13 de agosto de 2010

Do público ao privado


A história da humanidade registra, quase que em ato contínuo, a espoliação e privação do direito alheio como prática regular e permissível. Foi assim com as civlizações da antiguidade, com a era dos descobrimentos, com a revolução industrial. E chegou aos nossos dias com o exercício do mandato político.

É mais do que sabido que essa corja que habita as profundezas do congresso acostumou-se a sangrar os cofres públicos em causa própria. Na contramão do progresso (congresso e progresso podem até rimar, mas definitivamene não combinam), estabelecem na vida pública a fonte de enriquecimento pessoal, apropriando-se de bens que, definitivamente, não lhes cabem. Como ainda são as raposas que tomam conta do galinheiro é natural que a classe toda se beneficie e ninguém, em última instância, seja punido. Na verdade, e sem medir palavras, estão pouco se fudendo.

A Folha apurou, no final de semana passado, a utilização de dinheiro público no financiamento de campanhas eleitorais. Significa dizer que gente como o Genoino, na tentativa de se reeleger, solicita reembolso de suas despesas com aluguel de mesa, cadeiras e sofás. Não importa o valor (algo em torno de R$ 300), o que vale é o conceito e os três imbecis que fazem parte da história.
Imbecil 1: o responsável por creditar a Genoino o valor do reembolso (provavelmente não questiona porra nenhuma e o faz automaticamente)
Imbecil 2: o próprio Genoíno que, depois de estampada nos jornais a falcatrua, jura de pé junto que não vai mais pedir reembolso. De novo: não se trata do valor, mas do conceito. É essa mentalidade abominável que permeeia o ambiente político e faz com que qualquer um vislumbre, no dinheiro público, a possibilidade de um ganho extra
Imbecil 3: eu, você, todos que pagam impostos para que esse bando de vagabundos se esbalde

Alguém pode explicar como é que quase R$ 1 milhão são gastos com despesas de combustíveis quando o congresso se encontra em recesso (ah, aí está, congresso e recesso não só rimam como combinam!)? Simples: deputados e senadores esão visitando suas bases eleitorais, preparando-se para reeleição, e nós estamos pagando seus deslocamentos! Isso sem contar que 53 deputados solicitaram a quota máxima para esse tipo de despesa, que é de R$ 4.500. Nego recebe 5 paus de gasolina em período de recesso?! Salário mínimo 10% desse valor? Que país é esse?! Bastilha neles, guilhotina já!

Um país que tem boa parte de sua população vivendo em condições de penúria não pode permitir que esse tipo de procedimento ainda exista. Como consciência é algo que passa longe dessa corja, é preciso que gente como nós, cidadãos comuns, denuncie essas práticas e renove o tal congresso (ou como propõe o candidato do PSOL, feche essa merda de uma vez, já que a única coisa que fazem é contribuir com eles mesmos. Não é má idéia, Plínio!).

Um político deveria, por princípio, doar-se, do alto de sua envergadura moral, para dar ao povo exatamente a mesma condição que ele, do ponto de vista privado, detém. Do privado ao público, o Brasil já está de saco cheio do caminho contrário!

PS.: para piorar, esses mesmos bandidos instituem leis que limitam sua exposição ou a condição de serem ridicularizados na mídia. Tem que ser alvo de denúncias sim, de chacotas se necessário para expor sua condição de espoliadores. Que a lei vá para o inferno, a lei moral é superior a qualquer tipo de coação!!


8 de agosto de 2010

Ainda sobre valores

Amizade: originalmente baseada em princípios comuns, em valores substanciados na própria expressão do ser, transforma-se no jogo  que faz da relação um instrumento de troca. Exemplo: Lula é amigo de Sarney
Política: o servir a causa pública em favor da sociedade transforma-se em servir causa própria através de meios públicos em detrimento da sociedade. Exemplo: verbas públicas utilizadas por deputados em suas campanhas eleitorais ou os R$ 800 mil gastos em gasolina quando o congresso se encontrava em recesso
Papo: troca de experiências que reforça laços, orienta, auxilia, descontrai, transforma-se em exibição de valores de segunda categoria. Exemplo: conversava eu animadamente com um amigo sobre experiências de 30 anos atrás quando fomos interrompidos por um terceiro (conhecido dele) que fez uma puta viagem para o exterior a um preço que só ele consegue. Qualquer um no lugar dele teria ido, no máximo, à Bahia.
Agradecimento: a prática de reverenciar o ato de doação alheia e prontamente retribuir, equilibrando as forças, transforma-se, nas mãos dos presunçosos, em movimento de mão única. Exemplo: receber o carro do manobrista, o café do garçom ou o recibo do caixa do banco e não ser capaz de dizer um simples 'obrigado'. Presenciei a cena de um religioso que nem sequer olhou para o manobrista que havia acabado de ajudá-lo a colocar 4 crianças dentro do carro.
Humildade: a percepção de que todos somos iguais aos olhos do Criador, com qualidades e defeitos, mas nem por isso melhores ou piores, transforma-se em instrumento de segmentação e preconceito, deixando para trás seu conceito original. Exemplo: pessoas que passaram dificuldades ao longo da infância, inclusive no que diz respeito a comer, e que após atingirem sucesso na vida profissional não apenas esqueceram-se de suas origens, mas tratam com desprezo todos aqueles que hoje assumem a mesma condição. Seria vergonha de se colocar diante do espelho do passado?
Simplicidade: os pequenos prazeres da vida, via de regra ligados à natureza e aos apelos que atendem aos instintos básicos, transforma-se em ícones da tecnologia e conforto que eliminam, na prática, a verdadeira essência humana. Exemplo: no post anterior, o confornto entre o café no jardim e o sexo inútil
Sexo: já que falamos dele, a substituição do encontro maior, da energia que é trocada em momento de sublimação e ativação de todos os chakras pelo encontro menor, da energia volátil que se perde a cada trepada com alguém que possivelmente nunca mais se verá. Exemplo: no post anterior, a utilização da energia sexual em seu mais baixo grau de aproveitamento.
Música: a ativação da alma através da audição, a recordação e o resgate do que de mais sutil transita em nosso ser, transforma-se no culto ao choque, à energia da pior qualidade. Exemplo: Machine Head, banda que traduz à risca a essência do caos e que move massas perdidas e sem direção. Fácil manipulação.
Rapidinhas:
Pisca pisca: instrumento que, quando acionado, automaticamente acelera o carro que se encontra na pista em que você tem a intenção de mudar. Pura concidência o sujeito acelerar naquele momento!
Fila: feita par ser furada, a não ser que seja dos famintos que aguardam o sopão em uma dessas casas de assistência. Há respeito, o que não se pode dizer de um jogo de futebol, um concerto de rock, entrada do cinema e tantas outras manifestações.
Relógio: o que era para ser um instrumento de medição do tempo e controle do planejamento diário, transformou-se em símbolo de status e condição social. Meu relógio 'diz' que sou mais bem sucedido que você (seriam minhas horas mais valiosas?)
Ração: o alimento animal tranforma-se em referência de valor. Exemplo: 'gasto mais em ração com meu cachorro do que você ganha em um mês!' (esses meninos do Santos são o claro exemplo de como o mundo atual subverte os valores e reduz a cinzas o respeito que temos uns pelos outros)

