30 de maio de 2009

Para ser bandido neste país, não é preciso assaltar um banco

Há alguns dias os bancos privados, em benefício daqueles que buscam o financiamento da casa própria, aumentaram os prazos e reduziram as taxas de juros do crédito imobiliário. O congresso nacional (minúscula neles!), motivado talvez por crise de ciúmes ou algum outro complexo que o obrigue a estar sempre na crista da onda, fez o mesmo em benefício dos para-lamentares de plantão que parasitam na casa: regulamentou (não lembra reguLAMENTÁVEL?) o auxílio moradia, que dá margem aos dito cujos que possuem imóveis em Brasília a adicionar a seus vencimentos R$ 3.800,00 como se esse dinheiro pudesse ser 'aplicado' como tal. Segundo o senador mão santa, que culpa esses para-lamentares tem se dispõe de imóveis na capital do ócio e da bonança? Eles tem que ter os mesmos direitos daqueles que recebem o auxílio. Ao inferno, mão santa, você e toda essa corja que não cansa de tirar uma com a nossa cara como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.




O auxílio moradia foi criado com o intuito de colaborar com os deputados de outros estados que, uma vez lotados em Brasília, precisariam alugar um imóvel (há, para isso, os chamados apartamentos funcionais, mas há mais para-lamentares do que apartamentos). Até aí tudo bem, nenhum mal nisso. O que veio à tona na semana passada, foi o caso de deputados que, depois de transferidos para apartamentos funcionais, continuaram recebendo o benefício. Fácil, né? Se faz de morto, finge que não é com ele e o dinheirinho continua pingando na conta (daí o título deste post. Roubar banco? Que nada! Vou é me candidatar a uma vaga no congresso!). O presidente do Senado, um tal de José Sarnento que pensa que é poeta, mora em imóvel próprio e recebe (ou recebia, já que estas sangrias são suspensas quando entra o dedo da imprensa) o tal auxílio. A princípio negou, depois disse que realmente estava ali, mas que ele não havia percebido (aliás, não duvido; com tanta grana que rola nos bastidores, é bem capaz que 7 ou 8 salários mínimos tenham passado desapercebido. Mas, se fosse para menos, nego já tinha colocado a boca no trombone...).


Quem precisa de auxílio moradia é quem tem que procurar abrigo público pra dormir no final do dia, quem mora sem condições de higiene ou quem abriga dez membros de uma mesma família em um quartinho. Esses caras que nós elegemos (wake up, todo mundo, hora de mudar mesmo!) não tem um pingo de dignidade, um mínimo de dor na consciência que os obrigue a ressarcir os cofres públicos. Eles haverão de fazê-lo, mas por pressão da imprensa que insiste em denunciá-los.


Minha proposta é muito simples: que tal o auxílio-sepultura? Damos um fim digno a todos eles e ainda temos o prazer de enterrá-los!



Obs.: vivos não, seria muita crueldade...



Crédito da foto: Dircinha






27 de maio de 2009

Mensagem do além


“As perspectivas do planeta são sombrias. O plano terrestre tem acumulado conhecimento ao longo dos séculos capaz de destruir a si mesmo milhares e milhares de vezes, seja por seu caráter bélico, seja pelo descaso para com a Mãe Terra. Este tem sido o curso do ser humano ao desenvolver tecnologia mortífera em busca de poder e riqueza, minando as resistências do planeta sem piedade. Investem seus bilhões em armamentos e em poluentes, financiam terroristas e alimentam traficantes. Geram uma espiral sem fim que a cada período ceifa milhões de vidas, muitas delas ainda perdidas pelo espaço e que seguem alimentando o bolo da discórdia, incapazes que são de reconhecer seu próprio caminho. O equilíbrio de todo o universo é então afetado. Seus valores são fúteis e limitados, baseiam-se no acúmulo de riquezas materiais que não deixam espaço para a evolução espiritual. Sua insegurança não tem preço. Em um dia, é o suor honesto do trabalho. No outro, o desvio de recursos destinados a saciar a fome de uma comunidade carente ou uma conspiração assassina. É esse desequilíbrio, essa busca cega e irracional que deve ser contida, esse individualismo podre que causa tamanha desarmonia e leva à destruição. Neros, Hitlers e Stalins seguem disfarçados entre vocês, semeando desunião e o ganho infindável a qualquer custo. Estes, que pregam o poder e dão as costas a seus irmãos menos privilegiados! Estes, que roubam, que ferem e que matam! São estes que a partir de hoje terão seus dias contados! Não negamos a ninguém, por pior que seja sua condição evolutiva, o direito à felicidade. Para vocês, este é o princípio em que impera o materialismo. Que assim seja, desde que o princípio se torne coletivo e comece na ação, no pensamento racional. Pensando como gota não se conquista oceanos. Gerações deverão ser treinadas para que, intuitivamente, este estágio seja alcançado".

As palavras proferidas por Zok, líder maior dos seres do espaço, encontram Abel pela primeira vez em solo indonésio, terra para a qual partiu seguindo instruções de seu mentor. É a partir deste momento que nosso herói será agraciado com os poderes que lhe permitirão retirar o ser humano da letargia irresponsável em que se encontra.




