29 de abril de 2009

Fome: uma questão de consciência


O Bloggers Unite é uma espécie de comunidade que congrega blogueiros ao redor do mundo para discorrer sobre temas específicos, sempre em nome de uma boa causa. O propósito deste 29 de abril, dia do aniversário da minha filha Julia (parabéns, Cuca!), é levantar vozes a fim de alertar o mundo para seu maior - e mais crônico - problema : a fome.

Não tenho dúvidas de que este é o mais sombrio e cruel mal de todos os males que assolam a humanidade. A meu ver, tudo se resume à questão que já levantei em outras oportunidades: a falta de consciência humana em relação a seu próprio semelhante. Uma raça que age desta maneira, sem se importar com o destino de seus irmãos, estabelecendo prioridades outras que sobrepõe a questão da fome, como o avanço tecnológico ou o entretenimento, está fadada ao fracasso. Como é possível pensar em estoques de alimento ao redor do mundo, concentrados nos países mais ricos, enquanto pessoas morrem de fome em regiões menos desenvolvidas? Estima-se que, mesmo nos Estados Unidos, metade das populações de descendência africana e latina vivam sob o estigma da fome. Há uma passagem em O último mensageiro (Abel expõe suas idéias sobre a questão enquanto caminha com Putu pela praia de Kuta) que retrata o tema da seguinte forma:

"- A FAO estima que algo próximo a seis milhões de crianças morrem a cada ano nesse mundo de Deus porque lhes falta alimento ou por doenças decorrentes da subnutrição, o que não deixa de ser a mesma coisa. E sabe o que nós fazemos? Produzimos armas, bombas, cigarros, lixo tóxico, tintura para cabelo e tantas outras baboseiras em nome do progresso. Que espécie de progresso é esse, afinal? "


O compromisso só será diferente a partir do momento em que a consciência humana atingir outro nível, nível este que eu, particularmente, não acredito que se dará nessa passagem da raça sobre o planeta. Paradigmas deverão ser quebrados, diferenças deverão ser superadas para que o movimento para varrer a fome do mundo se concretize. Para isso, só zerando e começando tudo de novo...

Aquecimento global


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24 de abril de 2009

Crise de valores

Engana-se quem acredita que a crise que toma conta do mundo teve seu início com o subprime imobiliário americano em 2007 e o efeito dominó que se seguiu desde então. A onda parece ter atingido seu ponto mais alto em outubro do ano passado e, desde sua chegada em terra, tudo que temos feito é recolher os destroços do estrago que sua passagem causou - e ainda vem causando. Na prática, tudo faz parte de um sistema perverso que, diante da liquidez que existia naquele momento, arregala os olhos quando sente o cheiro do lucro. Funciona mais ou menos assim: os bancos, cheios da grana, decidem financiar moradias até mesmo para quem teria dificuldade em pagá-las; o maior risco implica em maiores ganhos (ou você achou que os banqueiros viraram mocinhos?) através de juros mais altos. Esses títulos passam então a ser valorizados no mercado(lembre-se dos MAIORES GANHOS), criando uma espiral de repasse onde todos ganham. Ganham se o pobre coitado que tomou o financiamento ali, na ponta, honrar seus comprimissos. Como não foi o que aconteceu, todo mundo se fudeu. O coitado, os bancos, você e eu! Ou seja, estamos falando da ganância desmedida que abalou a estrutura financeira do planeta e que só não chegou a destruí-la porque o socorro, na forma de bilhões, veio a tempo. Mesmo quem não tinha nada a ver com a história acabou pagando o pato, até porque era melhor fazê-lo a ver a situação se agravar. E é por isso que eu digo que a crise não se instalou ali, naquele momento. Ela é muito maior, mais difusa e vem do período em que ainda nem se falava em dinheiro, quando a idéia de civilização do homem começou a prevalecer. A crise é, sobretudo, de valores.
Não sei exatamente onde isso começa, mas quero crer que desde o momento que o homem se reconhece como tal suas ações visam o ganho desmedido e desproprocinal, o acúmulo de riquezas como forma única de conquista e pujança, sem levar em consideração as consequências geradas ao seu semelhantes, às espécies que habitam o planeta e ao próprio planeta. É como se alguém houvesse instituído isso e pronto, tá valendo (ninguém nunca deve ter pensado que haveria um desgaste natural e que o processo, um dia, chegaria à exasutão). A partir do momento em que somos impelidos a trabalhar em busca do lucro incessante, sem olhar para os lados, é natural que, cedo ou tarde, venhamos a ter problemas. Enxerga-te a ti mesmo como uma máquina e verás que em algum momento é necessária a retomada de um ritmo mais equilibrado, onde todos os componentes funcionem em harmonia, sem a pressão louca que se exerce sobre você. Pois com o planeta fazemos justamente o contrário!
Esta é a realidade - e o grande dilema - de nossa geração. Há uma passagem do mensageiro em que Abel, ao dirigir-se para uma platéia que o assiste, adota o seguinte discurso:
"Carregamos na alma o embrião para que os pressupostos de uma sociedade saudável pudessem se manifestar, mas o que vimos na prática foi a passagem destes valores ao largo da história. Não foi assim que sempre funcionou? Pensem nos primórdios, no homem pré-histórico aquecido junto ao fogo acolhedor dentro de sua caverna. Um grupo qualquer passa em busca de abrigo e... O que acontece? Das duas, uma: ou ele faz com que o grupo se afaste de sua “propriedade”, ou é o grupo quem o expulsa de lá. De uma forma ou de outra, não importa, a semente da discórdia estava plantada. E que evolução houve desde então? Os grandes impérios da antiguidade, berço de culturas fabulosas e de ideais democráticos, se fizeram à base de massacres. Mulheres eram estupradas, crianças assassinadas, homens escravizados. Em nome de Deus, que valores eram esses? O que justificava tamanha barbárie? "
Se avaliarmos o resto da história era a era, chegando até os dias de hoje, veremos que não houve qualquer redirecionamento no que diz respeito ao comportamento humano. Simplesmente colhemos os frutos deste estado de ignorância e parasitismo, que culmina com processos de falência em cadeia (é tão bacana ver o Fed inundando o mercado com dinheiro para evitar o desastre, quando na verdade está apenas postergando-o) que sinalizam o fim dos tempos. O turning point haverá de chegar sim, mas o sacrifício será bem maior do que todos nós imaginamos...

