4 de janeiro de 2011

2011: um ano para o fim do mundo?


O calendário maia indica o fim de um ciclo (baktun) em 2012, tomado por alguns catastrofistas como a destruição do mundo. A Columbia Pictures adorou a idéia e transformou o temor em mega produção de US$ 200 milhões em 2009, muito mais interessada em valorizar cada centavo de dólar arrecadado do que propriamente mostrar ao homem que seu iminente destino é fruto de sua atitude. Quando se fala em 2012, fica a inevitável pergunta: estamos mesmo diante do fim dos tempos?

Há 4 dias, 2012 é o ano que vem. No ritmo alucinado que as coisas andam está muito mais próximo do que imaginamos, embora a data prevista para a grande mudança seja por volta de 21 de dezembro. O mundo acaba? Não acredito. Mas se transforma - seja em 2012 ou nos anos que se seguirão - disto não resta a menor dúvida. Porque se o homem não for capaz de parar e reavaliar seu modelo de vida, a natureza certamente o fará por ele. Estaremos diante de mudanças sim, cedo ou tarde, mas não se trata da destruição do planeta e a semente humana circulando sabe-se lá por onde. Trata-se do encerramento de um ciclo que abrirá espaço para novas perspectivas do modelo sócio-econômico humano estabelecido até aqui.

E não é porque seremos suficientemente flexíveis para a adpatação. Seremos obrigados. Ainda que existam  iniciativas nos mais diversos setores - reciclagem de lixo, agricultura orgânica, produção em escala sustentável, desenvolvimento de energia renovável - o ser humano ainda carece do olhar crítico necessário para garantir a subsistência da raça no futuro e encara seu dia a dia no planeta como uma corrida desenfreada para o acúmulo de coisas que as vezes nem mesmo ele sabe para que serve, mas porque seu vizinho tem. Não importa que isso condene a estrutura e os recursos não renováveis do planeta (há séculos baseamos nossa economia no carvão e posteriormente no petróleo, rasgando a Terra como o parasita que se vale do hospedeiro para subtrair seu sustento. No curto prazo sobrevive, no longo condena ambos à morte): quando for necessário parar e avaliar eu não estarei mais aqui...

Claro, que caia sobre as gerações futuras a responsabilidade de pensar em soluções. Até lá teremos tempo de sobra para derrubar árvores, asfaltar trilhas, desviar rios, realizar queimadas e descongelar polos. Fazer de crocodilos bolsas, de doninhas casacos, de alces troféus empalhados. Essa será a herança que deixaremos para os filhos dos filhos de nossos filhos.

Queria estar aqui para ver, quem sabe existam persianas em outras dimensões (com material reciclável, claro) para dar uma espiada.Veremos o homem se dobrar diante da mão reativa da natureza - lembrando apenas que não se trata de vingança, mas da lei natural de ação e reação - que cansada de enviar seus avisos apresentará a mudança dos tempos. 2012, 15, 46, não importa. Importa que ao homem seja dada a chance de rever seus conceitos e reestabelecer sua dignidade.

19 de dezembro de 2010

Um país em desequilíbrio


Dizer que o Brasil é um país de contrastes não revela nenhuma novidade. Do clima árido da caatinga à geada catarinense, das belas praias nordestinas aos platôs do meio oeste, dos abismos que insistem em dividir ricos e pobres, por mais que o governo Lula tenha integrado à sociedade boa parte da camada miserável que por trás dela se escondia. Exemplos existem aos montes, mas nada fala mais alto do que a linha divisória que existe entre o homem público e o privado.

