20 de setembro de 2015

CORRUPÇÃO, ESPORTE NACIONAL



Não acho, sinceramente, que exista corrupção na política. O que eu acho é que existe política na corrupção. Sim, porque a corrupção é endêmica, atávica, enraizada na população como um todo e não faz distinção entre classes, apenas se vale de meios e proporções diferentes. A verdade é que, em maior ou menor escala, toda sociedade é corrupta.

A associação natural que se faz ao termo corrupção é a que remete ao poder público, à troca de benefícios por vantagem econômica. Um servidor que facilita a emissão de um documento em troca de dinheiro, um fiscal que faz vista grossa a uma infração em troca de dinheiro, um parlamentar que recebe dinheiro de empreiteiras em esquema de lavagem que hoje chega a milhões de dólares. Bando de corruptos – sim, eles são – e merecem ser punidos por seus crimes. Mas embora esta seja a associação clássica (atitudes ilegais baseadas em ganhos financeiros), não é aí que o termo se encerra. Corrupção é a antítese do que nossos avós costumavam chamar de ‘bons costumes’, a traição aos princípios morais que deveriam reger o comportamento humano e sua conduta em sociedade. Não se trata apenas de barganhas em nome do dinheiro, mas tudo que diz respeito a obter vantagens por meios não convencionais (e nem sempre ilícitos); não se trata apenas de corromper terceiros através de seus desejos, senão corromper a si mesmo pelos mesmos motivos.

Exemplos não faltam. O carro da madame na vaga de deficientes, a fila dupla na porta da escola, a torcida que pede pênalti quando nem falta foi. Outro dia esperava eu pacientemente pela pista central da Dr. Arnaldo que dá acesso à Consolação – lembrando que a pista da esquerda segue para a Av. Paulista ou é exclusiva aos ônibus que trafegam pelo corredor – quando um pelotão de carros vem cortando pela esquerda. Sarcasticamente, o carro que me fecha e ocupa meu espaço tem um adesivo em tons azuis em que se lê ‘Eu apoio a Lava jato’.

Corrupção grande não pode, pequena pode. O deputado não pode tomar seu dinheiro, mas você pode tomar o espaço do outro carro. Ou adulterar o cartão de zona azul, parar o carro em duas vagas, não respeitar a faixa de pedestres porque sua pressa é sempre mais importante, zerar seus pontos da carteira de motorista com o despachante que conhece alguém no Detran (o trânsito é sempre um bom referencial para demonstrar o quanto somos civilizados). Não é de valores que estamos falando. Aliás, é. Não de valores monetários, mas daqueles que deveriam estender seu direito até onde começa o do próximo. Mas isso é corrupção? Na medida em que você contraria suas normas internas, fazendo algo que inconscientemente sabe que não deveria fazer, você está corrompendo seus próprios valores. A não ser que você não esteja nem aí pra nada (como deve ser o caso do dono do veículo que ilustra esse post).

Como então exigir lisura e ética de políticos se as falhas de caráter são as mesmas, apenas com instrumentos e amplitudes diferentes?


A base está na educação. A do Brasil é digna das sociedades mais atrasadas do mundo, tanto em conteúdo quanto em estrutura. Não formamos mão de obra qualificada, muito menos cidadãos. Somos o Brasil colônia com ares de modernidade, mantendo o mesmo caráter predatório e escravagista, embora subjetivamente. Temos condições de melhorar em 200, talvez 300 anos, desde que o processo se inicie já. Se aliarmos a este aspecto um processo de controle mais rigoroso também teremos melhores resultados. O que temos por hora é uma sociedade fracassada onde impera a corrupção moral – a começar pelo afiador de facas comprado pela presidência da república no valor de R$ 9 mil. Vai dizer o quê?