Não sei exatamente qual é a visão de quem está do lado de fora do planeta, mas desconfio que não seja muito diferente disso que aí está. Que tipo de referência somos, afinal? De que forma contribuímos para a evolução, nossa e de nossos semelhantes? Estamos alinhados com os pressupostos de comunhão que banham outros pontos do universo?




Não há, seguramente, uma perspectiva mais otimista neste sentido. Mas há, ainda, a esperança de que isso mude. Façamos nosso papel!




Crédito da foto: Heaven´s gate

25 de maio de 2009

"Humildade, família e amor"








Philipe Charak. Brasileiro, corinthiano, 13 anos. Meu sobrinho. Perante a lei judaica, acaba de atingir a maioridade. O rito de passagem é comemorado através de uma cerimônia em que o jovem é chamado à leitura da Torah, o livro sagrado que representa o velho testamento. Deu um show, parecia um veterano. E encerrou a cerimônia com um pequeno discurso.

As palavras que dão título a este post não são minhas. São dele. "Humildade, família e amor". Nestes tempos modernos onde impera o acesso fácil à comunicação, que abre portas para um mundo envolto em tecnologia e entretenimento, praticamente sem limites, é admirável notar os valores que ainda habitam o mundo de um jovem. Falar em humildade em um meio que, diga-se de passagem, quase não existe, é uma lição para todos aqueles que fizeram de suas vidas um caminho de sucesso e, quase que ao mesmo tempo, tão arrogante e desprovida de um sentido mais profundo. Não se trata de invalidar o caminho do sucesso, de uma forma ou de outra é o que todos buscamos. Mas quando este se transforma no cartão de visitas que atiça o ego e dá a falsa impressão que o mundo se divide em senhores e escravos, eis que algo precisa ser corrigido. A começar no espírito dos jovens, com exemplos como esse.

Na família, forjamos os pressupostos que validam nossa existência, estendendo-os gradativamente ao mundo que nos cerca. Criamos valores, aprendemos lições, nos preparamos para a vida! Agradecemos àqueles que vieram antes de nós por sua paciência e dedicação, esperando ver, nas gerações que nos seguem, algo extraído de nossa própria natureza. É em seu seio que começamos a reconhecer, ainda que em leves pinceladas, traços que levam à terceira referência deste post: o amor.

Defini-lo seria criar limites, o que por definição não me parece viável. Tudo que fala ao coração é amor, tudo que aquece a alma é amor, tudo que nos toca e nos transforma é amor, todo pelo arrepiado ou falta de palavras é amor! Sua expressão é infinita e cada um tem uma interpretação - qual é a sua? - mas fico com o sentimento que sempre passa por algo que nos eleva, que nos faz pertencer a esta unicidade que nos irmana. É o amor que temos uns pelos outros que não nos torna simples fragmentos dispersos universo afora!
Parabéns, Philipe, pela passagem e pela postura. E que estes pilares sempre façam parte de sua vida!

20 de maio de 2009

O poder da religião


Diz a sabedoria popular que futebol, religião e política não se discutem. Tampouco vou me dar ao trabalho de fazê-lo, acredito que dentro destes 3 campos cada um tenha suas próprias crenças e, via de regra, as defenda com unhas e dentes, quase que cegado por suas convicções. O que farei aqui será simplesmente expor as minhas.

O caráter religioso - e vou me ater aqui aos povos do livro, judeus e cristãos; embora tenha grande apreço pelas filosofias orientais, não me sinto apto a incluí-las nestes comentários - pode ser dissecado de duas maneiras, lembrando que não estamos falando de um tratado filosófico nem de um estudo em profundidade, mas simplesmente das impressões de quem há anos convive com isso:


1. O caminho da fé, que desenvolve um mecanismo interno onde o sentimento de pertencer, coletivamente falando, é acionado.


2. O caminho da doutrina, que subjulga a essência da fé e do divino aos interesses humanos.



Olhemos pelo primeiro aspecto. Minha amiga Priscilla postou há questão de algumas horas em seu blog, olhos verdes, 'Deus, pastor dos homens', onde usa como referência o Salmo 22 e o poder mágico que este exerce sobre o espírito. Aquieta a alma, eleva a vibração, cria a perspectiva de luz onde ela não existe! Eis aqui um exemplo claro do serviço que a religião deve prestar ao homem (nunca ao contrário). Nas palavras da própria Priscilla: "Se não fosse pelo amor e pela fé, o que moveria todos os dias as pessoas aos seus trabalhos e desafios a vencer?" - Divino! Criamos nestes movimentos nossa conexão com a essência através da fé, da oração, do sentimento que se abre em busca de algo maior e que não precisa, necessariamente, estar contextualizado em nenhuma religião. Vale para todos: judeus, cristãos, muçulmanos, budistas, taoístas, masoquistas e quantos istas sejam necessários para se irmanar e criar esta conexão, sem se sobrepor ou sem tirar do indivíduo sua capacidade de discernimento. A partir do momento em que isso ocorre... Bem, é aí que as coisas se complicam. Por tabela, caímos no segundo aspecto.


