26 de junho de 2010

Todos ligados na mesma emoção (quando interessa)

É copa do mundo. O clima festivo encerra, na ordem mundial do evento, a integração planetária em nome do popular, levado às últimas consequências nos âmbitos esportivo, tecnológico e mercadológico. Não necessariamente nesta ordem porque ao final, independentemente de quem se sagre campeão, Adidas, Puma, Nike e especialmente a FIFA saem como grandes vencedores, engordando as já polpudas somas depositadas em seus cofres. Nós, os aficcionados, alimentamos o vício, deleitamo-nos com as imagens que em menos de 30 dias farão parte do passado e abrirão novamente as portas da rotina.

Enquanto isso não acontece, o clima que toma conta do país é dos mais contagiantes. As ruas se revestem de verde e amarelo, o troar das vuvuzelas soa como música. É o desejo comum que une brasileiros pela 'causa'. Como pregava o hino da copa de 70, criado sob os auspícios da ditadura militar que via na conquista da copa a oportunidade para consolidar a imagem do regime, "Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração". Estimule as massas, faça-as parecer participativas e sempre terás controle.


Tudo é festa em dia de jogos do Brasil. Clientes abraçam garçons em bares, executivos saúdam, com entusiasmo atípico, porteiros e manobristas. "Dá Brasil hoje, doutor?" - "Na cabeça!", o doutor responde, polegar estendido e o sorriso torto. A troca é clara e o funcionário sorri para si mesmo, satisfeito por ter tido um segundo de atenção de seu empregador, de quem nem obrigado escuta no dia a dia. O 'efeito copa', entre outros, é esse. Nos torna parte de um mesmo ideal, nos leva a deixar diferenças de lado em nome da conquista, relegando a prática de ignorar o semelhante em segundo plano (principalmente quando se trata de indivíduos em condições econômicas ou sociais inferiores). Na copa do mundo somos todos irmãos.



Em duas semanas não haverá mais copa, muito menos o sentimento que cria essa identidade nacional. Virá o Natal, viveremos algo parecido e entraremos o ano novo já desprovidos da sensação. Esse é o movimento, o retorno aos interesses individuais circunscritos na própria insignificância e opostos aos desejos da comunidade. É o caminho natural dos políticos corruptos, dos mandatários inflexíveis, daqueles que se voltam para o próprio umbigo e trabalham, em última instância, em benefício próprio e dos seus. É o caso de Geddel Vieira Lima, ex-ministro da integração nacional no governo Lula durante 3 anos.


À frente do ministério, Vieira Lima destinou quase a metade da verba para prevenção de catástrofes naturais (como as enchentes que tristemente tomam os estados de Pernambuco e Alagoas nestes dias, com nada menos do que 154 mil desabrigados e cidades totalmente soterradas) para o seu próprio estado, a Bahia. Pernambuco, pasmem, levou menos de 4% e Alagoas ficou sem nada. Nada! Coincidentemente, Geddel Vieira Lima é pré-candidato pelo PMDB ao governo da Bahia. E do ponto de vista prático poderíamos até levantar a questão da razoabilidade do ato, já que o estado, sabe-se lá, poderia mesmo necessitar de mais verba. De 2003 a 2009, como noticiou hoje a Folha, a Bahia apresentou 431 casos enquadrados na condição de catástofre naturais. Pernambuco 542. A  questão já havia sido levantada no início do ano, quando da tragédia que se abateu sobre Angra, e absolutamente nada foi feito. Agora, em escala emergencial, o governo federal libera verba para a região. E o bom e simpático Geddel segue em sua trajetória política.


É evidente a ação de favorecimento do homem quando há interesses outros em jogo. Um ministro de integração nacional, que teria por obrigação olhar para o país como um todo (a própria denominação diz, 'nacional'), provilegia seu estado porque sabe que beneficiará sua carreira, a despeito de tantos outros que serão prejudicados em função de seu ato. Ô raça filha da puta essa que domina nossas instituições!


O Brasil é um antro de crueldades neste sentido, mas o conceito pode ser facilmente estendido ao mundo: imensos estoques de alimentos espalhadospor países desenvolvidos enquanto outros, em condições adversas, tem suas populações passando fome; empresas 'escondendo' mercadoria para que seu valor de mercado suba (comum com commodities, como grãos) e aumente seus lucros; deturpação de conceitos como o não reconhecimento ao acesso à água como um direito humano (siga o link), como o Brasil teve a proeza de fazer no ao passado, na Turquia, durante o 5o. fórum mundial sobre água.

A igualdade não é, de fato e direito, para todos. Vale apenas quando interessa.

