhadospor países desenvolvidos enquanto outros, em condições adversas, tem suas populações passando fome; empresas 'escondendo' mercadoria para que seu valor de mercado suba (comum com commodities, como grãos) e aumente seus lucros; deturpação de conceitos como o não reconhecimento ao acesso à água como um direito humano (siga o link), como o Brasil teve a proeza de fazer no ao passado, na Turquia, durante o 5o. fórum mundial sobre água.
A igualdade não é, de fato e direito, para todos. Vale apenas quando interessa.
Tudo é festa em dia de jogos do Brasil. Clientes abraçam garçons em bares, executivos saúdam, com entusiasmo atípico, porteiros e manobristas. "Dá Brasil hoje, doutor?" - "Na cabeça!", o doutor responde, polegar estendido e o sorriso torto. A troca é clara e o funcionário sorri para si mesmo, satisfeito por ter tido um segundo de atenção de seu empregador, de quem nem obrigado escuta no dia a dia. O 'efeito copa', entre outros, é esse. Nos torna parte de um mesmo ideal, nos leva a deixar diferenças de lado em nome da conquista, relegando a prática de ignorar o semelhante em segundo plano (principalmente quando se trata de indivíduos em condições econômicas ou sociais inferiores). Na copa do mundo somos todos irmãos.
Em duas semanas não haverá mais copa, muito menos o sentimento que cria essa identidade nacional. Virá o Natal, viveremos algo parecido e entraremos o ano novo já desprovidos da sensação. Esse é o movimento, o retorno aos interesses individuais circunscritos na própria insignificância e opostos aos desejos da comunidade. É o caminho natural dos políticos corruptos, dos mandatários inflexíveis, daqueles que se voltam para o próprio umbigo e trabalham, em última instância, em benefício próprio e dos seus. É o caso de Geddel Vieira Lima, ex-ministro da integração nacional no governo Lula durante 3 anos.
À frente do ministério, Vieira Lima destinou quase a metade da verba para prevenção de catástrofes naturais (como as enchentes que tristemente tomam os estados de Pernambuco e Alagoas nestes dias, com nada menos do que 154 mil desabrigados e cidades totalmente soterradas) para o seu próprio estado, a Bahia. Pernambuco, pasmem, levou menos de 4% e Alagoas ficou sem nada. Nada! Coincidentemente, Geddel Vieira Lima é pré-candidato pelo PMDB ao governo da Bahia. E do ponto de vista prático poderíamos até levantar a questão da razoabilidade do ato, já que o estado, sabe-se lá, poderia mesmo necessitar de mais verba. De 2003 a 2009, como noticiou hoje a Folha, a Bahia apresentou 431 casos enquadrados na condição de catástofre naturais. Pernambuco 542. A questão já havia sido levantada no início do ano, quando da tragédia que se abateu sobre Angra, e absolutamente nada foi feito. Agora, em escala emergencial, o governo federal libera verba para a região. E o bom e simpático Geddel segue em sua trajetória política.
É evidente a ação de favorecimento do homem quando há interesses outros em jogo. Um ministro de integração nacional, que teria por obrigação olhar para o país como um todo (a própria denominação diz, 'nacional'), provilegia seu estado porque sabe que beneficiará sua carreira, a despeito de tantos outros que serão prejudicados em função de seu ato. Ô raça filha da puta essa que domina nossas instituições!
O Brasil é um antro de crueldades neste sentido, mas o conceito pode ser facilmente estendido ao mundo: imensos estoques de alimentos espalhadospor países desenvolvidos enquanto outros, em condições adversas, tem suas populações passando fome; empresas 'escondendo' mercadoria para que seu valor de mercado suba (comum com commodities, como grãos) e aumente seus lucros; deturpação de conceitos como o não reconhecimento ao acesso à água como um direito humano (siga o link), como o Brasil teve a proeza de fazer no ao passado, na Turquia, durante o 5o. fórum mundial sobre água.
A igualdade não é, de fato e direito, para todos. Vale apenas quando interessa.