
30 de maio de 2009
Para ser bandido neste país, não é preciso assaltar um banco

27 de maio de 2009
Mensagem do além

As palavras proferidas por Zok, líder maior dos seres do espaço, encontram Abel pela primeira vez em solo indonésio, terra para a qual partiu seguindo instruções de seu mentor. É a partir deste momento que nosso herói será agraciado com os poderes que lhe permitirão retirar o ser humano da letargia irresponsável em que se encontra.
Não sei exatamente qual é a visão de quem está do lado de fora do planeta, mas desconfio que não seja muito diferente disso que aí está. Que tipo de referência somos, afinal? De que forma contribuímos para a evolução, nossa e de nossos semelhantes? Estamos alinhados com os pressupostos de comunhão que banham outros pontos do universo?
Não há, seguramente, uma perspectiva mais otimista neste sentido. Mas há, ainda, a esperança de que isso mude. Façamos nosso papel!
Crédito da foto: Heaven´s gate
25 de maio de 2009
"Humildade, família e amor"


As palavras que dão título a este post não são minhas. São dele. "Humildade, família e amor". Nestes tempos modernos onde impera o acesso fácil à comunicação, que abre portas para um mundo envolto em tecnologia e entretenimento, praticamente sem limites, é admirável notar os valores que ainda habitam o mundo de um jovem. Falar em humildade em um meio que, diga-se de passagem, quase não existe, é uma lição para todos aqueles que fizeram de suas vidas um caminho de sucesso e, quase que ao mesmo tempo, tão arrogante e desprovida de um sentido mais profundo. Não se trata de invalidar o caminho do sucesso, de uma forma ou de outra é o que todos buscamos. Mas quando este se transforma no cartão de visitas que atiça o ego e dá a falsa impressão que o mundo se divide em senhores e escravos, eis que algo precisa ser corrigido. A começar no espírito dos jovens, com exemplos como esse.
20 de maio de 2009
O poder da religião

– E por que, padre? – Abel o desafiou. – Porque a religião reconhece neste homem o espírito divino, porém nega sua condição humana? Cria a simbologia capaz de atrelar milhões à causa, sem deixar transparecer a verdade?
– Cuidado, meu rapaz, você está indo longe demais.
– Por questionar o papel da religião? Por ver nela um instrumento de controle que preserva suas “verdades”, que estabelece seus códigos e conjuga o poder? Ou o senhor vai me dizer que a Igreja não se prestou a este papel através dos séculos?
– Herege!
– Ora, padre, não sejamos hipócritas! Não posso negar que há um comprometimento espiritual neste caminho, principalmente daqueles que abraçam a fé com abnegação, mas é ingenuidade pensar no papel meramente religioso da Igreja. Ou o senhor acredita, por exemplo, que o espírito que incitou as cruzadas e a retomada da Terra Santa das mãos dos “infiéis” muçulmanos era apenas religioso? Os cavaleiros francos precisavam de ação para bancar suas fileiras e uma jornada ao santo sepulcro abria esta possibilidade, novas conquistas e principalmente novas propriedades. O senhor entende o que quero dizer, não? Suas riquezas aumentariam, e o que era mais importante, sem colocar em risco as da Igreja. Não sejamos ingênuos, padre, a religião sempre teve seus interesses.
– Se o senhor insistir em denegrir...
– O senhor está colocando em xeque o trabalho de Nosso Senhor? Seus ensinamentos?
– Claro que não, padre. Não questiono o papel de Jesus, mas sim o uso que se fez dele. Jesus foi um mensageiro enviado a este planeta para trabalho similar ao meu, apenas sob diferentes condições. A deturpação de sua obra é o que mantém o homem sob controle e afastado da verdade. A religião, senhoras e senhores, não atende a outros interesses que não aos do próprio homem!
19 de maio de 2009
Chega de farra!

13 de maio de 2009
Paz na terra aos... A quem mesmo?

9 de maio de 2009
Introdução de 'O último mensageiro'