O congresso acaba de aprovar um aumento de 62% para deputados e senadores que eleva o salário da categoria para R$ 26 mil ao mês, sem levar em conta os extras como auxílio moradia, passagens aéreas, gasolina e motoristas, verba indenizatória e o diabo a quatro, totalizando a bagatela de quase R$ 1 milhão ao ano por safado. Sim, é isso que custa um parlamentar em um país em que ainda há fome, déficit habitacional, sisitema de saúde miserável, educação pífia e falta de saneamento básico (em Manaus, onde se pretende construir um estádio para abrigar a copa, pouco mais da metade da população tem acesso à rede de esgoto). Se estivesse vivo, Renato Russo insistiria em cantar seu famoso refrão 'Que país é esse?', que ecoa sem trégua na minha cabeça quando me deparo com abusos como esse. Dou passagem então aos Titãs e seu 'Bandido, corrupto, ladrão, filho da puta!' - porque não há outro sentimento capaz de tomar corpo ante tal acinte. E algum deles ainda se saiu com aquela que diz que se político ganhar bem não precisa roubar, outro tiro na cara do contribuinte. O que temos, na verdade, é um bando de pilantras que legisla em causa própria e se vê acima de qualquer preceito social que exige equilíbrio, bom senso e ação. Não é possível imaginar que um país do terceiro mundo, como somos, tenha políticos mais bem pagos que o Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra. Simplesmente não temos cacife para isso.

O que temos são profissionais de assalto que se preparam para tomar o poder e, uma vez dentro dele, agem de acordo com seus interesses. Nada, absolutamente nada justifica um salário de R$ 26 mil para uma corja em passo de caramujo que trabalha de terça a quinta e tem à sua disposição todas as mordomias que o dinheiro pode comprar. E dizer que estudaram e se preparam para isso? Temos aí o Tiririca para provar o contrário. O palhaço nunca riu tanto daqueles que deveriam estar lá justamente para dele rir. Seu primeiro projeto? Não entendeu a pergunta e respondeu que era comprar um apartamento...
Trago um exemplo sueco, que anda na contramão do progresso. Provavelmente porque o país deles seja atrasado, desinformado, sem estrutura e com indicadores sociais piores que os nossos. Deve ser isso que justifica a retidão, honestidade e principalmente o enquadramento do homem público no seu devido lugar, o de servir a comunidae que o elegeu. Sem excessos, mordomias ou nada que o faça pensar que sua posição o qualifica como um ser superior. Ao contrário. Seu objetivo, longe de ser o ganho particular, é servir. Afinal, ele é um servidor público dentro do conceito que foi criado, não moldado aquele que assumimos por aqui.

Bastilha neles...


15 de dezembro de 2010

O ULTIMO MENSAGEIRO - SINOPSE



As perspectivas da Terra são sombrias, o homem insiste em não respeitar os limites da natureza e de seu semelhante. Logo, a reação virá de maneira desproporcional.







É pensando nisto que os mestres do universo convocam Abel Antunes. Abel passará por um processo de iniciação ritualística em Bali, na Indonésia, onde receberá os poderes para que sua missão se cumpra. A CIA dispõe de tecnologia para localizar os contatos e parte em sua captura, mobilizando seus agentes e o exército indonésio. O trabalho de Abel se desenrola em meio às constantes tentativas de eliminá-lo, até o surpreendente final em 2046.






Ensinamentos espirituais, tradições balinesas, origens da humanidade. Pink Floyd e o Mágico de Oz. Amor, magia e poder se misturam nesta grande aventura que certamente levará o homem a repensar suas atitudes em relação ao planeta e a forma como lida com ele.






Antes que seja tarde demais.




1 de dezembro de 2010

ELE VEM AÍ!

Por conta do lançamento do livro, previsto para o próximo dia 16 (Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho 915 a partir das 18hs00), me afastei durante o mês de novembro deste blog. Não dava pra ser diferente. Na reta final o trabalho de revisão é intenso, o material é examinado em detalhes para que não haja falhas na composição final. Desgastante, mas ao mesmo tempo enobrecedor.

Isso me faz lembrar um texto que escrevi no final de 2006, época em que o livro estava praticamente pronto (e que foi o primeiro publicado neste blog - 'Recomeços' - em fevereiro de 2009). Eu discorria sobre a validade de ter jogado tudo para o alto para me dedicar exclusivamente a ele, como isso tinha afetado minha vida e tudo mais. Nas minhas próprias palavras:

"Assim se fazem caminhos, criam-se lendas e heróis. Homens mais fortes e verdadeiros, obcecados pelo destino e carregando dentro de si a semente de um projeto transformador. É a palavra que se espalha em busca de realização, traduzida não apenas em valores de ordem pessoal, mas nos mais nobres atributos que direcionam o caminho do homem. Esta é a luz que me leva adiante.



