
A revista Forbes aponta, todo ano, as fortunas pessoais que superam a marca de 1 bilhão de dólares. Em 2010 a lista dos felizardos foi encabeçada por Carlos Slim, dono da Telmex mexicana (a Claro, no Brasil) que desbancou o eterno Bill Gates, da Microsoft. A fortuna de Slim supera os 50 bilhões de dólares.
O Brasil conta com 15 bilionários na lista, empresários de gabarito que construíram suas fortunas em negócios de mineração e petróleo, bancos e fundos de investimentos ou no varejo. Juntos, respondem por mais de 80 bilhões de dólares em patrimônio e não faço nenhuma crítica nesse sentido, o céu é o limite - desde que sejam respeitados princípios éticos, fiscais e trabalhistas - no mundo capitalista e as oportunidades de negócio aí estão para quem souber aproveitá-las. O que fazem ou deixam de fazer com seus recursos é questão exclusivamente deles e de suas consciências, não minha.
A minha diz respeito ao abismo colossal que este país não é capaz de administrar: 15 indivíduos concentram capital suficiente para, de acordo com a faixa de renda média anual levantada em 2009 pelo Instituto Análise, cobrir o ganho de mais de 8 milhões brasileiros (6,5% da população economicamente ativa, cujo renda média anual remonta a R$ 9.780,00). Ou seja, distribuindo-se a riqueza acumulada equalitativamente por cada um desse bilionários tupiniquins, seu potencial econômico, como indivíduos, equivale ao trabalho anual de meio milhão de brasileiros. Uau!
Ótimo que existam níveis elevadíssimos de renda para que padrão, recursos e empregos sejam gerados. O capital, ao permitir o desenvolvimento econômico de uma nação permite, ao mesmo tempo, seu amadurecimento social e o traço cívico que enxerga, na sociedade comum, algo maior do que a simples condição individual. As empresas geradoras de riqueza tem a responsabilidade social de fomentar o desenvolvimento e a arrecadação de impostos é fundamental para isso. É necessário que o orgão controlador, no caso o Estado, crie instrumentos para obter e distribuir recursos, sempre de acordo com o potencial econômico de cada contribuinte envolvido. No Brasil, como é sabido, obter é fácil. Distribuir é que são elas.
Constamos na lista de países com as piores distribuição de renda, ao lado de potências como Namíbia e Serra Leoa (que manteve-se em guerra civil por mais de 10 anos). A razão é simples e permeia todas as nossas instituições: o desvio de recursos em benefício próprio, coisa que os Sarneys, Arrudas, Collors, Malufs, Dirceus, Lalaus, Edmars e tantos outros sempre souberam fazer com maestria. O sangramento, em todos os setores, contribui para a degradação das instituições que deveriam fortalecer o capital humano, a começar pela educação, passando por saúde e saneamento básico, até chegar em valores que, para grande maioria da população, não passa de sonho ou luxo. Na verdade não precisamos ir tão longe, basta que a mais básica das necessidades seja satisfeita (pausa: esse é o ponto em que retorno ao post depois de sair para levar minha filha; passo pelo fim da feira na rua Oscar Freire, é deprimente ver o que junta de gente para levar os restos).
Apropriar-se de algo alheio deveria ser motivo de dor, ainda que na consciência, destes párias que fazem do ganho fácil sua fonte de subsitência, traço cultural herdado de gerações e mais gerações de políticos nefastos que levaram a questão da exploração ao extremo. Constróem-se, desta forma, muros para sua exagerada existência - longe daquilo que se propuseram a fazer. É inadmissível que o que arrecadamos, inclusive através dos bilionários que fazem parte da lista da Forbes - se perca em bolsos, meias e cuecas! Ainda não desisti da idéia de colocar uma guilhotina em frente ao congresso para servir de aviso.
A dignidade de um povo passa pelo seu poder em rechaçar indivíduos que o agridem, seja em que sentido for. Que o fdp do Arruda seja apenas o começo.
Quanto ao bilionário, me contento com o solidário. Boa semana!