16 de outubro de 2010

Ou o Brasil acaba com a saúva ou...

Santana do Mundaú é um município alagoano a pouco menos de 100km de Macéio. Tem altitude de 221m, área urbana de 223km2 e população de 12.000 habitantes. Entre eles, uma saúva de peso: José Eloi da Silva.


O supra citado, prefeito da cidade, foi afastado por determinação da Justiça do Estado pelo tão comum delito de desvio de recursos públicos. O safado simplesmente guardou para si todos os donativos enviados para as vítimas das enchentes que assolou a região em junho passado e que deixou um sem número de desabrigados. Como se não bastasse, promotores do Ministério Público constataram que mais da metade das residências teoricamente afetadas pelas enchentes e dadas como destruídas, continuam intactas. A indenização, entretanto, foi parar na mão do prefeito e seus asseclas (9 funcionários foram afastados, incluindo os responsáveis pelas “pastas” das finanças, educação e assistência social, que beleza!). Entre fraudes e desvios, há indícios de um prejuízo da ordem de meio milhão ao erário público.

Ainda acho que essas bestas deviam ser queimadas em praça pública ou, pelo menos, terem suas mãos decepadas na mesma condição. Com todo o respeito, fodam-se os direitos humanos. Um cara que tem a capacidade de desviar recursos destinados à caridade e que suprirá, ainda que por tempo determinado, a necessidade da população desabrigada pela chuva, não merece viver. Ou se merece, que seja sem as mãos, assim aprende a não enfiá-las onde não é preciso (garanto que prefeito, secretário, deputado ou quem quer que seja pensará duas vezes antes de meter o nariz onde não é chamado). Está mais do que provado que a impunidade neste país é o maior estímulo para que figuras de baixa estatura como esta, nos confins do mundo, se achem acima da lei para roubar o que não lhes pertence. Pior: não estamos falando do desvio de recursos para uma obra super faturada ou algo que o valha. Estamos falando da assistência a desabrigados.

O Brasil carrega esta condição em cada estágio de sua história sem parecer se preocupar com o fato. A começar pelas capitanias hereditárias e as sesmarias, há 5 séculos, que de início já demonstravam  o corporativismo português fincando pé em terras tupiniquins. De lá para cá, a história só faz mudar os personagens: criam-se leis e colocam-se figuras públicas acima delas. Não há melhor exemplo em tempos recentes do que a figura empobrecida de José Sarney, que manchou a linhagem presidencial ao deixar seu nome registrado na história (aliás 1 - como tantos outros, e aliás 2 - simplesmente herdou essa condição ante a morte de Tancredo Neves. O destino lhe sorriu com um lugar ao sol, e ele rapidamente tratou de arrumar lugar per tutta la famiglia – coisa de mafioso mesmo). Roseana Sarney, a jóia do agreste, teve misteriosos R$ 1,3 milhão encontrados em seu escritório durante sua campanha em 2002; Fernando, filho do bigode, foi/é (nunca se sabe o que vai acontecer) investigado por tráfico de influência, formação de quadrilha, falsificação de documentos e crime contra o sistema financeiro nacional (operação boi barrica). Tem nora empregada não sei onde, a Fundação Sarney já embolsou mais de R$ 1 milhão em doações da Petrobrás (alguém precisa avisar esse presidente pinguço que ainda tem gente passando fome neste país) e o velho coronel nem sabia, segundo suas próprias palavras, que recebia verba de moradia, mesmo tendo domicílio próprio em Brasília. Se o congresso é a casa da democracia, o reflexo dos desejos e anseios do povo, como é possível ser presidido (combina com presídio, José) por um desqualificado do ponto de vista ético e moral?

Perto da famiglia Sarney, o prefeito de Mundaú é dinheiro de pinga. É um otário que se serve da desgraça alheia para abrigar os seus, ainda que seja na longínqua cidade da qual é prefeito. Mas é justamente do micro para o macro que devemos partir, varrendo da história esse tipo de gente para que o país, a médio prazo, possa fazer valer suas leis com respeito e dignidade, alçando ao poder público personagens que tenham condição de fazer algo em benefício da população e não o contrário. Quando não houver mais guarida para esse crimes, quando todos estiverem sujeitos às mesmas leis, então teremos dado um passo adiante. É preciso um basta geral e algumas mãos servindo de exemplo. Não há, nesta balburdia que foi criada, a menor condição de se estabelecer equilíbrio sem uma medida radical, manando os Zé Manés das Santanas de Mundaú da vida para o lugar que merecem.

"Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil", diz o macunaíma sem caráter de Mario de Andrade. E que não haja exceções.

Crédito da foto: Dimas Filho

5 comentários:

  1. Mais uma vergonha nacional.

    Assino embaixo desse texto Andre.

    Bom fim de semana.

    beijooo.

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  2. estamos sem esperança, as vezes eu não consigo acreditar que a coisa possa tomar jeito dado o tamanho do formigueiro e a legião de formigas devorando quantias que nem nos nossos melhores sonhos, nós ousamos sonhar.
    Mas o Brasil é grande, tem um potencial incrível, então ele vai sozinho, assim à deriva, por inércia, até chegar o dia em que alguém colocar o olho e pensar: Opa, ninguém cuida, vou tomar possa,aí eu quero ver se com futebol e samba a gente vai dar jeito.
    O caso é grave, mas a falta de consciência do povo as vezes eu penso que é pior.
    Um belo texto André crítico e criativo como sempre.
    bjs e bom fim de semana.

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  3. Oi amigo, que prazer receber você no meu blog e, de perfil novo.
    Bjs meus

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  4. Brilhante amigo, sem comentários mais este caso... ainda bem que as podridões começam a ser desmascaradas e que a justiça comece a ganhar mais força neste país! Abração!

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  5. Parabéns pelo excelente trabalho.
    Seu blog é muito bom !



    Bjo.

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