15 de junho de 2010

Das origens


Presunçosos que somos, fazemo-nos valer de vicissitudes em favor da razão, acreditando no que é mais conveniente e construindo verdades próprias, muitas vezes forjadas em valores impostos ou mal direcionados. Vejamos o caso de Ahmedinejad, por exemplo. Para ele, o holocausto não passa de obra de ficção e a disseminação dessa sua 'verdade' estende o conceito a ponto de torná-lo um axioma (já vi questionamentos, na própria blogsfera, sobre o assunto, gente que escuta de orelha e passa a aceitar a nova 'verdade' sem consultar qualquer registro histórico. Esse poder pessoal, usado para distorcer a realidade, é comum e abominável). O que dizer das supostas feiticeiras que arderam até a morte nas fogueiras da inquisição? Não era a questão da bruxaria que estava em jogo, bem sabia Torquemada, mas o alinhamento incondicional de todos, sem excessão, com os dogmas da igreja (uma maneira de manter o rebanho sob controle e sem deixar espaços para outras opções). Podemos passar pela 'contribuição religiosa' da igreja universal (claro que é uma piada, mas essa 'verdade' vale para milhares), pelo 'caráter celibatário' dos membros do clero (pedófilo, eu?), a 'dádiva' do bolsa família (me engana que eu gosto), a negação da existência dos ETs (evidências existem aos montes, mas a verdade da CIA e do FBI é outra). Jesus não foi crucificado para expiar os pecados do homem? Não é essa a verdade da igreja? Ou na realidade se tratava do perigo que este homem representava às lideranças locais? Seja como for, são estas 'verdades' que saltam aos olhos dos incautos e funcionam como leis, quase que imutáveis, contribuindo para a manutenção do controle absoluto e criando toda sorte de distorções. Adão e Eva que o digam.


O mito mais antigo da humanidade tem sua raiz na origem do homem através do sopro divino. Louvamos a figura celestial não apenas para justificar o ato da criação, mas para a ele dar uma caráter sobrenatural e uma dimensão maior do que é, traço caracterísitico do ser humano. Que graça teria, por exemplo, se houvéssemos sido criados na condição de escravos de uma outra raça, que por este planeta passou há milhares de anos em busca de minérios? Já imaginaram? Nós, a elite do universo, seres criados por Deus em sua mais absoluta bondade (se assim fosse e, como diz a Bíblia, criados a sua imagem e semelhança, porque não herdamos o caráter gentil e construtivo ao invés de estabelecer leis que passam por guerras, extermínios e escravismo?), relegados à posição mais baixa na hierarquia social, que vexame. Seria nossa vaidade capaz de aceitá-la? Obviamente, a resposta é não. Nossa dignidade passa por submeter a condição da criação ao mito revelando, uma vez mais, nosso ego inflado e caráter exibicionista que se perpetua até os dias de hoje. Onde se encaixa a verdade?


Tampouco sei, mas há enormes evidências da natureza acima descrita na obra de Zecharia Sitchin, autor que defende a teoria da criação do homem a partir de seres extraterrestres. Seus estudos sobre a civilização suméria estão documentados em uma série de livros, sendo o principal deles 'O décimo segundo planeta'. Sitchin narra a vinda de seres do espaço em busca diamantes para recompor uma camada deste material existente em seu planeta de origem (como a nossa de ozônio), tendo encontrando na Terra, mais precisamente no sul da África (vale lembrar que testes com carbono 14 registram extrações nas minas de diamantes em cerca de 14.000 a.C., tendo o homem surgido no planeta cerca de 10.000 anos depois). A tarefa, por demais desgastante (a história é riquíssima e cheia de detalhes, narra a revolta dos trabalhadores liderados por um tal de Satan, o anjo caído, para acabar com as péssimas condições a que eram submetidos), mobilizou os chamados 'deuses' a criar uma nova espécie para cumprir com o papel. Para tanto, mesclou seus genes aos das espécies hominídeas que habitavam a Terra, por volta de 4.000 a.C., e criou o homem (já ouviram falar do elo perdido, do salto evolutivo do desenvolvimento humano em determinado período como se faltasse uma etapa na espécie? Pois é, isso explicaria tudo). A raça trabalhadora foi mantida sob controle até o dia em que conheceu o 'pecado original', o direito à reprodução. É esse o mito de Adão e da cobra (nada além de uma alusão ao genital masculino) que entra para a história como o primeiro deslize humano e que até os dias de hoje é condenado pela igreja, exortado como a origem de todos os males. E por que? Porque a reprodução permitia o crescimento da espécie e, por consequência, a perda do controle por parte dos deuses, que depois de cumpridas suas prerrogativas partiram, nos largando à própria sorte. É deles que herdamos o caráter bélico, explorador e colonialista (de algum lugar tinha que vir). Não é à toa que todas as civilizações, dos Andes ao oriente, apresentem deuses em seu panteão mitológico, muitos deles com características e traços semelhantes. Seria uma enorme estupidez não considerar tais evidências.

