14 de fevereiro de 2009

"Us and Them"




"and after all we're only ordinary man."
Foi nos idos de 1988 que comecei a traçar as primeiras linhas que, como divisor de águas, colocavam em lados opostos interesses e comportamentos de indivíduos neste mundo de Deus. Chameio-os de artistas e ignóbeis, eu me lembro, mas infelizmente não consegui localizar o material. O que estava lá continua valendo 21 anos depois: uns nascem para produzir e compartilhar, outros para invejar e vampirizar. De um lado, o poder da criação que trabalha a favor do todo, a visão holística que se equilibra no bem comum. Roger Waters e o Pink Floyd que o digam, produziram uma das mais fantásticas obras musicais de todos os tempos, o álbum "The dark side of the moon" (o terceiro mais vendido em todo o mundo; estima-se que uma em cada 14 pessoas com menos de 50 anos nos Estados Unidos tenha o álbum), do qual "Us and Them" faz parte. Se é isso que temos de um lado (Us), de outro (Them) surge a cobiça que corrói cada fração do que é repartido. Colocando desta forma, lado a lado, pode até parecer que a divisão é equilibrada, mas está muito longe de ser assim. Os primeiros podem representar o quê? 20% da população? 10% talvez? Acho que nem isso. A verdade é que o padrão adotado pela maioria, assim como o nobre (nobre porque, se você tem um castelo, pode se dar o direito de ser assim chamado) deputado pilantra, corruptor, egoísta e insaciável Edmar Capeta (na foto da direita), carece do olhar comunitário que este planeta tanto precisa. Olhando para dentro, para nossos desejos e necessidades unicamente, fomentamos abismos que se dilatam a cada dia, acentuando traços de uma injustiça social que se prolonga por séculos. Haverá tempo para uma saída digna?
De O Último Mensageiro, extraio um trecho em que nosso herói, Abel Antunes, trava um diálogo com um agente do FBI sobre o assunto:

– ...Claro, é um direito que lhe assiste. Mas considere seu potencial de expansão, não olhe apenas para o seu “eu”. Não fomos feitos para ficar fechados em casulos e agir de acordo com interesses egoístas. Doar é preciso, Andrew, mesmo que não façamos idéia de quem esteja do outro lado.
– A decisão é minha, Abel.
– E eu a respeito. Minha pergunta é se você se sente seguro com isso.
– E por que não deveria?
– Ora, pelo pensamento viciado. Você pode até estar visando o bem, mas isso não vai passar de uma atitude isolada de vez em quando. Por outro lado, imagine o que milhões de seres humanos pensando e agindo de maneira coletiva não seriam capazes de fazer.
– Pura utopia – Hann ironizou.
– E por quê? Porque sempre agimos do modo contrário? É isso que está nos levando à destruição.
– Espere um pouco... Você não acha que está exagerando? Uma coisa é pensar e agir de forma pessoal, garantir seu bem-estar. Não vejo mal nisso, se você quer saber, você estabelece seus alicerces e depois parte para outras prioridades. O homem é livre para fazer o que bem entender, o que não significa que isso seja o caminho de sua destruição.
– Engano seu, Andrew. O modo como agimos é a maneira inconsciente de assumir a desunião.
– Mas desunião não é destruição. Há uma grande distância entre uma coisa e outra.
Abel riu.
– Uma coisa leva à outra. Preste atenção e você vai entender o que estou querendo dizer. Vamos partir do princípio que todo indivíduo na face da Terra deveria ter direito ao alimento, a pelo menos uma refeição balanceada por dia. O que você acha que deveria ser feito para que isso acontecesse?
Hann ficou pensativo. Depois respondeu:
– Um plano de equalização, algo que pudesse equilibrar a distribuição de comida pelo planeta.
– Perfeito, e para isso...
– Teríamos que rever as prioridades, desviar recursos de outras áreas.
– Percebe? Nem tudo que é do interesse de um tem o mesmo significado para outro. Se não são todos que têm acesso à comida, e estou citando apenas a mais básica das necessidades, significa que os interesses globais não se movem na mesma direção, não são suficientes para gerar união. E onde não há união há discórdia, onde há discórdia há destruição. Roubos, assassinatos, revoltas, guerras...
Hann não respondeu.
– Não há como pensar em futuro se não deixarmos para trás nossas ambições pessoais – Abel continuou. –Elas se cumprirão no seu devido tempo e com o devido direito, sem temor, assim que o equilíbrio na base da pirâmide esteja estabelecido. A bênção da vida para todos, Andrew, é sobre isso que estou falando.

Us... Unindo forças para minimizar diferenças. Them... ZAP neles!


2 comentários:

  1. Boa analogia, Andrew! Pelo caminhar da humanidade, é difícil hoje acreditar num amanhã melhor, mas a fé tem que existir. Nós que temos filhos, precisamos nos alimentar de esperança diariamente. Abs!

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  2. A música é uma fonte inesgotável de reflexão. Podemos aplicá-las em inúmeras situações e esta com certeza é muito boa para ilustrar isso... o não enxergar o que estamos fazendo com nós mesmos. Adorei a citação, fiquei interessada pelo livro!

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