A religião, na medida em que se afasta do tênue fio de esperança que representa o encontro do homem com Deus e que em última instância resultou em sua criação, não vai além de controle e manipulação, como se houvesse sido criada com este propósito. São homens subjulgando homens em nome de uma causa maior, que na prática perdeu sua razão de ser. A não ser que vislumbremos como correto padre que excomunga médico que faz aborto em menina de 12 anos, maquininhas de cartão de crédito que correm por entre fiéis para arrecadação de dinheiro (depois a bispa Sônia manda um postal de Miami!) ou judeus ortodoxos que tiveram que ser arrastados de suas casas construídas em território ocupado (leia-se palestino) quando o exército de Israel retirou-os à força, já que depender da boa vontade deles para dividir espaço com outros seres humanos, que não judeus, dentro de um território que por 'intervenção divina' é exclusivamente deles (ou nosso, já que circuncisado fui aos 7 dias ou algo assim, não me lembro mais), é algo impensável. E assim caminha a humanidade: eles te dizem o que fazer e o que não fazer, te dão obrigações e responsabilidades e pasmem, com tudo isso você ainda corre o risco de não ir para o céu. Os pressupostos do item 1 se foram. A essência, é óbvio, se perdeu.



Aqui, trecho do mensageiro onde Abel (eu te amo, cara, você é meu herói!) expõe a questão ao entrar em embate com um padre:



– Espere um momento – o padre Eliseu interveio. – Acho que temos questões mais preemente a resolver. Esse homem se intitula descendente de Jesus Cristo, um verdadeiro ultraje à religião!
– E por que, padre? – Abel o desafiou. – Porque a religião reconhece neste homem o espírito divino, porém nega sua condição humana? Cria a simbologia capaz de atrelar milhões à causa, sem deixar transparecer a verdade?
– Cuidado, meu rapaz, você está indo longe demais.
– Por questionar o papel da religião? Por ver nela um instrumento de controle que preserva suas “verdades”, que estabelece seus códigos e conjuga o poder? Ou o senhor vai me dizer que a Igreja não se prestou a este papel através dos séculos?
– Herege!
– Ora, padre, não sejamos hipócritas! Não posso negar que há um comprometimento espiritual neste caminho, principalmente daqueles que abraçam a fé com abnegação, mas é ingenuidade pensar no papel meramente religioso da Igreja. Ou o senhor acredita, por exemplo, que o espírito que incitou as cruzadas e a retomada da Terra Santa das mãos dos “infiéis” muçulmanos era apenas religioso? Os cavaleiros francos precisavam de ação para bancar suas fileiras e uma jornada ao santo sepulcro abria esta possibilidade, novas conquistas e principalmente novas propriedades. O senhor entende o que quero dizer, não? Suas riquezas aumentariam, e o que era mais importante, sem colocar em risco as da Igreja. Não sejamos ingênuos, padre, a religião sempre teve seus interesses.
– Se o senhor insistir em denegrir...

– Não se trata de denegrir – Abel interrompeu com a voz firme – mas de se fazer enxergar. A manipulação não é privilégio exclusivo da sua religião, padre. Todas, em maior ou menor grau, se afiguram como meio de disseminar o medo e manter o controle. Há uma certa validade, como eu disse, pois de alguma maneira estabelecem relação com o que é divino. Mas a verdade é que se perderam no tempo, cederam aos apelos dos mais poderosos. A quem Cristo incomodava ao criticar os preceitos de sua época, senão aos sacerdotes do templo? Não foram eles que apelaram aos romanos?
– O senhor está colocando em xeque o trabalho de Nosso Senhor? Seus ensinamentos?
– Claro que não, padre. Não questiono o papel de Jesus, mas sim o uso que se fez dele. Jesus foi um mensageiro enviado a este planeta para trabalho similar ao meu, apenas sob diferentes condições. A deturpação de sua obra é o que mantém o homem sob controle e afastado da verdade. A religião, senhoras e senhores, não atende a outros interesses que não aos do próprio homem!



Fim de papo. Sou torcedor do tricolor paulista de coração, quero mandar tudo que é político pra fogueira (podem me chamar de Torquemada que será um prazer) e essa é minha visão do quanto a essência religiosa foi deturpada. Em meu íntimo rezo, prezo e apelo. Não como judeu de origem, mas como um cidadão do universo em busca de melhores dias para todos que estão à minha volta, sem olhos para raça, credo ou cor. E como diria o grande e não menos amável Ricardo Calmon, VIVER É PURA MAGIA!



Crédito da imagem: Rob Brocoli ( o cara deve ser vegetariano)

19 de maio de 2009

Chega de farra!


A imagem veio do Blog do Tas e resume o sentimento de indignação que toma conta deste país. É lamentável saber que temos um bando de párias que se apossaram do poder e que legislam em causa própria, individual ou corporativa. O deputado Sérgio Moraes, que outro dia soltou o ' me lixando para a opinião pública', apenas externou o sentimento que orienta seus comparsas de congresso. Alguns podem até ser bem-intencionados, mas uma vez no meio da sacanagem se deixam levar. Se até o Suplicy entrou na farra das passagens...

