Engana-se quem acredita que a crise que toma conta do mundo teve seu início com o subprime imobiliário americano em 2007 e o efeito dominó que se seguiu desde então. A onda parece ter atingido seu ponto mais alto em outubro do ano passado e, desde sua chegada em terra, tudo que temos feito é recolher os destroços do estrago que sua passagem causou - e ainda vem causando. Na prática, tudo faz parte de um sistema perverso que, diante da liquidez que existia naquele momento, arregala os olhos quando sente o cheiro do lucro. Funciona mais ou menos assim: os bancos, cheios da grana, decidem financiar moradias até mesmo para quem teria dificuldade em pagá-las; o maior risco implica em maiores ganhos (ou você achou que os banqueiros viraram mocinhos?) através de juros mais altos. Esses títulos passam então a ser valorizados no mercado(lembre-se dos MAIORES GANHOS), criando uma espiral de repasse onde todos ganham. Ganham se o pobre coitado que tomou o financiamento ali, na ponta, honrar seus comprimissos. Como não foi o que aconteceu, todo mundo se fudeu. O coitado, os bancos, você e eu! Ou seja, estamos falando da ganância desmedida que abalou a estrutura financeira do planeta e que só não chegou a destruí-la porque o socorro, na forma de bilhões, veio a tempo. Mesmo quem não tinha nada a ver com a história acabou pagando o pato, até porque era melhor fazê-lo a ver a situação se agravar. E é por isso que eu digo que a crise não se instalou ali, naquele momento. Ela é muito maior, mais difusa e vem do período em que ainda nem se falava em dinheiro, quando a idéia de civilização do homem começou a prevalecer. A crise é, sobretudo, de valores.
Não sei exatamente onde isso começa, mas quero crer que desde o momento que o homem se reconhece como tal suas ações visam o ganho desmedido e desproprocinal, o acúmulo de riquezas como forma única de conquista e pujança, sem levar em consideração as consequências geradas ao seu semelhantes, às espécies que habitam o planeta e ao próprio planeta. É como se alguém houvesse instituído isso e pronto, tá valendo (ninguém nunca deve ter pensado que haveria um desgaste natural e que o processo, um dia, chegaria à exasutão). A partir do momento em que somos impelidos a trabalhar em busca do lucro incessante, sem olhar para os lados, é natural que, cedo ou tarde, venhamos a ter problemas. Enxerga-te a ti mesmo como uma máquina e verás que em algum momento é necessária a retomada de um ritmo mais equilibrado, onde todos os componentes funcionem em harmonia, sem a pressão louca que se exerce sobre você. Pois com o planeta fazemos justamente o contrário!
Esta é a realidade - e o grande dilema - de nossa geração. Há uma passagem do mensageiro em que Abel, ao dirigir-se para uma platéia que o assiste, adota o seguinte discurso:
"Carregamos na alma o embrião para que os pressupostos de uma sociedade saudável pudessem se manifestar, mas o que vimos na prática foi a passagem destes valores ao largo da história. Não foi assim que sempre funcionou? Pensem nos primórdios, no homem pré-histórico aquecido junto ao fogo acolhedor dentro de sua caverna. Um grupo qualquer passa em busca de abrigo e... O que acontece? Das duas, uma: ou ele faz com que o grupo se afaste de sua “propriedade”, ou é o grupo quem o expulsa de lá. De uma forma ou de outra, não importa, a semente da discórdia estava plantada. E que evolução houve desde então? Os grandes impérios da antiguidade, berço de culturas fabulosas e de ideais democráticos, se fizeram à base de massacres. Mulheres eram estupradas, crianças assassinadas, homens escravizados. Em nome de Deus, que valores eram esses? O que justificava tamanha barbárie? "
Se avaliarmos o resto da história era a era, chegando até os dias de hoje, veremos que não houve qualquer redirecionamento no que diz respeito ao comportamento humano. Simplesmente colhemos os frutos deste estado de ignorância e parasitismo, que culmina com processos de falência em cadeia (é tão bacana ver o Fed inundando o mercado com dinheiro para evitar o desastre, quando na verdade está apenas postergando-o) que sinalizam o fim dos tempos. O turning point haverá de chegar sim, mas o sacrifício será bem maior do que todos nós imaginamos...
Aplaudo suas ótimas colocações Andrew!Há um tipo de câncer chamado ganância que tbém mata aos poucos...Muitos já estão na quimioterapia intensiva, certo?
ResponderExcluirAbs!
E vai continuar matando, meu amigo, até alguém dar um basta com determinação. Abs!
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