3 de março de 2009

Que país é este?

Nas primeiras páginas do Mensageiro, Abel destaca um traço marcante da personalidade do brasileiro. Claro que não dá pra generalizar, afinal de contas nem todos partilhamos do mesmo espírito de sacanagem, mas nosso herói diz textualmente: "Amo meu país e meu povo, mas quando se trata de desrespeitar padrões parece que somos mesmo campeões (é por isso que eu acho que as coisas não funcionam muito bem por aqui). Existe um caos camuflado, um processo de sabotagem inconsciente que age por conta própria quando se trata de responsabilidade e bom senso".



Este é o país que afronta:



Suas próprias leis, criadas por quem é expert em não cumpri-las;



Nossa inteligência, massacrada a todo instante por comerciais estúpidos, rostinhos bonitinhos sem conteúdo e corpinhos sarados no BBB;


O bom senso, limado do trânsito porque um bando de selvagens insiste em vomitar suas frustrações;


A higiene e limpeza, quando bitucas de cigarro são arremessadas sem a menor cerimonia pelas janelas destes mesmos animais e mais tantos outros seres bestiais que a eles se juntam; quando tomamos uma trilha em meio a mata e nos deparamos com latinhas de cerveja, pacote de salgadinhos e tantas outras porcarias por ali deixadas como se a natureza fosse um grande depósito cuja chave é da mãe Joana;



A própria natureza, agredida a cada rio poluído, a cada árvore arrancada, a cada obra irregular que se levanta;


Os menos favorecidos, que levantam as 5hs da manhã e 'viajam' até seus empregos porque o transporte público é uma merda; que comem mal, que tem assistência médica precária e que dependem da soliedaridade alheia;


O calouro, vítima de trotes descabidos que levam à humilhação, quando não à morte;


O luto, desrespeitado quando o arbitro decreta 1 min de silêncio antes de uma partida de futebol e as torcidas seguem cantando seus hinos e suas ameaças;


A vida, que vale menos do que uma bala perdida!



Corria o ano de 1987 quando Renato Russo e a Legião Urbana deram vida a 'Que país é este?', que mais tarde também passaria a fazer parte do repertório dos Paralamas. O país mudou nestes 22 anos: um operário assumiu a presidência, uma grande massa populacional entrou para o mercado de consumo e os bancos nunca ganharam tanto dinheiro. Valores, atitudes e princípios? Estes continuam os mesmos.
Crédito da foto: caiomy






4 comentários:

  1. Belo post, Andrew! Quetiono tanto sobre os absurdos e as injustiças em nosso país...E o tempo passa e pouquíssima coisa muda, ou melhor, pouca coisa evolui. Quando teremos um líder capaz de investir(mesmo)na educação??

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  2. Acertadas em cheio, cada palavra e indignação!
    O post é tudo o que está engasgado na minha garganta e tenho cada vez mais esperança ao ver que muitos blogueiros manifestam estas mesmas impressões sobre a "massa" que se alastra em nosso país. Quanto ao Guilherme Arantes, isso mostra como o alinhamento de idéias é mesmo real até entre pessoas que não se conhecem. Já aconteceu isso comigo e o Adriano, com músicas também! Grande abraço!

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  3. Nunca deixei nenhum comentário, simplesmente porque diante de seus assuntos e textos qualquer "excelente" não alcance 1% do que aquilo realmente significou para mim.

    Na verdade só queria que soubesse que você tem uma fã que o acompanha, mesmo que quietinha.

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  4. Tenho certeza de que o BB ajudou na inspiração...rs
    Adorei mais uma vez!
    Beijo

    Dani

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