22 de abril de 2009

Abel Antunes


Começo aqui a discorrer um pouquinho sobre os principais personagens que compõe o último mensageiro e que tem convivido comigo nestes últimos anos. Criá-los, ordená-los e fazer com que cumprissem com o papel que lhes foi atribuído foi uma grande honra para mim. A pesquisa, a construção e a revisão foram extensas, mas é extremente gratificante ver o resultado final. Não digo isso por atribuir qualidade ao trabalho: aos olhos de quem faz, o resultado é parte de um processo estabelecido no início através de um objetivo, e ir em busca dele é o que realmente conta.

Abel Antunes é um idealista. Tem 33 anos, mora com os pais e trabalha como gerente de produção em uma fábrica de meias, atividade pela qual tem verdadeira repulsa. Não pela atividade em si, mas pelo meio em que ela se reproduz: condições de trabalho deploráveis, ambiente fétido, relações desumanas. Seus anseios vão ganhando corpo para que ele possa assumir, através de suas transformações internas, o papel que dá origem ao título. Nas suas próprias palavras: "É essa estranha sensação de ter nascido predestinado que me acompanha. “É você, Abel!” – parece dizer, ainda que a certidão de nascimento traga Abelor, Abelor Antunes". Um herói dos novos tempos, que passará por um ritual de iniciação em Bali e voltará ao Brasil para criar a nova ordem: "Que a memória de meus ancestrais celebre o dia que põe fim à era da incerteza, do oportunismo e do descompromisso humano. Hoje sou pura magia, rastro de pó que se estende pelo universo sem limites. Hoje é o meu grande dia!".

É aqui que a jornada se inicia. Convido você a fazer parte dela.

20 de abril de 2009

Lições da derrota

O São Paulo foi eliminado pelo Corinthians da disputa do título paulista de 2009 ontem, no Morumbi. O Corinthians foi melhor, mais coeso e focado, fez por merecer o resultado. Mas uma bola cabeceada por Borges na trave do goleiro Felipe, minutos antes do primeiro gol corinthiano, poderia ter mudado a sorte do jogo. Who knows?