Vamos levantar essa bandeira e mostrar pra eles quem é que dá as cartas neste país. Eles estão lá para nos servir não para viver como parasitas às custas no nosso suor, principalmente quando tanta gente neste país passa fome, não tem acesso à saúde ou educação. E os malditos se refastelando por lá sem a menor cerimônia, comprando mansões e castelos, contratando domésticas e pagando celular de filho com dinheiro público. Vai ser debochado assim no inferno! Pode botar tudo abaixo e começar de novo, eu garanto! Candidato-me se preciso for, arregaço as mangas e tenho plena certeza que faço um trabalho justo, digno, honesto, mais barato e mil vezes melhor!!

Abaixo a classe política deste país. Vamos aproveitar que São João está aí e jogar todo mundo na fogueira!!!

13 de maio de 2009

Paz na terra aos... A quem mesmo?


Seria cômico, não fosse trágico. "Vejo um tempo em que a paz deverá reinar ao redor do mundo", diz a vidente. "Aposto que as pessoas estão felizes", responde o cavaleiro. "Não vejo pessoas", rebate ela.

A história da civilização humana sempre foi marcada por guerras, barbáries, genocídios e tantas outras atrocidades que, independentemente da nomenclatura que se use, carregam dentro de si o estigma do mal. Antes de respeitar seu semelhante, o homem opta por fazer valer seus desejos, entra em conflito quando não há acordo e estabelece, na ponta de uma arma, o termômetro para suas imposições. A lei do mais forte, como no mundo animal, prevalece.

Os recentes acontecimentos no Sri Lanka, ilha próxima a Índia que já foi colônia britânica, ilustram bem o fato. O país vive em guerra civil há 26 anos, contabilizando mais de 100 mil mortos no conflito. As forças do governo encurrralaram os tigres tâmeis, organização considerada terrorista pela ONU e que busca a independência de sua região, no extremo norte da ilha. Até aí, o conflito de etnias, religiões e o K7A4, que no final das contas se traduzem no conflito pela terra e nada mais, não representa nada de novo. O ponto é a atitude do governo cingales, que a fim de exterminar os rebeldes lançou ataques contra um hospital da região, mesmo sabendo que no local encontravam-se centenas de feridos. Resultado: mais de 50 mortos. Para fazer valer seu poderio o estado sacrifica peões, como em um tabuleiro de xadrez, e atinge o resultado que deseja. Não há expressão mais desconcertante do caráter humano do que esta.

Em 'O mensageiro', Uriah, o anjo da história, dá a seguinte explicação a Abel em um passeio por Ulu Watu:

Miséria, sofrimento, guerras. É possível pensar em solução mais estúpida para resolver uma discórdia? A guerra é a prova definitiva de que vocês, humanos, não sabem usar seu principal recurso, o cérebro. Em seu lugar usam a força das armas. Mas se serve de consolo, meu caro, não se trata de um privilégio de sua raça. A guerra existe em todo lugar porque onde há luz há trevas, e estas forças estarão sempre travando suas batalhas universo afora. No caso específico deste planeta, porém, o problema não é a guerra em si, mas o processo que ela desencadeia. O que era para ser um conflito de interesses se transforma em movimento generalizado onde a mente pára e o indivíduo age como se estivesse tomado pela loucura. Basta olhar para os massacres a que foram submetidas populações indefesas ao longo da história: a desintegração da Iugoslávia, os curdos no Iraque, o Sudão. As forças da escuridão agem sem discernimento, filho. São movidas pelo impulso, pelo descontrole que avança sem medir as conseqüências.


Talvez seja necessário, como prevê a vidente, varrer a sujeira que corrói o mundo e começar tudo de novo (como Einstein já disse, "não sei quais armas serão usadas na 3a. guerra mundial, mas a 4a. seguramente será travada com paus e pedras") . Tenho minhas impressões a respeito, mas colocá-las aqui seria tirar a surpresa do final do livro. Vamos por partes!

9 de maio de 2009

Introdução de 'O último mensageiro'




Disponibilizo aqui as primeiras páginas do mensageiro. Sintam-se a vontade para ler, opinar, criticar, enfim, contribuir se achar pertinente, o processo de troca é sempre produtivo e bem-vindo. Esta primeira passagem se inicia com a chegada de Abel a São Paulo depois de sua jornada de iniciação. Boa leitura!


São Paulo me recebia com o costumeiro ar de indiferença em uma nebulosa manhã de novembro. A chuva pedia passagem, mas era possível notar tímidos raios de sol, que como pálidos frisos ultrapassavam a barreira das nuvens na tentativa de atingir o solo em esforço inútil, desmanchando-se pelo caminho sem chegar a lugar algum.Quadro desolador para um mês de primavera, pensei, o sol a pino e o calor tranqüilizante teriam sido muito mais convenientes para a aterrissagem. Eu me perguntava que tipo de transtorno estávamos causando ao planeta para que reagisse de maneira tão contraditória, indignado que parecia estar diante do descaso e da insensatez humana. Que tecnologia maligna era essa, afinal, que insistia em justificar seus erros em nome do progresso, ainda que isso pudesse comprometer a mais básica das estruturas? Haveria mesmo de existir, em sã consciência, algo mais importante do que a própria saúde da Terra?