Lancei um suspiro no vazio e desviei o olhar, procurando deixar os pensamentos de lado. Passei a admirar o campo, o vasto território organizado traçado em perfeito contraste. E não é que sabíamos fazer coisas boas também? Um pouco de engenharia e uma boa dose de bom senso para desenhar o imenso tapete verde e suas nuances, tons claros e escuros que ganharam evidência, saltaram aos olhos e então cederam, até desaparecer por entre as nuvens. E foi quando tudo estremeceu. O avião pareceu perder altitude e os luminosos de apertar cintos se acenderam. Entrávamos em zona de turbulência e os golpes de ar passaram a chicotear o 747 para cima e para baixo como folha de papel. Engoli seco e virei para os lados em busca de um olhar sereno, um sorriso amigo ou qualquer outro sinal que pudesse me acalmar, mas a passividade era geral. Rostos se escondiam por trás de temores procurando disfarçar a agonia, provavelmente a mesma que eu sentia, camuflando as primeiras ondas de pânico que ameaçavam irromper. Isso ainda duraria intermináveis minutos, o alívio geral só viria depois que o avião baixasse por entre o mar de nuvens e novamente a terra se fizesse à vista.
Pouco depois entrávamos em procedimento de pouso em Cumbica e confesso que só senti o coração desacelerar quando a aeronave tocou a cabeceira da pista, deslizou mansamente sob a chuva e parou com elegância ao seu final. Desembarque, Polícia Federal, banheiro e bagagem. E a surpresa de encontrar Thais a minha espera. Um leve abraço e um beijo que durou poucos segundos a mais do que o usual foram as marcas do reencontro, nada de sorrisos ou traços de saudade. O olhar soberano ainda me fuzilou com indignação, deu meia volta e se afastou apressado pelo corredor. Um pequeno instante de hesitação e também saí, acelerando o passo para alcançá-la já quase do lado de fora. Lembro-me de ter sido preenchido por uma onda de calor, não soube precisar de onde vinha, que lambeu cada célula do meu corpo como se o transformasse no próprio inferno.
A considerar os eventos da ida até que foi um bom recomeço. Nove dias antes, Thais havia me acompanhado até o setor de embarque para ali, em meio à multidão, exaltada e fora de controle, vomitar uma montanha de insultos. De insano e débil mental a perdulário e outras expressões que prefiro não mencionar, havia jurado que aquele seria nosso último encontro. “Pode apostar sua alma nisso, Abel!”, dissera, o indicador colado ao meu nariz. Com todos os caprichos que o destino era capaz de nos reservar, lá estávamos juntos novamente, sem desculpas ou lamentos. O orgulho não lhe permitiria tomar a iniciativa, ela esperaria até o momento em que eu dissesse “Thais, se eu contar você não vai acreditar...”. Mas ele, o destino, julgou não ser necessário. Ela logo poderia constatar com seus próprios olhos.
* * *
Adoro chuva. Quando pequeno costumava compor rituais imaginários pelo quintal ladrilhado da casa em que morávamos na Vila Mariana, o rosto voltado para o céu em sinal de agradecimento e os olhos fechados em sonhos. Os pedacinhos vermelhos, espalhados pelo cimento e contrapostos a outros menores, negros, pareciam recebê-la como bênção, dilatando-se em sorrisos a cada pingo. O cheiro do chão úmido logo emergia e ainda hoje, quando a chuva beija o asfalto, me lembro daquela época como se fosse hoje. Por outro lado, detesto dirigir na chuva, recordação de uma experiência não muito feliz que tive aos seis ou sete anos quando meu pai, dirigindo seu Fiat azul em um dia como esse, perdeu o controle do carro e saiu capotando. Conotação de sonho, flashes do horror misturados ao alívio repentino de constatar, como por milagre, uma família escapando ilesa do desastre. Minha mãe rezava, agradecendo a Nossa Senhora Aparecida pela graça alcançada. Meu pai, desconsolado sobre os cotovelos no meio fio, chorava como se tivesse perdido tudo. Eu? Bem, diria que acusei o golpe. E de maneira tão intensa que me tornei incapaz de dirigir em dia de chuva, a lembrança irrompia e com ela todo o desconforto. Nestas condições preferia tomar um táxi ou nem mesmo sair de casa e, confesso, nunca me esforcei para que fosse diferente. Neste dia, porém, a costumeira sensação de descontrole não se fazia presente. Eu me sentia confiante - motivado sobretudo pelos acontecimentos que haviam me conduzido até ali – enquanto caminhava ao lado de Thais pelo estacionamento. Ela, irritada, buscava abrigo no guarda-chuva que fazia questão em não dividir comigo. Eu, alheio à raiva, atirava-me à água que trazia de volta a realidade do concreto urbano, escorrendo pelo rosto e deixando as lembranças de menino soprar em meu coração. Quando alcançamos o carro, minutos depois, Thais deu a volta pelo lado do passageiro e atirou as chaves na minha direção. E acho que foi só mais adiante, quando já estávamos na saída esperando a cancela se erguer, é que tive a sensação de que algo ruim aconteceria.
O silêncio reinava absoluto, vez ou outra interrompido pelo ecoar dos trovões. O horizonte que se erguia à nossa frente era denso e negro e inquieto como se a noite, intempestiva, abrisse caminho. Thais parecia hipnotizada pelos pingos cristalinos que se chocavam contra o pára-brisa provavelmente revivendo, em algum lugar da memória, lembranças de um passado comum não tão distante. Eu conduzia o veículo com surpreendente tranqüilidade, certo de que uma força maior me guiava na jornada. Mas nem por isso ousei desafiar o destino. Ao contrário. Louvei o mau tempo na expectativa de criar equilíbrio, e o que veio em resposta foi a completa falta dele. Nos segundos que se seguiram vi minha confiança interior ser varrida, milhões de pensamentos se chocando em desordem sob o efeito da adrenalina que me inundava. Senti a transformação do campo energético ao mesmo tempo