Afastar-se-se da rotina, ainda que de maneira involuntária, é o primeiro passo para o processo de revisão e, por consequência, de reformulação. Práticas e posturas são avaliadas sob o espectro do tempo e do valor humano, centrados nas questões que habitam os recônditos de nosso ser: é mesmo essa a vida que quero? Sou feliz da maneira que a conduzo? Onde isso vai parar?
Foi meu amigo Bruno quem disse que se você não para, a vida te para. E para mesmo. A dengue foi um acaso, um erro de cálculo de um mosquito multívago que, inadvertidamente, se apropriou de um sangue de baixo valor protéico que corria pelas veias de um corpo quase sem imunidade. dadas as condições de vida que eu havia estabelecido para mim mesmo. Daí pra frente foi queda livre.
15 dias foram suficientes para sentir na pele os efeitos da 'mardita'. A experiência em si é péssima, óbvio, mas dela também se extrai algo positivo (como tudo na vida). No momento em que o ciclo começa a se fechar e a condição interna retoma seu ritmo normal, sem febre e dores, um novo horizonte vai se desenhando lá fora. Por que? Porque dentro do intervalo compulsoriamente concedido é possível rever o ritmo da vida e o fio que a conduz.
Não se trata de escolha, embora em algum momento deva ter existido essa possibilidade. Trata-se do turbilhão de tarefas que preenchem o dia a dia, do deixar-se levar pela louca presunção que tudo por ser feito no período. No começo, bem me lembro, deixava que as pendências do dia a dia preenchessem minha mente e, passo a passo, dentro das prioridades que se estabeleciam, ia resolvendo. Depois, ante o acúmulo de tantas tarefas, passei a organizá-las no papel, depois no outlook, dando baixa a medida em que cada uma ia sendo realizada. Surgiram então dois problemas: o menor deles dizia respeito a imensa lista de atividades profissionais e pessoais que tomava o espaço do outlook; o outro, o estado de irritação e ansiedade diante da incapacidade de administrá-las. Quanto mais itens eu baixava, mais itens surgiam, tornando a lista uma interminável pendência de vida a tomar o tempo sem efetividade. Não dava mais, passei a registrar os itens e, ao mesmo tempo, ignorá-los. Então pra que fazer tudo isso?
Pausa. 15 dias. Análise. Renovação. Visões. Ritmo. Palavra chave: desacelerar!
O mais óbvio, e que na maior parte do tempo insistimos em não enxergar. é que a atribuição total de tarefas simplesmente não cabe no espaço de tempo que determinamos. Querer resolver tudo que está pendente e se irritar a cada olhar para lista diante do que ainda é preciso fazer é, antes de organização, um atestado de incompetência. Não no sentido de não saber fazer, mas no plano administrativo. É como querer ganhar uma guerra, que normalmente dura anos, em dias!
Ordenar e manter o ritmo adequado a necessidade, este é o segredo. Não se cobrar ao extremo, posando de super herói e zerando todas as atividades, até porque isso não vai acontecer. O que decorre dessa situação é que, diante da irritabildade em deixar questões em aberto, acelera-se o processo e faz com que a vida esteja limitada a um acúmulo de funções. A paisagem, as relações, os elementos, a sensibildade e o prazer passam ao largo, figurando como acessórios. Não é à toa que tanta gente que já alcançou um patamar financeiro acima do considerado estável simplesmente não consegue usufruir...
A maneira mais simples de resolver a questão é desacelerando. O mundo não vai acabar porque a proposta que tinha que ser entregue na terça ficou para quarta ou o texto demorou mais do que o previsto para sair. Mito. Quando ligamos o piloto automático e fazemos tudo na inércia, não só nos sentimos frustrados por não completar a lista de tarefas, mas passamos por cima de tudo sem alma e coração, mal se lembrando em que condições o que tinha que ser feito foi feito. E daí? Valeu a pena? Não basta alcançar ao destino, é preciso apreciar a paisagem que se encontra no caminho!
É fundamental ter disciplina para iniciar e principalmente dar continuidade ao processo. De que maneira? Focando a mente e controlando a respiração, cruzando os dois movimentos para obter o melhor dos resultados. Foque sua atenção na respiração e você sempre viverá o momento presente, não haverá interferência de qualquer espécie. O ritmo é mais cadenciado, mas a satisfação que isso lhe traz é fora do comum. Posso afirmar que a alegria de viver volta da maneira mais enfática!
Em uma semana, velhos hábitos foram ficando para trás: acelerar no amarelo para passar o farol, trocar as memórias do rádio a cada minuto, resumir conversas por ter outras coisas "mais importantes" a fazer, sentar-se diante do computador com a obrigação de escrever. Correr, correr, correr e no final chegar no mesmo lugar, exausto, cansado, estressado. Over!
Posso afirmar que o ritmo dessa semana que passou foi diferente e que os resultados apareceram de outra maneira: mais leves, soltos, mas ao mesmo tempo mais contundentes. Há mais energia circulando, há mais vibração. Durmo menos, acordo mais disposto. E encaro a vida numa boa, não com a obrigação de fazer história, mas com o prazer que ela merece. Afinal, como diz meu amigo Ricardo do Viver é pura magia:
'VIVER É PURA MAGIA'!
Encontre a frequência correta e faça da sua vida um acúmulo de prazeres, não de obrigações. Elas existem, claro, mas é a mistura desses elementos que garante a sua felicidade.
Uma ótima semana a todos!