A colocação acima é despropositada e tem por objetivo reforçar a improbabilidade do evento. Pouco importa o que teria acontecido na sequência já que o esporte, de maneira geral, pressupõe um vencedor e um vencido (só consigo me lembrar de raquetinha e mergulho fora deste modelo) e todas as circunstâncias anteriores são desconsideradas depois que o a disputa termina. Ou quase todas. É daí que podemos tirar algumas lições, principalmente considerando-se que nada que extrapole os limites do embate - no caso o campo - contribui para seu resultado. Sugiro que você:
1. Nunca menospreze seu adversário (o coelho fez isso com a tartaruga e Golias não deu a mínima para David; ambos pagaram caro pela empáfia). Ainda que por alguma razão particular você não o respeite, seja ela qual for, guarde-a para si e comece a rever seus conceitos. Não há nada que desqualifique alguém que acredita em si mesmo, principalmente se tem um histórico vitorioso na retaguarda. O tal do Leco não apenas foi infeliz em sua declaração (disse que Ronaldo, quando era jogador, não costumava fazer faltas como a que fez em André Dias no primeiro jogo, chamando-o, portanto, de ex-jogador), foi desrespeitoso para com um profissional que já passou por muito na carreira e que está dando a volta por cima. Não acredito que isso tenha influenciado o desempenho de Ronaldo, que deu um tapa na cara do dirigente (esse é o nível que temos por aqui e que não deixa a desejar, à exceção do Beluzzo, do Palmeiras, a nenhum outro cartola). O jogo acabou, o Corinthians passou e a frase do pseudo dirigiente (que ao invés de se calar após o jogo ainda foi dizer que o Ronaldo não fez nada; nada, só deu o passe para o primeiro gol e fez o segundo,muito mais do que Washington, Borges e Dagoberto juntos) entra para a história das bizarrices do futebol. Não queria esse privilégio para mim
. 2. Nunca faça previsões em disputas (não é, Muricy?). Na melhor das hipóteses não acontece nada, pois você 'palpitou' sobre algo que poderia ou não ocorrer, não há nada de sobrenatural nisso. Mas na pior delas, você faz o papel ridículo de ter que se justificar depois.
3. Trate seu adversário com respeito. Diferentemente de menosprezar, respeitar significa adotar os códigos que a conduta esportiva exige, preservando as leis que regem o evento. Foi o que não aconteceu, por exemplo, no palestra, quando o time do São Paulo teve que deixar o vestiário em que se encontrava devido ao lançamento de gás lacrimogêneo. Se a culpa não foi do Palmeiras, pesa sobre o clube a omissão, já que permitiu o ocorrido, assim como ontem a administração do São Paulo permitiu que o ônibus da delegação corinthiana fosse apedrejado às portas do estádio. A despeito dos vândalos que tomam conta das arquibancadas, o clube do Morumbi tinha a obrigação de proteger a entrada do time adversário (não é o São Paulo que se considera o modelo de administração do futebol brasileiro?), assim como não permitir que o espaço destinado aos corinthianos fosse pulverizado com milho e penas de galinha. Uma vergonha, típica de um povo ignorante que vê, no adversário de jogo, um inimio mortal.
4. Aceite o sabor amargo da derrota e saiba utilizá-lo a seu favor. Está provado que aprendemos muito mais com nossos erros do que com nossos acertos. O erro nos dá a possibilidade da revisão, da análise dos pontos que não funcionaram para que possam ser evitados no futuro. Perguntas como 'onde estava a cobertura na lateral esquerda, que permitiu o avanço inconteste de Jorge Henrique no primeiro gol?' ou 'Por que um time que joga com 3 zagueiros deixa o Ronaldo mano a mano com o último homem?´ devem servir como reflexão, não como forma de cobrar o time ou seu técnico (a infalibilidade é caracterísitca humana), mas como parte do processo de aprimoramento. Assim se constrói a base para dias melhores. 5. Encare tudo com bom humor e irreverência. Você já experimentou rir de si mesmo em uma situação incômoda, do tipo tomar um tombo na rua? Rir da sua desgraça (e sejamos aqui seletivos, pois há desgraças e desgraças; refiro-me àquelas que são transitórias e que não vão mudar o rumo da sua vida) certamente fará com que você se sinta melhor, esvaziado e sem os nervos à flor da pele, contribuindo para sua longevidade. Vivendo - na derrota ou na vitória - e aprendendo.