Por outro lado, crescemos na tradição secular do mito, vez ou outra mesclado com teorias evolucionistas em base científica. Do espaço? Nem pensar. Seria absurdo encerrar a origem humana em sua provável insignificância, além de jogar por terra os instrumentos de controle religiosos. Seria o caos.

Não tenho intenção de introduzir teorias que afrontem convicções religiosas ou pessoais, cada um tem a sua. Falo apenas do que entendo como verdade dentro de um processo histórico que leva em conta o caráter humano e sua trajetória ao longo dos séculos. Acredito em Deus e em toda sua bondade e magnificência, mas também na existência de seres imtermediários que negociaram nossa criação e que fazem parte da nossa história.
As verdades, a bem da verdade, nunca são absolutas.

6 de junho de 2010

O conflito árabe-israelense sob perspectiva histórica

Na semana que passou, os olhos do mundo voltaram-se uma vez mais para o estado judeu. Uma operação do exército israelense levou à morte 9 ativistas da chamada 'flotilha da paz', que tinha por objetivo romper o bloqueio econômico imposto à faixa de Gaza. O que houve, com exatidão, ainda não se sabe. Tudo leva a crer que a reação intempestiva dos soldados se deu por legítima defesa ante o ataque de alguns 'ativistas', ligados a entidades terroristas, que os receberam com paus, estilingues e instrumentos de corte. Por outro lado, há versões que mencionam a chegada do comando israelense por helicóptero de madrugada, armados até os dentes e atirando para matar (fosse esse o objetivo e o saldo de 9 mortos seria uma vergonha para a competente máquina de guerra israelense). Desde então a guerra vem sendo travada no campo midiático, nas versões apresentadas por cada lado em defesa de seus direitos. Esse é o jogo que comove a comunidade internacional e condena as ações israelenses visto que, em última instância, é a população civil de Gaza que sai prejudicada com o bloqueio. Deixando-se de lado por hora o processo histórico, apenas um fato se apresenta como verdadeiro: a legitimidade que qualquer país do mundo tem em garantir sua segurança ao obrigar que cargas sejam inspecionadas antes de entrar em seu território, sobretudo se serão encaminhadas à região controlada pelo Hamas, grupo fundamentalista/ terrorista que tem por objetivo a aniquilação do Estado de Israel. É imperativo que haja controle para restringir a entrada de material bélico e a flotilha da paz não escapa a esta condição.
Vozes se levantam, a favor e contra. Vídeos e mensagens pululam na internet, a favor e contra. A comunidade judaica se posiciona, exibindo vídeos da abordagem e mensagens de enfermeiras que atenderam ao chamado quando convocadas ao porto de Ashdod, para onde foi desviada a flotilha. O antisemitismo cresce, surgem comentários bestiais nos mais diversos sites, basta acessar a Folha On Line ou a UOL para verificar do que são capazes os ignorantes. A repercussão é enorme e a pergunta que sobrevem é: quem está com a razão?
Os judeus dirão que a terra prometida por Deus e por eles habitada durante milênios lhes pertence. 1 x 0. Os palestinos haverão de alegar que de lá foram expulsos depois da guerra de independência, em 1948, e que nada fazem além de querer retornar a seus lares (e que se não vai por bem, vai por mal). 1 x 1. Então de quem é a culpa?
O grande vilão (agora sim) é o processo histórico. É ele quem estimula a ação opressiva do homem através dos séculos, seja ele judeu, muçulmano, inglês ou argentino. Quando se trata de supremacia e conquista não existe cor, credo ou raça que sobrepuje o caráter humano.
Vejamos: nos primórdios, como narra o antigo testamento, Abraão deixou sua cidade natal, Ur, na Caldéia, a mando de Deus. Seguiu em direção a Canaã (hoje território israelense) para dar início a história do povo judeu e sua ligação com 'Eretz Israel', ou a Terra de Israel. A história segue com os outros patriarcas (Issac e Jacó), com os reis (Saul, Davi e Salomão) e com a divisão do país nos reinos de Israel e Judá, invadido em cerca de 600 a.c. por Nabucodonosor e os exércitos babilônicos. O templo é destruído e dá-se início a chamada primeira diáspora, quando os judeus são obrigados a deixar suas terras para só voltar 70 anos depois, quando os persas derrotam os babilônicos. O templo é reconstruído e a região passa pelo processo de helenização quando Alexandre, o Grande, conquista os persas. Depois cai em mãos romanas, época em que recebe a denominação de Palestina. Na tentativa de expulsar os romanos, por volta do ano 70 d.c., os judeus são novamente dispersos(segunda diáspora) e o templo uma vez mais destruído.