Começar é difícil. Deixar para trás toda uma estrutura montada e aceita como verdadeira, a base de sustentação de toda uma vida, é um passo audacioso e arriscado. Acerca-se do lado aventureiro, do peso do incerto, e trás como consequência a instabilidade natural, o desequilíbrio, que só ocorre porque o ideal que luta dentro de você clama por vir à tona. Caso contrário, bastaria ficar quietinho no meu canto deixando a vida passar, consumida por bons e maus momentos, alheio às transformações globais que, em última instância, não me interessariam. Mas não é por isso que estou aqui.

Abracei meu ideal e pronto, não há nada que mude a história. Tive a energia necessária para fazê-lo, mas isso não faz de mim um mártir ou um alguém em busca de reconhecimento, não neste sentido. Quis que a vida tivesse como âncora meu ideal, transformado em palavras que circulam as esferas e fazem de mim seu instrumento. É para isso que criei "O último mensageiro", para que a palavra correta se faça ouvir. E fico me perguntando se valeu a pena...

Claro que valeu. São momentos de transição que colocam em jogo as escolhas, que suscitam dúvidas pelo vácuo que se abriu neste ínterim e que me inclinam a pensar em arrependimento. Depois passa, nada pode ser mais importante do que saber que minha obra pessoal, aquela que investi bons anos de meus estudos e valores, esteja finalmente pronta. O resto é pura consequência."
 
Valeu mesmo! É com o coração aberto e cheio de alegria que convido a todos para estarem presentes no dia 16, física ou espiritualmente, para comigo compartilhar desse momento tão especial. Até o final da semana terei pronto o convite, que será encaminhado a todos.
 
Como diz Hugo Almeida, com a licença do autor: Vida longa ao romance e à sua luz!!

4 de novembro de 2010

É PRECISO ACEITAR OS DESAFIOS

"A vida pode ser vivida como uma suave descida ou como uma árdua subida. Se você está descendo a ladeira, ela é conveniente, confortável. Não é necessário de sua parte nenhum esforço, nenhum risco, nenhum desafio. Mas também você não ganha nada - simplesmente vai à deriva, do nascimento até a morte. A vida permanece um grande vazio.

É preciso ser laborioso, é preciso aceitar os desafios que levam a pessoa a uma jornada para cima. Isso é difícil, é perigoso, mas desperta o que há de melhor em você. Cria integridade, cria finalmente uma alma em você. Você precisa aplicar todas as energias à tarefa, só assim... É preciso arriscar tudo, só assim... Assim a vida desabrocha, floresce. Ela se torna uma alegria, uma realização, uma satisfação, uma bênção".

Osho, em "Meditações Para o Dia"
http://www.palavrasdeosho.com/ 





2 de novembro de 2010

A hora e a vez de Dilma Rouseff

Reza o conceito democrático que metade mais um dos votos válidos de uma eleição, habitualmente conhecido como maioria simples, confere ao candidato escolhido a condição de vencedor. Mais do que consensual, o método é matemático e vale como regra, já que não há outra forma de estabelecer um referencial quando se trata de alçar um cidadão comum a um cargo público, principalmente quando se trata da presidência da República. Dilma Rouseff venceu sim, mas não com esmagadora maioria dos votos, o que limita a questão do consenso. Em uma eleição marcada por difamações, cinismo e troca de farpas, a história registra mais uma vez a derrota do candidato Serra, desta feita para aquela que será a primeira presidente mulher deste país.