Lancei um suspiro no vazio e desviei o olhar, procurando deixar os pensamentos de lado. Passei a admirar o campo, o vasto território organizado traçado em perfeito contraste. E não é que sabíamos fazer coisas boas também? Um pouco de engenharia e uma boa dose de bom senso para desenhar o imenso tapete verde e suas nuances, tons claros e escuros que ganharam evidência, saltaram aos olhos e então cederam, até desaparecer por entre as nuvens. E foi quando tudo estremeceu. O avião pareceu perder altitude e os luminosos de apertar cintos se acenderam. Entrávamos em zona de turbulência e os golpes de ar passaram a chicotear o 747 para cima e para baixo como folha de papel. Engoli seco e virei para os lados em busca de um olhar sereno, um sorriso amigo ou qualquer outro sinal que pudesse me acalmar, mas a passividade era geral. Rostos se escondiam por trás de temores procurando disfarçar a agonia, provavelmente a mesma que eu sentia, camuflando as primeiras ondas de pânico que ameaçavam irromper. Isso ainda duraria intermináveis minutos, o alívio geral só viria depois que o avião baixasse por entre o mar de nuvens e novamente a terra se fizesse à vista.

Pouco depois entrávamos em procedimento de pouso em Cumbica e confesso que só senti o coração desacelerar quando a aeronave tocou a cabeceira da pista, deslizou mansamente sob a chuva e parou com elegância ao seu final. Desembarque, Polícia Federal, banheiro e bagagem. E a surpresa de encontrar Thais a minha espera. Um leve abraço e um beijo que durou poucos segundos a mais do que o usual foram as marcas do reencontro, nada de sorrisos ou traços de saudade. O olhar soberano ainda me fuzilou com indignação, deu meia volta e se afastou apressado pelo corredor. Um pequeno instante de hesitação e também saí, acelerando o passo para alcançá-la já quase do lado de fora. Lembro-me de ter sido preenchido por uma onda de calor, não soube precisar de onde vinha, que lambeu cada célula do meu corpo como se o transformasse no próprio inferno.

A considerar os eventos da ida até que foi um bom recomeço. Nove dias antes, Thais havia me acompanhado até o setor de embarque para ali, em meio à multidão, exaltada e fora de controle, vomitar uma montanha de insultos. De insano e débil mental a perdulário e outras expressões que prefiro não mencionar, havia jurado que aquele seria nosso último encontro. “Pode apostar sua alma nisso, Abel!”, dissera, o indicador colado ao meu nariz. Com todos os caprichos que o destino era capaz de nos reservar, lá estávamos juntos novamente, sem desculpas ou lamentos. O orgulho não lhe permitiria tomar a iniciativa, ela esperaria até o momento em que eu dissesse “Thais, se eu contar você não vai acreditar...”. Mas ele, o destino, julgou não ser necessário. Ela logo poderia constatar com seus próprios olhos.



* * *



Adoro chuva. Quando pequeno costumava compor rituais imaginários pelo quintal ladrilhado da casa em que morávamos na Vila Mariana, o rosto voltado para o céu em sinal de agradecimento e os olhos fechados em sonhos. Os pedacinhos vermelhos, espalhados pelo cimento e contrapostos a outros menores, negros, pareciam recebê-la como bênção, dilatando-se em sorrisos a cada pingo. O cheiro do chão úmido logo emergia e ainda hoje, quando a chuva beija o asfalto, me lembro daquela época como se fosse hoje. Por outro lado, detesto dirigir na chuva, recordação de uma experiência não muito feliz que tive aos seis ou sete anos quando meu pai, dirigindo seu Fiat azul em um dia como esse, perdeu o controle do carro e saiu capotando. Conotação de sonho, flashes do horror misturados ao alívio repentino de constatar, como por milagre, uma família escapando ilesa do desastre. Minha mãe rezava, agradecendo a Nossa Senhora Aparecida pela graça alcançada. Meu pai, desconsolado sobre os cotovelos no meio fio, chorava como se tivesse perdido tudo. Eu? Bem, diria que acusei o golpe. E de maneira tão intensa que me tornei incapaz de dirigir em dia de chuva, a lembrança irrompia e com ela todo o desconforto. Nestas condições preferia tomar um táxi ou nem mesmo sair de casa e, confesso, nunca me esforcei para que fosse diferente. Neste dia, porém, a costumeira sensação de descontrole não se fazia presente. Eu me sentia confiante - motivado sobretudo pelos acontecimentos que haviam me conduzido até ali – enquanto caminhava ao lado de Thais pelo estacionamento. Ela, irritada, buscava abrigo no guarda-chuva que fazia questão em não dividir comigo. Eu, alheio à raiva, atirava-me à água que trazia de volta a realidade do concreto urbano, escorrendo pelo rosto e deixando as lembranças de menino soprar em meu coração. Quando alcançamos o carro, minutos depois, Thais deu a volta pelo lado do passageiro e atirou as chaves na minha direção. E acho que foi só mais adiante, quando já estávamos na saída esperando a cancela se erguer, é que tive a sensação de que algo ruim aconteceria.