19 de abril de 2009

A hora e a vez do último mensageiro

Quando resolvi dar vida ao último mensageiro, tinha por objetivo não apenas criar um personagem que traduzisse meus própios ideais, mas que também pudesse estendê-los de forma a contribuir para uma sociedade mais consciente. Consciente de seu desequilíbrio, de suas atitudes prepotentes, de sua exploração irresponsável do próprio ambiente em que vive. E foi assim que nasceu Abel Antunes e sua história. Fiz-me valer do formato utilizado por James Redfield em sua A profecia Celestina (uma obra que me marcou profundamente na década de 90 e que foi o grande catalisador para a construção do mensageiro), onde um pano de fundo fictício - a busca de um manuscrito sagrado na Amazônia peruana - fornece espaço para o conteúdo metafísico de Redfield através de temas como a sincronicidade e a dinâmica energética dos seres humanos.

Em O último mensageiro, Abel Antunes vive o drama de dividir-se entre seus anseios messiânicos e o mundo real à sua volta, seus questionamentos avolumam-se a ponto de levá-lo à loucura. E então, inesperadamente, o contato com seres de outras esferas, realizado através de seus sonhos, começa a ocorrer. Quando ele se dá conta, está inserido na história que mudará, em definitivo, o padrão da sociedade contemporânea.


Na pele do último mensageiro, Abel será o responsável por "reconduzir a raça humana ao digno propósito de sua existência, fazendo-se reconhecer valores universais que primam pelo bem-estar social de cada indivíduo na face da Terra. Somente desta maneira poderá ser dada sequência ao processo evolutivo que atinge, em sua etapa final, o amor incondicional”, nas palavras de seus mestres . Será então submetido a um ritual de iniciação, em Bali, para transformá-lo na última tentativa de salvar o planeta.


Seguindo o 'esquema' Redfield, a ação transcorre com a CIA no encalço do mensageiro. A grande aventura tem então início e o final, em 2046, reserva grandes surpresas.


Mais do um simples exercício literário, ou a exaltação da crença em seres de outras esferas, responsáveis por nossa criação (believe it or not), o mensageiro tem por finalidade alertar para os males que tomam conta deste mundo. Males que, se não encarados a tempo, se encarregará o destino de fazê-lo.

À espera dos bárbaros

Obra do sul-africano J.M. Coetzee, nobel de literatura em 2003, À espera dos bárbaros encontra-se entre meus livros de cabeceira. Não é de tirar o fôlego - e nem é essa a proposta - tampouco cria o clima intenso que obriga o leitor a andar com o livro debaixo do braço. Mas é de um primor narrativo extraordinário, principalmente no que tange às passagens descritivas, como se fosse possível extrair a textura de cada cena através das palavras. Talvez seja este o grande desafio da arte de escrever: transpor o leitor para o ambiente mágico desenhado pelo autor, onde cada elemento ganha vida exatamente como foi imaginado. Para quem escreve, e sabe que o aprimoramento vêm do exercício e da leitura, taí uma ótima referência. "Toda manhã o ar está cheio do bater de asas dos pássaros que voam para o sul, circundando acima do lago antes de se instalar nas ramificações salgadas dos pântanos".
"A chegada dos primeiros pássaros migratórios confirma os sinais iniciais, o fantasma de um novo calor no vento, a transparência vítrea do gelo do lago".
"De horizonte a horizonte a terra está branca de neve. Ela cai de um céu em que a fonte de luz é difusa e presente em toda parte, como se o sol tivesse se dissolvido em neblina, se tornado uma aura". "O sol subiu, mas não fornece calor algum. O vento que vem do lago bate em nós, trazendo-nos lágrimas aos olhos. Em fila indiana, quatro homens e uma mulher, quatro animais de carga, os cavalos insistindo em ficar contra o vento e tendo de ser virado na rédea, serpenteamos para longe da cidade murada, dos campos nus e, por fim, dos meninos ofegantes." "Até onde se pode ter certeza , a primavera chegou. O ar está perfumado, as pontas verdes dos brotos novos de grama estão começando a aparecer aqui e ali, bandos de perdizes do deserto voam à nossa frente". "um torpor já está começando a baixar sobre a cidade. O trabalho da manhã terminou: antecipando o calor do meio dia, as pessoas estão se retirando para seus quintais sombreados ou para o frescor de salas internas. O marulhar da água nos sulcos da rua se aquieta e para. Tudo o que escuto é o tinido da martelo do ferreiro, o arrulho dos pombos e, longe, em algum lugar, o choro de um bebê".

