24 de abril de 2009

Crise de valores

Engana-se quem acredita que a crise que toma conta do mundo teve seu início com o subprime imobiliário americano em 2007 e o efeito dominó que se seguiu desde então. A onda parece ter atingido seu ponto mais alto em outubro do ano passado e, desde sua chegada em terra, tudo que temos feito é recolher os destroços do estrago que sua passagem causou - e ainda vem causando. Na prática, tudo faz parte de um sistema perverso que, diante da liquidez que existia naquele momento, arregala os olhos quando sente o cheiro do lucro. Funciona mais ou menos assim: os bancos, cheios da grana, decidem financiar moradias até mesmo para quem teria dificuldade em pagá-las; o maior risco implica em maiores ganhos (ou você achou que os banqueiros viraram mocinhos?) através de juros mais altos. Esses títulos passam então a ser valorizados no mercado(lembre-se dos MAIORES GANHOS), criando uma espiral de repasse onde todos ganham. Ganham se o pobre coitado que tomou o financiamento ali, na ponta, honrar seus comprimissos. Como não foi o que aconteceu, todo mundo se fudeu. O coitado, os bancos, você e eu! Ou seja, estamos falando da ganância desmedida que abalou a estrutura financeira do planeta e que só não chegou a destruí-la porque o socorro, na forma de bilhões, veio a tempo. Mesmo quem não tinha nada a ver com a história acabou pagando o pato, até porque era melhor fazê-lo a ver a situação se agravar. E é por isso que eu digo que a crise não se instalou ali, naquele momento. Ela é muito maior, mais difusa e vem do período em que ainda nem se falava em dinheiro, quando a idéia de civilização do homem começou a prevalecer. A crise é, sobretudo, de valores.
Não sei exatamente onde isso começa, mas quero crer que desde o momento que o homem se reconhece como tal suas ações visam o ganho desmedido e desproprocinal, o acúmulo de riquezas como forma única de conquista e pujança, sem levar em consideração as consequências geradas ao seu semelhantes, às espécies que habitam o planeta e ao próprio planeta. É como se alguém houvesse instituído isso e pronto, tá valendo (ninguém nunca deve ter pensado que haveria um desgaste natural e que o processo, um dia, chegaria à exasutão). A partir do momento em que somos impelidos a trabalhar em busca do lucro incessante, sem olhar para os lados, é natural que, cedo ou tarde, venhamos a ter problemas. Enxerga-te a ti mesmo como uma máquina e verás que em algum momento é necessária a retomada de um ritmo mais equilibrado, onde todos os componentes funcionem em harmonia, sem a pressão louca que se exerce sobre você. Pois com o planeta fazemos justamente o contrário!
Esta é a realidade - e o grande dilema - de nossa geração. Há uma passagem do mensageiro em que Abel, ao dirigir-se para uma platéia que o assiste, adota o seguinte discurso:
"Carregamos na alma o embrião para que os pressupostos de uma sociedade saudável pudessem se manifestar, mas o que vimos na prática foi a passagem destes valores ao largo da história. Não foi assim que sempre funcionou? Pensem nos primórdios, no homem pré-histórico aquecido junto ao fogo acolhedor dentro de sua caverna. Um grupo qualquer passa em busca de abrigo e... O que acontece? Das duas, uma: ou ele faz com que o grupo se afaste de sua “propriedade”, ou é o grupo quem o expulsa de lá. De uma forma ou de outra, não importa, a semente da discórdia estava plantada. E que evolução houve desde então? Os grandes impérios da antiguidade, berço de culturas fabulosas e de ideais democráticos, se fizeram à base de massacres. Mulheres eram estupradas, crianças assassinadas, homens escravizados. Em nome de Deus, que valores eram esses? O que justificava tamanha barbárie? "
Se avaliarmos o resto da história era a era, chegando até os dias de hoje, veremos que não houve qualquer redirecionamento no que diz respeito ao comportamento humano. Simplesmente colhemos os frutos deste estado de ignorância e parasitismo, que culmina com processos de falência em cadeia (é tão bacana ver o Fed inundando o mercado com dinheiro para evitar o desastre, quando na verdade está apenas postergando-o) que sinalizam o fim dos tempos. O turning point haverá de chegar sim, mas o sacrifício será bem maior do que todos nós imaginamos...

2 comentários:

  1. Aplaudo suas ótimas colocações Andrew!Há um tipo de câncer chamado ganância que tbém mata aos poucos...Muitos já estão na quimioterapia intensiva, certo?
    Abs!

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  2. E vai continuar matando, meu amigo, até alguém dar um basta com determinação. Abs!

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