O silêncio reinava absoluto, vez ou outra interrompido pelo ecoar dos trovões. O horizonte que se erguia à nossa frente era denso e negro e inquieto como se a noite, intempestiva, abrisse caminho. Thais parecia hipnotizada pelos pingos cristalinos que se chocavam contra o pára-brisa provavelmente revivendo, em algum lugar da memória, lembranças de um passado comum não tão distante. Eu conduzia o veículo com surpreendente tranqüilidade, certo de que uma força maior me guiava na jornada. Mas nem por isso ousei desafiar o destino. Ao contrário. Louvei o mau tempo na expectativa de criar equilíbrio, e o que veio em resposta foi a completa falta dele. Nos segundos que se seguiram vi minha confiança interior ser varrida, milhões de pensamentos se chocando em desordem sob o efeito da adrenalina que me inundava. Senti a transformação do campo energético ao mesmo tempo em que os pneus perdiam aderência. Tentei diminuir, mas o celta não respondeu. A película de água que se instalou entre os pneus e o asfalto foi crescendo, crescendo, e então me dei conta que já não podia controlar mais nada. Thais virou-se para mim e pude perceber naquele par de olhinhos assustados uma expectativa tão ruim quanto a minha. O carro continuou em movimento por conta própria, ameaçou rodopiar e eu então tomei a única decisão que parecia estar ao meu alcance naquele momento: pisei no freio com força. O choque veio em seguida, a batida oca e surda que jogou o que quer que estivesse à nossa frente a uma curta distância mantendo-o ali, quase colado. Eu havia acertado alguma coisa, mas... O quê exatamente? O carro ainda percorreu alguns metros e depois parou enviesado como se tivesse perdido o fôlego. Thais estava bem, eu um pouco trêmulo e desorientado, a cabeça por entre as mãos ainda presas ao volante. E então descemos.



* * *



Não sei o que se passa na cabeça dessa gente. Amo meu país e meu povo, mas quando se trata de desrespeitar padrões parece que somos mesmo campeões. É por isso que eu acho que as coisas não funcionam muito bem por aqui. Existe um caos camuflado, um processo de sabotagem inconsciente que age por conta própria quando se trata de responsabilidade e bom senso. Afinal de contas, pode existir algo mais insano do que andar de bicicleta à beira da estrada em dia de dilúvio? Um garoto e seus... Não sei, treze anos, talvez, agora estirado no acostamento. Descalço e ensopado. Inconsciente, porém respirando, o sangue escorrendo pelo nariz e algumas escoriações no pescoço. Do ponto de ônibus que havia ficado para trás todos correram para o local, dois minutos depois chegava uma viatura da Polícia Rodoviária. Pronto, o circo estava armado. Eu? Completamente perdido, situações sem prévio aprendizado costumam me deixar apreensivo. Mesmo assim, e agindo por instinto, me agachei ao lado do garoto. Não saberia dizer exatamente para quê, mas eu achava que de algum ponto deveria partir. Dei-lhe duas batidinhas no rosto, não houve reação. O moleque ia morrer ali mesmo, pensei, enquanto eu conseguiria correr alguns metros até que a multidão em fúria me alcançasse e desse início ao linchamento.

“Fique calmo”. Foi o que me lembro de ter ouvido assim que minha consciência fez a conexão com o mundo real novamente. “Chegue para lá, quero ver o estado dele”. Dois policiais haviam rompido o cerco formado pela multidão e estavam agora junto a mim. “Estávamos parados do outro lado da pista, um pouco mais para trás, e vimos o que aconteceu”, o outro emendou. “Você perdeu o controle do carro e saiu derrapando, chegou no acostamento e atingiu a bicicleta”. Não acredito! “Ele deve ter batido a cabeça na queda. E olhe essa perna aqui, houve fratura”. Meu Deus, onde tudo isso vai acabar? “Vamos removê-lo para a viatura. Pegue o seu carro e nos siga até o hospital”. Hospital? Eu não sabia se respondia, acatava em silêncio ou pensava em coisa melhor. Na verdade não me sentia em condições de pensar, mas isso começou a mudar tão logo me virei na direção da massa. Foi como se cada músculo fizesse o movimento em câmera lenta, as batidas do meu coração se misturando às vozes e se perdendo ao longe enquanto os pingos da chuva explodiam em meu rosto, transformando-se em milhares de novos pingos. Estava vindo. Isolei meu pensamento, pisquei mais forte e saí de cena.

Havia chegado o momento.

