7 de junho de 2009

O Brasil e a copa


O ufanismo é o mesmo de sempre. O povo sai às ruas para comemorar a escolha das cidades que sediarão os jogos, os políticos discursam e posam de heróis (quando na verdade estão apenas enxergando os novos horizontes que a escolha abre para suas carreiras e seus bolsos), figuras do passado futebolístico cedem sua imagem em troca de exposição (e grana, claro), sem mesmo ter qualquer relação de berço ou trabalho com as cidades para as quais se prestam ao papel. Uma farra. O Brasil tem mesmo essa pobreza de espírito, a mania de trocar os vocábulos 'fato' e 'festa' e viver como o cachorro que abana o rabo para o dono. Ao invés de criar soluções de conteúdo, sustenta-se em pilares de superficialidade regados à cerveja e linguiça e que garantem, como se isso bastasse, a felicidade do povo. Nada como manter essa massa sob controle em sua limitada noção do que a felicidade, de fato, representa.


Não sou contra a copa de 2014 em terras tupiniquins. E não por ser amante do futebol, jogar semanalmente, ir ao estádio ou assistir pela TV. Vivo a paixão desde os 8 anos de idade, quando meu pai me levou pela primeira vez ao Morumbi para assistir a São Paulo e Fluminense. Talvez ela, a paixão, justificasse o desejo. Não. Não pode haver enganos nesse sentido.


A única razão pela qual vejo com bons olhos a realização de uma copa no Brasil é em virtude do ganho que as cidades-sedes, e consequentemente suas populações, terão em questões de infra-estrutura. Uma copa exige transporte, hospedagem e instalações hospitalares, por exemplo, de primeira linha, o que obrigará estas cidades, nos próximos 5 anos, a redimensionar boa parte de sua estrutura. São Paulo terá que contar com transporte mais decente, o que inevitavelmente acelerará as obras do metrô ou os planos de ampliação da malha viária. O resto faz parte do teatro e da vocação do Brasil em viver de imagem, sem um alicerce real que a sustente.


Desviemos o olhar para as estruturas falidas que tomam conta deste país. Segurança, saúde, educação... Há uma enorme incoerência em se pensar em copa quando o país tem necessidades mais preementes, não? Para se ter uma idéia, o país conta com pouco mais de 290 mil vagas em seu sistema prisional, que hoje abriga nada menos do 446 mil. E vamos construir estádios, não presídios. Há 500 mil mandados de prisão não cumpridos porque não há lugar para colocar toda a bandidagem sob custódia da lei. Onde eles estão? Nas ruas, convivendo lado a lado com o cidadão de bem pela simples inoperância do estado. Estado não lembra estádio...?


Esse é o outro lado da questão. A construção e reforma de estádios, principalmente os que pertencem à esfera municipal, vão comer o dinheiro público com voracidade. O exemplo do Pan do Rio parece que não serviu de nada, não sei quantos bilhões acima do orçamento previsto foram gastos e o que restou foram complexos abandoados. Um escárnio. Os políticos se inflamam, falam em novas construções (pergunto: há maior incoerência do que querer construir um novo estádio em São Paulo, que já conta com o Morumbi? Não há nada melhor para fazer com o dinheiro público?). Agem como se nada pudesse abalar seus planos de alçar seus nomes ao estrelato, graças a um evento repleto de glamour e que não enche a barriga de ninguém.


E o povo sorri, abre uma breja e segue comemorando...

4 comentários:

  1. Política do pão e circo... isto te lembra algo familiar? rsss
    obrigada pelo comentário no blog...
    Abraços

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  2. Mensageiro, você está sumiduuu!!!Abs

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  3. Oi André...
    Povo pobre, pensamento pequeno, satisfação pequena... Brasil não lhe dá mesmo outra oportunidade e a classe média bem sabe disso, porque é expremida inutilmente, aliás, só para deixar mais rico os ricos desonestos...
    Quanto à política, essa nunca foi aliada às necessidades do povo, quando este ganha é porque foi conveniente para eles, políticos e nós coitados, votamos como esperançosos..., seja por convicções bem formadas ou por "achismo"... O voto existe e lá vamos nós votar como cidadãos... Eu voto. Mas está difícil!
    Beijos,
    Ana Lúcia.

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  4. Sem dúvida, Ana Lúcia. Mas se queremos um futuro melhor para nós e os nossos, é preciso pensar em saídas para essa armadilha. Votar nos que estão aí... nem pensar. Obrigado por sua visitia

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