15 de janeiro de 2011

CATÁSTROFE NO RIO: EPICENTRO EM BRASÍLIA

Tênue é a linha que separa indignação de revolta. No primeiro caso, levantamos palavras de ordem para protestar contra a administração pública que, ciente da situação, optou pela inoperância. No segundo, rasga no peito o desejo de armar-se com paus, pedras, facas e tudo mais que estiver à mão para invadir o congresso e botar todo mundo pra correr. O Brasil precisa, URGENTEMENTE, de uma revolução, de gente que tenha brio para derrubar as instituições que se fartam do poder por séculos e nada fazem diante de situações que não lhes diz respeito. A tragédia anunciada no RJ vem, uma vez mais, corroborar a tese de que as catástrofes só acontecem porque o que se desenha incialmente como manifestação da natureza ganha proporções absurdas - o número de mortos passará de 600 - porque não há estrutura necessária para evitá-la. E por que? Vejamos:

1. O governo do estado, que encomendou um estudo geológico sobre a região em 2008, sabia das condições de risco a que estava exposta a população serrana do Rio
2. Mesmo diante da constatação, não foi capaz de remover as famílias das áreas. O processo é lento e burocrático, exige a autorização das famílias e a remoção para outro lugar. Diante da resistência imposta por estas pessoas e pelo penoso processo de PLANEJAR (onde colocaremos todo mundo?), é mais fácil optar pela inação
3. As populações carentes podem até ser responsabilizadas, ainda que indiretamente, mas é demais que o brasileiro (aquele mesmo que se espreme aos milhares em dia útil pra ver apresentação de Ronaldinho na Gávea) tenha a coerência e o discernimento para não morar em área de risco. Óbvio que ele gostaria de morar em Copacabana, Leblon ou Ipanema, mas levemos em consideração sua situação econômica para entendermos, com facilidade, porque são feitas essas opções.
4. "O Brasil conta com especialistas e tecnologia para enfrentar situações desta natureza. O que não possui é vontade política". Palavras da cientista belga Debarati Guha Sapir.

Entendo que este último ponto reflete com consistência a posição dos comandantes deste navio chamado Brasil, que por um lado luta para se inserir entre as potências do primeiro mundo e por outro mal sabe lidar com seus problemas de ordem estrutural. É de uma irracionalidade sem precedentes pensar em copa do mundo e olimpíadas enquanto há questões absolutamente mais básicas a serem resolvidas. Pagamos impostos à exaustão, não vemos reversão em nada. Enquanto isso, a corja que se instalou no planalto quer mais é regar seus fartos jantares com prosseco e fumar charutos cubanos, ganhar R$ 26.000,00 ao mês (sem contar as verbas para isso e aquilo, auxílio moradia e etc) e fazer-se valer de benefícios que nós mortais não dispomos. Essa semana mesmo uma procuradora do estado do Rio, suspeita de dirigir alcoolizada, não teve que se submeter ao teste do bafometro por sua condição (havia entrado na contra mão, batido em um ônibus e atropelado uma doméstica). De onde diabos alguém tirou - e alguns aprovaram - esse privilégio, que coloca acima da lei pessoas por sua formação, que na prática comete os mesmos crimes e não é penalizada? Tem filho de deputado atropelador na cadeia?

Ainda temos muito a aprender. Mas enquanto contarmos com que faz do poder sua fonte de recursos sem ilimites, dificilmente teremos um país saudável e que crie condições para sair do buraco. Programas assisstencialistas serão sempre moeda de troca: não tiro a água do pescoço, mas pelo menos não morro afogado.
A tragédia do Rio é fruto de uma tragédia muito maior que se desenrola em Brasília todos os dias.

Foto: Terra

10 de janeiro de 2011

ÉTICA NO PAÍS DOS RONALDINHOS

Sempre acreditei que o principal mal que aflige este país é a ética, ou melhor, a falta dela. Ao longo dos séculos, desde o descobrimento até a entrada no séc XXI, passando por capitanias hereditárias, sesmarias, monarquias, senhores de engenho, escravagismo, indepedência, república, revoluções, golpe militar, AI5, sarney no congresso, Lula na presidência observamos, incautos, os princípios morais jogados no lixo em troca de privilégios ou corporativismo. Não foi assim no escândalo do mensalão? No caso Erenice? Na mais recente cartada de Lula, ao permitir passaportes diplomáticos para filhos e netos? A partir do momento que o operário passa de presidente a ex-presidente, o que o diferencia dos outros brasileiros a ponto de lhe garantir um privilégio como esse? A ética simplesmente deixa de existir quando são benesses reais que estão em jogo.

ronaldinho gaúcho vem para nos lembrar que a falta de ética não é privilégio da classe política e traz à baila a eterna discussão a respeito da linha divisória entre o preço que se paga para manter valores morais e o que é necessário para esquecê-los. No caso dele, especificamente, alguns milhões de reais. O jogador receberá cerca de R$ 1,8 milhão por mês, o equivalente ao ganho de cerca de 300 trabalhadores registrados pelo salário mínimo por um ano. Até aí tudo bem, se o futebol tem números astronômicos e gente disposta a pagar por isso, paciência. Em um país como o nosso é um acinte, mas paciência. A questão recai na maneira como profissionais ligados ao futebol lidam com o tema.

