30 de março de 2009

Déficit de consciência


Imaginemos, sob hípótese, a seguinte situação: uma tradicional família brasileira, moradora de uma metrópole qualquer, pai, mãe e quatro filhos. Por conta do dinheiro que recebem do aluguel de propriedades e de outras fontes indiretas de arrecadação, além dos negócios do pai (uma destilaria, herança de família, entre outros), levam uma vida tranquila e cheia de regalias. O pai, como homem de negócios e bom administrador, planeja o orçamento familiar, distribuindo a rechonchuda receita de acordo com as necessidades da família. O rateio é mais ou menos este:



  • Dois dos quatros filhos, além do pai e da mãe, possuem plano de saúde. Os outros dois, por questões de alocação de verba, não;


  • Apenas um dos filhos vai à escola; os outros três, por questões de alocação de verba, não.


  • Luz elétrica há no quarto do casal e em outro, onde três filhos dormem juntos. O caçula, por questões de alocação de verba, fica no escuro;


  • Saneamento básico é um privilégio do casal. Os filhos, por questões de alocação de verba, usam um buraco no mato, atrás da casa, para suas necessidades (embora achem divertido)


  • O pai destina parte da verba para divulgar seus negócios, em especial a destilaria . Gasta boa parte do orçamento em propaganda na TV, no rádio e na mídia impressa.


  • Como se não bastasse, para deleite de esportistas e atores em geral (que não tem nada a ver com a história), aplica parte da verba no patrocínio de times de futebol, duplas de volei de praia e uma infinidade de espetáculos. A mulher, diante da situação da família, já abriu a boca pra reclamar. Mas como foi esculhambada, sem direito a voto, preferiu não tocar mais no assunto.

E aí você se pergunta: pqp, que pai desnaturado é esse?


Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Entenda-se por pai o governo federal (minúscula neles!), representado pelo presidente da república. A família? Cada um dos 190 milhões de habitantes deste país, privilegiados ou não. O fato é que o governo federal, de acordo com matéria publicada na Folha de São Paulo de hoje pelo jornalista Fernando Rodrigues, gastou cerca de R$ 2 bilhões entre publicidade e patrocínios em 2008, mais ou menos fifty-fifty. Segundo Rodrigues, a verba de patrocínios, que em 2004 era de R$ 500 milhões, duplicou! O bolo publicitário é maior do que os gastos da Unilever na área, um dos maiores fabricantes de produtos de consumo do planeta e que depende da publicidade para se diferenciar de seus concorrentes e gerar vendas. "Um estado forte", disse o magnânimo presidente.


Ora, senhor Lula, um estado forte se faz com pessoas fortes! Fortes no cárater, na saúde, na sabedoria. É assim que se constrói uma nação, não com o blábláblá de quem precisa dizer o que faz (tudo bem, uma verbinha de publicidade a gente até aceita), sobretudo às custas de R$ 2 bilhões de reais que, se investidos em outros setores prioritários, seguramente trariam mais benefícios.


A massa agradece.


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