Fechei os olhos e os ensinamentos maravilhosos que eu havia recebido dias antes afloraram. Estendi as mãos para frente e voltei-as para o céu – parecia não chover sobre elas – e logo a energia se fez presente. A luz azulada e serena, a mesma que eu tivera oportunidade de acessar durante a viagem, tremulava por entre meus dedos. Ninguém pareceu notar, nem mesmo Thais, que havia ficado para trás no meio da confusão. A multidão nem parecia estar mais ali. Eu não ouvia suas vozes, não via seus rostos. Minha atenção estava centrada apenas no garoto e tudo que fiz foi envolver a perna fraturada por entre minhas mãos no instante em que os policiais se preparavam para removê-lo. “O que você pensa que está fazendo?”, um deles se antecipou e me segurou pelo braço, ao mesmo tempo em que parecia não querer impedir. Mantive as mãos naquela posição por alguns segundos, guiando meu pensamento para que a luz penetrasse na região e corrigisse o estrago. A aplicação foi rápida e em seguida o garoto despertou feito um coelho assustado. Levantou-se ligeiro, sem se dar conta que era o centro das atenções de toda aquela multidão e, sem apresentar qualquer sinal da fratura, limpou o nariz, montou soberano em sua bicicleta e saiu pedalando em disparada sob a chuva. Todos permaneceram ali parados, incrédulos. Olhos vidrados, cinqüenta ou sessenta pares, voltados para minhas mãos. De suas bocas saíam murmúrios que eu não conseguia entender, lágrimas brotavam com emoção. Duas senhoras fecharam seus guarda-chuvas, ajoelharam-se sob o sinal da cruz e se puseram a rezar. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, o policial disse, a expressão de quem não podia acreditar no que havia acabado de presenciar. Desvencilhei-me com delicadeza, abri um sorriso cínico e corri para o lado, alcançando Thais e a empurrando para dentro do carro. “Vamos”, eu disse, “ainda não estou preparado para os autógrafos”. Como que negando a cena, ela balançava a cabeça de um lado a outro. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, repetiu, as palavras carregadas de um sarcasmo desnecessário. Detive-me à porta, fixei o olhar nela por sobre o ombro. “Claro que sei. Vamos sair logo daqui”.

O silêncio parecia ter costurado seu último suspiro. E a chuva, ao contrário do que eu imaginava, não havia cessado.

7 de maio de 2009

Armadilhas do poder

Outorgar poder a quem não se encontra apto a com ele lidar (quase a totalidade das pessoas que o detém) sempre gera desequilíbrios. Venho há anos postulando que o poder é corruptor por natureza, e nem me refiro aqui à má versação do dinheiro público ou aos conchavos que cansamos de ver nos meios políticos. O poder é corruptor na medida em que afasta quem o controla da finalidade para o qual foi criado, subvertendo a ordem de valores. Dois exemplos rápidos para dar a visão exata do que quero expor, os dois ocorridos ontem: um policial militar dirigindo a viatura e falando ao celular, uma ambulância estacionada em fila dupla a pouquíssimos metros de distância de uma vaga com 3km de extensão (o exagero é proposital).


O primeiro, por se encontrar mais próximo às esferas de poder (inconscientemente deve achar que vale alguma coisa), entende que a lei, que vale para todos, não vale para ele. Ao que tudo indica, o fato de usufruir do poder é capaz de torná-lo imune às limitações para o qual o poder foi criado e a lei estabelecida. E antes de qualquer questionamento sobre a natureza da ligação posso afirmar que, pelo tom da conversa (estávamos lado a lado no farol), não se tratava de nenhuma emergência profissional.



O segundo, a ambulância, possui a prerrogativa de circular pelo trânsito com total prioridade, obrigando carros e demais veículos a lhe dar passagem. Coerente, claro, o trânsito da cidade não pode colocar em risco a vida de um de seus habitantes, que poderia sucumbir antes de receber atendimento adequado. Mas daí a parar em fila dupla, quando dois metros mais a frente há espaço para 15 ambulâncias, traduz apenas o sentimento de superioridade de quem detém o poder. É como dizer 'eu posso' e ponto final. De fato, pelo caráter da lei pode, mas daí a se ater aos princípios do velho e bom senso vai uma longa distância. O que parecia ser um caso de remoção (não pude ficar esperando pra ver) teria tido o mesmo desfecho ou a mesma dificuldade de acomodação se a tal da ambulância tivesse parado um pouco mais adiante. A diferença, nesse caso, é que não atrapalharia os outros 800 cidadãos que estavam passando pelo local.



Exemplos não faltam. Vão desde estes episódios insignificantes do dia a dia até a farra das passagens aéreas dos para-lamentares deste país. E, pasmem, não há nada de ilegal nisso. Os para-lamentares apenas usufruem de uma norma que lhes beneficia com passagens, que podem ser usadas da maneira que for. Podem significar o retorno ao seu curral eleitoral como podem significar a benesse de enviar correligionários ou familiares para Paris. Até deputados de Brasília, que teoricamente residem e trabalham na capital, tem direito às 'milhagens'. Ou seja, fazer parte dos círculos de poder e dele usufruir é muito fácil, principalmente quando quem banca essas regalias são otários travestidos de contribuintes. A lei, neste país, não vale para todos (link para 378 do congresso)



Por outro lado, tem o caso de uma colaboradora doméstica que trabalhou comigo e que está se aposentando aos 50 anos por problemas de coluna. Há exatos um ano e oito meses essa mulher roda hospitais e postos de saúde a procura de vaga para fisioterapia, para minimizar a dor, ou para cirurgia, que lhe devolveria uma condição mínima de saúde. Não há vagas, as consultas são marcadas para até 60 dias, quando chega o dia o médico não comparece. Esse é o triste outro lado da moeda, retrato da grande maioria da população que não tem acesso aos estratos do poder.


Pensemos duzentas vezes antes de escolhermos nossos líderes. Alguém já disse que para conhecer o verdadeiro caráter do homem basta lhe dar poder.


Crédito da foto: Michaelluef

5 de maio de 2009

Time passengers

Baseado em fatos reais

Quarta-feira, fim de tarde. Reunião na Origin Brasil, primeira vez no cliente. Fácil acesso em meio aos Cingapuras da marginal Pinheiros. Desço e me dirijo à recepção.