Os números comprovam a divisão do eleitor brasileiro, não apenas no que diz respeito a escolha do candidato, mas no aspecto sócio-econômico: Serra teve maioria no Sul e em São Paulo, principal colégio eleitoral do país; Dilma venceu com ampla vantagem em todo o Norte/ Nordeste e em Minas, outro colégio de expressão. Não é preciso ser nenhuma assumidade para saber que a vitória de Dilma (uma completa desconhecida do público leigo antes de assumir o ministério de minas e energia e depois a chefia da casa civil) decorre da gestão Lula, que em seus 8 anos de governo equilibrou a distribuição de renda e melhorou as condições de vida das populações menos favorecidas. Nesse ponto, é inquestionável a atuação do mandatário da república. 

O que aconteceu depois é uma outra história. Lula confundiu a figura de presidente com suas ambições pessoais e, mal assessorado, caiu na besteira de apoiar governos totalitários como o Irã, a Venezuela ou Cuba e deu adeus às suas ambições internacionais. Deu apoio à sarney na crise do congresso, aceitou o apoio de collor, teceu críticas à situações que não lhe diziam respeito como um cidadão comum, não como um estadista (não esqueci do mensalão, mas não vou mencioná-lo porque não se trata de um invento do PT, embora tenha ganho dimensões extraordinárias sob sua gestão). Mesmo a escolha de Dilma, antes de ser um consenso do partido que o elegeu, é outra decisão pessoal. Com tantas "estrelas" a brilhar em seu partido, como bem lembrou Ferreira Gullar na Folha deste domingo, a escolha de Dilma deve-se, possivelmente, ao desejo do presidente em se reeleger na disputa de 2014. Tudo dependerá de como Dilma conduzirá a questão até lá.

Dilma não representa, portanto, nenhum modelo de administração diferenciado que tenha gerado resultados expressivos ou ideias inovadoras. A "mãe do PAC" (Putz, Arranquei a Cortina!), pelo contrário, conta (ou contou) com gente em sua equipe incapaz de não confundir o público com o privado e é tão articulada no uso da língua portuguesa quanto um aluno de segundo grau. É, na prática, fruto do Lulismo, que conta com crédito suficiente junto à população para eleger um presidente, ainda que sua trajetória política não conte com nada de extraordinário. Eu, particularmente, não tenho nenhum apreço por figuras que se julgam superiores e que passam, em última instância, ares de prepotência e arrogância quando se dirigem a jornalistas ou ao público comum. Sei também que isso pouco importa. O que devemos cobrar são resultados, que passam pela continuidade da evolução econômica deste país e pelo saneamento do congresso, antro de bandidos e corruptos.

A votação expressiva de Lula, há oito anos, refletiu o desejo de mudança do povo. Dilma, hoje, significa sua continuidade. Eu e mais 190 milhões de brasileiros lhe desejamos sorte, Dilma.

18 de outubro de 2010

TROPA DE ELITE 2: O INIMIGO AGORA É OUTRO

Pode até ser, mas a tensão e a realidade nua e crua das armadilhas do poder, criadas no piloto, mantém-se intactas. Um show que não pretendo estragar, caso você ainda não tenha assistido. Quero apenas tecer alguns comentários sobre a importância que esta sequência traz ao abordar o assunto da bandidagem não mais de cima para baixo, quando se trata de acuar bandido em favela, mas de baixo para cima, quando a banda pobre que habita a esfera pública deste país (99,9%) é colocada à prova.

O crime está associado ao Brasil  como a cerveja à Alemanha, a vodca à Rússia ou o whisky à Escócia. Faz parte e ponto, é raiz. Para classificá-lo, façamos uma simples analogia, comparando o nível sócio econômico da população a um tanque de gasolina: quanto mais vazio, mais próximo da miséria; quando mais cheio, mais próximo da elite que trafega na área pública. No frigir dos ovos, é tudo bandido.

Se o ponteiro de gasolina aponta para baixo, na reserva,  lidamos com a população de baixa renda que exerce a prática do crime como caminho mais fácil para mudar de vida, ainda que isso possa custar a expropriação alheia ou a sentença de morte. Quem é que se importa? O nível de consciência de quem pratica o crime tende a zero, o sujeito não tá nem aí com sua vítima, quer mais é se dar bem. O que vale é a lei da selva, sair da base da pirâmide para atingir algo que satisfaça seus desejos materiais.

