4 de abril de 2010

UTOPIA

Estamos em 2046 e o mundo não é nem sombra daquele lugar 'bonito e tranquilo pra gente se amar' que você conhecia. O planeta sucumbiu, graças à irresponsabilidade humana e seus interesses escusos, que juntos contribuíram para o que parecia impossível: destruir tudo a sua volta e desencadear a fúria irreversível da natureza. As calotas polares derreteram, os oceanos tomaram os continentes. Glub, glub, glub... Paradoxalmente, áreas desérticas se abriram no coração da África, incêndios de proporções descomunais tomaram a tundra soviética e o Canadá. Populações foram dizimadas pela fome, doenças e toda sorte de desastres naturais. O subir das águas só poupou aqueles que se encontravam em altitudes superiores a 1.000 metros.


O destino do homem foi, enfim, selado por suas mãos irresponsáveis cheias de sangue.


Relaxe. Se o ambiente lhe parece de total desolação, há um motivo para se alegrar: você conseguiu se salvar. Tomou o vácuo migratório com ligeira antecedência, deixou para trás seus bens materiais e rumou com a família e amigos para um dos pontos altos. A escolha foi sua: Chapada dos Veadeiros, Diamantina, Serra da Mantiqueira. O importante foi se antecipar, acreditar nos boatos e encher-se de coragem. Parabéns! Você está entre os 30 milhões de sobreviventes do planeta Terra (lembre-se que em 2007 a população do planeta chegava a quase 7 bilhões de habitantes), prontos para iniciar uma nova jornada.




Portanto, mãos a obra. Paus, pedras, galhos, folhas... Ou você achou que era só apertar o interruptor? Helloouuuooou, a fase do tudo fácil ficou lá atrás, sua sobrevivência e a dos seus depende, daqui em diante, daquilo que você for capaz de fazer. Bem vindo ao mundo pós-dilúvio capítulo II!



Os trabalhos começam, as comunidades se dividem em busca de locais apropriados para montar suas barracas e iniciar o novo ciclo. A sua tem 45 pessoas: você e sua mulher (ou marido), seus filhos, irmãos e irmãs com seus respectivos agregados e dois casais amigos e suas famílias. Seu vizinho e o cachorro vieram junto, assim como um casal de idosos que encontraram pelo caminho e a quem deram abrigo. Hora de recomeçar: como líder, preservar cada membro desta nova comunidade é a sua tarefa!



Seu primeiro desafio: a uma nova sociedade, sem estruturas pré-estabelecidas e sem vícios, não resta alternativa que não seja desenhar novos princípios. Além dos éticos, como o respeito mútuo, a verdade em essência e o espírito de solidariedade, você deverá organizar os práticos, como a organização do trabalho, a assistência irrestrita, a divisão do que for obtido (lembre-se que é a sobrevivência da sua comunidade que está em jogo. Acumular individualmente mais do que o necessário e desequilibrar o balanço é prejudicar filhos, familiares ou amigos, todos que mantém laços afetivos com você. Não os decepcione!). Em um mundo devastado, você deverá lidar com os aspectos funcionais que surgem em primeiro plano: encontrar comida para saciar a fome, dividir cobertores para proteger do frio, manter a saúde em dia e construir abrigos. Todos os 45 membros de sua comunidade serão beneficiados indistintamente, criando os pressupostos para a nova vida que se abre em perspectiva.



Chegamos a 2056. Dez anos se passaram e sua comunidade manda muito bem, meus parabéns! Conta agora com 66 membros, já que seus amigos tornaram-se avós e outras duas novas famílias foram incorporadas (não se adaptaram ao sistema que havia sido estabelecido em outra comunidade, onde privilégios eram concedidos a indivíduos que haviam acumulado maior riqueza na vida pré-dilúvio). As necessidades básicas foram satisfeitas e seguem a contento, todos trabalham e gozam de ótima saúde. Hora do líder pensar em outras necessidades, não?



O dinheiro não serve pra nada. O que se utiliza como moeda de troca , em todas as comunidades serranas, são toras de madeira. Você sugere que uma biblioteca seja montada e a comunidade aprova. Compra, de uma comunidade vizinha, 15 livros por 15 toras. Um sucesso! Quando vocês se preparam para comprar mais 10 livros, a filha mais nova de uma das famílias que havia se incorporado à comunidade contrai catapora. O remédio disponível custa 3 toras e a comunidade, naquele momento, não dispõe de mais do que 10 toras para negociar. Você sugere que se compre 7 livros e que o remédio seja comprado com as 3 toras restantes. Aprovado! O sacrifício, por assim dizer, não gerou desequilíbrio na comunidade e você, como líder, ganhou mais uns pontinhos.