É quando os judeus espalham-se pela Europa, o império romano é dividido e sua porção oriental toma capital em Bizâncio. Enquanto seguem no exílio, o avanço do Islã conquista a região, cruzados e muçulmanos brigam por Jerusalém, os otomanos a dominam por séculos até passar à administração britânica com o fim da primeira guera mundial. Os judeus são perseguidos na Europa e o movimento sionista ganha corpo, primeiro no início do século XX, depois com maior intensidade após a segunda grande guerra. O 'voltar para casa' se intensifica.
Entretanto, desde a saída dos judeus sob domínio romano, no século I, até seu retorno mais contundente, no século XX, populações árabes se instalaram na região (lembrando o crescimento do islã a partir do século VII). Ou seja, quando do retorno à terra prometida, encontraram novos 'proprietários'. A princípio, entre 1910 e 1920, os árabes optaram por vender parte de suas terras para os novos antigos moradores. Mas a partir daí, receosos de que poderiam perder sua identidade e seu país, os conflitos começaram, arrastando-se por quase 3 décadas até que a recém criada ONU propôs, em novembro de 1947, a partilha das terras, criando-se um estado árabe e outro judeu dentro do território e tendo Jerusalém como cidade internacional e administrada pela própria ONU. A agência judaica topou, a liga árabe não. 6 meses depois, a 14 e maio de 1948, com o fim do mandato britânico e a retirada das tropas da região, Israel declarou sua independência.
É nesse momento que o drama palestino se intensifica. Jordania, Egito, Síria, Líbano e Iraque atacam o novo país e são sumariamente derrotados (parte do processo histórico). Tudo que conseguiram foi aumentar o território israelense em mais da metade da área que a ONU havia destinado aos árabes e criar uma massa de refugiados palestinos calculada em 700 mil. Gaza e a Cisjordânia, regiões onde hoje concentra-se o povo palestino, foram incorporados ao território israelense mais tarde, em 1967, após a guerra dos seis dias. O resto da história se desenrola com mais guerras, ataques suicidas, revides, invasões e a série de embates que bem conhecemos.
É neste ponto que entra a crítica ao processo histórico e ao absurdo conceito de apropriação e conquista. Que o digam os nativos americanos, os incas, os tupiniquins, todos alijados de suas terras e riquezas e vivendo sob domínio alheio. Até o final desta semana, os mesmos olhos que hoje desaprovam a ação israelense estarão voltados para a copa do mundo, na África do Sul, país que há pouco tempo caracterizava-se pelo apartheid e a opressão da maioria negra. Ora, isso só ocorreu porque em determinado momento (processo histórico) nações européias resolveram 'explorar' o continente e subjugar suas populações em busca de mais riquezas. Foi assim com a Líbia, Argélia, Marrocos e Congo, entre outros. Os muçulmanos não fixaram suas fileiras na Península Ibérica até serem de lá expulsos na guerra de reconquista? Processo histórico. Não é assim que funciona a lei humana, sancionada sob os auspícios do poder? Processo histórico. Quem haverá de questionar a força em detrimento da razão?
Os judeus tem direito à terra que herdaram de seus antepassados há 4 mil anos. Os palestinos, por sua vez, também. Tiveram a chance histórica de dividi-la, mas não foram capazes de superar o radicialismo a ponto de aceitar um estado judeu. De lá pra cá a situação só tem piorado e Israel parece dar mostras que não tolerará nenhum tipo de afronta a sua política que, diga-se de passagem, passou da antiga divisão ao expansionismo, acentuando o ódio que permeia a região. Nada mais natural, nada mais alinhado com o processo hisórico.
Ao homem será dada a chance de viver em paz quando estiver capacitado a superar diferenças políticas, ideológicas ou religiosas em nome de um bem maior que abrace a espécie como um todo e não apenas determinadas populações. Enquanto isso não ocorrer, seguiremos sujeitos à mesquinhez e insignificância que caracterizam nossas lideranças e nossos atos, repletos de manchas dentro da consolidação do processo histórico.