O ponteiro da gasolina sobe um pouco, passa para o meio tanque. Lá encontramos falsificadores, fraudadores, policiais que aceitam suborno e toda sorte de indivíduo que, indo mais além, consegue traçar um plano para apropriar-se de algo que não lhe pertence. Já não é o ladrão pé de chinelo; o cara trafica, vende gasolina adulterada, altera data de validade do produto que está em seu estoque antes que vença, contrabandeia e por aí vai. A ação policial contra esses caras não é tão ostensiva como quando o tanque está vazio, até porque o trabalho desses caras é mais na maciota, na moita, sem alarde. Não matam ninguém e não recebem 200 anos de pena; pelo contrário, na maioria das vezes saem impunes, já que esta impera em escala ligeiramente maior e a corja se sente confortável seguindo na prática. O Estado não tem agentes suficientes para coibir sua ação, assim que entra ano, sai ano e nada muda.

Ah, e então... O tanque cheio. Vale lembrar que a prática de crimes ocorre em qualquer estágio, ¾ de tanque para mais ou para menos. A diferença é que quanto mais cheio o tanque, maior é a impunidade ou a capacidade que o estado tem em identificar e prender estes bandidos. E quando o tanque está cheio... ah, os malditos sanguessugas corruptos do sistema público. Fazem valer suas leis e pairam acima delas. Fosse o congresso uma casa séria e Sarney já teria sido barrado há muito tempo. Mas como tornou-se um aliado da base do governo (leia-se 'O presidente Lula precisa de um inseto como esse pra sobreviver e chega a ponto de dizer que não se deve dispensar a Sarney o tratamento de um cidadão comum'), nada acontece. Renan Calheiros, que já pediu afastamento do cargo de presidente do congresso por corrupção passiva (descobriu-se que uma empreiteira pagava as contas de sua amante ou algo que o valha), foi novamente eleito e, pasmem, quer ser presidente novamente. Isso jamais aconteceria em uma país sério, onde leis são feitas para quem não tem o tanque cheio (quando chega a vez deles, livram-se com facilidade). Claro, a lei do corporativismo: se um nobre deputado ou ilustre senador condena um colega de classe, certamente receberá o troco. Celso Daniel que o diga.


O que Tropa 2 procura mostrar é que cedo ou tarde a mão da justiça também haverá de alcançá-los (engraçado como o público aplaude após as sessões. Achei que tivesse sido só na minha, mas ouvi no rádio que isso tem acontecido em diversas). Trata-se expor as entranhas do poder público e o sistema que se perpetua em troca de votos, estabelecendo uma relação altamente promíscua e que beneficia, cada vez mais, aqueles que estão na ponta. O que diferencia o criminoso comum de um servidor público é que o primeiro, de tanque vazio, tem que sujar as mãos para obter seus ganhos. Já o do tanque cheio não, usa as benesses do sistema para enriquecer ilicitamente. Quem está "mais errado"? Não há "mais certo" ou "mais errado", há bandidos e ponto. O criminoso comum pode apodrecer 20 anos na cadeia e o caso ainda será lembrado. O do tanque cheio? Bem, esse o tempo se encarrega de esquecer tão rapidamente que parece que nem ocorreu. Calheiros que o diga.

Quando tivermos 200, 300, 500 capitães Nascimento com culhões para peitar essa corja, aí sim poderemos pensar em mudar as regras do jogo. Aqui tem um!

16 de outubro de 2010

Ou o Brasil acaba com a saúva ou...

Santana do Mundaú é um município alagoano a pouco menos de 100km de Macéio. Tem altitude de 221m, área urbana de 223km2 e população de 12.000 habitantes. Entre eles, uma saúva de peso: José Eloi da Silva.