Anos depois, o projeto de construção de uma piscina é abortado em razão das chuvas, que destruíram parte da horta e a disponibilidade de alimentos para consumo. Não haverá comida para todos e será preciso desviar parte dos recursos destinados à piscina para compra. O equilíbrio da comunidade é então novamente refeito e ninguém passa fome. A piscina, enquanto projeto, fica temporariamente postergado, assim como toda outra necessidade que não tenha, por princípio, preservar a integridade da comunidade. Os anos se passam e ela cresce em ritmo exponencial, mantendo seus ideais e, principalmente, sua unidade. Novos líderes surgem, seu trabalho é preservado, uma era de ouro e prosperidade se inicia...



Fim do sonho.


Somos o exemplo vivo de que não funciona assim. Enquanto lidamos com 66 indivíduos, cujos laços de sangue e afinidade zelam pelo bem estar da comunidade em qualquer circunstância, tudo bem. Em uma estrutura como essa, quem é que em sã consciência deixa faltar alimento a um filho ou não dá abrigo a um amigo? Não compra remédios para um doente ou não manda fazer a palmilha da criança que nasce com o pezinho torto? Ou botinha, que seja. 66, 99, 126, 216... Mas e depois? Atinge-se um ponto em que o crescimento descontrolado sobrepõe os princípios antes adotados e transforma cada homem em uma ilha, em um poço de desejos outros que já não se alinham com os ideais da comunidade. Vira o samba do crioulo doido, cada um por si e salve-se quem puder. Nasce o vigarista, o corrupto, o explorador. Nascem modelos que não mais atendem a comunidade, mas o estilo individual de cada um. E aí está o formato da sociedade em que vivemos, do consumo desenfrado e da voracidade sem limites. Não é à toa que chegamos a beira do abismo.

A responsabilidade recai sobre todos nós. Em maior ou menor grau somos parte do que acontece, muito embora deva admitir que mudar o que se estabeleceu há 4.000 anos atrás seja um parto, só mesmo uma pá de cal gigante pra zerar e começar tudo de novo. Estamos fazendo a nossa parte sim, já somos muitos vibrando na mesma frequência e pensando da mesma maneira - mas daí a achar que podemos mudar a personalidade da raça, que representa 99,99% do que aí esta (padres pedófilos, matadores de aluguel, biscateiras, sequestradores de bêbes, autoridades corruptas, gente mesquinha, invejosa, fofoqueira, competitiva, aduladora, preconceituosa, egoísta, orgulhosa, pedante) vai uma grande distância. O caos é reflexo desse ratsro de mediocridade e ganância que deixamos pelo caminho, a pegada que deixaremos na passagem por esse planeta. Lindo, não?

O segredo consiste em saber evoluir do 216 para 504 e daí para 3.060 com dignidade, fazendo valer os princípios que se estabeleceram no início. Passa por educar, dar assitência, abraçar a causa comum. Simples. Passa pelo berço, e o berço é o começo. Passa pela foice e pela oportunidade de começar tudo de novo.

O resto não passa de utopia. O Rio que o diga.



Crédito da foto: Harpagonis

30 comentários:

  1. É meu caro temos muitas responsabilidades mesmo. Aqui no Rio as coisas estão difíceis.

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  2. q saudade que eu estava de passar por aki!! Acho que voltei! rss

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  3. "Todos dependem de si próprios e nada pode contra isso mesmo. Muitos elaboram no seu dia a dia todos os sistemas que leiem e que acham que devem estar certos só porque alguém escreveu algo sobre o tema. Para uma verdadeira ascensão, nenhum de vós deve seguir nada nem ninguém senão, e apenas, vocês proprios. Tudo está em vós e em vossa essencia e ninguém vos poderá dizer o contrário daquilo que está registado dentro de vós.
    Perguntar-me-ão vocês, como é que podem saber, ou entender, na verdade o que está dentro de vós. Muitas dificuldades vocês sentem em ter discernimento sobre o que é vossa voz da razão, da mente ou, então, vosso verdadeiro interior - a voz do coração... Ergam, vossos corações definitivamente, ergam vossos braços e digam: “Ajudem-me a compreender aquilo que ainda sou incapaz de compreender e ver em mim! Ajudem-me a buscar a fonte dentro da minha própria fonte e dêm-me as vossas mãos, porque estou cansado de andar à deriva sem entender nada, nem saber qual o meu caminho!” Mensagem de São Miguel Arcanjo.
    Beijuuss n.c. mensageiro, amado!

