
Sento-me na cama. Que brincadeira é essa, afinal? Fecho os olhos a espera de alguma imagem que acompanhe o 'áudio' e o que vejo são manchas alaranjadas em torno de um sol límpido, nascente, que prepara terreno para mais um dia. Entendo a mensagem: é um 'Deus existe?' em forma de post. É chegada a hora de fazê-lo.
Deus não existe.
Ao menos esse Deus da doutrina judaico-cristã que fomos obrigados a aceitar como único e verdadeiro, o criador que castiga os ímpios e é, sobretudo, o instrumento de controle que permite a seus representantes na Terra manter o caminho do rebanho às cegas. 'Deus castiga', 'você não vai para o céu', 'isso é pecado' , dizem eles em meio a tantas outras objeções que tem por objetivo cercear a ação e atender aos anseios de uma minoria.
Estabelece a doutrina cristã que padres, por exemplo, não podem casar e ter filhos. Mas se a consagração do matrimônio é um dos pilares do cristianismo, a família, porque é que seus próprios representantes não podem fazê-lo? Que mal há em preservar a espécie humana - dádiva divina - dentro da estrutura religiosa? Ora, é sabido que desde os primórdios da idade média padres não se casavam simplesmente para evitar que as riquezas da igreja, a instituição mais poderosa e organizada da época, fossem divididas! Rabinos, por outro lado, conclamam à leitura da Torá, o livro sagrado do judaísmo, convidando membros da congregação para subir ao altar e a eles se juntar nas festas mais tradicionais. Ao mesmo tempo, é comum ouvir histórias sobre leilões que são realizados dentro das sinagogas para que os mais privilegiados subam ao altar para a leitura da Torá, contribuindo com uma 'módica' quantia em dinheiro. Religião, poder, dinheiro e Deus, na concepção do homem, sempre andaram lado a lado.
Que espécie de Deus é esse que se esconde por trás de interesses duvidosos e designa quem pode pelo poder da reprodução, assim como pelo poder do dinheiro? Esse é o Deus do homem, do Edir Macedo, do Michael Jackson e da Madonna. É o Deus baladeiro, que gosta de grana e de poder, e que nada tem a ver com a verdadeira essência divina. É, na prática, o reflexo do homem diante do espelho.
Deus, na minha visão, tem outro conceito. Deus é a energia maravilhosa que nos irmana, que nos faz pertencer ao mesmo plano, que nos faz alegre quando um de nós está alegre ou que nos torna solidários quando um de nós sofre. Deus é compaixão no sentido literal da palavra, é amor quando se abraça o todo, é o respeito constante que mantemos a nossa volta, seja para com nossos semelhantes, seja para com a mãe natureza e seus elementos. Deus é a essência, a chama divina que habita nossos corações e junta peça por peça em um quebra-cabeças infinito, sem que nenhuma delas seja a mais importante. Deus é pureza de espírito, liberdade e poesia, longe de ser 'faça isso' ou 'faça aquilo'. Deus é livre-arbítrio.
Essa é a verdade que não somos capazes de perceber porque ficamos presos aos dogmas que permeiam nossas tradições há séculos. Antes de esperar que "alguém" lá em cima faça rumo por nós, desabrochemos nossa semente divina e façamos valer nosso verdadeiro papel.
Nós somos Deus.