O supra citado, prefeito da cidade, foi afastado por determinação da Justiça do Estado pelo tão comum delito de desvio de recursos públicos. O safado simplesmente guardou para si todos os donativos enviados para as vítimas das enchentes que assolou a região em junho passado e que deixou um sem número de desabrigados. Como se não bastasse, promotores do Ministério Público constataram que mais da metade das residências teoricamente afetadas pelas enchentes e dadas como destruídas, continuam intactas. A indenização, entretanto, foi parar na mão do prefeito e seus asseclas (9 funcionários foram afastados, incluindo os responsáveis pelas “pastas” das finanças, educação e assistência social, que beleza!). Entre fraudes e desvios, há indícios de um prejuízo da ordem de meio milhão ao erário público.

Ainda acho que essas bestas deviam ser queimadas em praça pública ou, pelo menos, terem suas mãos decepadas na mesma condição. Com todo o respeito, fodam-se os direitos humanos. Um cara que tem a capacidade de desviar recursos destinados à caridade e que suprirá, ainda que por tempo determinado, a necessidade da população desabrigada pela chuva, não merece viver. Ou se merece, que seja sem as mãos, assim aprende a não enfiá-las onde não é preciso (garanto que prefeito, secretário, deputado ou quem quer que seja pensará duas vezes antes de meter o nariz onde não é chamado). Está mais do que provado que a impunidade neste país é o maior estímulo para que figuras de baixa estatura como esta, nos confins do mundo, se achem acima da lei para roubar o que não lhes pertence. Pior: não estamos falando do desvio de recursos para uma obra super faturada ou algo que o valha. Estamos falando da assistência a desabrigados.

O Brasil carrega esta condição em cada estágio de sua história sem parecer se preocupar com o fato. A começar pelas capitanias hereditárias e as sesmarias, há 5 séculos, que de início já demonstravam  o corporativismo português fincando pé em terras tupiniquins. De lá para cá, a história só faz mudar os personagens: criam-se leis e colocam-se figuras públicas acima delas. Não há melhor exemplo em tempos recentes do que a figura empobrecida de José Sarney, que manchou a linhagem presidencial ao deixar seu nome registrado na história (aliás 1 - como tantos outros, e aliás 2 - simplesmente herdou essa condição ante a morte de Tancredo Neves. O destino lhe sorriu com um lugar ao sol, e ele rapidamente tratou de arrumar lugar per tutta la famiglia – coisa de mafioso mesmo). Roseana Sarney, a jóia do agreste, teve misteriosos R$ 1,3 milhão encontrados em seu escritório durante sua campanha em 2002; Fernando, filho do bigode, foi/é (nunca se sabe o que vai acontecer) investigado por tráfico de influência, formação de quadrilha, falsificação de documentos e crime contra o sistema financeiro nacional (operação boi barrica). Tem nora empregada não sei onde, a Fundação Sarney já embolsou mais de R$ 1 milhão em doações da Petrobrás (alguém precisa avisar esse presidente pinguço que ainda tem gente passando fome neste país) e o velho coronel nem sabia, segundo suas próprias palavras, que recebia verba de moradia, mesmo tendo domicílio próprio em Brasília. Se o congresso é a casa da democracia, o reflexo dos desejos e anseios do povo, como é possível ser presidido (combina com presídio, José) por um desqualificado do ponto de vista ético e moral?

Perto da famiglia Sarney, o prefeito de Mundaú é dinheiro de pinga. É um otário que se serve da desgraça alheia para abrigar os seus, ainda que seja na longínqua cidade da qual é prefeito. Mas é justamente do micro para o macro que devemos partir, varrendo da história esse tipo de gente para que o país, a médio prazo, possa fazer valer suas leis com respeito e dignidade, alçando ao poder público personagens que tenham condição de fazer algo em benefício da população e não o contrário. Quando não houver mais guarida para esse crimes, quando todos estiverem sujeitos às mesmas leis, então teremos dado um passo adiante. É preciso um basta geral e algumas mãos servindo de exemplo. Não há, nesta balburdia que foi criada, a menor condição de se estabelecer equilíbrio sem uma medida radical, manando os Zé Manés das Santanas de Mundaú da vida para o lugar que merecem.

"Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil", diz o macunaíma sem caráter de Mario de Andrade. E que não haja exceções.

