2 de agosto de 2009

Que país é esse? II

Que a elite tem lá seus privilégios não é nenhuma novidade. É sua condição econômica, que passa pela posse dos meios de produção ou dos alicerces do sistema financeiro, que faz com que a roda se movimente de acordo com seus interesses. Quando estes se alinham com a política e a influência que podem exercer sobre a classe, volúvel e acostumada ao ganho fácil, sai de baixo. Fome e vontade de comer saem andando de mãos dadas como se este país, tragicômico por natureza, não tivesse outras prioridades. Uma vergonha!

Tudo isso pra dizer que o governo do Rio de Janeiro disponibilizou R$ 9,5 milhões para o torneio de hipismo Athina Onassis, que ocorre na cidade. Ou seja, o dinheiro do cidadão banca quase 70% de um evento em que cavalinhos de pelos lustrosos e brilhantes, cavaleiros e amazonas em trajes de gala e a nata da sociedade carioca, lado a lado com o mundo das celebridades, desfilam suas alegorias. Imagino que seja porque o nome Onassis ou a sociedad hípica carioca não sejam suficientemente influentes para levantar fundos junto ao setor privado a fim de bancar seus mimos. Não é?

Só rindo. Há uns anos eu mesmo estive em via de produzir uma revista voltada para a nata (era para o gerenciamento de grandes fortunas) e, é claro, fui atrás de anunciantes. Itaú, Santander, Bradesco, Mont Blanc e Jaguar, apenas para mencionar alguns, abriram suas portas sem cerimônia e se interessaram pelo projeto sem muito esforço. Concretizar foi uma outra história, mas até aí não me chamo Onassis e nem galopo com seus pares...

Justificando tamanho absurdo, a secretaria de turismo, esporte e lazer do RJ disse que o evento produz "credibilidade internacional e benefícios incalculáveis" para a cidade (são quantas as favelas que existem por lá atualmente?). A prefeitura, em algo que teve ter sido um acesso de insanidade, chegou a afirmar que o evento foi capaz de lotar o Copacabana Palace em baixa temporada, além de ocupar 92% e 75% do restaurante Fasano e o hotel Intercontinental respectivamente. Com todo o respeito, vai aqui o meu foda-se. Cavaleiros e cavalinhos são suficientemente hábeis para não depender de dinheiro público para seu circo, ainda que se trate de uma etapa do circuito mundial de hipismo. A Folha menciona que "segundo artigo da lei, não é permitido que um projeto com reconhecida capacidade de obter patrocínios, recorra à renúncia fiscal" (lei de incentivo ao esporte, através do qual o evento obteve a grana).

O que este país precisa é de vergonha na cara para enxergar suas verdadeiras necessidades e trabalhar por elas, não jogar fora recursos na mão de quem não precisa!

2 comentários:

  1. Endosso suas palavras para esta ótima análise do absurdo. Já conversamos sobre isso antes e esta é mais uma prova de que passa longe destes caras o pensamento para um benefício comum. Uma vergonha mesmo! Grande abraço!

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  2. "tudo o que não tem integridade vai cair..." disse a minha amiga Solara em 2006
    Enquanto isso nós vamos nos ocupando de ajudar a contruir um mundo melhor...

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