18 de abril de 2009

Uma singela homenagem


Jorge Man foi uma daquelas pessoas que costumam deixar marca indelével na vida da gente. Sobram razões para isso e em resumo destaco um trecho do texto que vem a seguir, que diz que "o valor do homens se assenta, em essência, na sua bondade e em seus exemplos". Em maio próximo completam-se 17 anos que este homem de exemplos, de senso de justiça, ironia e solidariedade, deixou este mundo. Seu filho Diego, amigo de décadas, fez por bem perpetuar sua imagem no logo da empresa alimentícia que leva seu nome, e que se traduz no bom humor que costumava acompanhá-lo. O texto que segue, propositadamente truncado e surreal (e que tem a última frase que dele ouvi como origem), foi um pequeno tributo que fiz alguns anos depois ao grande homem. Esteja ele onde estiver, tenho certeza que um monte de gente está se divertindo!
- Te vejo domingo, no Butantã.
Estas foram as últimas palavras que ouvi dele. Soaram estranhas desde o início e não pude entender porquê. Butantã, lugar onde os judeus costumam enterrar seus mortos. Seria ali o último lugar que eu pensaria em encontrá-lo.
O valor dos homens se assenta, em essência, na sua bondade e em seus exemplos. Os que trilham por este caminho tornam-se referência obrigatória, verdadeiros símbolos. Destacam-se pela nobre tarefa de assumir um papel mais amplo, muito mais amplo do que as pequenas coisas que a vida normalmente reserva. Aprendi a respeitá-lo, sobretudo. Fosse nas formas, deliciosamente arredondadas, fosse no espírito talentoso e de humor picante, retraído.
Mas ele tinha razão. Haveríamos de nos encontrar no Butantã, dois dias depois. Não era domingo. Provavelmente riu de mim, de todos nós, como costumava fazer. Suas palavras se fizeram verdade, mas eu sabia que aquela não seria a última vez.
Apareceu em um sonho, tempos depois, e não me importei com formas ou apresentações, apenas ouvi atentamente o que ele tinha a dizer. Foram breves e sábias palavras, lançadas ao vento para todos que quisessem ouvi-las. Não pude interferir, nem mesmo estava lá. Aprendi que nada, absolutamente nada, era definitivo.
Assim foi e por anos não se falou mais nele. Ficou a lembrança, herança dos velhos momentos. O tempo haveria de consumir as últimas imagens, deixando à mostra a homenagem a um grande homem. Apenas sombras, suavemente guardadas.
As águas tocaram meus pés e logo o frio me percorreu por dentro. Mas estava ali por opção própria. Sentado na areia, não percebi o tempo passar. O sol já se punha em um alaranjado uniforme, imaginei que fosse seis da tarde ou um pouco mais. Havia me perdido por entre pensamentos, solitário naquele espaço que dificilmente eu mesmo me reservava. Momento de reflexão, eu costumava dizer. Era um bem estar comigo mesmo ladeado pelo mar, pelos rochedos e pela água que insistia em subir pelos dedos. Ninguém mais. Os pescadores já haviam recolhidos suas redes e voltavam ao calor de seus lares. Me senti só, ao mesmo tempo preenchido por paz e harmonia. - Posso me sentar? A voz ecoou de algum lugar. Olhei para os lados e não vi nada - pensei estar ouvindo coisas, inebriado pelo romantismo da imagem que compus. Não pensei que um dia algo assim pudesse acontecer comigo. Aconteceu sim, e foi apenas uma amostra do que se seguiria depois. Ele estava bem ali, setado ao meu lado. Na realidade, pronto para um mergulho. Fechei os olhos com força e esfreguei o rosto com as mãos. Ele permaneceu ali. - Desculpe - ele disse - não quis assustá-lo. Achei que não seria capaz de pronunciar uma palavra, mas foi muito mais natural do que imaginei. - Você não me assustou. É que... Bem, não sei como explicar. - Esqueça. Não há nada para explicar. Estranho como o tempo era capaz de manter as aparências. - Sozinho aqui? - Perguntou. - Sim. faz bem para o espírito. E você? O que faz por aqui? - Nada. Lindo dia para um passeio. - Sabia que nos verímos novamente. Já faz um tempo desde a última vez. - Lembro... - Ele sorriu. - Nada como belas paisagens para belos sonhos. Fiquei feliz por ele se lembrar. - Mas aqui, assim... É tão diferente - completei. - Impressão sua. É como sempre foi. - São tantas perguntas... - Que ficarão se respostas. Não há respostas, apenas há o que há, o que deve ser vivido. - É, mas é meio incompreensível. - Eu sei, mas é assim que funciona. Quem há de questionar? Sorri para ele. - Vejo que você cresceu. - Cresci, de uma forma ou de outra isso aconteceu. Acho que foi pelo caminho mais correto. - Fico feliz. Muito feliz. - Tenho certeza que sim. Mas ainda não entendi. - O quê? - Tudo isso. - E o que há para enteder? - Não sei. A que devo a honra? - A um mergulho. Transitávamos por frases confusas, mas no fundo eu podia entender o sentido de cada palavra, por mais abstrata que soasse. Só não havia entendido a última frase. - Um mergulho, um banho de mar! - Ele exclamou -este dia lindo merece. Não deixe a água escorrer apenas por entre seus dedos! Meus lábios se moveram num largo sorriso. Ali estava, tamanh ironia. A velha e boa mania. Nos levantamos e caminhamos na direção do mar. A água, antes fria, envolveu-me lentamente como se eu flutuasse sobre ela. Avançamos e deixei que o mar tomasse conta de mim, a seu modo. Não me pareceu que pudesse ser perigoso. Vibrei como nunca, naquele que foi o melhor mergulho da minha vida. Tive a impressão de ter fcado horas por ali, mas mais tarde descobrira que tudo hvia se passdo em questão de minutos. Desnecessário dizer que aquilo foi indescritível. Ao sair, ele não estava mais ali. Estranho, mas tive a sensação que isso aconteceria. Não nos despedimos, pensei, mas não tinha a menor importância. Sabia que ainda nos veríamos novamente. A última vez em que nos encontramos tive a certeza de que era eu que havia ido até ele. O lugar era diferente e esforcei-me para fazer daquele momento algo real, não apenas um movimento imaginário. A névoa passava por entre meus olhos. - Morri? - Perguntei. - Não sei. - Outro sonho, talvez. - Tudo é possível. - Não entendo. Mas não se preocupe. Não há nada para entender, certo? - Certo. As flores continuarão nascendo, os homens continuarão lutando. É o que está escrito. - E o que dvo fazer? - nada. Apenas leve um pedaço deste lugar com você. Instintivamente levei a mão à cabeça. Fixei o indicador entre os olhos. - Qu assim seja. Está tudo bem aqui. - Pois então vá. E lembre-se: nada é definitivo. - Me lembrarei. Ainda que esta seja a última vez, me lembrarei. Sua imagem foi ficado clara, e em segundos ele desapareceu. Ainda permaneci ai por algum tempo, olhos fixs onde antes havia um anjo. Não pensei no que poderia acontecer comigo, e sineramente nuncasoube se vltei ou não. Mas ainda me lembro da imagem. Sem excessos, se interferências. Sem respostas. Não havia nada para entender
...