Crédito da foto: Dimas Filho

4 de setembro de 2010

As voltas que o mundo dá


Quando penso no papel que cabe a nós, humanos, na condução de nossas vidas, penso também na condição atribuída a cada um para que as responsabilidades se cumpram. Parece evidente diante da lei do equilíbrio: se por um lado somos agraciados com o sopro divino, por outro temos que retribuir de alguma forma, neutralizando as energias do sistema. De que maneira?

Cada um se expressa a sua, baseado em valores, princípios e ideais. O que serve para um nem sempre serve a outro, o que indigna um passa desapercebido a outro. E assim vai. Eu tenho cá comigo que se fui privilegiado com uma condição qualquer, seja ela econômica, emocional ou intelectual, devo compartilhá-la. É por isso que tantas pessoas realizam trabalhos assistenciais, estendendo não só a mão ao próximo, mas sua própria condição. Esse é o caminho da construção, da solidariedade e da formação de uma sociedade de verdade, que estabelece uma linha de equilíbrio entre seus indivíduos para que não haja falta, de um lado, ou excessos, de outro. Na prática, uma utopia.

A sociedade moderna se desenha de outras formas. O tal equilíbrio dá lugar ao interesse, a competitividade e a lei do mais forte. Tudo posso naquele que me fortalece, o dinheiro, e quanto mais dele disponho, mais longe posso chegar. Não é a toa que se criam grandes bolsões de miséria, contrapostos a luxuosos condomínios onde prevalece o interesse individual. Como expresso em 'O último mensageiro', cada um tem o poder de escolher seus caminhos e encontrar o melhor para si, partindo então para uma situação de divisão e equilíbrio. O que se sucede, porém, é um acúmulo desmensurado que cria abismos tão intransponíveis que nem mais 500 anos de gestão serão capazes de corrigir.

Se 89% das moradias da região Amazônica não contam com rede de esgoto, como bem alertou o Bruno Filleti, como conceber a construção de um estádio de R$ 0,5 bilhão para a copa do mundo? Que espécie de equilíbrio é esse? Creio ser este o grande mal que padece a sociedade moderna: a busca em linha reta pelo interesse individual, sem olhar para os lados. A construção dessa porra de estádio beneficiaria empreiteiras, políticos e todos aqueles que poderão dispor de, sei lá eu, R$ 200 para assistir a uma partida de futebol. Os 89% seguirão nas mesmas condições de higiene e sujeitos as mesmas doenças...

São inúmeros os exemplos que refletem esse estado de espírito. Hoje me dei ao trabalho de assitir ao horário eleitoral e... não é que vi o Collor em palanque pedindo votos pra Dilma? Ou o Temer, que representa todo o retrocesso político na figura mor de seu partido, Don Sarney, ao lado de Lula? Já não me assusto com essas merdas, faz parte do mesmo processo de interesses. O Lula não doou R$ 25 milhões para a reconstrução de Gaza? A troco de que, simpatia internacional? Alguém tem que avisá-lo (ou como diria a Dilma, "alguém tem de avisá-lo") que problemas internos ainda existem aos montes e é preciso corrigi-los antes de se olhar para fora.

A esfera política é apenas um exemplo. Nosso dia a dia é repleto de situações como essa, basta dirigir em uma cidade como São Paulo para entender o que quero dizer. Desrespeito, agressividade, individualidade. Até onde é capaz de chegar o descuido humano? "Que futuro dispõe uma sociedade que não é capaz de preservar a integridade de seus indivíduos?", questiona Abel em suas andanças pelo livro. Obscuro.

 Eu tenho a resposta. Assim como William Mitchell, coronel da força aérea americana que disse, em 1923, que Pearl Harbor era porta de entrada para um possível ataque japonês ao continente. As coisas acontecem, minha gente, o mundo dá voltas...


2 de setembro de 2010


"O maior desafio dos homens de bem reside na constante renovação de suas energias para transpor, quase que diariamente, as barreiras impostas pelo preconceito e pela intolerância. É da união e da força, da solidariedade, que haverão de brotar resultados".