    www.toforatodentro.blogspot.com

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  4. Nossa André , quando comecei ler o seu texto , pensei ser o roteiro de um ótimo filme de ficção apocaliptica... Entrei no cenário e você conseguiu fazer-me imaginar o caos! Mesmo porque como já não está muito longe disso ( tristemente) a gente consegue facilmente ver este futuro não tão distante!
    Mas; quando vc. escreve que o "sonho acaba" e li o restante; vi que o que vc. descreveu é na verdade o que vivemos hoje e não um futuro equidistante... você descreveu a sociedade sem fé na própria missão!(qualquer semelhança não é mera coicidência não é?)
    Assista na telona ...o filme " O LIVRO DE ELI"... recomendo muito( tem muito mesmo haver com que escreveu aqui) e aí você vai entender porque eu disse sobre:
    - NUNCA PERDER A FÉ NA "PRÓPRIA" E "VERDADEIRA" MISSÃO!
    bjo
    adorei o "roteiro"!
    sil

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  5. Andre, alcei vôo conjuntamente.

    Coincidente escrevi sobre a desconexão do homem com a terra, qdo der passe no meu canto.

    Desejo que estejas bem!!

    Apareça!

    Bjo
    Paty

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  6. É...parecia mesmo um filme que vi há pouco tempo cujo nome não me recordo....pura ficção científica...apocalíptico..
    Recomeçar de novo não será fácil...e para o nosso planeta, não dá mesmo...mas pode-se sempre limitar os estragos começando nas nossas próprias casas, com os nossos próprios filhos. Parece cliché, mas eles são mesmo o nosso futuro..portanto há que apostar neles...não lhes dando bens materiais que nunca mais acabam, mas sim as ferramentas intelectuais para encarar a vida com um olhar vivo e vibrante, atentos ao que acontece em seu redor. Abertos para a vida e para os outros e não olhando unicamente para o próprio umbigo!

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  7. Imagino, Isadora, até completei o ultima frase em solidariedade. Não tive a intenção, nem queria me apropriar da tragédia para escrever, mas tudo que está aí em cima - e na pele do carioca - é reflexo do descaso que a sociedade como um todo opta por assumir. Os ricos lá, os pobres cá e seja o que Deus quiser. Não sei se Deus queria, mas ninguem nunca faz nada pra evitar porque tem seus proprios problemas a resolver... Bjo!

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  8. Cris, linda, que bom ver voce por aqui, esse espaço é seu!

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  9. Lindo, Rê! O problema é que ninguem - ou quqse ninguem - enxerga essa essencia, o que produz todas essas diferenças que, no final das contas, resulta em mortes. Lembra do ema ema ema? O negocio aqui é igo, igo, igo, cada um no seu umbigo... que pena. Bj pra voce e seu santuario!

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  10. Vou ver sim, Sil, já tinha chamado a minha atencao. Quanto a essa realidade que esta por vir, a sensação que tenho é como quando vejo algo no computador e digo 'nossa, o futuro já chegou, estamos nele nesse exato momento'. Quando nos dermos conta... Bjão procê!

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  11. Pati, já passei, adorei o texto! De uma forma ou de outra, seguimos conectados, bjo e saudades de voce!

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  12. Nossa, isabel, acabei de falar de umbio lá em cima... O caminho que voce coloca é o correto e, seguramente, teria efeito se TODOS trabalhassem com esse foco. Mas sabemos que nao funciona assim, né? Bjos deste lado de cá do mar!

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  13. Oi Andre

    Fiquei imaginando aqui enquanto lia cada linha do que escreveu, o resgate daquilo que destruimos.O que parecia tão simples de começar, passou à ser tão dificil e complicado.O Ser Humano na verdade é na maioria o "Somar" do que o "Dividir", mesmo entre nós "familias e amigos" existem conflitos que ali onde descreveu passaria por reuniãos tipo no tempo Feudal, "Só concluiremos a solução depois que o "Senhor de todos der o Aval".Olho muitas vezes pra este futuro por ti descrito e penso se a minha única sobrinha, agora com 06 anos crescerá com a esperança de uma nova era...e seus filhos? e os filhos de seus filhos?.O Homem estabeleceu muito mais na vida em adquirir bens pessoais, do que fortalecer e doutrinar seu próprio espirito.Triste imaginar que daqui uns anos isso tudo muda, mesmo que nós, pequenos formadores de opiniões e gestos aos valores ambientais tentemos fazer algo, ainda somos um pequeno grupo que grita, vibra e ora para que isso realmente mude e assim quem sabe esta tua "história", com a H, porque é tão real e próxima, mude algum capítulo, como o o ser humano "SER" mais, do que apenas"TER" mais.

    Viajei no teu texto.