Darwin, não se trata de teoria da evolução quando a questão é o comportamento humano, meu velho, mas de involução... 



1 de agosto de 2010

Da inversão de valores

De todas as contradições que dominam o coletivo humano, nenhuma fala mais alto do que a inversão de valores. As auto proclamadas 'sociedades modernas', que desesperadamente buscam a superação através da tecnologia, traduzida (com raras execeções) em modelos de comodidade e conforto, criam caminhos supostamente avançados e ao mesmo tempo tão contraditórios que colocam em xeque o valor humano. Viver sim, mas com que finalidade?

Vejamos dois exemplos práticos: ontem, sábado, tive a oportunidade de visitar, em companhia da Regina, a feira de orgânicos do Parque da Água Branca. O termo orgânico não se refere apenas ao tomate, cenoura, pepino ou qualquer outra hortaliça cujo desenvolvimento passa longe de fetilizantes químicos ou agrotóxicos (e que naturalmente contribui para o bem estar humano), mas também pela preservação do solo, da água e dos baixos índices de poluição. Devolvemos à terra, da maneira mais natural possível, a dádiva que ela gentilmente nos oferece, sem comprometer seu uso de maneira indiscriminada. É de se esperar que as pessoas envolvidas neste contexto, de um lado ou de outro do balcão, tenham um tipo de comprometimento diferente com o planeta, seus pares e consigo mesmas. Não é à toa que o ambiente é extremamente acolhedor, o perfil do público é diferente, a motivação é outra. Algo me remeteu  ao passado, duzentos ou trezentos anos talvez, quando as pessoas comungavam da energia que locais como esse são capazes de oferecer com sua gentileza e clima. De quebra, um café da amnhã em meio ao verde, 100% natural e em ótima companhia. Resgata-se a prática simples, iluminada pelo prazer de desfrutar o momento, sem pensar em 'tirar proveito da situação', tão comum aos olhos do capital. Será preciso ir além para entender o valor da vida?

Parece que sim. Em outras circusntâncias, claro. Porque quando a essência do viver se dilui em máscaras, criadas por sociedades que já desenvolveram tantas alternativas que não sabem mais por onde ir e, já quase sem rumo e mais nada para acreditar, abrem mão da própria dignidade, perdida nesta absurda inversão de valores. É o que constata e me informa, estarrecida, a mesma Regina, ao se deparar com um programa de TV que retrata a vida noturna norueguesa. A balada local consiste em espalhar uma quantidade absurda de espuma pela pista, que na batida da música ensurdecedora é tomada por jovens pilhados (ectasy ou algo que o valha). O que se segue é deprimente: roupas voam, começa o agarra geral e a balada se consome em um espetáculo de dar inveja às orgias do império romano. E não estamos falando de pessoas que cansaram de suas vidas sexuais e partiram para experiências diferenciadas, estamos falando de jovens que mal iniciaram a vida nessa área (ótimo jeito de começar). A prática e a identificação extrapolam para outros campos e visão de vida... Bem, não é preciso ir além. A Noruega, diga-se de passagem, é o país mais rico do mundo.
Para onde tudo isso leva? Eu não sei, mas posso assegurar que cria um distanciamento do propósito original da criação, muito mais voltado à situações como a do Parque da Água Branca. A balada norueguesa expressa até que ponto pode chegar o homem quando se trata de subverter os princípios que, um dia, deveriam ter norteado sua trajetória, e que ainda cintilam em feiras onde pessoas criam um sentido diferente. O planeta se encontra neste estágio destrutivo justamente porque estas populações, embora ganhem espaço a cada dia, quase nada representam.

Arquemos pois com as consequências.