14 de abril de 2009

Fernando Sucre Scolfield


Bem-vindo, moleque! Depois de sumir por aí ontem e hoje - a empregada entrou em pânico e foi correndo desligar a máquina de lavar, achando que o bichano tinha ido parar lá - Sucre, como é conhecido, vai encontrando seu espaço. Tudo ainda é muito novo (inclusive ele mesmo, que tem pouco mais de 40 dias), mas sua ambientação é visível nestes dois dias. Vai se aproximando aos poucos, parece estar perdendo o medo. Uma coisa é certa: vai dar trabalho e prejuízo (suas unhas e meus sofás parecem ter nascido uns para os outros), mas ao mesmo tempo trará de volta os caminhos da infância, quase esquecidos depois que as meninas assumiram ares mais adolescentes.


O nome, ao mesmo tempo pomposo e cômico, é uma singela homenagem da Gi a seu seriado predileto, 'Prision Break', em especial ao personagem vivido por Amaury Nolasco, Fernando Sucre (não teve jeito, veio goela abaixo. Minhas sugestõe sequer foram consideradas :)


Na prática, isso é o que menos importa. O que vale é perceber o quanto esses bichinhos contribuem para nossa humanização, capazes que somos de a eles doar sem criar expectativas de troca. Um movimento que, se estendido em todas as direções e populações, certamente contribuiria para um mundo mais equilibrado e justo.


