4 de setembro de 2010

As voltas que o mundo dá


Quando penso no papel que cabe a nós, humanos, na condução de nossas vidas, penso também na condição atribuída a cada um para que as responsabilidades se cumpram. Parece evidente diante da lei do equilíbrio: se por um lado somos agraciados com o sopro divino, por outro temos que retribuir de alguma forma, neutralizando as energias do sistema. De que maneira?

Cada um se expressa a sua, baseado em valores, princípios e ideais. O que serve para um nem sempre serve a outro, o que indigna um passa desapercebido a outro. E assim vai. Eu tenho cá comigo que se fui privilegiado com uma condição qualquer, seja ela econômica, emocional ou intelectual, devo compartilhá-la. É por isso que tantas pessoas realizam trabalhos assistenciais, estendendo não só a mão ao próximo, mas sua própria condição. Esse é o caminho da construção, da solidariedade e da formação de uma sociedade de verdade, que estabelece uma linha de equilíbrio entre seus indivíduos para que não haja falta, de um lado, ou excessos, de outro. Na prática, uma utopia.

A sociedade moderna se desenha de outras formas. O tal equilíbrio dá lugar ao interesse, a competitividade e a lei do mais forte. Tudo posso naquele que me fortalece, o dinheiro, e quanto mais dele disponho, mais longe posso chegar. Não é a toa que se criam grandes bolsões de miséria, contrapostos a luxuosos condomínios onde prevalece o interesse individual. Como expresso em 'O último mensageiro', cada um tem o poder de escolher seus caminhos e encontrar o melhor para si, partindo então para uma situação de divisão e equilíbrio. O que se sucede, porém, é um acúmulo desmensurado que cria abismos tão intransponíveis que nem mais 500 anos de gestão serão capazes de corrigir.

Se 89% das moradias da região Amazônica não contam com rede de esgoto, como bem alertou o Bruno Filleti, como conceber a construção de um estádio de R$ 0,5 bilhão para a copa do mundo? Que espécie de equilíbrio é esse? Creio ser este o grande mal que padece a sociedade moderna: a busca em linha reta pelo interesse individual, sem olhar para os lados. A construção dessa porra de estádio beneficiaria empreiteiras, políticos e todos aqueles que poderão dispor de, sei lá eu, R$ 200 para assistir a uma partida de futebol. Os 89% seguirão nas mesmas condições de higiene e sujeitos as mesmas doenças...

São inúmeros os exemplos que refletem esse estado de espírito. Hoje me dei ao trabalho de assitir ao horário eleitoral e... não é que vi o Collor em palanque pedindo votos pra Dilma? Ou o Temer, que representa todo o retrocesso político na figura mor de seu partido, Don Sarney, ao lado de Lula? Já não me assusto com essas merdas, faz parte do mesmo processo de interesses. O Lula não doou R$ 25 milhões para a reconstrução de Gaza? A troco de que, simpatia internacional? Alguém tem que avisá-lo (ou como diria a Dilma, "alguém tem de avisá-lo") que problemas internos ainda existem aos montes e é preciso corrigi-los antes de se olhar para fora.

A esfera política é apenas um exemplo. Nosso dia a dia é repleto de situações como essa, basta dirigir em uma cidade como São Paulo para entender o que quero dizer. Desrespeito, agressividade, individualidade. Até onde é capaz de chegar o descuido humano? "Que futuro dispõe uma sociedade que não é capaz de preservar a integridade de seus indivíduos?", questiona Abel em suas andanças pelo livro. Obscuro.

 Eu tenho a resposta. Assim como William Mitchell, coronel da força aérea americana que disse, em 1923, que Pearl Harbor era porta de entrada para um possível ataque japonês ao continente. As coisas acontecem, minha gente, o mundo dá voltas...


11 comentários:

  1. compartilho plenamente deste teu pensamento meu amigo, o mundo dá muitas voltas, e não espere o homem que possa plantar sem colher, porque tudo volta para nós em um determinado momento da vida. bjs e bom fim de semana

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  2. Um dos os últimos livros que eu li (Pai Rico, Pai Pobre), diz que quando precisamos de algo, precisamos dar aquilo para então receber. "Se você deseja algo, primeiro precisa dar. Se você sentir falta ou escassez de alguma coisa, de, antes, o que você quer e isso retornará para você aos montes. Isso é verdadeiro para dinheiro, sorrisos, amor, amizade". O que me lembra mais umna vez O Segredo: "Você atrai o que você transmite". Acho que é bem por ai...

