7 de março de 2009

Círculos de poder


Quis escrever inspirado pela imagem, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi o provérbio zen que diz que "é na calmaria das águas que se pode enxergar o fundo do lago". Se parasse por aí já estaria de bom tamanho, o texto por si só é de uma grandeza que, se aplicada a nós mesmos, criaria a lucidez necessária para que toda e qualquer decisão transcorresse na mais absoluta paz, na ponderação que evita desdobramentos indesejáveis que uma decisão precipitada - ou tomada no calor de uma discussão - é capaz de gerar. E durante a concepção deste texto, talvez motivado pelas carga nefasta de notícias que vem do lado de lá e insistem em causar indignação (hoje pela manhã eu lia que o Ministério Público pediu à Justiça a indisponibilidade da mansão avaliada em R$ 5 milhões do ex-diretor geral do Senado, Agaciel Maia, para garantir que a grana volte aos cofres públicos - aliás, de onde nunca deveria ter saído - caso o nobre FDP seja condenado por improbidade administrativa), que o sentido que eu quis dar à imagem tomou outro rumo. E foi aí que nasceu o título.


Círculos de poder. Como quando atiramos a pedra, que por menor que seja, cria círculos concêntricos a partir da origem que em ondas se estendem em um processo de transferência de energia até a borda. O movimento é rítmico e cadenciado e, ao mesmo tempo, cria camadas representativas da própria sociedade.


Consideremos o ponto em que a pedra cai como o centro de poder. O Congresso, o Planalto... Pouco importa. O que vale é o referencial. As primeiras ondas representam o contexto palaciano, os conchavos e a troca de favores. A Cosa Nostra! É onde rola a sacanagem, o bonde da alegria, a tomada de posse da grana alheia sem permissão (e sem constrangimento). É preciso entender que acima das leis deste país estão as convenções deste país, que dizem que estar no poder é poder. E assim, é sabido, as leis a estes párias não se aplicam. Um deputado do Pará, de nome Luiz Sefer, é acusado de estupro e abuso sexual (o pior é que eles escolhem os mais hediondos. Não dava pra ficar no furto, como todos eles fazem?). Mas, como tem imunidade parlamentar, só pode ser processado pelo tribunal de justiça, caso não haja nenhum 'desvio' no processo para que isso não aconteça. É a velha tradição coronelista de sempre.


As ondas da sequência, ou os 'primos' mais próximos, são aqueles para quem favores são concedidos, falcatruas permitidas. Lembram-se das capitanias hereditárias? Aqui está outra forma de perpetuar o poder, dentro do processo chamado 'seletivo'. Nele o ilícito, por definição, o é até certo ponto. Ou melhor, até certo agente. Signifca que eu não posso burlar a lei (meldels, nem pensei nisso!), mas tem gente que pode. Por que? Porque a lei nunca está ao alcance de todos.


Por fim, as ondas externas. As que ficam distantes do ponto de orgiem e que geram maior esforço para se manter irmandas. Não quebram, vão até o fim. Por um princípio físico nunca serão as primeiras, tampouco é o que desejam. Clamam por dignidade e justiça, para que não haja enriquecimento de outros - seja ele material, cultural, espiritual - às custas de seus esforços.


Uma sociedade justa é aquela que mantém a mesma liga entre as ondas de seu lago, não importa o quão distante estejam. E para isso, ao meu ver, não há outra alternativa senão aterrar, cobrir o lago para que não haja um milímetro sequer de espaço. Depois, arregaçamos as mangas e começamos tudo de novo...

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