Façamos a nossa parte, sempre contruindo um ambiente saudável ao nosso redor!

8 de abril de 2009

Queda da Bastilha


Motivados pelas recentes declarações do senador Jarbas Vasconcelos sobre o manto corruptor que toma conta dos 3 poderes deste maltratado país, políticos de oposição resolveram criar a frente parlamentar anticorrupção. Corria o dia 3 de março passado quando o deputado federal Arnaldo Jardim, um dos líderes do movimento, ofereceu um jantar (alguma dúvida sobre quem pagou a boaida?) em seu apartamento para promovê-la.

Pouco mais de um mês depois, a Folha revela que o deputado Jardim mantinha, até a semana passada, uma doméstica às custas da câmara. Maria Helena de Jesus (que não tem nada a ver com a história, coitada) foi exonerada depois que veio à público o episódio do dep. Alberto Fraga, acusado do mesmo crime (opa! Pegaram o cara lá - deve ter pensado o nobre deputado - podem me pegar aqui!). A doméstica, paga com dinheiro público, trabalhou para Jardim durante 2 anos e meio.


Para! Para tudo! Se os paladinos da justiça são tão corruptos quant0 aqueles para quem apontam o dedo... Sujou. Mais do que coragem e audácia, parece que se faz necessarária a ganância, a falta de hombridade, a certeza da impunidade e uma cara de pau sem tamanho para ser um p0lític0 neste país. E não apenas para satisfazer suas próprias demandas, mas para usufruir de um direito que não possuem, imunes ao sofrimento de tantos desfav0rec id0s espalhad0s p0r aí.

Cristovam Buarque, que já foi candidato à presidência da república, sugeriu dias atrás que o fechamento do congresso fosse a plebiscito. Uma idéia louvável e dentro dos padrões da democracia, mas que seguramente daria poder de manobra à essa escória para ludibriar o povo e seguir vivendo às custas dele.

Eu, portanto, já sou mais radical. Não acredito em regeneração, quem tiver a oportunidade de ler O último mensageiro saberá entender os motivos que me levam a criar um final que, na prática, não passa de um começo. Aqui, então, não seria diferente: Bastilha neles! C0l0car tud0 abaixo, arregassar as mangas e começar de novo. Pelo fim dessa visão obtusa e corruptora, que não apenas faz mal uso do poder público, mas sangra a esperança de quem luta por uma vida mais digna.


Nem falta tanto assim para 14 de julho...

6 de abril de 2009

Seven Pounds

O que menos importa, até pelo caráter que compõe a ficção, são as motivações que levam Ben Thomas, o fiscal da Receita Federal vivido por Will Smith (que já nos havia brindado com o belo 'A procura da felicidade') a seguir com seu objetivo em 'Seven pounds', por aqui traduzido como 'Sete vidas'.

Thomas, em claro contraste com a natureza humana, volta sua atitude ao próximo e passa a desenvolver sua linha de compaixão e desapego. Como eu disse, há um pressuposto para que isso ocorra e que serve como ponto de partida para tal atitude, mas deixemos isso pra lá. Emociona a dedicação por si mesma, sem a exigência da troca. Thomas sabe que sua dívida é para com ele mesmo e pretende pagá-la preenchendo as necessidades de seus escolhidos.

Poucas vezes vi tamanha abnegação e, confesso, me emocionei ao extremo. Qualquer pessoa que tenha o prazer de assitir ao filme (o começo é um pouco arrastado, mas se recupera quando Thomas passa a sinalizar sua real intenção) e que tenha apreço por atitudes como essa saberá do que estou falando. Atos simples, atos que exigem maior dedicação, não importa. O que realmente conta é que damos um passo gigantesco quando deixamos nossas necessidades individuais em segundo plano em prol de um bem maior. Basta que nos reconheçamos como fragmento, como parte do todo, para saber que o trabalho pelo todo é o trabalho por nós mesmos.

Que mais e mais pessoas em posição de destaque, como é o caso de Smith, e que tem o poder de disseminar mensagens através de sua exposição, sigam este caminho. A raça humana agradece.



