26 de outubro de 2013

Bolsa Família e Mais médicos: mediocridade a céu aberto

É muito comum - e principalmente cômodo - direcionar esforços/recursos para evidências ao invés de origens. Ir ao ponto de partida e colocar o dedo na ferida requer planejamento, inteligência e principalmente paciência para saber que problemas estruturais se resolvem a longo prazo. Os resultados demoram a aparecer, é verdade, mas quando isso ocorre a questão fica definitivamente sanada. É preciso coragem e determinação - não apenas projetos de poder baseados em ignorância e carência - para atacar causas, não consequências.

O Bolsa família nasceu com o objetivo de tirar da miséria milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha da pobreza. Conseguiu. É válido, mas ao mesmo tempo questionável. Trata-se do programa assistencialista que, embora moldado nos padrões dos programas de transferência de renda do governo FHC, virou cartão de visitas do PT, a referência para que este remeta a si mesmo o rótulo de salvador da pátria, gerador de riquezas e tantas outras baboseiras que só servem mesmo para enganar essa população carente, conivente e agora de barriga cheia.

E é fácil explicar. Imagine que você vê uma casa em chamas. O que você faz? Chama os bombeiros para apagar o incêndio. Digamos que foi um fogo pequeno e que rapidamente tudo fica sob controle. Depois do rescaldo, o laudo do corpo de bombeiros indica que é necessário fazer alguns reparos na parte elétrica da casa para que o problema não se repita. Ninguém faz nada e duas semanas depois a casa volta a ter um curto circuito, o fogo se espalha, os bombeiros são chamados e o fogo extinto. A parte elétrica, gente, é preciso corrigir o problema. Ninguém faz nada, o fogo volta, os bombeiros são chamados em um ciclo interminável. Com o bolsa família não é diferente: você alimenta um programa de transferência de renda que sana os problemas causados pela falta de dinheiro, mas não elimina o problema. Você elimina o fogo, não a probabilidade dele voltar porque não fez os reparos necessários!

E em que consiste tais reparos? Na geração de conhecimento, produtividade e inserção no mercado de trabalho. A tal da qualificação que mencionei no post anterior, que permite que cada indivíduo contribua com sua parcela para o desenvolvimento econômico. E o que é preciso fazer? Investir nas bases da educação, em um programa de formação profissional, geração de empregos (se diminuir os entraves para a criação de empresas no Brasil e a carga tributária já ajuda) e multiplicação de renda. Isso tem um custo, naturalmente, mas a longo prazo permite o equilíbrio ao invés de alimentar um sistema parasita onde uns recebem sem produzir (significa dizer que eu, você e toda a sociedade tem que produzir mais para compensar os que só recebem). E a coisa vai mais longe: quem recebe esse benefício hoje não são somente os miseráveis que não tem o que comer. Há relatos de beneficiados do bolsa maldita que possuem carro e celular, sem contar os que são funcionários públicos ou políticos e que tem a cara de pau de receber o valor. Na prática, isso só vale porque conta votos e este é o único objetivo do projeto de poder do PT. Não se trata do desenvolvimento econômico, mas do apego parasitário ao "trono". Se a casa pega fogo uma vez, você chama os bombeiros. Se não resolve o problema na origem, isso não termina nunca e acaba por alimentar uma camada que a cada dia se torna mais indolente e refém do sistema. Se estamos nos distanciando em termos de competitividade dos outros países da América Latina, literalmente ficando para trás, a tendência é que tudo fique ainda pior nas próximas décadas, principalmente se este projeto do PT se perpetuar (e tudo leva para este caminho, já que os responsáveis pela reeleição da Dona Dilma são estes mesmos beneficiados, maioria no país). A longo prazo, o Brasil estará arrebentado.

Isso sem contar o 'mais médicos'. Trazer gente de fora que se submete às condições locais levanta a mesma questão: ajuste de consequência, não de causa. Os médicos brasileiros só não se mobilizam a preencher as vagas necessárias país afora porque sabem das condições precárias que terão que enfrentar, ao passo que os estrangeiros cubanos ganharão aqui, em um ano, o que não ganham lá em dez. De novo uma apelação eleitoral na tentativa de captar votos nestes rincões que sofrem com o atendimento precário ou a total ausência dele.

E assim caminha o Brasil do PT, um projeto de país refém da natureza maligna que alimenta estas distorções. É possível construir uma nação com um programa assistencialista e um sistema de saúde assombroso? Claro que é. Uma nação de párias e ignorantes perpetrados em um ciclo tão perigoso como a cobra que se alimenta de si mesma...




19 de outubro de 2013

Por que o Brasil é tão medíocre?


