18 de julho de 2010

Da pobreza de espírito

A copa do mundo se foi, e com ela o sentimento que boa parte da população costuma chamar de felicidade. O êxtase que toma conta nos dias de jogos, a pátria de chuteiras e a tal irmanação que levianamente coloca estratos tão distintos da população em pé de igualdade (e que já foi tema neste blog) já fazem parte do passado, ciclicamente presente a cada 4 anos. 'Panis et circencis', diriam os romanos. Por mais paradoxal que possa soar, 2014 nunca esteve tão perto: a chama da redenção se acende, a oportunidade de dar a volta por cima reluz em slogans de apoio e a perspectiva de conquista, o tão almejado hexa, encoraja o sonho dourado das novas gerações. Bebemos na fonte do prazer, como se não houvesse mais nada a fazer.

Há, pelo contrário, muito a ser feito. Muito! E não diz respeito à construção de estádios de futebol, de infraestrutura aeroportuária ou da rede hoteleira das grandes capitais. Diz respeito à inclusão social, à redução dos abismos colossais que se interpõe entre as camadas populacionais, à infraestrutura básica que permita que as chuvas, por exemplo, matem menos e causem menos estragos. Diz respeito a empossar pessoas capacitadas e dotadas de ética em cargos públicos - temos eleições pela frente -, a tratar a natureza e o próximo com o devido respeito, a criar condições para que os serviços públicos como saúde, transporte, segurança e moradia funcionem. Diz respeito a tirar gente das ruas, a trazer crianças para escola, a reduzir a mortalidade infantil. A fazer bom uso do dinheiro gasto em impostos, a reduzir o montante que se paga com a esfera pública (um senador brasileiro custa cerca de 4 vezes mais do que um senador francês), a fazer valer nosso direito como cidadão. Diz respeito a dar condições mínimas para que todos possam, de fato e direito, serem chamados de cidadãos.

O Brasil deve, de uma vez por todas, parar de achar que seus problemas se resolvem em um campo de futebol e que a conquista de um campeonato lavará a honra nacional. Piada! O país precisa arregaçar as mangas e trabalhar, contando com pessoas capacitadas à frente da administração pública para dar o tom, não ufanistas de plantão que fazem uso da ingenuidade do povo ou sanguessugas que brigam, politicamente falando, pela realização do jogo de abertura nesse ou naquele estado/ estádio. Piada! Diante das agruras que tomam conta desse país isso é mesmo uma grande piada e de mau gosto.

Assim como a própria natureza humana, que elegeu como fonte de prazer uma modalidade em que a felicidade depende, em última instância, da tristeza de outros...


Foto: Folha de São Paulo

8 comentários:

  1. Em campos meus de girassois,tem uma foto referente a vc,com um texto curto e perfeito,em narrativas tuas o mundo questionas e bem,e disso,mui gosto!

    Bzuz nas mãos meu escriba querido

    viva la vida

    te abraço

    uma semana de bem hagir

    viva la vida

    ResponderExcluir
  2. André, amado!
    Essa semana que passou tive a "honrosa" visita do Ministério da Saúde no meu Divã (AIDS: A VIDA CONTINUA)e lá é só uma amostra do que vivemos e enfrentamos no Divã nosso de cada dia...Como preocupação para mim é quiném cadeira de balanço (vai prá frente, vai prá trás e não sai do lugar)tento me ocupar das próximas eleições e fazer meu trabalho de formiguinha...Por aqui, o que já vemos de "parcerias" sendo estabelecidas, à revelia, para a COPA de 2014, nem D'US mais duvida!!!
    Beijuuss n.c. e uma semana ILUMINADA procê

    www.toforatodentro.bogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Impressionante a capacidade que uns e outros tem de enganar pessoas e não precisam de muito, basta jogar confetes, fazer promessas e chorar "crocodilos".
    Desde sempre foi assim, a meta é o Brasil ser campeão no futebol, pena que é só no futebol que concentra a preocupação de vários.
    Como sempre, lúcido e pertinente o seu post. É um prazer estar com você refletindo
    Bjs e o pão de queijo está separado.
    Kyria - esteemeujeito

    ResponderExcluir
  4. Ricardo, ami, grato pelo espaço em tão aconchegante girassol! Questionar é o caminho, sempre. Fica aqui o meu abraço amarelo!!

    ResponderExcluir
  5. É um porre isso, Rê, cada um fazendo valer sua suposta superioridade em nome de si próprio. Una verguenza desde que o mundo é mundo, né? Fazer o que, bola pra frente que atrás vem gente! Vou lá visitar seu cantinho hoje, bjs!

    ResponderExcluir
  6. Esse pãozinho vai mofar desse jeito, Kyria!Rs bjs!!

    ResponderExcluir
  7. Perfeito my friend! Muito, muito mesmo há de se fazer neste país antes de se pensar no futebol, pagodinho ou carnaval. O mais difícil, entretanto, é mudar a visão e a ordem das prioridades na cabeça de nossa população, já que ainda somos pilotados por cultos, éticos e altruístas "gestores". Abs!

    ResponderExcluir
  8. Ei André, é só dar um pulinho nas Geraes para não corrermos o risco do pão de queijo mofar, hehehe.
    Bjs

    ResponderExcluir