19 de março de 2009

Sincronicity II


"Adoro chuva. Quando pequeno, costumava compor rituais imaginários pelo quintal ladrilhado da casa em que morávamos, na Vila Mariana, o rosto voltado para o céu em sinal de agradecimento e os olhos fechados em sonhos. Os pedacinhos vermelhos, espalhados pelo cimento e contrapostos a outros menores, negros, pareciam recebê-la como bênção, dilatando-se em sorrisos a cada pingo. O cheiro do chão úmido logo emergia e ainda hoje, quando a chuva beija o asfalto, me lembro daquela época como se fosse ontem".




O pensamento é de Abel Antunes, personagem central de O último mensageiro em passagem logo no início do livro, quando desembarca na cidade em um dia tipicamente paulistano (chuva, ai ai...). Em essência o pensamento é meu, claro, e fico me perguntando até que ponto não confundimos nossos papéis, ele lá, inserido em seu contexto fictício e eu cá, tateando os limites da realidade. Na prática posso dizer que temos os mesmos ideais, os mesmos defeitos, e tudo começa a ficar mais interessante quando você percebe que o personagem é parte de você mesmo, nascido e criado na Vila Mariana onze anos depois.





A ficção inspira-se na realidade, e é justamente a partir dela que as 'coincidências' começam a acontecer.





A foto acima. Caiu nas minhas mãos por simples acaso, nem me lembro o que estava procurando quando a encontrei. Foi tirada quando eu estava na 5a. série e contava com 11 anos, exatamente a mesma idade que me separa do meu personagem (ou seja, enquanto eu posava para a foto, dona Lourdes Antunes, mãe de Abel, dava a luz ao dito cujo em alguma maternidade por aí). Hoje, conto com 44 anos, o que significa que se passaram 33 anos desde então (algo a ver com o número que aparece estampado na camiseta?). Para completar, extraio um trechinho da página 11 (olha ele de novo) que diz assim "Tem também meus pais, seu Euclides e dona Lourdes, trinta e cinco anos de convívio sob o mesmo teto, os dois primeiros sem a minha honorável presença". Abel Antunes tem, portanto... 33 anos.




Só faltava eu dizer que a bagaça branca estacionada mais ao fundo, à direita, era do avô dele...

2 comentários:

  1. Caro Mensageiro, é incrível mesmo! Fica cada vez mais evidente que, no campo da sicronicidade, a convivência com "coincidências" é diária. Seja o que for, tudo tem um sentido.
    Olha, relendo seu texto, resgatei uma lembrança do baú... Quando completei 18 anos e tirei a CNH, minha primeira saída de carro sozinho, com um fusca da minha mãe, foi em direção a esta casa na Vila Mariana, no dia 12 de abril... Abraços!

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  2. E lá se vão nada menos do que 27 anos, my friend, uma vida! Que bom que carregamos essas recordações, sinal de que a sincronia sempre estará presente!

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