18 de abril de 2009

Uma singela homenagem


Jorge Man foi uma daquelas pessoas que costumam deixar marca indelével na vida da gente. Sobram razões para isso e em resumo destaco um trecho do texto que vem a seguir, que diz que "o valor do homens se assenta, em essência, na sua bondade e em seus exemplos". Em maio próximo completam-se 17 anos que este homem de exemplos, de senso de justiça, ironia e solidariedade, deixou este mundo. Seu filho Diego, amigo de décadas, fez por bem perpetuar sua imagem no logo da empresa alimentícia que leva seu nome, e que se traduz no bom humor que costumava acompanhá-lo. O texto que segue, propositadamente truncado e surreal (e que tem a última frase que dele ouvi como origem), foi um pequeno tributo que fiz alguns anos depois ao grande homem. Esteja ele onde estiver, tenho certeza que um monte de gente está se divertindo!
- Te vejo domingo, no Butantã.
Estas foram as últimas palavras que ouvi dele. Soaram estranhas desde o início e não pude entender porquê. Butantã, lugar onde os judeus costumam enterrar seus mortos. Seria ali o último lugar que eu pensaria em encontrá-lo.
O valor dos homens se assenta, em essência, na sua bondade e em seus exemplos. Os que trilham por este caminho tornam-se referência obrigatória, verdadeiros símbolos. Destacam-se pela nobre tarefa de assumir um papel mais amplo, muito mais amplo do que as pequenas coisas que a vida normalmente reserva. Aprendi a respeitá-lo, sobretudo. Fosse nas formas, deliciosamente arredondadas, fosse no espírito talentoso e de humor picante, retraído.
Mas ele tinha razão. Haveríamos de nos encontrar no Butantã, dois dias depois. Não era domingo. Provavelmente riu de mim, de todos nós, como costumava fazer. Suas palavras se fizeram verdade, mas eu sabia que aquela não seria a última vez.
Apareceu em um sonho, tempos depois, e não me importei com formas ou apresentações, apenas ouvi atentamente o que ele tinha a dizer. Foram breves e sábias palavras, lançadas ao vento para todos que quisessem ouvi-las. Não pude interferir, nem mesmo estava lá. Aprendi que nada, absolutamente nada, era definitivo.
Assim foi e por anos não se falou mais nele. Ficou a lembrança, herança dos velhos momentos. O tempo haveria de consumir as últimas imagens, deixando à mostra a homenagem a um grande homem. Apenas sombras, suavemente guardadas.
As águas tocaram meus pés e logo o frio me percorreu por dentro. Mas estava ali por opção própria. Sentado na areia, não percebi o tempo passar. O sol já se punha em um alaranjado uniforme, imaginei que fosse seis da tarde ou um pouco mais. Havia me perdido por entre pensamentos, solitário naquele espaço que dificilmente eu mesmo me reservava. Momento de reflexão, eu costumava dizer. Era um bem estar comigo mesmo ladeado pelo mar, pelos rochedos e pela água que insistia em subir pelos dedos. Ninguém mais. Os pescadores já haviam recolhidos suas redes e voltavam ao calor de seus lares. Me senti só, ao mesmo tempo preenchido por paz e harmonia. - Posso me sentar? A voz ecoou de algum lugar. Olhei para os lados e não vi nada - pensei estar ouvindo coisas, inebriado pelo romantismo da imagem que compus. Não pensei que um dia algo assim pudesse acontecer comigo. Aconteceu sim, e foi apenas uma amostra do que se seguiria depois. Ele estava bem ali, setado ao meu lado. Na realidade, pronto para um mergulho. Fechei os olhos com força e esfreguei o rosto com as mãos. Ele permaneceu ali. - Desculpe - ele disse - não quis assustá-lo. Achei que não seria capaz de pronunciar uma palavra, mas foi muito mais natural do que imaginei. - Você não me assustou. É que... Bem, não sei como explicar. - Esqueça. Não há nada para explicar. Estranho como o tempo era capaz de manter as aparências. - Sozinho aqui? - Perguntou. - Sim. faz bem para o espírito. E você? O que faz por aqui? - Nada. Lindo dia para um passeio. - Sabia que nos verímos novamente. Já faz um tempo desde a última vez. - Lembro... - Ele sorriu. - Nada como belas paisagens para belos sonhos. Fiquei feliz por ele se lembrar. - Mas aqui, assim... É tão diferente - completei. - Impressão sua. É como sempre foi. - São tantas perguntas... - Que ficarão se respostas. Não há respostas, apenas há o que há, o que deve ser vivido. - É, mas é meio incompreensível. - Eu sei, mas é assim que funciona. Quem há de questionar? Sorri para ele. - Vejo que você cresceu. - Cresci, de uma forma ou de outra isso aconteceu. Acho que foi pelo caminho mais correto. - Fico feliz. Muito feliz. - Tenho certeza que sim. Mas ainda não entendi. - O quê? - Tudo isso. - E o que há para enteder? - Não sei. A que devo a honra? - A um mergulho. Transitávamos por frases confusas, mas no fundo eu podia entender o sentido de cada palavra, por mais abstrata que soasse. Só não havia entendido a última frase. - Um mergulho, um banho de mar! - Ele exclamou -este dia lindo merece. Não deixe a água escorrer apenas por entre seus dedos! Meus lábios se moveram num largo sorriso. Ali estava, tamanh ironia. A velha e boa mania. Nos levantamos e caminhamos na direção do mar. A água, antes fria, envolveu-me lentamente como se eu flutuasse sobre ela. Avançamos e deixei que o mar tomasse conta de mim, a seu modo. Não me pareceu que pudesse ser perigoso. Vibrei como nunca, naquele que foi o melhor mergulho da minha vida. Tive a impressão de ter fcado horas por ali, mas mais tarde descobrira que tudo hvia se passdo em questão de minutos. Desnecessário dizer que aquilo foi indescritível. Ao sair, ele não estava mais ali. Estranho, mas tive a sensação que isso aconteceria. Não nos despedimos, pensei, mas não tinha a menor importância. Sabia que ainda nos veríamos novamente. A última vez em que nos encontramos tive a certeza de que era eu que havia ido até ele. O lugar era diferente e esforcei-me para fazer daquele momento algo real, não apenas um movimento imaginário. A névoa passava por entre meus olhos. - Morri? - Perguntei. - Não sei. - Outro sonho, talvez. - Tudo é possível. - Não entendo. Mas não se preocupe. Não há nada para entender, certo? - Certo. As flores continuarão nascendo, os homens continuarão lutando. É o que está escrito. - E o que dvo fazer? - nada. Apenas leve um pedaço deste lugar com você. Instintivamente levei a mão à cabeça. Fixei o indicador entre os olhos. - Qu assim seja. Está tudo bem aqui. - Pois então vá. E lembre-se: nada é definitivo. - Me lembrarei. Ainda que esta seja a última vez, me lembrarei. Sua imagem foi ficado clara, e em segundos ele desapareceu. Ainda permaneci ai por algum tempo, olhos fixs onde antes havia um anjo. Não pensei no que poderia acontecer comigo, e sineramente nuncasoube se vltei ou não. Mas ainda me lembro da imagem. Sem excessos, se interferências. Sem respostas. Não havia nada para entender
...

3 comentários:

  1. Meu querido amigo ...(o tempo não importa)
    Um médico Frances chamado Allan kardec explica um pouco desse seu sentimento... mediunidade..
    abraços.

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  2. Continua escrevendo é bom ler você....

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  3. Valeu, Giba, obrigado pelo incentivo! E você, não atualizou mais? Abs!

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