em que os pneus perdiam aderência. Tentei diminuir, mas o celta não respondeu. A película de água que se instalou entre os pneus e o asfalto foi crescendo, crescendo, e então me dei conta que já não podia controlar mais nada. Thais virou-se para mim e pude perceber naquele par de olhinhos assustados uma expectativa tão ruim quanto a minha. O carro continuou em movimento por conta própria, ameaçou rodopiar e eu então tomei a única decisão que parecia estar ao meu alcance naquele momento: pisei no freio com força. O choque veio em seguida, a batida oca e surda que jogou o que quer que estivesse à nossa frente a uma curta distância mantendo-o ali, quase colado. Eu havia acertado alguma coisa, mas... O quê exatamente? O carro ainda percorreu alguns metros e depois parou enviesado como se tivesse perdido o fôlego. Thais estava bem, eu um pouco trêmulo e desorientado, a cabeça por entre as mãos ainda presas ao volante. E então descemos.
* * *
Não sei o que se passa na cabeça dessa gente. Amo meu país e meu povo, mas quando se trata de desrespeitar padrões parece que somos mesmo campeões. É por isso que eu acho que as coisas não funcionam muito bem por aqui. Existe um caos camuflado, um processo de sabotagem inconsciente que age por conta própria quando se trata de responsabilidade e bom senso. Afinal de contas, pode existir algo mais insano do que andar de bicicleta à beira da estrada em dia de dilúvio? Um garoto e seus... Não sei, treze anos, talvez, agora estirado no acostamento. Descalço e ensopado. Inconsciente, porém respirando, o sangue escorrendo pelo nariz e algumas escoriações no pescoço. Do ponto de ônibus que havia ficado para trás todos correram para o local, dois minutos depois chegava uma viatura da Polícia Rodoviária. Pronto, o circo estava armado. Eu? Completamente perdido, situações sem prévio aprendizado costumam me deixar apreensivo. Mesmo assim, e agindo por instinto, me agachei ao lado do garoto. Não saberia dizer exatamente para quê, mas eu achava que de algum ponto deveria partir. Dei-lhe duas batidinhas no rosto, não houve reação. O moleque ia morrer ali mesmo, pensei, enquanto eu conseguiria correr alguns metros até que a multidão em fúria me alcançasse e desse início ao linchamento.
“Fique calmo”. Foi o que me lembro de ter ouvido assim que minha consciência fez a conexão com o mundo real novamente. “Chegue para lá, quero ver o estado dele”. Dois policiais haviam rompido o cerco formado pela multidão e estavam agora junto a mim. “Estávamos parados do outro lado da pista, um pouco mais para trás, e vimos o que aconteceu”, o outro emendou. “Você perdeu o controle do carro e saiu derrapando, chegou no acostamento e atingiu a bicicleta”. Não acredito! “Ele deve ter batido a cabeça na queda. E olhe essa perna aqui, houve fratura”. Meu Deus, onde tudo isso vai acabar? “Vamos removê-lo para a viatura. Pegue o seu carro e nos siga até o hospital”. Hospital? Eu não sabia se respondia, acatava em silêncio ou pensava em coisa melhor. Na verdade não me sentia em condições de pensar, mas isso começou a mudar tão logo me virei na direção da massa. Foi como se cada músculo fizesse o movimento em câmera lenta, as batidas do meu coração se misturando às vozes e se perdendo ao longe enquanto os pingos da chuva explodiam em meu rosto, transformando-se em milhares de novos pingos. Estava vindo. Isolei meu pensamento, pisquei mais forte e saí de cena.
Havia chegado o momento.
Fechei os olhos e os ensinamentos maravilhosos que eu havia recebido dias antes afloraram. Estendi as mãos para frente e voltei-as para o céu – parecia não chover sobre elas – e logo a energia se fez presente. A luz azulada e serena, a mesma que eu tivera oportunidade de acessar durante a viagem, tremulava por entre meus dedos. Ninguém pareceu notar, nem mesmo Thais, que havia ficado para trás no meio da confusão. A multidão nem parecia estar mais ali. Eu não ouvia suas vozes, não via seus rostos. Minha atenção estava centrada apenas no garoto e tudo que fiz foi envolver a perna fraturada por entre minhas mãos no instante em que os policiais se preparavam para removê-lo. “O que você pensa que está fazendo?”, um deles se antecipou e me segurou pelo braço, ao mesmo tempo em que parecia não querer impedir. Mantive as mãos naquela posição por alguns segundos, guiando meu pensamento para que a luz penetrasse na região e corrigisse o estrago. A aplicação foi rápida e em seguida o garoto despertou feito um coelho assustado. Levantou-se ligeiro, sem se dar conta que era o centro das atenções de toda aquela multidão e, sem apresentar qualquer sinal da fratura, limpou o nariz, montou soberano em sua bicicleta e saiu pedalando em disparada sob a chuva. Todos permaneceram ali parados, incrédulos. Olhos vidrados, cinqüenta ou sessenta pares, voltados para minhas mãos. De suas bocas saíam murmúrios que eu não conseguia entender, lágrimas brotavam com emoção. Duas senhoras fecharam seus guarda-chuvas, ajoelharam-se sob o sinal da cruz e se puseram a rezar. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, o policial disse, a expressão de quem não podia acreditar no que havia acabado de presenciar. Desvencilhei-me com delicadeza, abri um sorriso cínico e corri para o lado, alcançando Thais e a empurrando para dentro do carro. “Vamos”, eu disse, “ainda não estou preparado para os autógrafos”. Como que negando a cena, ela balançava a cabeça de um lado a outro. “Você faz idéia do que acaba de fazer?”, repetiu, as palavras carregadas de um sarcasmo desnecessário. Detive-me à porta, fixei o olhar nela por sobre o ombro. “Claro que sei. Vamos sair logo daqui”.
O silêncio parecia ter costurado seu último suspiro. E a chuva, ao contrário do que eu imaginava, não havia cessado.
7 de maio de 2009
Armadilhas do poder

