12 de julho de 2014

O BRASIL DAS RUAS VAI A CAMPO

Sinto-me confortável para falar da copa porque, desde o princípio, me mantive refratário à euforia que tomou conta do país. Não torci contra, é preciso frisar, mas tampouco me vi tomado pelo espírito de empolgação que irmanou grande parte da população. Também não voltarei à questão política, aos gastos públicos, nada disso. Vou me ater a aspectos que dizem respeito à organização.

A Alemanha sediou a copa de 2006. Naquela oportunidade, me lembro que a mídia destacava a renovação do time germânico depois de ter perdido a final para o Brasil em 2002. Aquele time, que já contava com Lahm, Schweinsteiger e Mertesacker, chegaria em terceiro lugar. Quatro anos depois, na copa da África do Sul e com o reforço de nomes como Khedira, Ozil, Boateng e Muller, ficaria a um passo da final, sendo eliminada na semi pela Espanha que se sagraria campeã (a Alemanha bateria o Uruguai e ficaria novamente em terceiro). Em 2014, a Alemanha garante vaga na final após retumbante goleada de 7 a 1 sobre o Brasil e enfrenta a Argentina. Ainda que termine como vice campeã, a campanha na copa prova que a evolução não ocorre ao acaso, mas é fruto de planejamento, organização e profissionalismo. Neste aspecto, 7 a 1 ainda é pouco.

Planejamento, organização. Palavras que em terras tupiniquins causam arrepios - não apenas nos campos de futebol - e que caminham na contramão  da essência de um país que vive no improviso, no imediatismo, e que insiste em não se ajustar. A infraestrutura é precária e ultrapassada, os serviços básicos não funcionam, a lei da carteirada impera. Planejar... pra quê? Esse é o modelo do país, transposto ao campo de jogo na medida em que um seleção de nível sofre humilhante derrota. Vamos aos fatos:

- Inciou-se sim uma preparação após a vexatória eliminação na copa da África do Sul na derrota para a Holanda. O trabalho, iniciado por Mano Menezes, contou com  uma boa vitória sobre o time dos Estados Unidos. Mas foi só Ricardo Teixeira cair e Marin assumir que Mano tambem caiu (não estou defendendo o técnico, que ate então não tinha apresentado nenhum resultado tão decepcionante a ponto de ser demitido, mesmo perdendo a final olímpica), em clara demonstração de que o que estava em jogo não era o profissionalismo, mas o apadrinhamento e as relações;

- Veio então o ultrapassado Felipão, um técnico que abandonou um Palmeiras à beira do abismo da segunda divisão e pouco se importou. Não houve reformulação, a base se manteve (apenas acrescentou Fred na frente, que na prática não acrescentou coisa nenhuma) e um esboço tático começou a se desenhar ainda na copa das Confederações, pura ilusão. Não houve evolução;

- O técnico ainda testou Kaká, Ronaldinho e Robinho neste período, mas não levou ninguém que pudesse dar maior maturidade ao grupo ou comandá-lo em campo quando necessário. A liderança ficou à cargo de jovens como Tiago Silva e David Luiz, voluntariosos porém imaturos; são daqueles que acham que cantar o hino a plenos pulmões já implica em vantagem emocional, empunham suas espadas e aos berros cortam o ar enquanto o inimigo vem em silêncio e aplica um golpe mortal;

- O time estava visivelmente mal treinado; jogadores que perderam espaço em seus respectivos times (Luis Gustavo saindo do Bayer e Marcelo reserva no Real Madrid, assim como Paulinho no Totteham e Oscar no Chelsea) e outros que não conseguiam acertar dois passes (Hulk, Daniel Alves) compunham um time desfigurado, sem qualquer padrão. O mais comum era ver os chutões de David Luiz para frente, sem a ligação com o meio de campo;

- A postura do técnico, a medida que o time alemão abria vantagem, compunha a antítese do líder: sem reação, sem atitude, sem presença. Um zero. Não havia ninguém como Didi, que após o gol da Suécia na final em 58 foi buscar a bola no fundo das redes e voltou incentivando os outros jogadores (obrigado pela lembrança, Tobias). O Brasil virou o placar e ganhou por 5 a 2, conquistando seu primeiro título mundial.

A falta de planejamento  foi fatal e o resultado não poderia ter sido diferente, eu já falava isso antes mesmo da copa começar. O Brasil não perdeu apenas para a Alemanha; perdeu para seus próprios erros de execução que, quando não precedidos por um plano de trabalho, podem dar em qualquer coisa, sobretudo em desgostos não previstos. A economia brasileira, a segurança pública e o atendimento médico que o digam...

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