28 de agosto de 2009

O bolsa família e as eternas armadilhas do poder

Não sei dizer ao certo se foi meu senso crítico em relação à política que se tornou mais aguçado, de uns tempos pra cá, ou se foi a política que ganhou maior projeção ao alimentar personagens ainda mais escabrosos do que aqueles que já circulavam pelo meio no século passado. Provavelmente uma mescla de ambos, motivada pelo meu engajamento social e pela representatividade que o PT ganhou desde que Lula assumiu o poder, em 2003.

O idealismo (a palavra em si pressupõe um modelo perfeito de conduta) de nosso querido presidente, antes de assumir o poder, ajustava-se facilmente a qualquer partido oposicionista que via, no abismo social que tomava (e ainda toma) conta do país, a oportunidade para alçar-se ao poder. É o sistema de brechas: o marketeiro, por exemplo, encontra nos diferenciais do produto que cria, sejam eles imprescindíveis ou simplesmente fruto de sua estupidez, o vácuo necessário para entrar no mercado. Um pouco de publicidade e enganação e pronto, está feito. Na política não é diferente. Ao expor os contrates socias e a determinação em combatê-los, candidatos tornam-se paladinos da justiça em luta pela igualdade social (vale lembrar que, em política, a palavra de ordem não é justiça, mas sim interesse) e chegam ao mesmo vácuo, encontrando respaldo na população. O que todos, sem exceção, fazem depois de eleitos, sabemos, é uma outra história.




A trajetória de Lula é digna de louvor, como sempre pontuei. Sua determinação e o saco cheio da população em relação a políticos e partidos que prometiam mudanças e na prática pouco contribuiam, abriram o vácuo necessário para que o cargo máximo da república chegasse às sua mãos. Houve melhoras sim, principalmente no que diz respeito à inclusão social. Mas nosso 'querido líder' perdeu a chance histórica de mudar o sistema já tão viciado e dar início a uma nova era, como sempre propôs o partido. Caiu no mesmo erro que seus antecessores ao se equilibrar sobre os frágeis alicerces do interesse, em lugar da justiça, dando abrigo à falcatruas, alianças escusas e tantas outras ignomínias que só o poder é capaz de justificar. Ao mesmo tempo, garantiu munição de sobra a seus adversários: o escândalo dos atos secretos do senado e a saga Sarney serão exaustivamente explorados nas próximas eleições, assim como o encontro de Dilma e Lina, a absolvição de Palocci ou o inesquecível e inequívoco mensalão. Se tiverem efeito e encontrarem abrigo no povo, serão responsáveis por uma nova virada de poder e, uma vez mais, o início de um novo ciclo. Mas isso é o que menos importa. O que vale dizer, esteja quem estiver no comando, é que haverá sempre de ser consumido pelas eternas armadilhas do poder.




O vídeo abaixo ilustra com propriedade a prática. Nele, dois momentos de Lula: o primeiro na qualidade de presidente, defendendo com unhas e dentes o bolsa família e criticando os que a ela se opõe (chega a chamá-los de imbecis, termo pouco apropriado para um estadista); em outro, o Lula candidato, ainda sonhando com o poder, e que condenava qualquer forma de assistencialismo, comparável a Cabral e a distribuição de espelhos e bijouterias aos índios, em suas próprias palavras. Como diz o então candidato, uma manobra para manter as massas no lugar e angariar votos.
Será preciso dizer mais alguma coisa? Não é interessante perceber como uma simples opinião vira do avesso, tão rapidamente quanto o caminho do poder? Seja Lula, lagostim, camarão ou couve, brócolis ou mandioca. O processo é e será sempre o mesmo, recheado de manobras, desfaçatez, cinismo e descalabro. Aliados sem utilidade e com a capacidade de macular a imagem do partido ou a personificação do poder serão colocados à margem (Zé Dirceus, Silvinhos e Delúbios da vida), enquanto figuras insidiosas, antes adversárias, receberão o caloroso abraço como se nunca tivessem estado em lados opostos (Sarneys, Collors e Calheiros da mesma vida). No fundo, é tudo farinha do mesmo saco.




Encerro com uma frase pinçada do Blog do jornalista Adalberto Piotto: "E quando a inteligência - e honestidade intelectual - é atropelada pela esperteza, destrói-se biografias".







Crédito da imagem: Leonardo Ramalho

2 comentários:

  1. menos franco ele é,ao reconhecer que prjtos dele,peçasdetroca são,para eleiçõ!

    Brasil,sil,sil!

    Viva Vida!

    Te braço mio caro!

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  2. Ola André,

    Primeiro vim agradecer o teu comentário, é realmente muito bom quando alguém realmente nos lê, você foi a única pessoa que comentou a troca do perfil, que mudei recentemente.
    Quanto ao teu texto, sempre uma pintura que vê através das máscaras que encaramos.
    Uma pena não termos tido como vc mesmo disse assim "a chance de mudar um cenário", com o poder do nosso voto, e novamente o tiro n'agua (turva) do governo. Um beijo meu amigo

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