4 de abril de 2009

Pálido ponto azul


O título deste post é uma referência à obra de Carl Sagan (do livro 'Pale blue dot - A vision of the human future in space'), provavelmente o cientista que mais tenha contribuído para a popularização da astronomia no mundo. Seu programa 'Cosmos', nos anos 80 (se não me engano no Brasil ia ao ar aos domingos, depois do Fantástico), foi visto por mais de 500 milhões de pessoas, dando à ciência uma dimensão nunca antes vista.



O vídeo abaixo, recebido através da minha querida amiga Regina Cardillo, tem uma montagem extremamente interessante. Embora um pouco longo (você não se arrenpenderá em ir até o fim, eu garanto), traz tomadas de um material produzido pelo próprio Sagan mesclado com imagens que retratam a essência humana e que, no conjunto, criam perfeita harmonia (a narrativa, extraída do livro, é dele). Nos faz lembrar o quanto somos insignificantes nesta vastidão cósmica e como são risíveis as causas pelas quais lutamos, transformando nossa existência em um micro poro quase sem valor. É por isso que Abel prega, como no post anterior, que "somos simples mortais perante a lei divina e o que nos torna melhores são as oportunidades, as singelas oportunidades que a vida nos oferece para que a luz se faça presente".



Façamos então valer a pena. Vivamos em respeito ao que nos cerca com compaixão e desapego, mesmo sendo "uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal"...











3 de abril de 2009

Comendo calabresa, arrotando caviar...



é preciso ser nenhum gênio para constatar a precariedade que toma conta dos serviços públicos deste país: um aparato de segurança ultrapassado, um sistema de transportes congestionado, a educação falida e a saúde pública na UTI. Todos sem planejamento e sem respiro, com profissionais mal remunerados e, ao final das contas, sem cumprir com os propósitos para o qual foram criados (ah, se o propósito era encher os bolsos de políticos corruptos e vagabundos - que redundância a minha - aí simpoderíamos dizer que tem a devida funcionalidade).






Ao mesmo tempo, Lula anuncia que irá emprestar dinheiro ao FMI. O mesmo Lula, que na era sindicalista, empunhava cartazes de 'Fora FMI!'. A diferença de lá para cá é que hoje todos os problemas do país estão sanados e tudo funciona perfeitamente bem. A saúde, aliás, está servindo como modelo para países como Canadá e Suécia reverem seus atuais sistema, já que comparados ao Brasil encontram-se anos luz atrasados (como bem coloca o Zé Simão, este é o país da piada pronta).






E não é que não haja coerência. É que ela simplesmente muda de posição dependendo do lado do poder em que você se encontra!





Crédito da charge: Menandro Ramos

1 de abril de 2009

Síndrome de quarta-feira

"O ar que invade bares, botecos e afins, atingindo os que por estes locais se esparramam, quase sempre é permeado pelos mesmos elementos: ócio, desejo e torpor. Não necessariamente nesta ordem e nem sempre conjugados. O que se compartilha, a despeito de abismos culturais ou econômicos, é a busca pela suspensão, traduzida em prazer nas suas mais variadas formas. O jogo de palavras que se transforma em flerte, o álcool que traveste dóceis cavaleiros em arautos da sedução. Quanta sutileza. À luz da razão, prefiro as amenidades. Sou avesso a concentrações, vampirizam minha essência. Sou mais o encanto, a legitimidade que invade veias e artérias quando ouço o som do silêncio. Deus manifesto. É da alma purificada dos grandes mestres que nascem as idéias mais sublimes, e somente sob certas circunstâncias isso se torna possível. Não vejo na fumaça, na retórica simplista ou no passo embriagado o mínimo de lucidez que valide a criação. Somos simples mortais perante a lei divina e o que nos torna melhores são as oportunidades, as singelas oportunidades que a vida nos oferece para que a luz se faça presente, mesmo sob condições adversas. Acho que é por isso que estou aqui, sentado em uma mesa de bar enquanto ordeno as idéias, pensando nas possibilidades que se abrem para que eu coloque o meu melhor em prática".

Abel, reticente como eu, sai de cena ('À luz da razão, prefiro as amenindades'). Mas quarta é dia de pit stop, de eventos que sirvam como marco para dividir a semana em duas grandes metades. Gosto do textos e de suas nuances, no clima que se cria e na busca da verdade, e aí descubro que não sou de ferro...