    Bjo*

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  14. E eu no teu comentário, Andrea. Se escrever é provocar essa intensidade, então fico feliz. E que possamos, juntos e de alguma forma, reverter esse quadro que parece que nao tem mais jeito. na minha humilde opiniao, só começando tudo de novo mesmo. Bjo, linda!

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  15. Post teu ,camarada meu,é um belo roteiro de um contundente filme,que rola em óticas nossas todas,perceber aqui em Ipanema,o mar lambendo os altos rochedos do arquipélago das Ilhas Cagarras,o Forte de Copacabana com ventos de 80 km hora,a Praia do Diabo imersa em espumantes águas dos esgotos submersos,essa linda cidade,soterrada sendo por lama e merda,as ondas previstas para madrugada essa com até cinco metros de altura,post teu nem futurista é,as coisas começaram a acontecer de maneira forte e o homem,ahhh o homem???nada faz!À mercê do começo do fim ,começamos a perceber!

    te abraço escriba amigo querido!

    viva la vida

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  16. Honrado com sua presença, Ricardo querido, e abismado com esse futuro presente que começa a afetar nossos tempos e a população carente desse amado Rio. São sempre eles a sofrer porque o homem, como tu dizes, nada faz. A lama e a merda é dentro da cabeça deles que estão! Abs e viva a magia!

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  17. André

    Vim aqui te visitar por indicação desse post feito pela Andrea e cara fiquei chocado com a tua capacidade de escrever. Muito bom mesmo, tudo que você falou assino embaixo. Vou te seguir. Quando quiser ficarei muito feliz com a tua presença lá no Momentos Compartilhados.

    Abs

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  18. André,cheguei ao teu blog através do Ricardo Calmon,cujo blog sou seguidora.Adorei tudo que li,especialmente a serie sobre os herois anonimos.Seu texto lembra mesmo um filme de ficção ( assistiu o ultimo do Denzel Washington "O livro de Eli"?).Não estamos longe disso tudo,não!Precisamos mesmo nos unir cada vez mais para tentar salvar alguma coisa da natureza desse planeta e,pelo menos,minimizar a dor dos mais necessitados nesse país.Abraços,

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  19. Olá, Gilson, obrigado pela visita. Vindo da Andrea, entao, és mais do que bem vindo. Vou te visitar no momentos compartilhados, pode deixar. Um abraço!

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  20. Seja bem vinda, Anne. Não tive a oportunidade de ver o filma ainda, mas já comentaram a respeito (a Silvia, aqui mesmo). Este espaço é seu, bjs!

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  21. As responsabilidades são enormes mas não podemos esuqecer de vive-las...

    abraços

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  22. coloquei um pot pensando em vc!!espero q goste...

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  23. Quando todos se conscientizarem do caminho, Philip, assumindo parte da responsabilidade, aí então teremos uma luz no fim do túnel. Obrigado pela visita e um abraço!

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  24. Olha, vc devia ser roteirista, adorei o filme...rsss.
    E o reconhecimento que a utopia mina a nossa imaginação é demais importante.
    As mudanças passam mesmo por corações e mentes.

    Deixa te dizer que vc parace um raio no mweu blog, um foguete, entra inesperademante, enche de som, imagem e alegria a sala, dá uma volta de 360 graus, e vai embora feito um cometa. Adoro sua performance. Assim como o sangue que adivinho em suas veias.

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  25. Wal,sabe aquela historia do 'acho que vi um gatinho'? Pois é, acho que vi esse comentario nas suas respostas, hehe... Que bom que tem esse efito, bjos!

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  26. Li tão devagar para poder apreciar este belo texto.
    é fantástico vir aqui no teu espaço.

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  27. André

    Obrigada por esse texto.
    Devemos lembrar à todos, o tempo todo, das possibilidades futuras...

    Todavia, devemos mais que nunca lembrar da magia da vida.A chama da esperança e do amor brilhando... na consciencia prática!

    Beijo

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  28. sensivel, inteligente e intenso blog!

    seguirei seus passos aqui, abs

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  29. Olá "Blog do Mensageiro", passei por aqui e viajei para o futuro...

    ...às vezes tenho uma vontade louca de por utopia... estarmos todos representados num quadro de ardósia nos meio das teias que criámos...e, que, se ao alcance de qualquer um de nós e de mim mesmo, ...sinto uma enorme vontade de apagar tudo, para começar do início, de forma organizada, sem fossos, sem desigualdades, sem...sem...sem..., talvez dessa forma conseguíssemos diminuir as consequências devastadoras dos nossos erros... penso que se ao meu alcance estivesse esta louca possibilidade, se seria de facto a saída? ou antes o perigo ainda maior...afinal este acto só valeria a pena se tivéssemos aprendido com a experiência e com os erros de séculos e séculos de história...bjs voltarei André

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