ronaldinho era um garoto pobre que cresceu na vida graças ao futebol. Foi eleito o melhor jogador do mundo um par de vezes, eu acho, mas é o exemplo claro que dinheiro não traz dignidade. Ao contrário, o boleiro parece querer compensar os anos de pobreza com o acúmulo desmensurado, que acaba por ultrapassar a barreira  do que é real e joga por terra valores que ele, se tivesse sido bem assessorado ao longo dos anos, teria tido a sensatez de adquirir. Não foi bem assim. Negociar sua volta  ao Brasil, passados dez anos desde sua (tumultuada) saída do Grêmio, mais uma vez lança mácula sobre seu nome. Mais uma vez, o valor do dinheiro sobrepuja os princípios morais que deveriam pautar qualquer tipo de negociação e que seguramente não tem lugar em países mais desenvolvidos. A falta de ética, meus amigos, é um traço marcante da cultura brasileira que mira o lucro desmensurado e que se consolidou através dos tempos, condenando pobres à sua insginificância e poderosos ao delírio. Ou não seria falta de ética um deputado receber R$ 20.000,00 ´+ verba disso e daquilo em um país que pensa instituir o PAC da miséria? Isso é a  falta de ética em seu grau mais extremo.

Se ronaldinho fará valer cada centavo gasto na sua contratação, cada lágrima de cada pequeno torcedor que ainda carrega em sua alma infantil um tanto de dignidade eu não sei, mas tudo que começa mal termina mal. A energia do dinheiro é sempre bem vinda e necessária, mas não pode colocar por terra a única coisa que o homem leva deste mundo: sua reputação.

O Brasil precisa de heróis, não de mercenários.

4 de janeiro de 2011

2011: um ano para o fim do mundo?


O calendário maia indica o fim de um ciclo (baktun) em 2012, tomado por alguns catastrofistas como a destruição do mundo. A Columbia Pictures adorou a idéia e transformou o temor em mega produção de US$ 200 milhões em 2009, muito mais interessada em valorizar cada centavo de dólar arrecadado do que propriamente mostrar ao homem que seu iminente destino é fruto de sua atitude. Quando se fala em 2012, fica a inevitável pergunta: estamos mesmo diante do fim dos tempos?

Há 4 dias, 2012 é o ano que vem. No ritmo alucinado que as coisas andam está muito mais próximo do que imaginamos, embora a data prevista para a grande mudança seja por volta de 21 de dezembro. O mundo acaba? Não acredito. Mas se transforma - seja em 2012 ou nos anos que se seguirão - disto não resta a menor dúvida. Porque se o homem não for capaz de parar e reavaliar seu modelo de vida, a natureza certamente o fará por ele. Estaremos diante de mudanças sim, cedo ou tarde, mas não se trata da destruição do planeta e a semente humana circulando sabe-se lá por onde. Trata-se do encerramento de um ciclo que abrirá espaço para novas perspectivas do modelo sócio-econômico humano estabelecido até aqui.

E não é porque seremos suficientemente flexíveis para a adpatação. Seremos obrigados. Ainda que existam  iniciativas nos mais diversos setores - reciclagem de lixo, agricultura orgânica, produção em escala sustentável, desenvolvimento de energia renovável - o ser humano ainda carece do olhar crítico necessário para garantir a subsistência da raça no futuro e encara seu dia a dia no planeta como uma corrida desenfreada para o acúmulo de coisas que as vezes nem mesmo ele sabe para que serve, mas porque seu vizinho tem. Não importa que isso condene a estrutura e os recursos não renováveis do planeta (há séculos baseamos nossa economia no carvão e posteriormente no petróleo, rasgando a Terra como o parasita que se vale do hospedeiro para subtrair seu sustento. No curto prazo sobrevive, no longo condena ambos à morte): quando for necessário parar e avaliar eu não estarei mais aqui...

Claro, que caia sobre as gerações futuras a responsabilidade de pensar em soluções. Até lá teremos tempo de sobra para derrubar árvores, asfaltar trilhas, desviar rios, realizar queimadas e descongelar polos. Fazer de crocodilos bolsas, de doninhas casacos, de alces troféus empalhados. Essa será a herança que deixaremos para os filhos dos filhos de nossos filhos.

Queria estar aqui para ver, quem sabe existam persianas em outras dimensões (com material reciclável, claro) para dar uma espiada.Veremos o homem se dobrar diante da mão reativa da natureza - lembrando apenas que não se trata de vingança, mas da lei natural de ação e reação - que cansada de enviar seus avisos apresentará a mudança dos tempos. 2012, 15, 46, não importa. Importa que ao homem seja dada a chance de rever seus conceitos e reestabelecer sua dignidade.