5 de maio de 2009
Time passengers

Quarta-feira, fim de tarde. Reunião na Origin Brasil, primeira vez no cliente. Fácil acesso em meio aos Cingapuras da marginal Pinheiros. Desço e me dirijo à recepção.
Ela abre um sorriso ao me ver. Faz sinal para que eu espere enquanto está ao telefone. "Eu a conheço", penso. Encosto no balcão e olho para ela novamente. "Tenho certeza que já a vi em algum lugar". Cabelos negros, olhos castanhos, sorriso de criança. No crachá, Vanessa. Procuro me lembrar. Fixo os olhos no chão e saio varrendo a mente em busca de respostas. Nada. Nossos mundos distintos pareciam criar um abismo ainda maior. Não havia respostas. Havia apenas uma luz, que como num estalo brilhou e, da mesma forma que veio, se foi.
Ela desliga o telefone. Digo quem sou e peço pelo Ronaldo do publishing services. Ela liga para ele, prenche a ficha e me entrega, juntamente com o crachá de visitante. Incrível como toda essa burocracia me faz mal.
- Ele pediu pra você subir e aguardá-lo na recepção do segundo andar - o sorriso me pareceu ainda mais familiar, como se um dia tivesse feito parte de um sonho. - Ele o encontrará lá.
Olho ao redor e não vejo escadas.
- E como chego ao segundo andar?
- Nunca esteve aqui antes?
"Se tivesse estado, não perguntaria". Preferi manter a polidez.
- Não, é a primeira vez.
- Então queira me acompanhar, por favor.
Ela sai de trás do balcão, dá a volta e se dirige a uma porta de vidro na lateral. "Conheço você..."
- Está vendo aquela rampa? - Ela aponta na direção de outro prédio. - Vá por ali e ao final da escada vire à direita.
Agradeço e tomo meu caminho. E de repente sua voz volta.
- Tem certeza de que nunca esteve aqui?
As obviedades pareciam se suceder.
- Tenho.
- Desculpe. É que você me é tão familiar que achei que já tivesse estado aqui antes...
Estremeci enquanto ela dava as costas e voltava para trás do balcão. Sua rotina permaneceria ali, encerrada em seus anseios e dúvidas que por um instante me assaltaram como se fizéssemos parte de um plano comum. O elo, atado em algum lugar do passado, uma vez mais se desfazia.
Permaneci ali, parado, como se o tempo tivesse congelado aquele instante. Fechei os olhos e suspirei, vi flashes de luz em meio a uma enorme tempestade.
Achei que escreveria sobre isso.
Credito da foto: tomitheos
3 de maio de 2009
Na contramão do céu ao inferno