    Beijos!

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  3. Este estádio simboliza o estado político e social do Brasil...
    Que continuará com Dilma em 2010 e a volta do Lula em 2014 (sim, tenho convicção que o Bolsa Família e outros programas ‘eleitoreiros’ que serão criados, ajudarão Lula a voltar).
    Infelizmente, não me espanta este tipo de coisa no Brasil, pelo contrário se fosse correta e ponderada alguma ação política ficaria surpreso..
    Jjá ouço alguém, depois de ler a matéria: “Se estou ganhando não me importo com o que estão fazendo..”
    Como disse o dinheiro e a cobiça trazem a cegueira. $_$

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  4. Este estádio simboliza o estado político e social do Brasil...
    Que continuará com Dilma em 2010 e a volta do Lula em 2014 (sim, tenho convicção que o Bolsa Família e outros programas ‘eleitoreiros’ que serão criados, ajudarão Lula a voltar).
    Infelizmente, não me espanta este tipo de coisa no Brasil, pelo contrário se fosse correta e ponderada alguma ação política ficaria surpreso..
    Jjá ouço alguém, depois de ler a matéria: “Se estou ganhando não me importo com o que estão fazendo..”
    Como disse o dinheiro e a cobiça trazem a cegueira. $_$

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  5. Quantas voltas e nessas cá estou de volta... E vamos votar(?)e vamos aguardar as consequências de atos inconsequentes! Sabe, Mensageiro amado, fico aqui com meus botões me lembrando de Shinjinmei (o mais antigo e talvez o mais importante texto do Zen Budismo) que diz "Se restar em nós a mais leve idéia de certo e errado, então nosso espírito se prenderá na confusão"... Tadinho de nosso espírito, né não?
    Beijuuss (saudosos) n.c.

    www.toforatodentro.blogspot.com

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  6. André querido

    Lindo texto, atormentado também...
    Ás vezes demora muito tempo para vermos o retorno dos nossos esforços e esperanças... Outras recebemos algo que parece ser o avesso, e a perplexidade toma conta.
    O mundo é complicado desde o início dos tempos. Guerra por território, egoísmo, e falta de consciencia. Isso por baixo, já que amor está longe demais da maioria, ou massacrada demais para amar, ou são os donos do mundo, aqueles que só consideram o próprio umbigo e interesses. O caminha é lento, mas chegaremos!
    vamos fazer nossa parte, o melhor que pudermos, essa é a energia e melhor herança a deixar ;-)

    Beijo grande*

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  7. Olá André,

    Muito obrigada pela visita ao meu blog "Se eu Flor de Morango". Adorei seu comentário!! Fiquei algum tempo afastada da Web (eu já conhecia e admirava seu blog, que vim a descobrir pelo blog do querido Ricardo Calmon)a fim de dedicar-me à escrever meus livros por amor à Mãe Natureza, ou pelo menos, dar um impulso inicial aos meus escritos.

    Seu texto me leva à consciência de um olhar que precisa urgentemente enxergar um pedaço de seu coração no Outro. Gosto de gente que ajuda a despertar, feito um reloginho com sinos que marca o tempo da evolução.

    Abraços, carinho e admiração,
    Madalena Barranco

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  8. Sim, o mundo dá voltas, André e cada qual recebe o que plantou mais cedo ou mais tarde. A vida é sábia e ninguém escapa da Justiça Maior.
    Muito bom receber um comentário seu no meu blog, sinto a sua falta.
    Bjs meus

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  9. Oiee, Mensageiro!

    É o antropocentrismo ao invés do biocentris massificando uma sociedade, que caminha a passos, talvez curtos, medianos ou longos, para a extinção total de sua espécies e infelizmente, de outras tb.

    Beijo Grande
    Paty

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  10. Excelente meu caro. É, o mundo dá voltas... Acreditar em justiça neste plano de vida? Difícil. Em outra esfera? Talvez. É quando eu, sinceramente, espero que muitas pragas que hoje convivem entre nós, prestem suas contas. E que estas sejam bem caras! Abs!

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  11. André

    Vim deixar um beijo pelo Dia das Crianças.
    Afinal, apesar dos pesares só a criança que existe em nós é capaz de desenhar sorrisos com o sal das nossas lágrimas.
    Carinho,
    Fátima Guerra

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