Ela abre um sorriso ao me ver. Faz sinal para que eu espere enquanto está ao telefone. "Eu a conheço", penso. Encosto no balcão e olho para ela novamente. "Tenho certeza que já a vi em algum lugar". Cabelos negros, olhos castanhos, sorriso de criança. No crachá, Vanessa. Procuro me lembrar. Fixo os olhos no chão e saio varrendo a mente em busca de respostas. Nada. Nossos mundos distintos pareciam criar um abismo ainda maior. Não havia respostas. Havia apenas uma luz, que como num estalo brilhou e, da mesma forma que veio, se foi.


Ela desliga o telefone. Digo quem sou e peço pelo Ronaldo do publishing services. Ela liga para ele, prenche a ficha e me entrega, juntamente com o crachá de visitante. Incrível como toda essa burocracia me faz mal.


- Ele pediu pra você subir e aguardá-lo na recepção do segundo andar - o sorriso me pareceu ainda mais familiar, como se um dia tivesse feito parte de um sonho. - Ele o encontrará lá.


Olho ao redor e não vejo escadas.


- E como chego ao segundo andar?


- Nunca esteve aqui antes?


"Se tivesse estado, não perguntaria". Preferi manter a polidez.


- Não, é a primeira vez.


- Então queira me acompanhar, por favor.


Ela sai de trás do balcão, dá a volta e se dirige a uma porta de vidro na lateral. "Conheço você..."


- Está vendo aquela rampa? - Ela aponta na direção de outro prédio. - Vá por ali e ao final da escada vire à direita.


Agradeço e tomo meu caminho. E de repente sua voz volta.


- Tem certeza de que nunca esteve aqui?


As obviedades pareciam se suceder.


- Tenho.


- Desculpe. É que você me é tão familiar que achei que já tivesse estado aqui antes...


Estremeci enquanto ela dava as costas e voltava para trás do balcão. Sua rotina permaneceria ali, encerrada em seus anseios e dúvidas que por um instante me assaltaram como se fizéssemos parte de um plano comum. O elo, atado em algum lugar do passado, uma vez mais se desfazia.


Permaneci ali, parado, como se o tempo tivesse congelado aquele instante. Fechei os olhos e suspirei, vi flashes de luz em meio a uma enorme tempestade.


Achei que escreveria sobre isso.


Credito da foto: tomitheos

3 de maio de 2009

Na contramão do céu ao inferno


É muito comum passarmos por momentos de instabilidade quando colocamos carga excessiva no dia a dia. Corpo e mente reagem ao impacto e o estresse torna-se inevitável, tirando-nos do eixo e levando-nos a uma espiral de irritação e impaciência que pode ter consequências mais drásticas. A maioria conhece o processo. Passei por ele dias atrás e achei que sair fora durante uma semana seria suficiente para revertê-lo, esvaziando a quantidade de informações, estímulos e tarefas que eu havia acumulado. Ledo engano. Ao invés de fazê-lo, a semana serviu para acentuar a curva, chegando ao seu ápice no último domingo, 26/4. Ali pirei. E parei. Havia alguma coisa fora do lugar, algo que o simples afastamento das atribulações do dia a dia e o fato de não estar obrigado a produzir não 'resetara' a máquina. Eu havia diminuído o ritmo físico e havia dado descanso ao corpo, mas não à mente. Ela seguiu perdida por aí, em todos os lugares e em nenhum ao mesmo tempo, longe de estar presente e refletir a essência do que realmente sou. E foi então que percebi o que devia ser feito. Primeiro ponto a considerar: as respostas estão sempre dentro de nós. Vivemos na era da informação e da velocidade, que em conjunto possibilitam viagens sem limites através de inesgotáveis fontes de consulta. Podemos buscar soluções nas mais variadas formas, mas se não fizermos a correta leitura de nosso interior, de nada valerá o que se encontra lá fora. É preciso posicionar-se de dentro para fora e não ao contrário! Segundo ponto: as respostas são simples. Costumamos buscar soluções mirabolantes para as situações que enfrentamos, construímos meios e planos que sejam capazes de justificar nossos desejos e sua busca incessante. E quando nos damos conta da solução, pensamos "como é simples! Por que não pensei nisso antes?".

Talvez por não estar suficientemente alinhado para 'receber' as respostas. Gosto do provérbio chinês que diz que "É na quietude das águas que se vê o fundo do lago". Quando respiramos corretamente, mantendo o foco no momento presente, esquecendo de passado, futuro ou da infinidade de tarefas que temos a cumprir, atingimos o grau de serenidade necessário para manter a paz de espírito e enxergar o caminho com outros olhos. Foi exatamente o que fiz. Relaxei, trouxe meu pensamento para o presente, voltei a reconhecer minha respiração e pronto, descansei em um dia tudo que não havia descansado em uma semana.

A respiração é o meio. Há técnicas e técnicas para aprimorá-la (eu desconheço), mas parto do princípio básico que mantê-la cadenciada e suave, não a perdendo de vista, nos faz transitar em outro patamar de energia. A inquietude se vai, o sorriso volta. A estrada de volta ao céu parece mais curta.