Não se pode atribuir a um fator isolado a responsabilidade acerca do desastre Brasil como nação, um país que tem a ousadia de estampar em seu estandarte as palavras 'ordem' e 'progresso' e historicamente caminhar na contra mão de ambos. Mas se eu tivesse que fazê-lo (assumir este fator isolado), diria que nossa grande deficiência chama-se DESQUALIFICAÇÃO. Um país sem bases, sem diretrizes, sem um projeto estrutural de educação e crescimento e sem cabeças apropriadas para dirigi-lo só poderia chegar onde chegou em pleno século XXI: uma sociedade amorfa, liderada por ignorantes com interesses particulares, onde quase nada funciona e, invariavelmente, a lei da selva impera. 

Mas, afinal, o que é a qualificação e por que estamos tão distantes dela?

São vários os pressupostos que compõe a qualificação e se distribuem em diversos segmentos - profissional, social, econômico - que sintetizados compõe dois aspectos, a meu ver, essenciais: preparação e ambiente regulatório.

Preparação: preparar significa habilitar, criar condições para que determinados indivíduos, sem prévia experiência, possam auferir resultados depois de submetidos ao processo de geração de conhecimento e prática. Para tanto se faz necessária uma estrutura de ensino que promova a distribuição deste conhecimento em todos os níveis, do básico ao universitário, possibilitando educação e desenvolvimento de forma horizontal pela sociedade. Não é preciso ser nenhum expert para saber que o ensino básico no Brasil é sofrível (conheço pessoas com formação universitária que fazem conta no papel para somar 15 mais 17 ou que insistem em escrever 'mais eu não sabia'), que a maneira como qualificamos nossas crianças é o caminho inevitável para que se tornem mão de obra barata e... Desqualificada (obviamente não me refiro ao Brasil representado pelo ensino privado e pelas oportunidades que o mesmo gera, o que só acontece porque a qualificação não está sob a tutela do estado; este, quando consegue algum resultado positivo, o faz no último elo da cadeia, a universidade, via de regra frequentada por quem teve condições de bancar o ensino médio em escolas particulares ou por quem se insere através das quotas - a exceção da exceção). O nivelamento é por baixo, e isso não seria um problema se essa mão de obra estivesse limitada a trabalhos mais braçais do que intelectuais. Passamos a contar com profissionais nas mais diversas áreas sem formação precisa, técnica e de caráter, diga-se de passagem, e sem tal qualificação o resultado é catastrófico, sobretudo quando voltamos o olhar àqueles que dominam a máquina pública e que tomam decisões como se estivessem tomando banho, tal o despreparo. O resultado? As ruas esburacadas que danificam seu carro, o risco de ser assaltado à luz do dia, a morte à espreita nos corredores dos hospitais públicos...

Tomemos o exemplo do pré-sal, mais do que na moda. O modelo de exploração proposto pelo governo para a iniciativa privada não deve ser lá tão satisfatório, caso contrário as maiores companhias de petróleo do mundo como Exxon, British Petroleum ou Chevron estariam participando. O leilão corre o risco de ser um fiasco e envolver apenas um consórcio participante. Por outro lado, entidades sindicais prometem fazer uma baguncinha básica para impedir que o leilão siga adiante, justificando que o modelo de exploração é, na verdade, uma privatização e uma afronta à soberania nacional. Milha leitura? Desqualificados, manipulados, massa de manobra que não faz a menor ideia do que está falando. O Brasil, e mais especificamente a Petrobrás, não possuem as condições necessárias para levar adiante a exploração sem a ajuda de terceiros, é melhor costurar parcerias e ter algum retorno do que esperar mais duzentos anos e não ter nada. Essa discussão pode se perpetuar sabe-se lá por quanto tempo, mas, de novo, só demonstra o nível de ignorância que permeia a sociedade. Como é que com um nível de imbecilidade desta envergadura o país pretende chegar a algum lugar? Outro exemplo de gestão: temos uma presidente que diz que a inflação está sob controle e que, provavelmente, nunca foi a um supermercado na vida (se tivesse ido saberia, por experiência própria, que nada está sob controle). Mas esse é o discurso de quem não tem capital intelectual para dirigir qualquer tipo de negócio, e assim o país se arrasta.

Ambiente regulatório: preparação apenas não basta, é preciso aliá-la às regras que definem o meio competitivo para que o processo qualificatório se complete. E aqui nada caminha nesta direção: a guerra dos portos, a contestação dos aumentos das passagens de ônibus refletidas em aumento de IPTU, a polícia envolvida com a cúpula do PCC e n outros exemplos que mostram que as cabeças desqualificadas não são capazes de levar adiante um país como o nosso, com tamanho potencial, recursos naturais e gente disposta a fazer acontecer. Verdadeira lástima.

Não há como negar o nível de estagnação e mediocridade do país, agora já mergulhado em um embate político que só terminará com as eleições de 2014. O governo voltado para a reeleição, a oposição disposta a cutucar as feridas, o Congresso brincando de governar. Enquanto isso o Chile cresce, o Peru cresce, até o Uruguai, com todo respeito, cresce. O Brasil? Não passa de uma ex-colônia imatura que ainda não encontrou seu caminho.